quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Devaneio, desvario e poesia

A mídia tupiniquim "lavou a égua e ensaboou o jeguinho" (como diria minha vó), com essa história do julgamento dos "mensaleiros" (não concordo, mas não há palavra melhor para me fazer entender) pelo STF.

O espetáculo foi completo. Os ministros, até alguns dias atrás desconhecidos, viraram celebridades (se duvidar dqui há uns dias estão na Caras ou na Hebe). Roberto Jefferson, como sempre, rendeu pano pra manga. Disse que não entendia porque estava no banco dos réus. "Deveria era ser testemunha de acusação". Mas, a cereja do bolo foi a fotografia da conversa, pela intranet, de dois ministros. Nem precisa explicar o que foi, porque todo mundo já sabe.

"E quando eu penso que já vi de um tudo" (minha vó de novo), vem a Folha de São Paulo e coloca O Globo no chinelo (coisa que não é difícil de acontecer). Uma repórter da Folha, estava em um restaurante e ouviu uma conversa do minitsro Ricardo Lewandowsk (um dos pivôs da conversa fotografada, coitado). A conversa, claro, foi publicada na edição de hoje.


Muito bem. Poderíamos passar horas falando de invasão de privacidade, de "Big brother", de como a CIA rastreia nossas conversas, de como a tecnologia é ruim etc. Mas, isso deve passar no Fantástico, no domingo. Típico debate da "polêmica" que a mídia cria e ela mesma discute. Falemos, então, da conversa do ministro.

O ministro dizia no telefone que votou com "a faca no pescoço" e que, eles, os ministros do STF estavam acuados pela imprensa. Será que estavam mesmo?

Ora, como não estar acuado se o julgamento foi transformado em um espetáculo? Câmeras, flashes, microfones e gravadores perseguem e acuam os ministros há dias, por conta do tal julgamento. Suas conversas pessoais são monitoradas, suas vidas rastreadas, seus perfis, com detalhes sobre seus passados, publicados no jornal de domingo. O Globo fez questão de delimitar uma fronteira entre TODOS os ministros, os de "esquerda" e os de "centro", valendo-se do passado deles, meio que alertando: "Olha, esses - de centro - vão votar a favor, com certeza. Mas, esse aqui que era comunista em 64, deve votar com o PT. Pressionemos.

Ao mesmo tempo, o que a mídia faz é dar a SUA opinião, transvestindo-a de opinião pública. E qual é a opinião da mídia? Resumamos: o PT é uma quadrilha e Dirceu era o chefe dela.

Quem, em sã consciência, vota contra a grande mídia, topando correr o risco de ver sua vida devassada no jornal do dia seguinte? Quem se arrisca a passar semanas lendo editoriais e colunas com todo tipo de ofensa porque votou contra a mídia? Sim, porque é corriqueiro que as editorias de "Opinião" dos jornais sejam uma sessão vale-tudo. Não sei quem toparia. Mas, sei que os ministros não toparam. Bom pra eles. Ganharam editorial elogioso no dia seguinte, afirmando que com este julgamento "o Brasil chega a outro patamar".

O devaneio:

Outro patamar seria se não renovássemos pelo menos uma das muitas concessões PÚBLICAS de rádio e TV que vencem agora em outubro.

O desvario:

Fico me perguntando porque o governo fez a clara opção de negociar com a grande imprensa (vide Hélio Costa, ministro da Comunicação) e aguentar ser açoitado, ao invés de partir "pro pau" de uma vez.

E a poesia. Porque sem cachaça e poesia, a gente não aguenta esse rojão:


À cores

Ela coloriu o caos
O caos
O caos de mim
O caos em mim
Ela coloriu

Não há caos com ela?
Há caos colorido
Seja o que for a vida
Há ela comigo
Porque ela coloriu o caos

PS: agora tenho foto no perfil, linda!

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Manifesto Comunista com a ajuda dos cartoones da Disney, criado pelo o cineasta independente Jesse Drew. Passo a cita-lo: "No desenho animado clássico, a força bruta e a artilharia pesada nunca conseguem derrotar a ironia e o humor, e no fim a justiça sempre vence. Para mim, era natural ligar o meu próprio conceito infantil de subversão com uma versão mais articulada (o Manifesto Comunista de Marx e Engels)."

Legenda que falta nos segundos finais do vídeo:
"Os proletários não tem nada a perder senão sua chanceEles têm um mundo a ganharTrabalhadores do mundo, uni-vos!"

(In)segurança

Lendo mais essa triste notícia aqui abaixo, da execução de moradores de favelas no Rio, lembrei de um vídeo, feito às vésperas dos Jogos Pan-Americanos, sobre a (in)segurança pública...

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

No Jacarezinho...

No último dia 15/08, policiais do 3o BPM (Méier) realizaram mais uma matança numa favela do Rio. Por volta das 12:30h, quatro policiais, que haviam desembarcado do caveirão que entrara pouco antes na favela, saíram de um beco, transversal à rua Beira-Rio (que margeia o rio Jacaré), já atirando.

A rua, como sempre a esta hora, estava cheia de pessoas, inclusive muitas crianças. É impossível que os policiais não soubessem disso, pois são conhecidos por estarem freqüentemente em operações no Jacarezinho.

Lincoln da Silva Rezende (18 anos) e Fábio Souza Lima (19 anos) estavam sentados na calçada bem ao lado do beco de onde saíram os policiais. Lincoln se preparava para beber água de coco que acabara de pedir a uma criança para comprar numa barraca próxima (deixou o troco com o menino). Ele gostava muito de crianças, e há pouco pedira a Bia, moradora que estava conversando com os dois rapazes, para comprar coca-cola e guaravita para crianças que brincavam na rua. Bia já havia se afastado um pouco quando ouviu os tiros, voltou-se e viu os policiais atirando na direção da rua que vai dar na estação do trem.

Lincoln e Fábio já estavam baleados e caídos no chão.

Mais um pouco à frente, diante da padaria próxima, a manicure Elisângela Ramos da Silva (28 anos) estava levando um de seus quatro filhos, Tiago Ramos Loubak (4 anos), para a casa da mãe, Santina Ramos da Silva, quando foi atingida na cabeça por um tiro disparado pelos PMs. Ao contrário da versão da polícia divulgada pela imprensa, não havia tiroteio nem fogo cruzado quando Elisângela foi atingida. Foram apenas os policiais que saíram atirando do beco e acertaram as vítimas em poucos segundos.

Tiago também foi atingido na cabeça, provavelmente pelo mesmo projétil que matou a mãe. Mesmo sangrando, ficou debruçado sobre a mãe gritando: "levanta, mamãe, levanta!". Moradores em pânico correram para socorrer Elisângela e o pequeno, mas os policiais não deixaram, xingando e gritando com todos, e ofendendo as mulheres. Os PMs, mesmo vendo a situação da mãe e da criança, continuaram a atirar e mandaram as pessoas "ralarem".

Bia, numa atitude corajosa, mesmo com os tiros e as ameaças dos policiais, tomou Tiago nos braços e se refugiou na padaria. Junto com o dono da padaria, queria levar logo o menino para o hospital, mas os policiais não deixavam. Finalmente, resolveram tentar de qualquer maneira, entraram no carro do dono da padaria e seguiram, mas os policiais não deixaram levar Elisângela, que ainda se mexia, contou Bia, e ainda deram tapas na lataria do carro. Ao chegarem ao hospital Salgado Filho, foram abordados de forma brutal por outros policiais, que já estavam esperando e perguntaram "se eram pessoas baleadas na favela". Tudo atrasava o atendimento ao pequeno Tiago, que por muita sorte pôde ser operado (uma peça de platina teve que ser implantada no seu crânio, e aparentemente o projétil foi localizado e removido) e posto a salvo.

A mãe de Lincoln, Maria Luzia da Silva Rezende, deixara o filho em casa, que fica na mesma rua Beira-Rio, por volta das 11:30, perguntou se precisava deixar almoço e ele disse que não, que ia comer alguma coisa na padaria. Quando voltou, passando das 13 horas, soube que seu filho estava baleado e morto.

A essa altura os policiais já haviam levado os três corpos do local do assassinato, depois de colocarem armas junto aos dois rapazes para forjarem um confronto (segundo alguns moradores, essas armas haviam sido apreendidas dias antes pelos mesmos policiais de traficantes da favela). Moradores relataram que arrastaram os corpos como fossem "de um bicho", calçaram luvas e os jogaram de qualquer maneira dentro do caveirão.

Desesperada, Dona Luzia entrou em contato com seu filho mais velho, que mora fora da favela, e ele foi ao Salgado Filho onde reconheceu o corpo de Lincoln. O irmão notou várias escoriações e um corte no nariz de Lincoln, o que confirma que os policiais o agrediram e arrastaram seu corpo mesmo depois de o balearem.

Dona Santina também não estava na favela quando aconteceu o fato, assim que chegou em casa e notou que Elisângela não chegara, e sabendo da ação da PM, começou a procurar a filha e o neto desesperada. Foi à casa de Elisângela, onde encontrou Eduardo, pai de Tiago e das outras 3 crianças, e juntos começaram a buscar informações. Na Beira-Rio, na altura do mesmo beco de onde saíram os policiais, encontraram um PM com atadura no braço, perguntaram a ele sobre uma moça baleada e receberam como resposta mais um "rala, rala!", do policial que empurrou Eduardo encostando o cano do fuzil no seu peito.

Graças a informações de moradores, souberam que o caveirão com os corpos havia seguido em direção ao Jacaré, e ainda chegaram a tempo de ver os corpos sendo transferidos do caveirão para outra viatura, no largo próximo à fábrica Císper. Nada mais restava senão irem também ao Salgado Filho, onde reconheceram o corpo de Elisângela e se informaram

do estado de Tiago.

Todos que estiveram no hospital, relataram o que já sabemos acontecer nesses casos: além da violência e do desrespeito da polícia, moradores das favelas, inclusive os familiares das vítimas, são maltratados e humilhados pelos policiais em serviço nos hospitais e inclusive por funcionários. O irmão de Lincoln contou que foi ofendido por um funcionário que lhe perguntou se ele era "o irmão do bandido" que chegara. Ele só foi melhor atendido quando, por sorte, encontrou um funcionário conhecido que mora próximo a ele, fora da favela.

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Os moradores do Jacarezinho, a Associação dos Moradores, a Célula Urbana e outras organizações da comunidade, estão muito revoltados. Como disse Vandeci Monteiro Rezende, operário da construção civil e pai de Lincoln: "os jovens da favela são filhos de gente, não são filhos de bicho para serem mortos e tratados dessa maneira pelos policiais". Mas todos, a começar pelos familiares das vítimas, querem reagir e não deixar passar mais essa matança em branco. Irão à justiça e a todos os órgãos para exigir justiça e respeito. Já fizeram denúncias e agora vão iniciar um conjunto de ações e mobilizações.



(email que circulou na rede de comunidades contra a violência)

Glória, Glória, Aleluia!!!!!

Que glória há nisso???




aturdido na macabra sinfonia

dos governos da morte

dor

vilania

admito que a sorte

ainda

faz companhia


meio encabulado

perambulo em vigília

madrugada adentro


agradeço

atordoado,

pelos males que não padeço


o silêncio do lugar

ensurdece meu peito

na fantasia de um outro silêncio

assim nem tão distante


enquanto

eu

bruma

noite


noutros

tiro

grito

e morte


sinto vergonha de minha condição pequeno-burguesa

e mais vergonha ainda pela certeza

do alívio posterior...


não


provavelmente nenhuma bala perdida me encontrará junto ao leito

provavelmente ninguém faltará com o respeito

na minha rua

portaria

elevador...


polícia aqui

não constrange morador...


quando o céu clarear

silêncio persistirá

somente rasgado

por veículos apressados,

bêbados pernoitados e outros passantes

floreado por galos, gargalos e bem-te-vis


mas vindo de outro lugar

assim nem tão distante

outro silêncio doerá


aqui.



Rodrigo Bodão

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Não deixemos que nos decepcionem

Costumo dizer entre os amigos que a “grande imprensa não decepciona”. Explico-me. O uso corrente da palavra decepção tem o sentido de desapontamento, frustração. Por isso, a afirmação pode passar a idéia que estou sempre de acordo com o que diz a grande imprensa. O que não é verdade, claro. Acontece que a palavra decepção vem do latim deceptio, que quer dizer engano. Ou seja, para sentir-se decepcionado, é preciso que se tenha expectativas, positivas ou não, e que estas não sejam correspondidas. Como as minhas expectativas sobre a grande imprensa brasileira não são das melhores – e não o são por acaso – ela não me decepciona, não me engana.

Esta semana, no entanto, pensei estar a beira de uma decepção. Há alguns meses fiquei sabendo que repórteres do jornal O Globo estavam fazendo uma série de matérias sobre favela e violência. Esperei o pior, claro. Principalmente, depois da cobertura dada à recente operação no Complexo do Alemão. A isso, junte-se o tratamento que o jornal dá a questão das remoções, defendo-as abertamente, como política de urbanização.

Foi, portanto, esperando o pior, que sentei-me para ler o jornal de domingo (19/08), quando foi publicado a primeira matéria da série. Fiquei surpresa com o que li. Contrariando minhas expectativas, a reportagem era bastante completa, tinha fontes diversas – o comum é que a polícia seja a única fonte – e não continha os corriqueiros estereótipos que corroboram a criminalização da pobreza. Uma coisa que me chamou a atenção, foi que os jornalistas tocaram de forma clara e direta numa das feridas que mais incomodam o governo do Estado quando se fala em segurança pública, a violência e corrupção policial. Ainda que o governo teime em tratar os casos de policiais violentos ou corruptos como exceção, sabe-se que não é bem assim. E isso ficou claro quando reportagem mostrou que em alguns casos os moradores se sentem mais ameaçados pela polícia do que por organizações criminosas.

Como há muito não acontecia, fiquei satisfeita com o que li no jornal. Mas, ainda era cedo para dizer que me decepcionei. Afinal, tratava-se de uma série de matérias e aquela era só a primeira. Qualquer conclusão só deveria ser feita no próximo domingo. Acontece que não deu para esperar. Apresso-me para escrever sobre o tema, pois o jornal de hoje acabou com minhas boas impressões.

A reportagem, como nos dias anteriores, está excelente. Isso se deve, principalmente, aos bons depoimentos que tratam do tema central da matéria: moradores de favelas que passam a viver exilados.

A coisa começou a mudar quando li, na capa, a manchete: “Quando fugir da favela é a única solução”. E logo abaixo: “Tráfico leva moradores ao exílio”. Primeiro equívoco. Não é apenas o tráfico que faz com que moradores de favela tenham que fugir de suas casas e viver escondidos. A afirmação omite, também, o fato de que muitos moradores fogem e não podem sequer denunciar seus agressores à polícia, pois correm o risco de serem entregues por ela. A chamada persiste no erro, citando apenas o tráfico como grande vilão e conclui com uma fala do governador Sérgio Cabral: “essas atrocidades mostradas pelo Globo são reais. Esse poder paralelo é selvagem”.

Concordo plenamente com o governador. O poder paralelo é selvagem. E o poder do Estado seria o que, então? Será que o governador acha pouco essa selvageria e por isso manda o caveirão? Será que o governador só ficou sabendo dessas atrocidades pelo Globo? Será que ele ainda acha que policiais bandidos são coisa rara? Quantas atrocidades, como a do Alemão, o governador pretende cometer para acabar com as atrocidades reais?

Fiquei incomodada com a capa do jornal. Sabemos que a maioria das pessoas não lêem as reportagens, lêem apenas os títulos. Com a chamada, a manchete e a fala do governador, o jornal, mais uma vez, legitima a política de confronto, definindo as favelas como um espaço que serve de reduto para criminosos e justificando ações de extermínio da polícia. Se a lógica é de guerra, as mortes passam a ser tratadas como efeito colateral, um mal necessário. É esta a lógica do Estado e defendida pela imprensa.

Lógica que é defendida de forma escancarada no editorial desta edição. A primeira frase mostra bem o que vem pela frente: “Embora seja uma doença urbana disseminada pelo país, a favelização virou a cara do Rio”. Mais abaixo o jornal conclui que “a favela nada tem de romântico e idílico. Mora-se quase sempre mal (...)”. Fico imaginando quantas vezes o cidadão que escreveu este texto, foi a uma favela para fazê-lo com tamanha certeza. Não é preciso morar na favela para enxergar o belo que há nelas, para admirar a alegria, a criatividade e solidariedade que há entre os moradores – bem diferente do individualismo que reina nos condomínios da zona sul.

A expressão “doença urbana” mostra bem o lugar de quem escreveu. É doença para a elite racista que mora de frente para a praia e é o patrão que explora os trabalhadores que vivem nas favelas. É doença para a classe média imbecil deste país, os “papagaios de telejornal” que querem “que se exploda a periferia toda”, como bem resume a música de Max Gonzaga – o clip está no Youtube e Capilo já postou aqui.

De resto, o próprio jornal se desmente. Algumas páginas depois, na coluna do Ancelmo Gois, podemos ver dados de uma pesquisa feita pela professora Alba Zaluar. A pesquisa revela que 85% dos moradores de favela não gostariam de deixar sua comunidade. Se a mesma pergunta fosse feita em bairros de classe média, este número jamais seria tão alto. Afinal, Ipanema, Leblon e Barra da Tijuca são o sonho de consumo de “todo mundo”. Ou quase todo mundo, como mostra a pesquisa. Mas, como pode a favela não ter nada “de romântico” e tanta gente gostar de morar nela? Contradições da grande mídia. Ou melhor, mentiras da grande mídia.

O que o editorial do Globo faz, é defender a política do governo do Estado, a política da elite, que a classe média avaliza, sonhando um dia morar na Vieira Souto. Para isso, o jornal usa, como argumento, a realidade cruel a qual os moradores de favela são submetidos. Pois, são eles as principais vítimas, não só da violência, mas da ausência do poder público, da exploração do trabalho e da concentração de renda. Para O Globo, o problema da nossa sociedade resume-se a existência de favelas. É o ditador da mídia questionando a ditadura nas comunidade populares. É o jornal burguês fazendo-se de paladino dos pobres favelados. Com certeza, a grande mídia não me decepciona.

domingo, 19 de agosto de 2007

Sujinho

aos burguesinhos de havaianas...

filhos e filhas que dizem almejar paz e amor
quando na verdade procuram
por conforto e prazer

eu vos digo:

o único conforto que eu vislumbro oferecer
é o dorso (quase) tênue
do meu pau duro

e o prazer
é o quando a gosma escorrer
escurecer e inundar
o berço que tu nasceste

o homem só funciona na escassez

compreendeste agora, fantasiado burguês?

Rodrigo Bodão e Bernardo Bulls

poema escrito no famoso bar da UFRJ entre cervejas, cigarros, amendoins e cercado por dezenas de jovens universitários que exercitavam sua rebeldia e estilo largadão mantendo os pés sujos...se é que vcs me entendem...

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Cansei... (ainda bem que acabou...)

o Cartaz da campanha dos cansados...
E a revista Caras. Quase os mesmos personagens...

Uol usa botox e silicone na manifestação do "Cansei" *

Do blog do Rovai

É impressionante como alguns setores da mídia perderam completamente a vergonha e a cara-de-pau. Eram umas 12h30 quando cheguei à Praça da Sé para começar a cobertura do evento que mereceu durante 30 dias destaque em toda a mídia nacional. Naquele momento liguei para o editor executivo da Fórum, Glauco Faria, que trabalhou na atualização do blog na redação e lhe informei que os cansados eram aproximadamente uns 300. Atualizo agora a informação, ao final do ato creio que havia entre 1,2 mil e 1,5 mil pessoas. Uma boa parte que não tinha nada a ver com o movimento, mas que em pleno horário de almoço na Praça da Sé, vendo o locutor anunciar a presença de Hebe, Ivete Sangalo, Agnaldo Rayol, Osmar Santos etc., parou e ficou para ver o que ia acontecer. Lembrem-se, foi um ato rápido. O grande protesto foi entre 13h00 e 13h01, o tal 1 minuto de silêncio.

Mas, para minha surpresa, quando cheguei à redação e acessei o Universo On Line vejo que o portal do grupo Folha de S. Paulo, trabalha com a informação divulgada pelo presidente da OAB-SP. Veja o que D´Urso disse: “Somos 5 mil pessoas, gente em todos os cantos dessa praça. Gente espalhada pelos prédios, gente que nos apóia”. Para chegar aos 5 mil, o presidente da OAB-SP precisou contabilizar as pessoas que olhavam o que estava acontecendo a partir dos prédios, precisou contar os que estavam em todos os cantos da Praça da Sé.

Já o Uol não precisou de nada disso para chegar nas 5 mil pessoas. Apenas usou a CET do Kassab e a PM do Serra, além do método mais picareta que existe para construir imagens que dêem idéia de multidão. Deu destaque para algumas fotos com pequenos grupos e para uma ou outra com profundidade, mas com destaque para o primeiro plano. Se quiser conferir,
vá lá. Olhe no álbum de fotos da manifestação. Agora, olha aqui a foto feita às 13h10 pelo jornalista Fredi Vasconcelos. Vejam a diferença dessa imagem para a que o Uol publica.


Com aquelas fotos, quem não foi fica impressionado. Quem não foi pensa em gente pulando indignada, vaiando com força. Uma das imagens, por exemplo, destaca um senhor de camisa azul e cabelos brancos com a mão na boca e um engravatado feliz apoiando a vaia do colega.

Outra foto, mostra uma senhora com óculos escuros e cara de choro e um manifestante com um cartaz anti-Lula. Dá idéia de emoção e revolta. Pois bem. Vamos ao que ocorreu então.

Uma manifestação sem pé nem cabeça – Foram poucas às vezes que fui a um ato tão sem pé e nem cabeça como a esse de hoje. Ele não tinha palavras de ordem, reivindicações, nada. Tinha 1 minuto de silêncio, Agnaldo Rayol cantando o hino nacional, vários famosos no palanque e um apresentador que deu o toque político (veja abaixo). Aliás, ele, pelo que apurei um advogado conhecido por JB, não cansou de repetir “que não era uma manifestação contra o governo. Não era contra um partido” (Freud explica).

E foi pela boca do JB que saiu quase tudo que foi dito no ato. Além dele, falaram apenas os religiosos que fizeram o culto ecumênico (entre eles o Padre Antonio Maria), o presidente da OAB-SP e Hebe, que disse umas três frases.

Sem dúvida, o mais interessante foram as frases do advogado JB, destaco algumas:

— E esse movimento em defesa do Brasil haveria de começar de começar em São Paulo. Por que no brasão da bandeira do Estado de São Paulo, em latim, está escrito: ‘não sou conduzido, conduzo’. E nós de São Paulo conduzimos. E vamos conduzir o Brasil. Para o bem, claro...

— Acho que muitos dos que vieram aqui, como eu, vivem o mesmo drama. Apesar de minha filha ter estudado numa das melhores faculdades do Brasil, mesmo tendo feito estágios em excelentes empresas, minha filha teve que ir morar fora do Brasil para trabalhar. Hoje minha filha está lá fora. Ela vive na Europa. E eu quando tenho saudades da minha neta tenho que atravessar o Oceano para lhe dar um beijo.

— Acaba de chegar o apresentador Osmar Santos. Osmar Santos é uma pessoa que perdeu os movimentos físicos, mas está com todos os seus movimentos cívicos.

— Vale mais acender uma vela do que enaltecer a escuridão.

Bem, o advogado JB disse outras tantas frases ‘impactantes’ que traduzem um pouco da luta e da indignação do movimento "Cansei". Lembrou, por exemplo, o hino do exército, que, segundo ele, fala “a paz queremos com fervor”. E lembrou que há alguns anos as pessoas não sabiam o que era a palavra sequestro.

Mas além das falas de JB, algumas outras histórias também merecem registro:

Historinha 1 – Ao fim do ato os famosos saíram escoltados pelos “homens de preto”. Seguranças fortes e de terno garantiram com algumas boas cotoveladas que os famosos passassem num corredor polonês completamente protegidos daqueles que ali estavam para conseguir um autógrafo. De repente, um grupo de aproximadamente 30 pessoas começou a cantar: “Ana Maria, cadê você, eu vim aqui só pra te ver”. Das quatro famosas que chamaram a convocação em filipetas e cartazes, apenas a metade esteve lá. Hebe e Sangalo foram, mas Regina Duarte e Ana Maria Braga talvez tenham sido substituídas por Silvia Popovic e pela ex-deputada federal tucana, Zulaiê Cobra Ribeiro, uma das mais animadas em cima do palanque.

Historinha 2 – D´Urso da OAB-SP anuncia que é chegada a hora do 1 minuto de silêncio. O palanque está a frente da escadaria da Sé. Uma boa parte dos cansados que foram à manifestação sentou ali, nas escadas, ao invés de ir para a frente do palanque. A equipe de TV do "Cansei" começa a filmar a escadaria e percebe que as pessoas continuam sentadas, imóveis. O jornalista (imagino que era um jornalista) que vestia uma camisa preta, com o slogan "Cansei", começa a pedir desesperado, agitando os braços, que as pessoas se levantem e coloquem a mão no peito para que possa fazer as imagens. Em menos de 1 minuto a cena estava pronta.


Historinha 3 – Faltavam cinco minutos para o ato começar. Um senhor simples, carregando um saco plástico com alguns mantimentos dentro chega atrás do palanque e fica olhando como se não estivesse entendendo nada. Pára, olha pros lados, e como vê muita gente de preto, pergunta para um bem postado engravatado: “Ué, o que tá acontecendo, morreu alguém?”. O engravatado, olha de cima pra baixo, faz uma cara de nojo, vira as costas e sai andando. Este jornalista, que acompanhava a cena, explica para o senhor o que está acontecendo. Ele devolve com uma outra pergunta: “então é coisa contra o Lula?”. Dou um sorriso. Ele balança a cabeça, faz cara de nojo e sai andando.

Historinha 4 – Enquanto o apresentador JB lamentava os 30 dias completados nesta sexta-feira, 17, do pior acidente da aviação brasileira, uma das manifestantes, que pediu para ser identificada apenas como Maria, levantou-se das escadas de frente à Catedral, onde estava sentada, e gritou:

“E o Metrô? Fala do buraco do Metrô, foi lá que começou.”

Segundo ela, que passava no local e aderiu porque viu que não era um movimento contra nada e nem contra ninguém, o descaso geral começou com o acidente do Metrô em Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo. Na ocasião, “morreram, foram enterrados, e todos se esqueceram deles”. Ela não compara as tragédias, só pede que seja também lembrada.

O apresentador termina o discurso, ouve os gritos e sinaliza com as mãos que depois voltará à carga, incluindo no discurso o acidente nas obras sob responsabilidade do governo estadual. Claro, o ato termina sem que o caso do Metrô fosse lembrado.

Por fim – Até entendo que seria demais para o Uol contar essas e outras tantas histórias do ato de hoje, mas não precisava exager tanto no botox e no silicone para deixar a manifestação do "Cansei" tão mais bonita do que ela foi.

*
Renato Rovai é editor da Revista Fórum. Neste blog conta com produção de artigos e reportagens por parte de colaboradores e da redação da revista.

Falando em outubro do ano passado...

... Está chegando outubro novamente. E algumas feridas ainda continuam expostas. Abaixo uma lembrança:

“Quando milhares de mães comemoram com seus filhos o dia 12 de outubro, a Maré (favela do Rio de Janeiro) realiza manifestação contra a violência policial, a partir de 13 horas na Praça Nova Holanda. A manifestação vai relembrar a morte, no dia 1º de outubro, de Renan da Costa, de apenas três anos, e de mais outras quatro crianças nos últimos vinte dias em favelas cariocas.

Como forma de repúdio à violência praticadas pela Polícia Militar no Rio de Janeiro, diversas comunidades populares se reúnem dia 12 para reivindicar uma nova política de segurança pública para a cidade. Nos últimos 20 dias, cinco crianças foram assassinadas em ações policiais: Renan da Costa, de três anos na Maré, Paulo Vinícius, de sete anos em Vigário Geral, Guilherme Custódio, de oito anos, na Ilha do Governador, Lohan de Souza, de nove anos, no Morro do Borel e Moisés Alves, de 16 anos no Complexo do Alemão.”

Faz quase um ano, e a nossa política de segurança só aumentou a violência, só aumentaram o número de mortes (em dia, em operação no complexo do Alemão, foram 19 mortos. Destes, 16 com suspeita de execução, sendo três com tiro na nuca), e a nossa imprensa, pqp (perdão!), só faz apoiar as iniciativas violentas empregadas pelo nosso estado.

Uma política de segurança que prega a guerra, que vê a morte de inocentes como efeito colateral não dá para ser aceita (na verdade, não era para ser aceita, mas a imprensa aqui faz o seu papel (sic) e dá a maior força – quanto mais pobre morto, melhor!). E continuamos morrendo do lado de cá, enquanto os de lá continuam com medo. Um dia essa porra estoura, e vai lá saber o que pode acontecer.

Para não cair no esquecimento: As crianças mortas
• Renan da Costa Ribeiro, três anos, morto dia primeiro de outubro de 2006, com um tiro de fuzil na barriga, na comunidade de Nova Holanda na Maré.
• Paulo Vinícius de Oliveira Chaves, sete anos, morto atropelado por uma viatura da Polícia Militar, dia 20 de setembro de 2006, em Vigário Geral.
• Guilherme Custódio Morais, oito anos, morto dia 20 de setembro de 2006, por bala perdida na Favela do Guarabu, na Ilha do Governador
• Lohan de Souza Santos, nove anos, morto por uma bala de fuzil na cabeça no dia 16 de setembro de 2006, no Morro do Borel.
• Moisés Alves Tinim, 16 anos, morto dia dois de outubro de 2006, com um tiro de fuzil, no Morro da Esperança no Complexo do Alemão.

Fico me perguntando... até quando...

Faveleiro escreveu aqui: “Até quando ficaremos neste imbecil e equivocado discurso do ‘de onde partiu a bala que matou a vítima?’ Não importa de onde partiu o projétil! A polícia deve ser responsabilizada por estas mortes por provocar intensos tiroteios em espaços tão densamente povoados.”

Em outubro do ano passado, assisti a um seminário sobre mídia e violência, no Rio. Compunham a mesa jornalistas, policiais, pesquisadores e representantes da sociedade civil. Entre os jornalistas, o repórter do Jornal Nacional, André Luiz Azevedo, defendeu em sua fala o que para ele é fato: uma morte em um bairro nobre do Rio é notícia, mas na periferia não.

Deixou bem claro para quem estava lá que os jornais são feitos não para quem mora na Baixada, ou no Grajaú, ou em qualquer outro lugar que não seja a zona sul, São Conrado ou Barra. “Quem compra jornal é a elite, e é para ela que trabalhamos”, bradou o jornalista na ocasião.

Por que

Esse veio à tona, na época, porque a morte de cinco jovens na lagoa Rodrigo de Freitas (claro, na zona sul do Rio) virou manchete de capa por mais de uma semana nos dois maiores jornais da capital carioca. Enquanto, na mesma época, não me recordo o número exato (olha eu reproduzindo essa mídia calhorda, dando mais importância a um do que a outro – claro, influenciado por ela, que me encheu de informações sobre a morte dos jovens na lagoa e quase nada sobre o fato que não me recordo tão bem (mas que para mim foi muito mais chocante à época!)) de jovens que foram mortos por engano na Maré, confundidos com bandidos.

Isso questionado, veio a resposta citada (e questionada apenas por três pessoas do público e por ninguém que estava à mesa). Aqui, os companheiros Faveleiro e Bodão postam a notícia de uma mulher assassinada na frente do filho de quatro anos. Tão dramático que virou notícia. Mas isso hoje, no máximo uma suíte (continuidade da matéria) amanhã, mas duvido que seja alguma coisa comparada às suítes de mais de 10 dias da morte de cinco jovens que saíram bêbados e bateram com o carro importado dado (u emprestado, no caso não importa) pelos pais (longe de estar aqui achando bonito a morte dos garotos, não quero ser mal interpretado).

E então?
E aí a pergunta, até quando isso vai continuar, essa violência contra os mais pobres, essa conivência da nossa imprensa (conivência para não dizer apoio sistemático, proposital)?

Numa letra de um rap postada aqui, surgiu um comentário “pena ser tão utópico”. O que devemos então fazer para esse tipo de situação deixar de acontecer, para que nossa utopia possa ser concretizada? Fico perdido, procurando ajuda, mas nem sempre encontro respostas (na verdade acho que nunca encontrei uma resposta para isso).
SEJA ENTÃO BEM VINDA CLEMENTINA DO CAPETA!!!

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Cartinha de Natal

Demorei, mas cheguei. Há dias venho pensando no que postar. Ando sem inspiração.
Daí, então, irei resgatar algo que escrevi há uns dias, motivada por Renan Calhorda, parafraseando um poeta pernambucano maravilhoso, Jessier Quirino.


Cartinha de Natal

Papai Noel de Brasília
Se conseguir encontrar
Aí pelo Planalto Central
Um cabra safado
Que se diz cumpadre nacional
Com fuça de javali
Falando em democracia
Em água pra Murici
Clamando por trabalho e luta
Avise ao fela da puta
Que os boi dele taqui


Eis-me aqui. E para o próximo, prometo algo inédito.

O tiro veio da polícia ou do traficante...? bla bla bla...

Desabafo:
Até quando ficaremos neste imbecil e equivocado discurso do "de onde partiu a bala que matou a vítima?" Não importa de onde partiu o projétil! A polícia deve ser responsabilizada por estas mortes por provocar intensos tiroteios em espaços tão densamente povoados. O Estado é responsável por privilegiar esta estratégia que coloca a vida de cidadãos moradores das favelas em risco. Que segurança pública é essa?
Interroguemo-nos: Qual foi e como foi o espaço dado na mídia para mais esta trágica morte? Houve comoções, bastas, cansei, velinhas na praia, mobilizações para se alterar legislações ou o caralho a quatro?
A porra dessa conservadora e podre classe média que nós temos é quem apóia e legitima esta barbárie!
Eu quero ver é o Caveirão invadir com tudo os condomínios de luxo da zona sul, roubando as almas dos playboys e violentando as patricinhas dos burgueses!!! Cairia até o presidente....

Mãe que levava filhos para escola é morta durante operação policial no Jacarezinho

Publicada em 15/08/2007 às 18h04mIsabel Boechat - Extra, CBN e O Globo Online

RIO - Uma operação policial realizada nesta quarta-feira na Favela do Jacarezinho deixou quatro mortos. Entre as vítimas está a dona-de-casa Elisângela Ramos da Silva, de 28 anos, que foi atingida na cabeça quando levava três filhos para a escola. Uma das crianças, de 4 anos, que estava no seu colo, também foi atingido na cabeça, de raspão. A criança foi operada no Hospital Salgado Filho e seu estado de saúde é estável. De acordo com policiais do 3º BPM (Méier), que realizam a operação com o objetivo de conter o tráfico de drogas, as outras três vítimas mortas tinham envolvimento com o crime. Outras duas pessoas foram presas e três armas apreendidas durante a ação.

Na terça-feira, cinUme a ação. co mortos em Vigário Geral

Operação em Vigário Geral nesta terça-feira/ Michel Filho - O Globo (14/08)

Nesta terça-feira, cinco pessoas morreram e nove ficaram feridas durante uma megaoperação na Favela de Vigário Geral (foto) para desarticular a quadrilha que controla o tráfico no local. Participaram cerca de 120 agentes de três delegacias especializadas. Segundo o chefe de Polícia Civil, delegado Gilberto Ribeiro, a operação desarticulou o bando.

No dia 30 de julho, logo após ao término dos Jogos Pan-Americanos no Rio, a polícia retomou o combate ao tráfico em favelas da cidade . Em operações simultâneas, cerca de 250 policiais civis e militares fizeram incursões na Mangueira, no Jacarezinho e em Vigário Geral. Um bandido foi morto e dez suspeitos foram presos. Em Vigário, nenhum tiro foi disparado na favela na ocasião. A polícia encontrou cinco casamatas (abrigos construídos em alvenaria por traficantes para suportar tiros) - destruídas no dia 31 - e prendeu quatro suspeitos. Também foram encontrados três tonéis enterrados com uma metralhadora, duas pistolas, munição antiaérea, balas de fuzil 556 e projéteis calibre 40.

No final de junho, terminou com 19 mortos e treze pessoas feridas - entre elas uma estudante que estava na escola e uma criança - uma megaoperação realizada pela polícia, no Complexo do Alemão , na Zona Norte do Rio . Treze corpos foram recolhidos pela própria polícia, e outros seis foram deixados à noite numa van em frente à 22ª DP (Penha). A operação reuniu 1.350 policiais, entre civis, militares e soldados da Força Nacional; e foi a maior realizada no complexo desde que a polícia ocupou as favelas, no dia 2 de maio, após criminosos que seriam do Alemão terem assassinado dois policiais, em Oswaldo Cruz, também na Zona Norte.

SAUDAÇÃO

A cada animal que abate ou come sua própria espécie
E cada caçador com rifles montados em camionetas
E cada miliciano ou atirador particular com mira telescópica
E cada capataz sulista de botas com seus cães & espingardas de cano serrado
E cada policial guardião da paz com seus cães treinados para rastrear & matar
E cada tira à paisana ou agente secreto com seu coldre oculto cheio de morte
E cada funcionário público que dispara contra o público ou que alveja-para-matar criminosos em fuga
E cada Guardia Civil em qualquer pais que guarda os civis com algemas & carabinas
E cada guarda-fronteiras em tanto faz qual posto da barreira em tanto faz qual lado de
qual Muro de Berlim cortina de Bambu ou de Tortilha
E cada soldado de elite patrulheiro rodoviário
em calças de equitação sob medida & capacete protetor de plástico
& revólver em coldre ornado de prata
E cada radiopatrulha com armas antimotim & sirenes e cada tanque antimotim com
cassetetes & gás lacrimogênio
E cada piloto de avião com foguetes & napalm sob as asas
E cada capelão que abençoa bombardeiros que decolam
E qualquer Departamento de Estado de qualquer
superestado que vende armas aos dois lados
E cada Nacionalista em tanto faz que Nação em tanto faz qual mundo Preto Pardo ou Branco
que mata por sua Nação
E cada profeta com arma de fogo ou branca
e quem quer que reforce as luzes do espírito à força
ou reforce o poder de qualquer estado com mais Poder
E a qualquer um e a todos que matam & matam & matam & matam pela Paz
Eu ergo meu dedo médio na única saudação apropriada

Lawrence Ferlinghetti

Prisão de Santa Rita, 1968

[Tradução: Nelson Ascher]

AI! SE SÊSSE!...

Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dos se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e se tu insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?...
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!

Zé da Luz

MAIS UM CRIME BANAL NUMA NOITE QUALQUER

O sujeito comprou uma pistola:
desde os tempos da escola,
sonhava, um dia, arrumar.

Foi correndo pra casa
mostrar pra sua amada
o que acabara de comprar.

Abriu a porta e foi entrando,
afobado e ofegando,
com a arma engatilhada, preparada pra atirar.

Deu de cara com a vadia
sobre outro, em plena putaria,
dentro do seu próprio lar.

Vendo aquilo então pirou
e só depois que atirou
foi que parou para pensar.

Aturdido com a surpresa,
pôs a arma sobre a mesa
e deitou-se no sofá.

Cometera um erro grave,
decidiu solene e breve:
tinha de se castigar.

Pra cadeia é que não ia,
lá dentro formar quadrilha
e outros tantos crimes praticar.

Ser traído é um triste enfado,
pensou: corno é que nem viado,
todos vão sacanear.

Encheu de fumo um cachimbo,
condenou-se para o limbo,
mas antes queria fumar.

Acabou, fechou os olhos,
deu-se um tiro nos miolos,
nem viu o sol raiar.

Pois uma coisa ele sabia,
depois de nascido o dia,
não ia mais se matar

e sua vida se tornaria
uma fuga doentia,
com medo em todo lugar.

Depois de dias a polícia
averiguou a denúncia
do cheiro que vinha de lá.

Arrombaram então a porta
e encontraram a gente morta:
dois na cama, um no sofá.

Recolheram os defuntos
e levaram todos juntos
para o crime registrar.

E o que mais me deprime
é que a história desse crime
a poucos comoverá,

pois matar já é tão normal
e eu duvido que o jornal
tenha espaço pra contar.

Rodrigo Bodão

do livro "Comunhão e outros Poemas"

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

EU TENHO UM SONHO (I HAVE A DREAM)

Essa é a letra de um rap, escrito por Mc Fael, do grupo Conseqüentes MCs. Os caras têm um sonho, e lá vai a letra, que se espelha no discurso de Martin Luther King.


Assim como Martin Luther King, os Conseqüentes também têm um sonho
E ele é mais ou menos assim...

Um dia,
Em todo extremo da terra,
Seja nas colinas
Seja lá nas serras,
Não haverá mais
nem um pingo de guerra.

Pois existirá
paz e igualdade,
Conseqüência disso
Justiça e liberdade.

As pessoas
terão uma sina,
Irão enxergar
beleza na vida,
Nos mais simples sentidos,
seja num abraço
ou num sorriso.
Deixaremos de ver
Aparência, para enxergar o espírito.


Não ficaremos
à mercê do mercado,
Não haverá
patrão nem empregado.
Igualdade não será
mais uma teoria,
Estará na prática
de todo dia.

Todas as famílias
sem-terra serão assentadas,
Não vai haver latifúndio nem
Propriedade privada,
Igualdade social
será conquistada.

Um homosexual,
Será olhado como
Um ser humano normal.

Os índios terão
sua cultura respeitada,
Suas terras
por ninguém será tomada.

As mulheres vão
se dar o valor,
Não irão se submeter
à discriminação e dor.
Os homens, é
manterão seu pudor.

As pessoas serão vistas
pelo caráter
E não pela cor.

Os negros,
Não precisarão de leis
Pra terem seus direitos,
Estará extinto
todo o tipo
de preconceito.
A lei anti-racismo
estará escrita
Dentro do nosso peito.

Então, será perfeito!

Seremos todos
Iguais e pronto.

“EU TENHO UM SONHO!”
Muitos morreram por este sonho, mas o sonho não acabou. A luta continua irmão, a luta é eterna!

Não vai haver
Esta paz controlada,
Pois a liberdade não
Nos será ditada.
Por isso as armas
Jamais serão usadas.

Polícia não será
um órgão repressor,
O povo não irá
viver entre a miséria e a dor.

Será respeitado todo o tipo
de manifestação e divergência,
Não haverá tropa de choque
praticando violência.
Então, conseqüência:
liberdade de expressão,
Diferenças chegando
à união. Conclusão:
Paz entre os irmãos!

Na Colômbia será feito
a Revolução,
Que terá como ideal,
Justiça social
Paz, por lá
agora é normal.

Em Israel,
a esperança terá caminho,
Será decretado um Estado
Onde judeus e palestinos
Viverão juntos,
E bem tranqüilos.
Não havendo mais conflitos.

E lá na Caxemira
será encontrada
uma solução,
Irá ser assinada a Paz,
entre a Índia e o Paquistão.

Na Irlanda do Norte,
católicos e protestantes
Irão escrever
uma história importante,
Que tem como título:
“O fim da intervenção”,
será criado então,
Um governo que tem
como base a união.

Os Zapatistas em Chiapas,
terão conquistado
A liberdade tão sonhada.
Os indígenas
não terão rancor,
Mas irão mostrar
o quanto têm valor.

No Brasil,
As favelas serão trocadas,
Por moradias dignas
de serem habitadas.
Não vai haver nem um tipo
De tráfico nem droga
Pessoas terão direito a
Alimentação e escola.

Nossa vizinha Argentina,
irá ter dado a volta por cima.
Nossa mãe África,
será um exemplo na prática
De paz e justiça,
desse jeito haverá
Democracia.

Assim,
Será o fim de
todo o confronto,

“EU TENHO UM SONHO!”
Como todo sonho, é preciso lutar para realizá-lo, só depende de mim, só depende de vocês.

Encontraremos a
Chave da nossa prisão,
Faremos dentro de nós
a revolução.

Perceberemos então,
Que liberdade não é ver
O sol nascer,
mas estar no escuro
e enxergar a luz
dentro de você.

A chama da liberdade
uma vez acendida,
Permanecerá
até sua conquista.
Parece ilusão ou fantasia,
Mas acredite!
Pois hoje,
O fogo que acende a tocha
Que luta por justiça,
Amanhã será o sol
Que nos ilumina.

Por isso, esteja
disposto a lutar,
E já será uma semente
plantada no mundo,
Sua raiz irá
espalhar e juntos,
Faremos um novo futuro.

Onde,
Toda a vingança,
ódio e dor,
Serão superados
pela força do amor.

Saberemos o quanto
somos limitados,
Mas veremos todos
como irmãos
que estão do nosso lado.
Nossos limites, então,
serão ultrapassados.
E não faremos jamais
conceito antecipado.

Será natural
sentimentos como a bondade,
Estará presente
na humanidade.

A voz da esperança
irá ecoar,
Dizendo à criança que antes
não tinha onde morar,
“ você filho,
finalmente livre está,
não precisa mais chorar”.

Assim, nossos filhos
Serão os filhos dos outros,
Nossos irmãos
Serão todo o povo,
Nossas conquistas
É, serão de todos.

Teremos Paz,
Justiça e Liberdade,
Nossa família
se chamará humanidade.

Parece até que é
O paraíso do evangelho
que estou expondo,
Mas na verdade é
apenas o NOSSO SONHO.

Mc Fael

Falando em jornalismo...


E já que custei a postar alguma coisa por aqui, vou aproveitar o embalo. Falei há pouco de uma entrevista com Fausto Wolff, jornalista das antigas, e bom. Da mesma leva, tínhamos Joel Silveira, autor de mais de 40 livros e de nem imagino quantas reportagens, publicadas em diversas publicações.

Joel morreu na manhã de hoje, quarta-feira (15 de agosto), aos 88 anos. Assis Chateaubriand, o Chatô, chamava-o de víbora, divertida e ferina. Numa de suas famosas crônicas, relatava o casamento da elite paulistana. Na mesma crônica, relatava o casamento de um casal, a noiva, empregada de uma das fábricas do Matarazzo, ricaço paulista que estava também casando. Abaixo um trechinho, que acho que vale a pena:

"(....) Oitenta milhões de cruzeiros de dote; duzentos mil cruzeiros para um souvenir oferecido à noiva pelos diretores do grupo Matarazzo; um núncio e três bispos; coral com a melhor música sacra de Palestrina - tanta coisa mais, meu Deus, que teria acontecido com o conde Francisco Matarazzo Júnior? Que teria acontecido? Antes tão pacato, metido lá com os seus negócios, de casa para suas fábricas, das fábricas para o maciço arranha-céu do viaduto, e de repente, por artes diabólicas, o demônio da ostentação toma conta do seu espírito e o obriga àquele espalhafato todo.

'Não sei não, meu senhor, mas acho que o conde Chiquinho está gastando dinheiro demais', foi o que me disse, na redação do Diário de São Paulo, dona Olívia Figueira Ramos, mãe de uma outra noiva, imensamente mais modesta. Ela fora ali, atraída pela publicidade que o jornal vinha dando ao imponente casório, e nos aparecia armada de uma lógica ingênua e simples. Disse:

- Leio todo dia notícias do casamento da filha do conde, e pensei que os senhores podiam publicar uma notinha qualquer sobre o noivado de minha filha. Ela se casa sábado. (....) Moço, será que só a filha do Matarazzo tem o direito de ver o seu casamento noticiado pelos jornais? Gente pobre também não casa?', perguntou dona Olívia ao repórter. E lá fomos nós para o casamento da filha.

[Joel Silveira narra em seguida o casamento, "em humilde casa da Vila Romana, de Nadir Figueira Ramos, operária de uma das fábricas Matarazzo, com o rapaz José Tedeschi, torneiro-mecânico".]

Era, afinal, uma compensação, um tanto melancólica, para quem não pode romper a terrível e impraticável parede que separa o mundo dourado do palácio da Avenida Paulista e o mundo prosaico da rua, o nosso mundo. E de tais compensações vivem os repórteres otimistas."

-"A 1.002ª noite da Avenida Paulista", reportagem publicada originalmente no jornal Diretrizes em 1945, republicada na coletânea Tempo de contar, Rio de Janeiro, José Olympio, 3ª edição, 1993, e reproduzida em A Arte da reportagem, livro organizado por Igor Fuser, São Paulo, Scritta, 1996.

Falando de Youtube...


… Nessa andada que dei para assistir um vídeo que um amigo indicou via Msn, acabei vendo outro, uma entrevista com Fausto Wolff, jornalista das antigas aqui do Brasil, talvez não muito conhecido entre os jovens. Tenho uma certa admiração pelo cara. Além de beber muito (coisa que já não agüento tanto mais hoje – e nem perto de ter a idade dele), o cara tem um texto que considero excelente. Uma obra dele, que indico para todos os amigos - e não amigos também - é “O lobo atrás do espelho”. Li há uns sete anos, e a recordação que tenho é de que foi um dos melhores livros – se não o melhor – que já li na vida (tá certo, não foram tantos assim, mas também não foram tão poucos).

Bom, quando vi uma entrevista com ele no Youtube, fui logo clicando. Já chamava a atenção o copo de cerveja, e a entrevista em várias partes. Em cada uma o copo tinha uma golada a menos. Nada demais, mas mais criativo que muita coisa que vemos por aí.

Aí veio a primeira pergunta: “Fausto, o que acha do jornalismo praticado pelos jornalistas de hoje?”. A resposta vocês conseguem assistindo ao vídeo aqui postado. Tem apenas 27 segundos, e por isso não é desculpa pra ninguém falar que está sem tempo, ou sem paciência.

Fausto Wolf e o nosso jornalismo

Sou Classe Média...

Esse Youtube é uma beleza. Tem merda pra carái, mas muita coisa bacana. Dá pra se perder um bom tempo na frente do computador, vendo os vídeos e lincando nos que vão surgindo na tela. Pra isso só me basta alguém enviar um link, que vou assistir, e se estiver com tempo, vejo pelo menos mais uns 10. O foda é que a maioria nem é tão legal, e por isso os enviados geralmente são os melhores. E que têm mais sentido.

Há poucos dias recebi um linque prum vídeo bacana, com “Max Gonzaga e Banda Marginal”. Minha cultural musical é quase nula, então dizer que não conheço os caras não significa que eles não são conhecidos. Até porque, só no Youtube, tiveram mais de 164 mil acessos. Então, pelo menos pela internet, os caras parecem ser bem difundidos.

O vídeo é legal, e não cabe aqui falar sobre ele. É mais sensato que vejam por si só (basta de querer impor conceitos, idéias e impressões, cada um que tire suas próprias conclusões...). Segue aí, tem legenda, mas o som é fundamental.

Classe Média...

A Vale é Nossa!!!

Os movimentos sociais e entidades que participam da Campanha "A Vale é Nossa" lançaram neste final de julho o vídeo sobre o Plebiscito pela Anulação da Privatização da Vale do Rio Doce. O plebiscito popular acontece de 1º a 7 setembro e também abordará os temas da tarifa de energia, da dívida brasileira e da reforma da Previdência.O vídeo pode ser assistido na internet em http://br.youtube.com/watch?v=LM6oph1muCIA produção "A Vale é nossa" resgata os problemas ocorridos na privatização, como a sub-avaliação do patrimônio e do preço de venda da Vale. O vídeo lança luz sobre o fato de que até hoje, dez anos após o leilão, a Justiça não se pronunciou sobre esses problemas, de modo que mais de 100 ações questionando o processo aguardam julgamento definitivo.O vídeo traz entrevistas com os professores Fabio Konder Comparato (USP), Aluizio Leal (UFPA) e Helder Gomes (UFES) e de representantes dos movimentos e entidades, como João Pedro Stédile (MST), Paulo Maldos (Cimi), José Antonio Moroni (Inesc e Abong), Maria Lucia Fatorelli (Unafisco) e Luiz Fernando (Intersindical) . Os ex-deputados federais Dra. Clair e Sérgio Miranda, o bispo de Jales (SP), Dom Demétrio, o advogado Eloá Cruz, o jornalista Lúcio Flávio Pinto e o procurador do MPF-PA Ubiratan Cazzeta também integram o grupo de entrevistados. Depoimentos de moradores de Parauapebas (PA), onde se localiza o complexo mineral de Carajás, completam a relação de entrevistas, realizadas em dez cidades.Mais informações sobre a campanha em http://www.avaleenossa.org.br/Cópias do vídeo podem ser solicitadas pelos fones (11) 3105-9702 / 3112-1524 ou pelo e-mail http://br.f536.mail.yahoo.com/ym/Compose?To=avaleenossa@yahoo.com.br. As despesas de envio ficam por conta do solicitante.Leia mais sobre o vídeo em: http://www.intervozes.org.br/noticias/lancado-video-sobre-privatizacao-da-vale-plebiscito-acontece-em-setembro
Complexo do Alemão terá 2º Circulando no dia 1º

No dia primeiro de setembro, uma rapaziada do complexo do Alemão realiza a segunda edição do "Circulando – diálogo e comunicação na favela". No evento, apresentações de grafite na parte da manhã e à tarde exposições fotográficas sobre favelas, diversas oficinas e apresentações culturais e artísticas, além de sessão de cinema. Como da primeira vez, o Circulando acontece no Morro do Alemão, alí (pra quem conhece aquelas bandas) na entrada do Posto de Saúde, na Avenida Itararé.

O mais bacana é que é realizado por jovens moradores do complexo do Alemão, que resolveram fazer diferente, mostrar pra comunidade local que são eles que têm que começar a questionar como são representados pela mídia, mostrar o que consideram que são, e não do que normalmente são tachados.


Com isso o pessoal pretende que os moradores circulem pela favela e percebam que eles têm condições de alterar a sua realidade, que a saída é mesmo de dentro pra fora, e não de fora pra dentro. Precisam perceber que precisam ampliar suas formas de comunicação e diversificar as informações trocadas (sair desse tradicionalismo escroto, dessa visão unilateral da nossa mídia escroque).

Os caras têm também um blog (segue o linque no final dessa postagem), recente, parece que criado para esse segundo evento. O que também demonstra a versatilidade da comunicação, que, como alguns meios (infelizmente mais poderosos dos que os que nos são disponibilizados) podem nos prejudicar (para não dizer outra coisa), também podem servir para libertar (liberdade relativa, mas que é uma forma de começar a quebrar essa hegemonia - o que inclusive já vem sendo feito).

No primeiro Circulando, há uns três meses atrás, inauguraram, dentro do complexo do Alemão, uma galeria de grafite a céu aberto, com mais de 50 grafites. Durante o evento, mais uns 20 aumentaram o número de grafites da galeria. Nesse evento continua a produção. Daqui uns três eventos, vai faltar muro no Alemão para ser grafitado (tomara!).

Nesse evento, a galera vai repetir a dose do primeiro. Muito grafite na parte da manhã, mais no alto do Morro do Alemão (que pra baixo já não cabe mais grafite), chamando a galera para descer na parte da tarde, para as outras atividades do evento, que vão acontecer em frente à sede do Raízes em Movimento, grupo cultural dentro do Alemão e que apoia a iniciativa.

Na parte da tarde, música, diversas oficinas, exposição de fotografia, rap, freestyle e exibição de vídeos. Mais informações no blog dos caras:

http://www.eventocirculando.blogspot.com/

MUTANTES AOS MONTES

“Dizem que sou louco”(...)
talvez por não compartilhar,
passivo e resoluto,
dessa lógica selvagem
e seu medíocre produto:
a obscuridade subjetiva
em todo pensar pragmático,
tomando seres humanos
por objetos animados
pela motivação recíproca
de consumirem-se uns aos outros
a troco de um prazer barato e fugaz.
Ah!, quantas vezes mais
objetivar-me-ei estático e tenso
no pântano denso
do pragmatismo fanático.

Eu sou por ser!,
só por ser,
só por hoje
e até quando puder ser
o que outros não são nem foram,
mesmo que já o tenham sido.
Por não haver conhecido,
embriago-me do teor
original e ingênuo
de uma existência
artisticamente engendrada,
renegando a atrofia neurótica
da perambulação enquadrada.

“Dizem que sou louco”(...)
por festejar e entregar-me inteiro
sob os auspícios prazerosos
do lazer sem justa causa.
Por não perceber no dinheiro
a unânime certeza,
pusilânime nobreza
do homem quantificado,
generalizado objeto das ciências
e seus métodos sem crenças,
propagando a fé absurda
na algaravia muda
da paralisia profilática.

Qual sofisma burguês
a entorpecer a urbe
com seu discurso rude
e tecnologia apurada,
mecanizando a vida
e vitalizando a máquina,
cruel e perversa,
dos saberes legítimos
devoradores de sonhos.

Eu quero pensar feito criança,
esperança condensada!
Fantasia retumbante
de uma sombra projetada
nos estapafúrdios recantos
da minha vida presente
¾ passado e futuro presentes
na adulta alma talhada.

Não quero a fala mansa,
quero um grito ou um canto.
Quero sempre ser criança
como num perpétuo encanto
fazendo-me envelhecer
sem jamais perder o espanto.

“Mais louco é quem me diz
e não é feliz” (...)
porque pensa que a felicidade é mais um produto de sua lógica pragmática a ser vendido e comprado e obtido e conservado, apesar das agruras do tempo e espaço, das desventuras de quem vive em busca do pedaço que lhe falta, como se assim completo, alcançasse o Dom supremo e universal na medida em que é objeto mensurado e dividido e esquadrinhado e imperfeito, pois lhe falta A verdade, sem perceber que desprezar A verdade é a única maneira, a última fronteira do estado momentâneo, tênue e quase imperceptível de

felicidade.

Se vivo outra realidade,
sim, sou muito louco,
mas nesses torpes e insanos momentos
“eu sou feliz
e juro que é melhor
não ser o normal
se eu posso pensar
que Deus” (...) morreu.
E rejeitar essa divindade monetária
adorada num shopping center qualquer.
E gritar que loucos são os outros
e pensem de mim o que quiser!
E continuem procurando
o pedaço que falta
em seus quebra-cabeças existenciais!
As peças finais
que suas infâncias esquecidas
lhes furtaram,
fundando seus tormentos.

Minha loucura
é um elemento trágico
e a força mágica em meu fundamento.

E minha felicidade
é um convívio orgástico
e a potência máxima desse pensamento

em que me perco,
louco, e me sustento
solto em meu próprio esquecimento.

Pouco a pouco,
não mais me experimento.
Abandonando meu umbigo
e esse tal Rodrigo
Costa do Nascimento.

Seja noite ou seja dia,
perco os sentidos, me afogo
numa sublime orgia,
e dissolvido transbordo
o doce mar da Poesia.

Ah! minha felicidade,
quem diria,
é viver a loucura da poesia
“diariamente” (...)

Rodrigo Bodão


* * *


Veja:

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Caveirão: algumas considerações


O Comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais - BOPE, publicou em seu blog, dentre os seus vários artigos, um que aborda a discussão do uso do chamado “Caveirão”, posta em pauta a partir da Campanha contra a utilização deste veículo, lançada há cerca de um ano. No artigo, o Cel. Mário Sérgio tenta refutar todas acusações levantadas pelas entidades e movimentos sociais envolvidos na Campanha. Gostaria então de destacar a primeira colocação feita pelo comandante para, a partir dela, expor algumas considerações a respeito deste instrumento que vem causando horrores nas diversas comunidades por onde passa. E ainda, em relação à Campanha Contra o Caveirão, que se tornou a principal luta dos movimentos ligados à defesa dos direitos humanos no campo da segurança pública.


O Cmte. do BOPE inicia o artigo declarando que vem acompanhando a campanha “com detida atenção”. Percebe-se de imediato que o autor recusa-se inicialmente a empregar o termo popularmente conhecido, preferindo então chamar o caveirão de 'Viatura Blindada para Transporte Protegido de Policiais Militares' do BOPE. Reside nesta denominação uma contradição, existente também nos argumentos utilizados pelas autoridades de Segurança Pública Estadual. Ora, se de fato tal viatura tem como finalidade realizar o “transporte protegido de policiais militares”, como se explica então a alto poder bélico empregado neste veículo. Ocorre que, na verdade, o caveirão, desde a sua concepção inicial deixou de ser um instrumento de defesa, como alega o Governo, para ser um instrumento de ataque. Basta observar a estrutura da viatura, na qual dispõe de vários orifícios onde são introduzidos os fuzis dos policiais ocupantes, que muitas vezes realizam disparos indiscriminadamente causando mortes, medo e destruição pelo caminho.


Os inúmeros relatos dos moradores das diversas comunidades que já sofreram com as incursões do caveirão apontam sempre para a constatação de que o veículo é um instrumento de ataque e terror, longe de ser uma mera “viatura de transporte protegido”. Além disso, o caveirão tornou-se mais um elemento que ajuda de forma eficaz nas práticas de corrupção policial. Dispondo agora de uma viatura que oferece um alto poder letal e que torna os ocupantes inatingíveis, os policiais corruptos elevam o preço dos chamados “arregos”. Fica então mais caro o valor pago pelo tráfico para que a policia não entre. São comuns também os casos em que jovens empregados no tráfico são seqüestrados pelo caveirão. No decorrer do artigo do coronel Mário Sérgio, é possível encontrar outras inúmeras contradições e retóricas, que se distanciam acentuadamente do que de fato ocorre nas ruas.


A Campanha contra o Caveirão é, sem dúvida, um importante movimento da sociedade civil na luta contra este modelo de segurança pública vigente. Com o apoio das entidades envolvidas conseguiu, de alguma forma, colocar o assunto na pauta da discussão e, conseqüentemente, forçar as autoridades de segurança pública a se manifestarem sobre as denúncias das vítimas. Por outro lado, avalia-se também que os avanços foram poucos, visto que, as viaturas não só continuam circulando e espalhando medo nas comunidades populares, como também vem aumentando em número.


A batalha que a Campanha vem travando com o Governo Estadual está longe de ser simples, por vários motivos: não há um apoio e reconhecimento por parte da mídia nesta campanha; a participação de moradores das comunidades em manifestações públicas ainda é muito tímida; as vozes que defendem este modelo de segurança pública, bem como o uso do caveirão, terminam ecoando com mais intensidade nos gabinetes das autoridades competentes.


Assim, mesmo com este novo Governador, que em algum momento sinalizou para uma nova política de segurança pública, na qual, o caveirão não faria parte, por exemplo, é pouco provável que tenhamos um quadro favorável, haja visto as últimas ações policiais ocorridos na cidade, principalmente no Complexo do Alemão, assim como os discursos e declarações proferidos pelo Governo Estadual na seqüência.


Desta forma, é preciso, desde já, pensar e considerar que o saldo poderá ser pouco positivo neste embate. Com isso, algumas reflexões e proposições devem realizadas focando principalmente a ação policial nas favelas, com vistas a reduzir os chamados “autos de resistência”. Nesse sentido, devemos pensar em que medida pode-se estabelecer um maior controle sobre as ações das policias nas periferias. De que forma, por exemplo pode-se controlar com mais eficácia as ações do caveirão e conter suas incursões violentas?


Segundo informações obtidas na Secretaria de Direitos Humanos, no inicio de 2006, todos os veículos blindados da Policia Militar estariam sendo monitorados, por meio de um mapeamento do seu trajeto. As saídas dos veículos somente se dariam com a autorização do Comandante Geral da Polícia Militar. Estas medidas, se de fato foram executadas, não surtiram efeito positivo, já que as denúncias de violações continuaram. Uma primeira medida, talvez, fosse a desmilitarização do veículo. Os chamados caveirões se de fato atuarem apenas como “Viaturas Blindadas para Transporte Protegido de Policiais”, como denomina o Cel. Mário Sergio, já significará um certo avanço na luta pela redução da violência letal. Mas, para isso, será necessário que haja modificações em sua estrutura que impossibilite os disparos do interior do veículo.


A medida sugerida ainda não seria suficiente para conter outros desvios de conduta, tais como os seqüestros, conforme mencionei anteriormente. Sendo assim, seria então necessária a adoção de uma estratégia que fosse na direção de um eficiente mecanismo de controle da circulação do blindado. Este procedimento poderia se dar por meio da monitoração e rastreamento via satélite, tal como são monitoradas (ou pelo menos deveriam ser, já que dispõem de mecanismo para isso) as demais viaturas da polícia. Assim, ficaria facilitada a investigação das denúncias de violações. Desta forma, as então denominadas 'Viaturas para Transporte Protegido de Policiais' ficariam restritas a operações de resgate de policiais ou em outras situações de transporte que oferecessem risco imediato aos agentes.


Não há dúvidas de que o ideal é que tenhamos um política de segurança pública pautada nos direitos humanos, na qual veículos blindados, tal como os caveirões, se tornassem artigos de museu para recordarmos de um passado trágico.


(continua)

Para maiores informações visite http://www.caveiraonao.org/portal/

criança, esperança, ignorância e raul seixas

A campanha criança esperança deste ano trouxe uma novidade entremeando a seqüência de playbacks e depoimentos ‘por um mundo melhor’ dos diversos artistas globais e celebridades participantes do evento: a declaração de que todo dinheiro seria depositado diretamente na conta da UNESCO sem dedução fiscal...

Mensagem cifrada e somente compreendida por uma parcela da população que leu, soube ou ouviu falar de uma informação que vem circulando já há algum tempo na Internet revelando a manobra fiscal realizada pela Rede Globo com o dimdim arrecadado dos seus telespectadores.

Essa manobra consistia na dedução fiscal dessa grana pela megaindústria da comunicação supracitada; ou seja, o montante arrecadado nos telefonemas era deduzido pela Rede Globo como doação desta, se aproveitando dessa intermediação midiática do dinheiro alheio.

E, diga-se de passagem, não só do dinheiro alheio, mas da boa vontade de milhões de brasileiros.

Tudo bem, decerto o inferno está cheio de boas intenções e fica difícil de acreditar em um mundo melhor anunciado por Luciano Huck, Angélica, Ana Maria Braga e Renato Aragão, cantado por Xuxa, Vanessa Camargo, Sandy, Júnior e outros lixos contemporâneos e arregimentado pelo império dos Marinho, mas vá lá, não vou me meter na boa consciência alheia...

Até porque já fiz parte dessa galera...Lembro ainda hoje quando minha mãe me passava o telefone para que eu fizesse ‘a minha parte’ e eu fazia a doação, acreditando, não num mundo melhor, mas na minha mãe e no Didi Mocó...

Hoje, eu impeço minha mãe de participar dessa palhaçada, pelo menos na minha frente...se ela liga escondida, vá saber, fazer o quê, essa ignorância garante o meu gozo do dever cumprido...

Santa ignorância...

Com certeza meu estômago sofria menos contorções e dores simbólicas quando não me metia nesses assuntos e estudos e ciências humanas e sociais, e a vida era uma festa só... mas também não gosto de dizer aquelas frases feitas ou chavões do tipo “o ignorante que é feliz”, pois ainda ignoro muita coisa e sempre vou ignorar...

Na verdade, acho até essa argumentação infeliz, elitista, misto de marxismo revolucionário de botequim com descarrego da igreja universal do reino de deus...

Pois pior que ignorar é achar que tem certeza de alguma coisa nesse mundo...

A convicção é irmã gêmea da ignorância... filhas da inércia intelectual... pai e mãe de toda estupidez fanática...

Antes a dúvida que me agita e movimenta...

“...eu prefiro ser essa metamorfose ambulante”, diria Raul Seixas...


...criança esperança é o caralho!!!!!

digo eu...












Rodrigo Bodão

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

...cansei...vai tomar no cu....

Hoje eu recebi por e-mail o vídeo produzido pela OAB de São Paulo, onde são apresentadas as idéias e argumentos da campanha intitulada “Cansei”. Como já ouvira falar sobre esta campanha, em críticas positivas, outras (a maioria) negativas e sob pontos de vista variados, bem e mal humorados, foi com certa ansiedade que esperei que o download fosse concluído e iniciada a reprodução do tal arquivo.

Assisti a uma seqüência de indignações mudas e cansaços gritantes com algum tédio, causado em maior parte por conta de certa sensação de deja vú, renovada e comprovada em cada personagem, cada cartaz e verbete apresentado. Tédio e mal-estar oriundos ainda, julgo eu, de uma expressão popularmente denominada ‘cara de bunda’ que costurava as diversas imagens e que já anunciava um provável aborrecimento ao final da projeção.

Bem, nem posso dizer que fiquei surpreso com seu desfecho. Antes, fiquei estupefato com o quanto se mobiliza de grana, pessoal e tempo em prol da produção de besteiras e tolices, inócuas e despropositadas como essa.

Explico, em tempo, para os que não tiveram o desprazer de assistir a mais essa piada de mau gosto: ao final, a campanha conclama a todos os brasileiros que mostrem sua indignação (...pelo Brasil...) realizando um minuto de silêncio às 13 horas do dia 17 de agosto.

Inacreditável...

Pergunto: o que passa pela cabeça de alguém para articular tal absurdo. O que norteia essa iniciativa? Vontade de fazer alguma coisa concreta não pode ser. Se fosse, não conclamaria uma população inteira a não fazer nada, a ficar em silêncio, a engolir – mais uma vez – o grito de indignação preso na garganta.

Aliás, não conheço manifestação mais ordeira, pacífica e bem-educada do que essa. Minuto de silêncio na hora do almoço. Imaginem quantos brasileiros adirão involuntariamente a este ato simplesmente por estar com a boca cheia...

O pior é que esta iniciativa partiu de uma instituição como a OAB. Ainda que seja de São Paulo, fica bem clara sua mensagem: calem a boca se não quiserem ser exonerados...tal como fizeram com o João Tancredo, ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da prima-irmã carioca dessa instituição que, pela campanha e pelos posicionamentos oficiais já deveria ser chamada de OABUNDA ou Ordem dos Abestalhados do Brasil.

...ou abastados...

Enfim...

Cansei...

Talvez fosse mais original e pertinente se a população fosse conclamada a gritar com toda força e disposição um sonoro e altissonante “Vai tomar no cu!!!!!!” parodiando nossa sábia cantora-filósofa-terapeuta-do-grito-primal Cris Nicolotti, sucesso de público e crítica do YouTube...

Ou talvez não...

Pensando bem, daria no mesmo...

Rodrigo Bodão