“Caracol é uma solidão que anda na parede”
Manoel de Barros
bromélias exalam mães em silêncio
rosas suspiram suor e vinho
lírios cochicham um cheiro de morte
trevos de quatro gaguejam sorte
as horas deitam matéria no canto dos passarinhos
mulher bêbada tem voz de pernas abertas
as certezas disparam conjecturas
maduras as frutas explicam a gravidade
palavras são lapidadas pelo cinzel do silêncio
a leveza da brisa adorna comidas pesadas
barulho na escada não deixa pegadas
na areia mora um silogismo efêmero
a verdade dorme na traquéia dos sofismas
o mundo é efeito de encantos
os homens são meros macacos vaidosos
ventos inventam distâncias
decerto a pronúncia é sempre incerta
todo absoluto tem sabor relativo
irremediavelmente vivo deitado
mesmo quando caminho
todos os olhares são dúbios
sentidos me tangem
trago em meu corpo o gosto do inefável
na companhia das palavras reconheço-me sozinho
em meu peito cochila um latifúndio
minha atividade predileta é a pecuária dos destinos
na terra que me falta planto vozes
encolho versos em guardanapos nomeados pergaminhos
o melhor de mim é inútil
de cerveja e juventude são feitas as revoluções
dentro de mim se esconde uma gargalhada quando encontro algum profeta
desde menino caiu meu queixo
junto ao vazio torno-me inconsútil
lembranças temperam minhas refeições
dizem as más línguas que eu sou poeta:
deixo que digam
deixo que pensem
deixo que falem
deixo isso pra lá
o que é que tem
o vazio das palavras é meu também.
Rodrigo Bodão
rosas suspiram suor e vinho
lírios cochicham um cheiro de morte
trevos de quatro gaguejam sorte
as horas deitam matéria no canto dos passarinhos
mulher bêbada tem voz de pernas abertas
as certezas disparam conjecturas
maduras as frutas explicam a gravidade
palavras são lapidadas pelo cinzel do silêncio
a leveza da brisa adorna comidas pesadas
barulho na escada não deixa pegadas
na areia mora um silogismo efêmero
a verdade dorme na traquéia dos sofismas
o mundo é efeito de encantos
os homens são meros macacos vaidosos
ventos inventam distâncias
decerto a pronúncia é sempre incerta
todo absoluto tem sabor relativo
irremediavelmente vivo deitado
mesmo quando caminho
todos os olhares são dúbios
sentidos me tangem
trago em meu corpo o gosto do inefável
na companhia das palavras reconheço-me sozinho
em meu peito cochila um latifúndio
minha atividade predileta é a pecuária dos destinos
na terra que me falta planto vozes
encolho versos em guardanapos nomeados pergaminhos
o melhor de mim é inútil
de cerveja e juventude são feitas as revoluções
dentro de mim se esconde uma gargalhada quando encontro algum profeta
desde menino caiu meu queixo
junto ao vazio torno-me inconsútil
lembranças temperam minhas refeições
dizem as más línguas que eu sou poeta:
deixo que digam
deixo que pensem
deixo que falem
deixo isso pra lá
o que é que tem
o vazio das palavras é meu também.
Rodrigo Bodão
Um comentário:
Belo texto, mas "mulher bêbada tem voz de pernas abertas" me soou meio machista... Já "decerto a pronúncia é sempre incerta" é certeiro, nunca havia parado para pensar nessa verdade absoluta, e olha que verdade absoluta é coisa rara! Quanto ao verso "o melhor de mim é inútil", bem, já disse Oscar Wilde que "toda arte é completamente inútil". Inútil nessa sociedade pós-industrial e pragmática, obviamente. Indico o texto: http://texturaincidental.blogspot.com/2007/07/cinco-textos-inteis-e-um-poema.html
(do blog de meu amigo Zé Maurício, que aliás tem outros excelentes textos postados)
prazer pra mim conhecer um bom escritor (vc)...
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