segunda-feira, 20 de setembro de 2010

antes dois comentários anônimos do que um silêncio inominável

Pois então, sem mais delongas nem desabafos desaforados de manhãs dominicais...

Fiquei pensando nessa coisa da comunicação, da minha necessidade de me comunicar, de falar e ser ouvido, de ler comentários, de receber algum retorno das minhas palavras e casos e poemas e tintins e bens e tais... Não à toa estou completamente viciado no facebook. Clube de insones, ilusão gostosa de ser ouvido, sensação de não estar só... Mais do que isso confesso que o mundo virtual tem me fascinado e dado até um plus em minha existência real.

Descobri essas possibilidades da internet há pouco tempo. Ainda não consigo gostar propriamente de alguns mecanismos, como o chat ou bate papo. Não consigo menos pela chance de conversar com pessoas que não vejo há tempos, com outras que vejo com mais frequência ou outras ainda que nem conheço - ainda. Adoro essas possibilidades. Chato é quando vc está conversando com uma pessoa e vem uma enxurrada de outros amigos insones-solitários puxando conversa. Fico sem saber direito o que fazer, não consigo cortar a conversa, ou não responder, ao mesmo tempo em que fico todo enrolado em manter o papo que realmente me interessava... Eu tenho o cromossomo Y... Não consigo dividir minha atenção desse jeito, tal como reza a lenda que as mulheres conseguem fazer com maior facilidade...

A parada é que o facebook tem cumprido um papel interessante. É engraçado me pegar por vezes pensando em guardar uma ideia para postar mais tarde ou mesmo quando não tenho assunto ficar esperando alguém postar algumas palavras, reportagem, artigo de outrem, fotos, vídeos ou ideias que disparem outras verborragias e reflexões, curtições e comentários.

Assim como esse blog cumpriu esse papel durante um tempo.

Chega a ser engraçado pensar que ele começou inclusive a ficar perigoso uma época em que os acessos fugiram do controle e do círculo restrito dos amigos reais permitidos... Mas, bem, deixa isso quieto...

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Caso vocês tenham percebido, ou não, o texto acima foi fruto de um exercício quase vazio de escrita e busca de assunto. Fiquei sensibilizado com os comentários anônimos... rindo à toa... e com vontade de
brindá-l@s com algumas palavras...

Pois bem, como eu sempre faço quando sinto que a postagem ficou sem sentido, como quem quer lembrar - e mostrar - que um dia já esteve mais inspirado, uma poesia para quebrar o gelo e tomar com whisky...


TEMPORAL

“Caracol é uma solidão que anda na parede”
Manoel de Barros


bromélias exalam mães em silêncio

rosas suspiram suor e vinho

lírios cochicham um cheiro de morte

trevos de quatro gaguejam sorte

as horas deitam matéria no canto dos passarinhos

mulher bêbada tem voz de pernas abertas

as certezas disparam conjecturas

maduras as frutas explicam a gravidade

palavras são lapidadas pelo cinzel do silêncio

a leveza da brisa adorna comidas pesadas

barulho na escada não deixa pegadas

na areia mora um silogismo efêmero

a verdade dorme na traquéia dos sofismas

o mundo é efeito de encantos

os homens são meros macacos vaidosos

ventos inventam distâncias

decerto a pronúncia é sempre incerta

todo absoluto tem sabor relativo

irremediavelmente vivo deitado

mesmo quando caminho

todos os olhares são dúbios

sentidos me tangem

trago em meu corpo o gosto do inefável

na companhia das palavras reconheço-me sozinho

em meu peito cochila um latifúndio

minha atividade predileta é a pecuária dos destinos

na terra que me falta planto vozes

encolho versos em guardanapos nomeados pergaminhos

o melhor de mim é inútil

de cerveja e juventude são feitas as revoluções

dentro de mim se esconde uma gargalhada quando encontro algum profeta

desde menino caiu meu queixo

junto ao vazio torno-me inconsútil

lembranças temperam minhas refeições

dizem as más línguas que eu sou poeta:

deixo que digam
deixo que pensem
deixo que falem

deixo isso pra lá
o que é que tem

o vazio das palavras
é meu também.

domingo, 19 de setembro de 2010

de porque eu não escrevo aqui ultimamente

eu não escrevo para mim mesmo. a concepção do texto, as ideias, a análise do texto obviamente são um exercício solitário, mas é mentira, pelo menos para mim, que seja auto-suficiente. eu não preciso escrever. eu escrevo porque quero comunicar algo com as palavras. escrevo para ser lido. quando não sou lido, ou não me sinto sendo lido, eu não escrevo. não faz sentido.

por isso não tenho escrito aqui ultimamente.

mas, deixa quieto que um dia quem sabe eu acordo com vontade de tocar uma punheta vernacular e ejaculo algo por aqui.

por enquanto, confesso que mesmo essa postagem parece coisa de maluco ou idiota que fica falando sozinho. não faz sentido. e apesar de que quando estou bêbado, o que infelizmente ultimamente tem sido uma saída recorrente, eu possa parecer um maluco ou idiota, eu não sou um maluco nem um idiota.