quarta-feira, 24 de outubro de 2007

"Aborto para conter a violência". Aaahhh, tá difícil...

Não faltam mesmo motivos para indignação. Mais uma pérola desse desgoverno em relação à segurança pública.

Do site do G1:


O governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), 44 anos, propõe a legalização do aborto como forma de conter a violência no Rio de Janeiro.

Em entrevista ao G1 na última segunda (22), ele se valeu das teses dos autores de "Freakonomics", livro dos norte-americanos Steven Levitt e Stephen J. Dubner, que estabelece relação entre a legalização do aborto e a redução da violência nos EUA.

"Tem tudo a ver com violência. Você pega o número de filhos por mãe na Lagoa Rodrigo de Freitas, Tijuca, Méier e Copacabana, é padrão sueco. Agora, pega na Rocinha. É padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma fábrica de produzir marginal", declarou.

Para o governador, os confrontos com criminosos nas favelas do Rio só vão terminar "quando a ordem pública puder chegar através de várias maneiras, dentre elas com o policial podendo andar fardado em qualquer lugar".

"Enquanto isso não for realidade, continuará havendo confronto. Isso gera morte", declarou Cabral, ao G1.

Putaqueopariu!!!

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Complementando a Clê com sua (nossa!) indignação

Ia postar um comentário, mas como não sou o Bodão, que faz comentários maiores que uma postagem, lanço aqui direto no blog (e antes que perguntem: cadê tu Capilo?)

Escutei esse comentário do seu Beltrame hoje pela manhã, via rádio CBN. Como já dito, era uma preocupação do tal a “tática” dos traficantes de levar para favelas da Zona Sul do Rio os seus “arsenais”. Lá seriam mais complicadas as ações violentas da polícia, por estarem mais "visíveis".

Aí o apresentador, Sidney Resende, complementou (não necessariamente com essas palavras que a memória aqui num é das melhores): “Embora pareça um comentário preconceituoso, isso é um fato. Copacabana tem um índice de homicídios de uma cidade européia, cinco homicídios para cada 100 mil habitantes’ (e isso não poderia mudar, porque Copacabana é ponto turístico para estrangeiros, e também porque esse índice não pode aumentar). Aí continuou o apresentador: “Além de quê um tiro nesse bairro vai ter uma repercussão muito maior pela imprensa”. Porra, isso justifica alguma coisa?

Como você, cara Clê, infelizmente também já sabia dessa “divisão regional”. Já ano passado, num seminário sobre mídia e violência no CESeC (que inclusive lança um livro sobre o tema nessa segunda 29), um jornalista que participava, repórter do grande Jornal Nacional da nossa querida rede Globo, falou, tranquilamente: “Uma morte na Lagoa ou Leblon é notícia. Em bairros pobres não. Isso é notícia e acabou – morte na Baixada [Fluminense] é comum, é corriqueiro, não interessa. Essa é a nossa realidade”.

Está aí. O preconceito vem da classe dos jornalistas (ô raça!) e do Estado (sem comentários). O nosso amigo do JN ainda falou, à época, que o compromisso do jornalista e do jornalismo é com a sociedade. E essa era a justificativa de que uma morte em bairros nobres é mais incomum, e por isso tem-se que dar um destaque maior. Estávamos em época de morte por acidente de carro de jovens na Lagoa (devia ter um mês do acidente e ainda era comentado) e da morte de sete jovens numa favela (que agora não me recordo, principalmente porque pouco foi falado – e no JN, O Globo, nada comentado).

O compromisso desses jornalistas (não vamos generalizar...) é com a sociedade que compra jornais, desses camaradas que escrevem comentários em sites do tipo “bala neles”, “mora na favela tem mais é que morrer”, “é favelado é conivente com o tráfico”, e daí pra pior. A questão é como remodelar esse modelo de comunicação. A maior parte da sociedade não é representada pela nossa mídia tradicional, não tem valor nenhum prêsse povo.

Já no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (de 1948), lemos o seguinte: “Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras”.

Em relação à comunicação e à liberdade de expressão em especial, esses direitos são cada vez menos assegurados. Isso porque existem diversas dificuldades para uma comunicação livre, que vai desde burocracia (como para abrir uma rádio comunitária) como por questões financeiras (para imprimir um veículo, financiar um sítio na internet, etc.), passando naturalmente pela questão política do poder.

E aí, qualé a alternativa? É preciso pensar em novas formas de comunicação, que não dependa dessa grande mídia, já viciada e com interesses muito bem definidos. É preciso uma nova comunicação, que venha de baixo para cima, e não uma comunicação impositiva como estamos desde sempre acostumados. É preciso também uma reflexão sobre os atuais meios de comunicação para a proposição de novas iniciativas que tenham o caráter de inovar e valorizar os espaços e os saberes populares, ou seja, veículos de comunicação que tenham como principal preocupação a vida das pessoas, os direitos humanos: para que a informação seja democratizada e não tratada como simples mercadoria.

Mas uma “transformação” desse porte necessita da participação da sociedade civil, a mesma que tece comentários absurdos por sites internet a fora. Mas essa minoria que sobressai, que se dizem o senso comum, como dito, são minorias. Uma hora a paciência acaba, a exploração e desrespeito chegam no limite. Aí podemos impulsionar um verdadeiro exercício de cidadania, com participação desses moradores hoje considerados inferiores. Pra isso, temos que pensar mesmo em ações, projetos, programas, sei lá o quê, que possibilitem o acesso de todos aos bens e mensagens, pelo direito de receber, interpretar e repassar informações com suas visões de mundo, com seus olhares, com seus conceitos, ou seja, a participação democrática (mesmo!) de todos os setores sociais na construção dessa nova sociedade.

Não podemos esquecer ainda do papel da educação, que deve ser redefinida, fazendo com que seja capaz de englobar a revolução informacional, utilizando-se da mídia e neotecnologias da comunicação no ensino. Este é mais um passo importante para se ter uma noção crítica da mídia e para a produção de veículos de comunicação democráticos – em jornais experimentais, programas de rádios nas escolas, blogs, sites, vídeos. Com esse novo “ativismo”, talvez seja possível uma nova participação política, ligada à formação de aparatos cooperativos críticos de produção de comunicação, e portanto de uma nova cidade, que seja mais humana e solidária.

INDIGNADA!

No mundo de hoje, eu diria que o que não falta é motivo pra indignação. Aqui, pertinho de você, irá sempre brotar uma indignação.

Ontem e hoje me surgiram duas. Profundas. Doloridas. Daquelas que faz dilatar a veia do pescoço, num misto de raiva e inquietação.

Da série "uma indignação pra chamar de sua":

1. Proibiram a venda de cerveja no Maracanã. Ou melhor, para aqueles que pagam para ir ao Maracanã. Pois, no camarote, o reduto dos globais e boçais, a cerveja é liberada e possivelmente, de graça. Exatamente, caro leitor. Povão não pode beber, senão faz confusão. As celebridades podem, afinal, são finas e educadas, bebem com moderação.

Eu não sabia disso, mas me contaram ontem - Bodão, inclusive ficou sedento para escrever sobre isso, já que ele não fez, externo minha indignação de forma mais grosseira. Depois de acabarem com a geral, de fecharem o anel superior do estádio para o curral vip, agora limaram a venda da loira gelada, do maravilhoso suco de cevada, do lúpulo que alimentava Noel Rosa, no Maraca. E vamo combinar, futebol sem cerveja, até os boçais do curralzinho, sabem que não dá. O cara que me contou, definiu de forma clara: "é o processo de elitização do Maracanã".

2. O Secretário de (In)Segurança Pública, disse hoje na segunda edição do RJTV que a polícia anda preocupada com a migração de traficantes pra Zona Sul da cidade, afinal "um tiro em Copacabana é uma coisa, um tiro na Coréia, no Alemão, é outra". Como diria um amigo meu, esparrou! O secretário deixou bem clara qual a lógica de atuação da polícia: na periferia entra matando, na Zona Sul, há que se ter cuidado. Não que eu não soubesse, mas assim, escancarado, é indignante. Depois, tentando consertar, o babaca disse que é porque em lugares como Copacabana, a polícia está mais perto da população. Não sei, então, o que significam os 100mil moradores do Complexo do Alemão para o secretário. Ou melhor, sei. Como bem disse a professora Adriana Facina, em ótimo artigo - leia aqui - sobre a operação na Coréia, são seres humanos supérfluos.


Maraca sem cerveja e o Estado assumindo que as ações da polícia são definidas pela origem social e pelas condições econômicas. Indignação pra dar e vender.

Dizia Ernesto Che Guevara: "Se você treme de indignação perante uma injustiça no mundo, então somos companheiros".

Senador Camará, Favela da Coréia, 18 de outubro de 2007

As imagens são chocantes. Dois jovens negros, descalços, sem camisa descem aos trancos e barrancos uma encosta enquanto são acompanhados por um rastro de balas disparadas por atiradores que os perseguem de helicóptero. Não oferecem perigo algum, pelo contrário, estão encurralados, observados do alto, sem chance de fuga. As imagens apontam para outro interesse da polícia além de prendê-los. Os atiradores disparam com a intenção de matá-los, o que conseguem por fim, segundo o narrador do telejornal.

A primeira impressão que ocorre é que as imagens dessa execução elucidariam a forma como se desenvolvem tais operações e incursões policiais, denunciando uma conduta excessiva e arbitrária desses atiradores. Esse flagrante inquestionável, imaginava-se inicialmente, mobilizaria críticas dos diversos setores da sociedade e poder público. No entanto, as coisas não transcorreram dessa forma.

Por incrível que pareça, as autoridades competentes passaram a apresentar argumentos para mais esta carnificina, que resultou em doze mortos, dentre eles um menino de quatro anos, atingido dentro de casa. As execuções foram justificadas por conta dos indivíduos haverem supostamente atirado contra o helicóptero.

Do nível estadual ao federal, houve a justificativa e a afirmação de que não haverá recuo e que a lógica do confronto será levada adiante, apesar do saldo de mortos, em um discurso entremeado de ironias.

Mas não, pensava-se ainda, a opinião pública certamente se posicionará de forma contrária a essa política de extermínio, reagindo à truculência e crueldade expostas por essas imagens. Porém, o que encontramos na maioria das cartas de leitores, dos editoriais e dos comentários veiculados pelos principais meios de comunicação são mensagens de apoio e congraçamento à forma como o governo está combatendo e reprimindo esses grupos criminosos.

Mais uma vez, essas mensagens são veiculadas junto a ataques às organizações da sociedade civil atuantes na defesa e promoção dos direitos humanos. Fica-se com a impressão de que esses cidadãos não têm noção do que estão defendendo ao preconizar a perpetuação desses métodos e dessa lógica do confronto e do extermínio.

Ainda que isso signifique, do lado da opinião pública, uma reação desesperada por parte de pessoas diariamente acuadas pelo grau de violência vivido na cidade, não é preciso ser especialista para saber que a constante violação dos direitos humanos e a exacerbação da cultura da morte e do genocídio têm como produto mais mortes, mais revolta, mais vidas perdidas.

No final do século passado, uma figura messiânica, com ares de profeta bíblico, perambulava pelas ruas da cidade, especialmente nos arredores da zona portuária e Leopoldina, escrevendo em muros e pilares de viadutos mensagens para um mundo melhor. Popularmente conhecido como o Profeta Gentileza, converteu sua loucura e mendicância em murais onde ainda se encontram dizeres como “violência gera violência, amor gera amor, gentileza gera gentileza”. Frases de conteúdo simplório, pueril, ingênuas de tão óbvias.

Entretanto, o quadro macabro vivido na cidade e a política do extermínio defendida ostensivamente por formadores de opinião, políticos e dirigentes governamentais somente demonstra o grau de insanidade que chegamos, a ponto de associarmos inteligência e eficácia policial com execuções sumárias, crianças baleadas e a violação do direito humano mais fundamental – a vida.

Rodrigo Bodão

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Tropa da Zelite

AHHHHHH!!! Não aguento mais.

Parece simpatia ou macumba. Tropa de Elite me persegue - e a todo morador da cidade do Rio de Janeiro, que vive em meio a uma guerra civil onde a polícia fuzila de helicóptero traficantes de bermudas e desarmados, ou seja, apenas o Capitão Rambo-Nascimento será capaz de nos salvar.

Minha indignação, que parece repentina mas não é, é motivada pela escolha do nome da minha turma de graduação, que se forma em breve. Isso mesmo. O nome será Tropa de Elite. Diante disso, eu bem sugeri o Capitão Nascimento como Patrono - pelo menos ele é baiano - mas, me informaram que ele matou a gêmea má e morreu.

Parem o mundo que eu preciso descer. Como bem disse Bodão, de tão mal, já não sabemos distinguir o que é uma tropa de elite (ô palavrinha maldita).

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Hay que endurecerse sin perder la ternura

Não sou saudosista. "Meu tempo é hoje", como diria Paulinho da Viola. Por isso não gosto da idéia de cultuar pessoas e práticas passadas. Acho que petrifica significados e descontextualiza os fatos. Mas, acho que a história deve servir pra ensinar, pra provocar reflexão e pra inspirar.

Che Guevara tem uma bela biografia. Foi um grande homem, em todos os sentidos. Por isso, acho que deve servir de inspiração e para reflexão. De tudo que li sobre ele nos últimos dias - resultado da polêmica levanta por "VEJA, mas não leia" - segue o que achei menos saudosista e mais interessante. Com a palavra, Emir Sader:


CHE

Há personagens com uma tal estatura histórica que, independente dos adjetivos e de todos os advérbios, ainda assim não conseguimos retratá-los em nada que possamos dizer ou escrever. O que falar de Marx, que permaneça à sua altura? O que escrever sobre Fidel?

Hegel dizia que existem personagens cuja biografia não ultrapassa o plano da vida privada, enquanto outros são os personagens cósmicos, estes cujas biografias coincidem com o olho do furacão da história.

O Che é um destes personagens cósmicos. Basta dizer que, independente de qualquer campanha publicitária, sua imagem transformou-se na mais vista do século XX e assim continua neste novo século. Nenhum esportista, artista ou músico, mesmo com bilionárias promoções pelo mundo globalizado afora, se mantém num lugar parecido. O Che veio para ficar.

Novas gerações, nascidas depois da morte do Che, continuam identificando-se com sua imagem, com seu sentimento de rebeldia, com sua coragem, com sua luta implacável contra toda injustiça.

Não vou gastar palavras inúteis para falar do Che. Basta reproduzir algumas das suas frases, que selecionei para o livro “Sem perder a ternura”.

“A única coisa em que acredito é que precisamos ter capacidade de destruir as opiniões contrárias, baseados em argumentos ou, senão, deixar que as opiniões se expressem. Opinião que precisamos destruir na porrada é opinião que leva vantagem sobre nós. Não é possível destruir as opiniões na porrada e é isso precisamente que mata todo o desenvolvimento da inteligência...”

“Nós, que, pelo império das circunstâncias, dirigimos a revolução, não somos donos da verdade, menos ainda de toda a sapiência do mundo. Temos que aprender todos os dias. O dia que deixarmos de aprender, que acreditarmos saber tudo, ou que tivermos perdido nossa capacidade de contato ou de intercâmbio com o povo e com a juventude, será o dia em que teremos deixado de ser revolucionários e, então, o melhor que vocês poderiam fazer seria jogar-nos fora...”

“Deixa-me dizer, com o risco de parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é feito de grandes sentimentos de amor.”

“Nosso sacrifício é consciente. É a cota que temos de pagar pela liberdade que construímos.”

“Muitos dirão que sou aventureiro, e sou mesmo, só que de um tipo diferente, destes que entregam a própria pele para demonstrar suas verdades.”

“Sobretudo, sejam capazes de sentir, no mais profundo de vocês, qualquer injustiça contra qualquer ser humano, em qualquer parte do mundo.” (Carta de despedida aos filhos)

“É preciso endurecer, sem perder a ternura, jamais.”

“Que importam os perigos ou os sacrifícios de um homem ou de um povo, quando está em jogo o destino da humanidade.”

“É um dos momentos em que é preciso tomar grandes decisões: este tipo de luta nos dá a oportunidade de nos convertermos em revolucionários, o escalão mais alto da espécie humana, mas também nos permite graduar como homens.”

“Nós, socialistas, somos mais livres porque somos mais completos; somos mais completos porque somos mais livres.”

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Tropa de Elite?????

O filme “Tropa de Elite”, desde a distribuição e comercialização de cópias piratas até seu lançamento oficial, vem suscitando debates e polêmicas relacionados aos modos de atuação do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro – Bope, e as políticas de segurança pública desenvolvidas no combate ao crime e, em especial, ao tráfico de drogas e de armas nas favelas e espaços populares da cidade.

Dessa forma, procurar-se-á abordar aqui a forma como essa obra expõe, evidencia, relaciona e apresenta os diversos atores sociais envolvidos na trama e no cotidiano real da cidade, buscando ampliar de forma qualificada esse debate.

Partindo do ponto de vista da personagem do Capitão Nascimento, construído pelo diretor a partir de entrevistas com policiais e oficiais do Bope, podemos perceber elementos que nos permitem deduzir uma visão largamente difundida nesse grupamento e na sociedade de modo geral.

Um primeiro objeto de análise diz respeito à forma caricatural como são retratados os movimentos sociais e as Ongs. No filme, a sociedade civil aparece como uma reunião de estudantes e voluntários deslumbrados que, por um lado, realizam trabalhos com crianças, distribuem camisinhas, dentre outras ações de caráter educativo e assistencial, e por outro, servem de cabo eleitoral de candidatos políticos e se aproveitam de sua proximidade com o tráfico de drogas para se transformarem, eles mesmos, numa espécie de filial junto a outros jovens universitários pertencentes à classe média e alta.

Muito pelo contrário, grande parte das organizações da sociedade civil se constituem, na atualidade, como um instrumento de diálogo e articulação entre o poder público, a iniciativa privada, organismos de cooperação internacional e as diversas instituições comunitárias para formulação, proposição, implementação, monitoramento e avaliação de projetos, programas e políticas públicas, exercendo o controle social para a efetivação dos princípios constitucionais democráticos.

No entanto, quando assistimos declarações afirmando que essa abordagem perniciosa do filme condiz com a realidade dos movimentos e organizações sociais, fica evidenciada nestes discursos uma tentativa de desqualificar as instituições e os trabalhos voltados para a defesa e promoção dos direitos humanos, deslegitimar o controle social exercido, e, dessa forma, desmoralizar a própria democracia.

Outro ponto, politicamente lamentável do filme é a forma como se demoniza o usuário de drogas, como o principal financiador e culpado do tráfico e dos crimes a ele vinculados. Enquanto o próprio governador já se posicionou publicamente a favor do debate e da revisão da legislação penal relacionada, quando especialistas de todo o mundo apontam a perversidade e inadequação do enfoque policial do uso de drogas, sendo antes uma questão diretamente implicada no âmbito da Saúde Pública, novamente vemos ressurgir essa categorização maniqueísta e superficial do problema.

De certa forma, o que fornece veracidade ao discurso apresentado pelo policial fictício é o processo de treinamento e formação pelo qual os componentes devem passar para se tornar um ‘caveira’. Treinamento este, apresentado em uma versão talvez até mais branda que a realidade, cujos motes centrais são a exacerbação da cultura militar e a celebração da morte, cantada nos exercícios e reafirmada nas cruzes fincadas a cada abandono dos chamados fracos, que desistem de se tornarem assassinos frios, cruéis e impiedosos em suas incursões e confrontos.

A passagem por esse treinamento, de certa forma, autoriza dizer que toda essa visão simplista, superficial, maniqueísta e beligerante, deriva dos pensamentos de um daqueles formandos. Ponto de vista calcado numa gama de preconceitos e posições preconcebidas, acerca dos estudantes, das universidades e, principalmente, dos moradores das favelas, que não têm voz nem espaço, são rendidos, afrontados, têm suas crianças sob a mira de pistolas e fuzis, suas casas invadidas, enfim, cidadãos que têm seus direitos desrespeitados. Cidadania esta, desconsiderada pela força policial que deveria protegê-la e resguardá-la.

Diante disso, o mais chocante em toda essa polêmica gerada pelo filme é a legitimação e a aceitação pública manifestada pelos espectadores diante do uso de métodos de tortura, humilhação, constrangimento de moradores vistos como suspeitos, truculência exagerada e a propagação da morte por entre as casas, ruas e becos das diversas favelas e espaços populares da cidade.

A seqüência de irregularidades, crimes e violações cometidas pelos oficiais do Bope, espancamentos, torturas, execuções sumárias, invasão de domicílios sem mandato de busca, dentre outros, e sua aprovação pública evidencia que, no Rio de Janeiro, estamos mal. Mal de polícia, estamos mal de segurança pública e, o que é pior, de tão mal, já distorcemos o entendimento do que pode ou não ser considerada uma tropa de elite.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007


No dia 5 de outubro vencem as concessões de importantes emissoras de televisão do país, as cinco da Rede Globo - São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Brasília, as da Bandeirantes, Gazeta, Record e TV Cultura de São Paulo, entre outras. Para continuarem operando os canais que lhe foram outorgados pelo Estado, o governo federal precisaria autorizar e o Congresso Nacional sancionar essa renovação. Na prática, isso não acontece. Diferente de todos os outros setores, não há obrigações das concessionárias do serviço de radiodifusão. Em qualquer concessão pública há deveres estipulados em contrato. Mas na radiodifusão sequer podemos ter acesso aos contratos, apesar de serem “públicos”.

Globo Mente

Manifestação cultural contra a renovação automática das concessões públicas de rádio e tv

Dia 5 de outubro, sexta-feira, a partir de 17h

Ato público no Buraco do Lume (Centro do Rio de Janeiro, próximo ao Castelo, entre a Rio Branco e a 1º de Março). Exibição dos vídeos: a História da Rede Globo (inédito, com cenas do apresentador do SP/TV anunciando o comício das diretas como sendo uma festa pelo aniversário de SP e o Moreira Franco dando depoimento como vencedor da eleição que o Brizola ganhou. Imperdível!), Manual Rádio Livre, Hélio Costa e os japoneses contra Seleção Digital Brasileira. Música e debates ao vivo. Gravação de vídeo cabine, colocando o povo de protagonista. Participação de diversos movimentos sociais. Além de distribuição de materiais e jornais alternativos.

Programação da Semana Nacional pela Democratização da Comunicação do Rio [de 3 a 9 de outubro]

Dia 03 de outubro - quarta-feira

9h – Abertura da Semana Nacional pela Democratização da Comunicação no Rio com a realização de programa, ao vivo, na rádio comunitária do Morro do Estado, em Niterói, e gravação de vídeo cabine no morro.

13h - Vídeo cabine no Instituto de Artes e Comunicação Social da UFF (Rua Lara Vilela, 126, Ingá).

16:00 - Vídeo Cabine na praça Araribóia (em frente as Barcas de Niterói) com gravação de depoimentos, teatro e panfletagem.

19:00 – Exibição do filme Tapete Vermelho (comédia em que Quinzinho [Matheus Nachtergaele] tem uma promessa a cumprir: levar seu filho à cidade para assistir a um filme do Mazzaropi) seguido de debate com Adriana Facina (professora de História da UFF e Observatório da Indústria Cultural) e Movimento de Niterói para salvar o Cine Icaraí. Local: Teatro do DCE-UFF, Centro de Niterói, perto do Plaza.

Dia 04 de outubro - quinta-feira

14:00 - Realização de Programa da TV Comunitária de Niterói sobre a Semana Nacional pela Democratização da Comunicação, com exibição do material das vídeo cabines. Local: IACS – Rua Lara Vilela, 126, Ingá, Niterói.

17h: Debate UFF- Mestrado Ciência da Arte – Concessões e sua relação com a produção da teledraturgia – IACS 2 (rua Tiradentes, 148, Ingá, Niterói) – Heloísa Toledo Machado, Sergio Santeiro, Antonio Moreno, Octavio Bezerra, Noilton Nunes, Gustavo Gindre e Rafael Duarte.

20:00 – Exibição do programa Comunicação Popular na TV Universitária de Niterói com a participação de diversos movimentos sociais e entidades do movimento estudantil falando sobre a concentração da comunicação no país, os assuntos e lutas que a mídia comercial esconde e a formação do pensamento único. Local: Estúdio grande da Unitevê, IACS – Rua Lara Vilela, 126, Ingá, Niterói. Quem for participar do programa ao vivo (todos estão convidados!) chegar até 19:30h.

Dia 05 de outubro - sexta-feira

21:00 - Ato em Defesa da Transparência das Concessões de Rádio e Tv, no Sest-Senat de Barra Mansa

Dia 07 de outubro – domingo

12:00 - Panfletagem de jornais alternativos na Praia de Ipanema - Posto 9

Dia 08 de outubro - segunda-feira

12:00 - Panfletagem de jornais alternativos no Bandejão da UFF – Campus do Gragoatá, Niterói

17:00 – Panfletagem de jornais alternativos na Central do Brasil – em frente à saída do metrô

Dia 09 de outubro – terça-feira

14:00 - Debate sobre a contribuição das rádios comunitárias para o desenvolvimento social - projeto de pesquisa do curso de comunicação social da UFF, orientado pelo professor Adilson Cabral – Local: IACS – Rua Lara Vilela, 126, Ingá, Niterói.

19:00 – Reunião de articulação do movimento pela democratização da comunicação do estado do Rio. Democratizar a comunicação para transformar a sociedade! Local: Rua Joaquim Silva, 56, 9º andar, Lapa.

21:00 – Programa Especial de Encerramento da Semana de Democratização da Comunicação na TV Comunitária do Rio. Ao vivo! Local: Rua Joaquim Silva, 56, 9º andar, Lapa.

Mais informações sobre a Semana:
Rafa (9879-8076/rafa_doliveira@yahoo.com.br)
Claudia (9616-1447/claudiaverde@yahoo.com.br)

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Cadê tu, homi??

Faveleiro, meu querido, você ainda é parte integrante deste coletivo!!! Se apresente!!!

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A pergunta que não quer calar

Minha vó tem uma mania engraçada. Quando algo a surpreende muito, ela, do fundo de sua alma baiana, diz assim: Oxe! Oxe! Oxe! Oxe! - muito rápido, emendando um oxe no outro, com o melhor sotaque da Serra dos Orobó.

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- Não satifesito com a Tereza Cruvinel na presidência da TV Pública, o governo nomeou para Diretora de Jornalismo a Helena Chagas - ex-Globo, assim como Tereza Cruvinel e (não custa lembrar) Franklin Martins. Oxe! Oxe! Oxe! Oxe!

- A pergunta que não quer calar: Será a TV Pública uma sucursal das organizações Globo?

- Se o Bispo Macedo, paladino da DEMOcratização da comunicação fica sabendo, vai exigir um bispo no conselho da tal emissora. O que eu acho muito justo. Já que não temos uma emissora nem pública, nem democrática, que ela seja pelo menos ecumênica. Ê parreia!!!!