quinta-feira, 16 de agosto de 2007

MAIS UM CRIME BANAL NUMA NOITE QUALQUER

O sujeito comprou uma pistola:
desde os tempos da escola,
sonhava, um dia, arrumar.

Foi correndo pra casa
mostrar pra sua amada
o que acabara de comprar.

Abriu a porta e foi entrando,
afobado e ofegando,
com a arma engatilhada, preparada pra atirar.

Deu de cara com a vadia
sobre outro, em plena putaria,
dentro do seu próprio lar.

Vendo aquilo então pirou
e só depois que atirou
foi que parou para pensar.

Aturdido com a surpresa,
pôs a arma sobre a mesa
e deitou-se no sofá.

Cometera um erro grave,
decidiu solene e breve:
tinha de se castigar.

Pra cadeia é que não ia,
lá dentro formar quadrilha
e outros tantos crimes praticar.

Ser traído é um triste enfado,
pensou: corno é que nem viado,
todos vão sacanear.

Encheu de fumo um cachimbo,
condenou-se para o limbo,
mas antes queria fumar.

Acabou, fechou os olhos,
deu-se um tiro nos miolos,
nem viu o sol raiar.

Pois uma coisa ele sabia,
depois de nascido o dia,
não ia mais se matar

e sua vida se tornaria
uma fuga doentia,
com medo em todo lugar.

Depois de dias a polícia
averiguou a denúncia
do cheiro que vinha de lá.

Arrombaram então a porta
e encontraram a gente morta:
dois na cama, um no sofá.

Recolheram os defuntos
e levaram todos juntos
para o crime registrar.

E o que mais me deprime
é que a história desse crime
a poucos comoverá,

pois matar já é tão normal
e eu duvido que o jornal
tenha espaço pra contar.

Rodrigo Bodão

do livro "Comunhão e outros Poemas"

Um comentário:

Cacau disse...

Muito bom! Tô virando sua fã! Já era fã da Amana, agora sou do casal!