Que glória há nisso???
aturdido na macabra sinfonia
dos governos da morte
dor
vilania
admito que a sorte
ainda
faz companhia
meio encabulado
perambulo em vigília
madrugada adentro
agradeço
atordoado,
pelos males que não padeço
o silêncio do lugar
ensurdece meu peito
na fantasia de um outro silêncio
assim nem tão distante
enquanto
eu
bruma
noite
noutros
tiro
grito
e morte
sinto vergonha de minha condição pequeno-burguesa
e mais vergonha ainda pela certeza
do alívio posterior...
não
provavelmente nenhuma bala perdida me encontrará junto ao leito
provavelmente ninguém faltará com o respeito
na minha rua
portaria
elevador...
polícia aqui
não constrange morador...
quando o céu clarear
silêncio persistirá
somente rasgado
por veículos apressados,
bêbados pernoitados e outros passantes
floreado por galos, gargalos e bem-te-vis
mas vindo de outro lugar
assim nem tão distante
outro silêncio doerá
aqui.
Rodrigo Bodão
Um comentário:
Muito bonita sua poesia. Do lodo miserável você vez brotar uma flor de poesia. Essa é a "rosa do povo": o povo usando matéria-prima aparentemente infecunda para gerar uma beleza de denúncia!
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