Faveleiro escreveu aqui: “Até quando ficaremos neste imbecil e equivocado discurso do ‘de onde partiu a bala que matou a vítima?’ Não importa de onde partiu o projétil! A polícia deve ser responsabilizada por estas mortes por provocar intensos tiroteios em espaços tão densamente povoados.”
Em outubro do ano passado, assisti a um seminário sobre mídia e violência, no Rio. Compunham a mesa jornalistas, policiais, pesquisadores e representantes da sociedade civil. Entre os jornalistas, o repórter do Jornal Nacional, André Luiz Azevedo, defendeu em sua fala o que para ele é fato: uma morte em um bairro nobre do Rio é notícia, mas na periferia não.
Deixou bem claro para quem estava lá que os jornais são feitos não para quem mora na Baixada, ou no Grajaú, ou em qualquer outro lugar que não seja a zona sul, São Conrado ou Barra. “Quem compra jornal é a elite, e é para ela que trabalhamos”, bradou o jornalista na ocasião.
Por que
Esse veio à tona, na época, porque a morte de cinco jovens na lagoa Rodrigo de Freitas (claro, na zona sul do Rio) virou manchete de capa por mais de uma semana nos dois maiores jornais da capital carioca. Enquanto, na mesma época, não me recordo o número exato (olha eu reproduzindo essa mídia calhorda, dando mais importância a um do que a outro – claro, influenciado por ela, que me encheu de informações sobre a morte dos jovens na lagoa e quase nada sobre o fato que não me recordo tão bem (mas que para mim foi muito mais chocante à época!)) de jovens que foram mortos por engano na Maré, confundidos com bandidos.
Isso questionado, veio a resposta citada (e questionada apenas por três pessoas do público e por ninguém que estava à mesa). Aqui, os companheiros Faveleiro e Bodão postam a notícia de uma mulher assassinada na frente do filho de quatro anos. Tão dramático que virou notícia. Mas isso hoje, no máximo uma suíte (continuidade da matéria) amanhã, mas duvido que seja alguma coisa comparada às suítes de mais de 10 dias da morte de cinco jovens que saíram bêbados e bateram com o carro importado dado (u emprestado, no caso não importa) pelos pais (longe de estar aqui achando bonito a morte dos garotos, não quero ser mal interpretado).
E então?
E aí a pergunta, até quando isso vai continuar, essa violência contra os mais pobres, essa conivência da nossa imprensa (conivência para não dizer apoio sistemático, proposital)?
Numa letra de um rap postada aqui, surgiu um comentário “pena ser tão utópico”. O que devemos então fazer para esse tipo de situação deixar de acontecer, para que nossa utopia possa ser concretizada? Fico perdido, procurando ajuda, mas nem sempre encontro respostas (na verdade acho que nunca encontrei uma resposta para isso).
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