segunda-feira, 11 de maio de 2009

Suicídios, reencarnações e viagens
Suicídio é sempre uma questão que me impõe milhões de dedos e reservas para falar. Ainda mais quando o papo gira em torno de desejos suicidas de outrem. Também não consigo nem dar conselhos nem fazer grandes conjecturas. Na verdade, bêbado então, é melhor nem me procurar para falar nessas coisas, correndo o sério risco de eu fazer pouco, ironizar ou ser grosseiro, dimensões usuais da minha bebedeira. Mas, como não fui eu quem tocou nesse assunto e eu não conheço o André, vou pegar carona no texto da Clê.

Uma coisa que sempre me ocorre é que a idéia do suicídio acomete com mais frequência pessoas jovens. Obviamente isso não procede, mas arriscaria dizer que pelo menos as razões do suicídio variam e obedecem a certos padrões forjados por faixas etárias. Ademais, fora essa hipótese estranha, em geral, o que mais acontece é que a pessoa, quando não se mata sem fazer alarde, explane desvairadamente as razões pelas quais ela não quer mais viver, embora na realidade também não queira se matar, e aí você fica sabendo de suas razões antes que o fato se consuma, o que de certo modo garante que o suicida desista – até porque, geralmente, depois de um porre tudo muda de figura.

Tem gente que chama de cena, viadagem, fraqueza, histeria. Eu respeito, na medida em que respeito as intensidades de cada um – além do fato do suicídio ser uma idéia dramática que de vez em quando me ocorre e de já ter tentado fazê-lo noutro momento de minha vida. Também fui salvo por um telefonema, ainda que não tenha ligado para ninguém, e acordei em um hospital todo entubado...

Bem, tudo isso é pra dizer que ontem sentado numa mureta do Central Park eu pensei que se eu tivesse me matado mesmo não teria visto o que eu vi, feito essa viagem e sentido toda a dimensão filosófica das transformações que uma viagem efetua numa pessoa, ainda que isso esteja apenas começando a ocorrer comigo. Nesse deslumbramento, pensei em quantos lugares do mundo eu não conheço e como a vida é pequena para realizar tudo o que naquele momento eu queria fazer e conhecer e viver e viajar... Comentei isso com minha mulher e brinquei ‘nessas horas eu queria acreditar piamente em reencarnação’, ao que ela emendou ‘ não adiantaria... quando você reencarna não lembra de suas vidas passadas...’(...)

Pois é... e depois à noite li o texto da Clê e fiquei com isso na cabeça!!!

C’est la vie!!!

Malucos novaiorquinos

Se tem uma coisa que eu gosto de conhecer e observar são as pessoas de uma cidade. Ainda que as grandes obras e construções nos digam muito sobre um povo e que a arquitetura, o trânsito, a forma como se dispõe as ruas, os serviços públicos, os transportes, todos esses aspectos juntos sejam de suma importância para a compreensão da sua lógica urbana, nada me fascina mais do que prestar atenção nas pessoas.

A galera aqui tem nitidamente um respeito muito grande pelas individualidades. Pela própria idéia de individualidade. A impressão que dá é que somente se alcança uma dimensão coletiva aqui a partir da soma das individualidades. Nesse sentido, sem atingir diretamente o outro, ou incomodar de maneira inevitável uma pessoa, você pode fazer o que bem entender e ninguém vai te encher o saco por conta disso. Aqui em Manhattan, melhor dizendo...

Fora as hordas de turistas que inundam as ruas ao redor da Times Square, e se vestem e comportam basicamente da mesma maneira – como turistas – dentre os moradores e malucos novaiorquinos encontramos umas figuras realmente incríveis, principalmente para um cucaracha niteroiense e latino americano deslumbrado como eu. Nada tão diferente da Lapa, mas... para uma diversão diurna é bem doido. O fato é que - especialmente no Central Park, onde eu tive a impressão que estavam todos os novaiorquinos de Manhattan na tarde de domingo - as pessoas dançam e cantam e jogam frisbie e rebolam com bambolês e tem experiências místicas e fazem pequenas raves e jogam beisebol e usam roupas esquisitas e fazem coisas estranhas e outras nem tão estranhas assim... Nada demais, assim descritas, mas é o jeito como a coisa acontece... Sei lá.

Eu sei é que fiquei encantado com alguns dos mendigos e loucos ipsi litteris do lugar. No Central Park tinha uma negra bonita, de seus vinte e poucos anos, com um vestido branco que lembrava uma mistura de vestido de noiva com roupa de babá dando papinha para uma boneca sentada num carrinho de bebê. Parei para ver disfarçadamente e ela estava realmente entretida na tarefa... No Times Square, em frente a uma casa de striptease, tinha um mendigo com um papelão escrito: ‘Give me some money to buy drugs, drinks, junky food, bitches and other things like that. See, at least I am not telling lies and bullshitting you!!’ Sensacional!!!! Mas não o bastante para levar meus dólares apesar de nunca ter visto nada parecido nem na Glória...

Coffee shit

Não, não... ao contrário do que o subtítulo sugere eu não acho o café daqui uma merda. Pelo contrário. Eles fazem misturas bem interessantes. Ainda que não tenha nada como o nosso cafezinho, taí uma parada que eu gostei aqui. Canela, baunilha, cremes, chocolate, sorvete, tudo casa com café.

Desde janeiro, em nossa versão sazonal do inferno – ao que parece, aqui o inferno é frio e também acontece em janeiro e fevereiro – eu andei procurando no Rio algum lugar que servisse um bom café gelado. Bem, pelo menos na minha área não encontrei. Talvez na Barra ou em Ipanema eu encontrasse, sei lá. O fato é que aqui eu encontrei o meu tipo predileto de café: Iced Coffee Mocha, café gelado com chocolate e um creme tipo chantily, show de bola.

Na verdade, o título diz respeito a um pequeno evento que eu vivi. Ontem, na metade da caminhada por Manhattan, depois de andar por três horas, paramos numa das milhares de lojas da Starbucks para tomar um café e descansar um pouco.

Aliás, um breve digressão: ontem eu e Amana andamos por seis horas com breves paradas em Manhattan. Como estou bebendo e comendo pouco, acho que vou perder alguns quilos nessa viagem.

Pois bem, ao parar na Starbuck e tomar alguns goles do meu café, imediatamente senti meu peristaltismo intestinal vibrar. Gelado ou quente, o café continua exercendo um efeito laxativo em meu corpo. Aproveitei que não tinha fila para os banheiros (dois) e lá fui eu dar uma barrigada na quinta avenida. No meio da cagada, que nem demorou tanto assim, alguém começa a bater na porta. Não me apressei e simplesmente falei em inglês ‘take it easy, i am going out’, uma maneira que eu encontrei de dizer tem gente. Mal passou um minuto e eu já estava lavando as mãos e novamente batem na porta. Eu fiquei nervoso e mandei o inglês pras cucuias e a pessoa que estava batendo também – ou melhor, mandei se foder, tomar no cu, espera porra!, vai pra puta que pariu!, etc... Fiquei com pressa e me enrolei com o papel para secar as mãos e o rosto, aquela porra daquele papel colou na minha cara e a pessoa bateu de novo na porta. Nem respondi. Demorei mais de propósito. Ao abrir a porta era uma funcionária negra imensa desesperada para ir ao banheiro. Olhei com ódio para sua cara e ela perguntou se estava tudo bem comigo. As pessoas da fila olhavam para baixo meio constrangidas e eu respondi um ‘yes’ fazendo uma cara de babaca do tipo ‘claro que está sua filha da puta’ que os americanos costumam fazer entre si, tipo ‘dããã’, sabe qual é... Não sei se aqui não é correto fazer isso em estabelecimentos comerciais, ou se aqui as coisas funcionam tão bem e perfeitamente que até o intestino deles tem uma regulagem eficiente e infalível, ou se esse povo simplesmente não caga. Bem, só sei que da próxima vez não vou tocar a descarga só de sacanagem.

Aliás, é engraçado isso. Aqui, eu fico pensando ora em inglês, ora em português. Aí, nas horas em que me irrito ou me empolgo eu solto frases inteiras em português... Outro dia num bar eu mandei o berro ‘ae, me dá outra cerveja ae por favor’... O cara do bar ficou me olhando com cara de idiota e eu fiquei rindo horas...

Bem, por enquanto é isso o que eu tenho para contar. Comprei um ‘new york times’ para ler. Já de saída achei estranho a forma como as manchetes não tem quase negrito e os textos da capa não são específicos para a capa, são os mesmo textos que simplesmente continuam na parte interna do jornal com um referência de que se trata de uma continuação e no meio da frase... Estranho. Bom, outra hora eu comento melhor. Assim como sobre as cervejas e bares e festas e drogas... ainda estou no meio da pesquisa entendem... daqui a alguns porres e baseados eu escrevo a respeito.

No mais, saudades...

AAAAAAAAAAhhhhhh!!!!!! Já ia me esquecendo!!!!

Ontem eu me emocionei quando em frente ao Empire States eu vi um cara com a camisa do Flamengo!!!! Lembrei imediatamente do Imperador!!!!! Me deu vontade de correr e abraçar o cara como quem comemora um gol e gritar ‘tricampeão!!!!! Tricampeão!!!!!’, mas não deu. Travei. Além do mais, o cara parecia um daqueles leitores do globo da classe média carioca morador da zona sul que adora choques de ordem e muros em favelas. E não é porque estou em Nova Iorque que deixei de ser um latino americano de esquerda extremamente preconceituoso que não dá trela para esse tipo de gente.

2 comentários:

F A V E L E I R O disse...

Tell me more! Tell me more!

Clementina disse...

vontade de ir a nova iorque só pra ver malucos e dá uma de maluca no central park...