domingo, 10 de maio de 2009

é o amor



é o amor que mexe com minha cabeça

e me deixa assim

que faz eu pensar em você
e esquecer de mim
que faz eu esquecer que a vida é feita pra viver

é o amor, zezé di camargo e luciano



foi assim: eu saí de casa pra assistir synedoque. o guia de um portal na internet dizia que tinha uma sessão às 21:40h, num cinema que adoro e perto de casa. desci do ônibus, comprei um chiclete de canela e me assustei ao ver o cinema tão cheio numa quinta-feira. fui pra fila e educadamente pedi para a senhorita da bilheteria, quando chegou a minha vez:

- uma meia pra synedoque.
- #$@%#
- ãhn?
- esse filme saiu de CARTAZ
- nossa, mas no jornal [ok, eu menti] dizia que tem uma sessão às 21:40h.
- deve estar errado.
- hum... - olho o que tinha disponível, para não perder a viagem.

naquele horário, iam rolar duas sessões: Janela e Beijo na Boca Não. Única e exclusivamente por conta do nome, mais criativo e interessante, escolho Beijo na Boca Não (depois pensei que qualquer coisa seria mais interessante que Janela, com excessão de Porta - eu ri disso).

comprei o ingresso e parti rumo à sala. no caminho descobri porque o cinema estava cheio: lançamento de filme. era esse do simonal que um casseta e planeta fez. cheio de famoso, jornalistas, microfones e afins. encontrei até dois conhecidos, pessoas entrosadas no mundinho do 'cinema':

- quer entrar na pré-estréia não? consigo te colocar pra dentro.
- não, obrigada. estou ansiosa pra ver Beijo na Boca Não [eu minto, tu mentes, nós mentimos].
- é ótimo.
- que bom.

E corri pra sala. no que eu sento na cadeira, uma senhora senta do meu lado com pipoca. pensei: que azar, sala nem tão lotada e a única pessoa que vejo com pipoca senta do meu lado. cinco minutos depois um ator global idoso, que se encaixa no grupo daqueles que sabemos que é global mas não sabemos o nome (esses geralmente fazem papel de pais em malhação, padres em novela das 18h ou o avô sagaz na novela das 21h), vem e senta do meu lado. até aí, tudo bem. só que quando entrou a primeira propaganda o cara olha pra mim e comenta. pânico de gente que conversa com estranhos. pensei: azar é pouco. do primeiro trailler em diante o velho não parou de comentar, pra ele mesmo, falando sozinho.

começa o filme e noto que é musical: mais desespero. nada contra, mas não faz meu tipo e não era o que eu estava no clima pra ver. pensei em sair da sala, mas me esforcei, mesmo com o ator global comentando e a pipoca da vovó do lado. tudo ia muito mal quando meu celular começou a tocar. olhei: número desconhecido. ignorei. o mesmo número ligou mais 3 vezes, deixando tocar até cair na caixa. na quinta vez, não aguentei de curiosidade e resolvi sair da sala pra atender. começou a me parecer importante.

atendo e do outro lado uma voz estranha:

- alô, quem é?
- a dona do telefone. quem tá falando?
- andré.
- sim, diga andré.
- eu estou tentando te ligar há uns 20 minutos.
- eu notei, é que estou no cinema - engrosso a voz e começo a demonstrar chateação.
- cara, desculpa. mas é que seu número foi o único que chamou.
- como é?
- é o seguinte: eu decidi ligar pra um número desconhecido para dizer que eu estou em casa sozinho e vou me matar depois que eu desligar esse telefone. eu queria comunicar a alguém e dos números que vinha tentando o seu foi o primeiro que chamou depois de umas 10 tentativas.
- você vai o que?
- me matar.
- ah, tá. foi o que eu entendi mesmo.
- eu vou.
- olha andré, então um abraço, eu preciso voltar pro cinema. se você encontrar com o lênin no inferno, fala que estou precisando falar com ele.
- quem?
- ninguém, deixa pra lá. uma abraço.
- pera aí, pera.
- diga.
- você não vai nem perguntar nada?
- perguntar o que? você é um doido que me tira da sala de cinema, me deixa preocupada a tôa e vem com esse papo de se matar. quer se matar, se mata. mas não vem incomodar quem tá quieto.
- você tá certa. volta pro teu filme. mas obrigado por ter me atendido.

fiquei sensibilizada, confesso, quando ele abaixou o tom da voz. dei um pouco de papo e o cara me contou que ia tomar chumbinho - veneno de rato.
olhei pela porta da sala do cinema. o filme seguia exatamente como deixei: cenas desconexas, personagens estranhos e músicas em francês. parti na direção da saída e ouvindo andré.

- e por que você vai fazer isso, cara?
- porque eu me apaixonei desde muito tempo por uma mulher fenomenal.
- [quem desecreve um ser que deseja como fenomenal?] e ela te deixou?
- não, ela morreu.

quase fui atropelada. estava atravessando a rua, na volta a pé pra casa e tomei um susto. a história de andré ganhou dramaticidade. mas é claro que a morte da mulher era uma metáfora. ela o traiu e o deixou.

- cara, quantos anos você tem?
- vinte.
- hum...
- isso tá me matando, por isso quero acabar com minha vida de uma vez.
- deixa eu te contar uma coisa. se você se matar, essa dor vai com você para a vida eterna. você vai ter que carregar ela pra sempe. você pode até se matar, mas se for desse jeito, você nunca vai se livrar da dor - comecei a tratar o assunto com a seriedade merecida.
- não tem outro jeito.
- até tem. eu te garanto. há métodos infalíveis. depende do gosto do cidadão: com gelo, sem gelo, com sertanejo ou samba, em dose dupla ou jarra, com açúcar ou adoçante.
- eu nem bebo.
- olha, guarda o chumbinho pra mais tarde. se mata, mas você tem que enterrar essa dor antes. você tem dinheiro?
- cartão.
- ótimo. eu vou pegar um táxi e você paga o resto. onde você está?
- jardim botânico.

e foi assim que minha quinta-feira solitária no cinema com filme estranho, velhos e pipoca, acabou às 6 da manhã de sexta numa esquina do jardim botânico. eu, andré, rodney (o garçom do bar jóia) e uma garrafa de ballantines.

5 comentários:

Faber disse...

Eu não consigo decidir se pergunto se é verdade, mentira ou um pouquinho de cada ou se continuo com a dúvida e me faço parecer perspicaz o suficiente para perceber verdades, mentiras ou um pouquinho de cada sem perguntar.

Suzana disse...

tô com o faber e não largo.

Amana disse...

Era o Otavio Augusto do seu lado?
:O
to incrivi. bode tambem.
bjs

André Lima disse...

Olha, nem passou pela minha cabeça essa história ser inventada.
Eu acredito em Marianna. Se ela diz que aconteceu, aconteceu.

Clementina disse...

era otávio augusto não amana. tou tentando lembrar um papel do vovô, mas nada.