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sábado, 27 de junho de 2009

+ou- 6:00 AM, 06/27/09

o céu do brooklyn agora
que chego do harlem
depois de uma madrugada
de jazz e descobertas
é de um azul assim

tão azul...

um azul
tão azul que
tão azul assim
eu nunca vi
nenhum azul
ou céu de outrora

(muito embora talvez
em são tomé das letras)

um azul de picasso
de um azul que
de escasso
só tem a rima

e mesmo a rima
é de falsa riqueza
na medida mesma
em que toda riqueza é falsa

um esquilo
atravessa um fio
por sobre o verde
e as grades do quintal
no fundo da casa

e de outra parte do mundo
traz a lembrança
dos gambás do sujinho
dos sariguês da praia vemelha

ainda bem que a cerveja que
agora bebo (e posso) é pilsen
de um amarelo ouro
que junto ao verde
das árvores do quintal
do fundo da casa
onde sopro a fumaça azulada
do meu cigarro

e junto da estrela d`alva
brilhando altissonante
sendo Vênus como em qualquer outro canto remoto desse planeta
me sugere e grita
meu país e sua bandeira

ai que saudade
da ordem e do progresso
que nunca se realizam
e apenas divisam
nossa alegria e inveja pós colonial...

afinal
sem carnaval
quanto vale toda essa funcionalidade
e perfeição mecânica
que come gente
e garante que o trem
saia pontualmente
às quatorze e dezessete
ou às dezesseis e
quarenta e três...

eu

sou mais carnaval
e faço mais gosto
do rosto
alegre do meu povo
do que esse azul
metálico tão forte
que quando se vai
mais parece
anúncio de morte

ou de um picaso escasso
fosco e sem calor

rico

mas de um rosto
(pra mim)
sem gosto nem
cor

e no
mais
agora

eu

poetizei poetizando
porque
pra mim poetizar é
sempre poetizando
enquanto invento agoras...

na medida certa em que o poeta se faz

no
`quando????`- das horas!!!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

As popozudas do Femi Kuti Kuti Kuti e Michael Jackson won`t be there

Como já havia indicado na minha postagem anterior hoje eu fui assistir um show de graça do Femi Kuti, filho do Fela, no Prospect Park, Brooklyn, NY.

Porrrrrraa!!!! Que showzaço!!!

Nem ia postar nada, estou na casa de amigos e é sempre estranho escrever aqui no escuro enquanto a casa ressona. Mas foi foda!!

Fiquei encantado em ver as dançarinas popozudas e suas coreografias sensuais e ver como a coisa de exibir bundas e insinuar o sexo é uma coisa africana. Lembra muito o funk carioca, embora mais elegante ou menos direto ao ponto. Legal perceber essas influências na cultura funk, embora achar que o funk acaba descambando hoje em dia para uma baixaria-putaria generalizada e um clima de puteiro vagabundo.

Dá pra melhorar, apesar de achar que o lirismo definitivamente não combine com o tamborzão...
(Lembrei de uma entrevista do diretor Gilo Pontecorvo, autor do filme`The battle of Algiers` em um programa da televisão italiana-ou-de-qualquer-lugar-do-mundo-que-fala-e-age-da-mesma-forma-hegemônica em que relata uma entrevista com uma mulher argelina e muçulmana... ao questionar como ela sucumbe a opressão masculina islâmica da burca, entre outras, a mulher lhe diz que acha igualmente estranho a forma como as mulheres ocidentais lidam com sua sexualidade e expõem o corpo... tipo `primeiro foi a calça, depois a mini saia, depois o topless... qualquer dia o único momento de erotismo e sensualidade de vocês vai ser quando o esperma encontrar o útero...` interessante... )

Duas horas intensas de afrobeat, um cheiro contínuo de maconha, uma multidão bonita, vistosa e tipo super na sua - até demais pro meu gosto... Os policiais, apesar do óbvio consumo de maconha, limitavam-se a observar a ordem. Fosse no Rio e fariam a habitual caça aos maconheiros em busca de extorsões e drogas para consumir de graça. Sem dúvida, um pensamento que não sai da minha cabeça é que a polícia do Rio, especialmente, é um tipo de câncer social - apesar de não gostar da analogia e da idéia de patologia de ordem social... Mas meganha é meganha e os daqui parecem ter um pouquinho mais de bom senso.

Fiquei com vergonha de pedir pra dar um dois pros carinhas... pois é, fiquei... Depois um amigo americano que está pegando e sendo pego por uma amiga carioca falou que seria tranquilo... Bem que eu desconfiei já que geral ficou tentando me filar os meus cigarros de mais de sete dólares e eu só correspondi ao primeiro pedido de uma mocinha loura yankee até dizer chega e fechei a porteira... Vai se foder gringaiada, cigarro caro pra caralho!!!

No final do show tocou uma música do Jackson Five, I`ll be there, em homenagem ao Michael Jackson americano que não era comunista mas também comia criancinhas... Rolou uma comoção geral enquanto eu, já cheio de cerveja cara, morna e ruim (budweiser) cantava altissonante won`t be there e pensava que agora só falta a Xuxa... que não come criancinhas mas lambe paquitas...

desculpe a baixaria, mas me deu um tamborzão por dentro agora que a malandragem do Brooklyn defronte minha janela botou uma sequência de Michael pedófilo vitiligo de viado Jackson e ficou cantanto junto em coro choroso...

AAAhhh

Só falta a Xuxa!!!!

AAAhhh

Só falta a Xuxa!!!!

Maiores notícias em todos os jornais e telejornais da mídia-de-qualquer-lugar-do-mundo-que-fala-e-age-da-mesma-forma-hegemônica...




quinta-feira, 25 de junho de 2009

essa é pro querido ouvinte do interior


uma poesia então...

uma vez
um grande poeta
disse
que toda poesia
se poesia
fosse
deveria trazer consigo
alguma dor

(e eu não sei se é samba
o que o grande poeta
outrora
disse
ou dor
assim
de dicionário
ou peito)

outro
grande poeta
achou melhor despir-se
de si
e de tudo de si
e de tudo
e dos outros
e tudo dos outros que
em si
ou que dele
porventura ocorre

eu
apesar de poeta
não sou grande
poeta

e apesar de gordo
e poeta
não sou grande

e digo
como quem desdiz
com lastros de euforia
e esperança

- seja assim
como fosse
assim
poeta
se não fosse

e não mergulhe
(ou mergulhe)na dor
que mesmo assim
a ti
parece doce

dispa-se
- se assim lhe ocorra ou
melhor lhe aprouver-

apenas por vontade própria.

porque
poesia
não tem forma...

e mesmo essa
aparente norma
que nega outras

é inócua...

esqueça

ou me transporte

aonde valha a pena

contigo mesmo

para ser

ou morrer

dentro

da sua incidência...

segunda-feira, 22 de junho de 2009


Sábado eu abri os olhos numa cama do Brooklyn ainda meio ressaqueado e mal balbuciei algumas brincadeiras o celular da minha mulher tocou e ela disse que era minha mãe.

Soltei um puta que pariu chateado porque minha avó paterna estava internada numa CTI num hospital de Niterói e eu pedi para minha mãe me ligar no caso de minha avó falecer e quando tocou o celular e eu tinha que atender e não queria mais acordar nem atender o celular eu já sabia o que ia ser dito e que minha vózinha tinha morrido.

O resto do dia eu só pude beber e chorar como também chorava o céu de Nova Iorque e eu me afundei em Coors e Carlsberg em um pub chamado Moe´s que me lembrava os Simpsons e tinha um nome engraçado e um clima agradável até aquele momento em que fiquei bebendo e eu e minha mulher passamos a tarde chorando a falta de nossas avós com uma melancolia escrota enquanto tocava rock sem parar e eu ia pra fora do bar chorar na chuva fumando cigarro bem no meio do caminho dos americanos que puritanamente passavam sem olhar para minha cara e eu me sentia melhor assim..

Eu ainda hoje estou abalado e acabei de falar com meu pai que parece estar bem resignado e ficou me dizendo sua leitura da vida da minha avó que eu concordei e também ressaltei em coro sua força e inteligência e que a forma como ela morreu sem muito sofrimento nem passar por toda a via crucis de uma quimioterapia combina de certa forma com a independência e energia que a caracterizava e que reforça a beleza de sua trajetória nesse planeta.

Falei com minha mãe para saber dela e de minha outra avó com medo do pior acontecer e fiquei mais tranquilo quando soube que ela passa bem e que a forma como minha avó morreu sem saber que estava com câncer de pulmão e sem dar trabalho para ninguém combina com um desejo manifestado por telefone com minha mãe meses antes quando ela reclamava de desânimo e dores no corpo além de um cansaço esquisito que todo mundo achou que era depressão e eu estava muito ocupado em terminar minha dissertação de mestrado e nem fui visitá-la apesar de estar a poucos quarteirões de distância.

Lembrei agora de como tinha medo e falei com Amana que eu temia perder minha avó materna ao longo dessa viagem e de como a morte de minha avó paterna acaba refletindo uma triste ironia emoldurada ainda pelo sentimento disparado pela história do Benjamin Button me fazendo lembrar a morte de meu avô paterno e de como eu ouvia minha vó Conceição sabiamente dizendo que envelhecer é colecionar saudades e pensava que meu avô inaugurou essa coleção melancólica na qual ela hoje é a dor mais recente.

Queria postar alguma coisa sobre NY ou sobre a genealogia da moral ou algum outro assunto interessante desses que eu anoto no meu caderno de campo para agradar leitores anônimos e provocar comentários e risinhos na Clê mas hoje nenhuma máscara de carnaval me cabe e fica aqui esse texto estranho num formato que surgiu a partir de um erro de português no segundo parágrafo como uma tentativa solitária e melancólica de despressurização estética.

E fico muito feliz mesmo sem ironia de saber que a Clê dormiu dezoito horas que o brunobandido nos visitou e achou tudo lindo que Bebeto tem tino jornalístico e que o Flamengo ganhou do Inter desfalcado com três gols de Adriano e a vida segue em frente.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

reflexões cinematográficas: harvey milk + quem quer dinheiro?

realmente, tenho vivido momentos privilegiados. vejo filmes, leio revistas, livros e sites/blogs de esquerda, em geral, marxistas, tomo chás, cafés, cervejas e whiskies e reflito... refletir é um privilégio nos tempos correntes... ou melhor, poder pensar e organizar as idéias em textos... a configuração do trabalho procura sugar tudo o que você tem de melhor no horário comercial, pra depois te silenciar com cervejas, bate papos, trepadas rapidinhas ou fodas homéricas, drogas, samba, drogas, futebol, pai nossos, batuques e outras atividades de afirmação prazerosa da existência espremidos na rotina diária...

há os que afirmam gostar do que fazem e encontram prazer no trabalho... eu não me arrisco a incorrer nesse pensamento sem volta e de sufocamento garantido...

pois bem...

em minhas conexões de sentidos não totalizantes da realidade que se me impõe, uma brincadeira interessante é mesclar filmes com textos lidos e idéias navegadas. dentro dessas reflexões cinematográficas, determinados assuntos apontam para certos arranjos e algumas dobradinhas de filmes com navegações conectáveis. desse modo, planejei realizar dois posts, harvey milk + quem quer dinheiro?, e bamboozled + munyurangabo: por um humor politicamente correto!!

eis então o primeiro:

bem, como anunciei na postagem anterior, acabei de ver milk. muito bom filme, sean penn realmente está excelente e a história tem a meu ver o mérito de não incorrer numa narrativa individualizante do mito do herói ou mártir. pelo contrário, demonstra que ele era uma liderança que muito mais que criar um movimento é posto a navegar por ele, entra na política para representar uma coletividade inflamada que já existia, intensificando e ampliando suas lutas, reivindicações e conquistas.

é interessante também como, ao longo das imagens reais expostas no filme, eu já consigo reconhecer NY, a disposição das ruas, sua arquitetura e tal...

aliás, eu faria uma breve e precária comparação entre brasil e eua, e diria que ny está para são paulo assim como a califórnia está para o rio de janeiro... fui poucas vezes a são paulo, uma quando criança e outra a trabalho no masp, mas, do que eu posso lembrar, ny tem um mesmo clima, a coisa do ibirapuera e seus corredores, patinadores e pipoca com uma parada rosa, não sei bem o que era, mas inesquecível ecoa em minhas percepções do central park, a poesia do concreto... east/west/greenwich village madalena ou mariana... tom zé poderia ser bem um desses malucos que recitam poesia nas praças ao lado das rodinhas de break... adoniran é o tiozinho que toca jazz no metrô, rita lee está por aí e caetano foi à merda... e tá no rio agora, leblon de coração...

até o visual parece, uma coisa bem urbana, o próprio hip hop daqui parece com o de sp. a califórnia enquanto golden state e LA lembra, em minha imaginação já que nunca pus os pés na cidade dos anjos, o rio, até as brigas de gangues - cv x ada / east side x west side, as estrelas globais e hollywoodianas, não sei.

estou seriamente planejando uma ida a são paulo.

san francisco me parece ter alguma coisa de farme de amoedo posto 8, meio lido e augusto severo saca... e deve ter o mesmo problema da homofobia...

aliás, uma coisa que me intrigou no filme é que, ao que parece, os argumentos homofóbicos soavam e ecoaram de uma maneira tão obtusa e absurda naqueles tempos que às vezes dá uma sensação que eles foram mais diretamente responsáveis pelas conquistas do que as próprias propostas em si. tudo bem que o fundamentalismo cristão aqui e no brasil são bem consolidados e tal, mas fora dos círculos sulistas e radicais wasp, soam como imorais.

é engraçado como todas essas histórias dos movimentos sociais, dos gays, das lésbicas, do feminismo, dos negros e demais minorias me fazem pensar no nietzsche e sua genealogia da moral, de como a moral funciona por um mecanismo de culpabilização e desse modo evolui por inversões e não assimilações. as pessoas, em tese, num primeiro momento, não deixam de ter pensamentos machistas, racistas ou homofóbicos - passam a se culpar por tê-los e os silenciam... na medida que o tempo passa esse sentimento parece ser internalizado, os preconceitos e discriminações perdem sentido e a moral invertida proposta se torna uma hegemonia.

bem, se é assim, em geral, ainda estamos na fase da culpabilização e da inversão de sentidos...

depois do filme - muito elegante por sinal, as cenas gays nem me fizeram sentir culpado por incorrer em pensamentos homofóbicos - fui ler uma reportagem numa revista que eu comprei na barnes and nobles chamada 'isr - international socialism review' que trazia uma entrevista com um menos ativista e mais estudioso do movimento gay, onde ele falava sobre a coisa do nascer gay como a teoria adotada pelos movimentos e das vantagens pragmáticas dessa posição. eu achei uma merda, quase um retrocesso, ainda mais para quem tem noção do avanço das psiquiatrias biologizantes, do geneticismo dominante e do perigo que isso representa enquanto bandeira de eugenias renovadas.

quero ver se isso ganha status de verdade, os cientistas conseguem isolar o gene gay e os pais passarem a pedir a manipulação genética e exclusão desse gene. aí, apesar de eu não acreditar nessa teoria, ou vai ser um golpe no movimento ou pior, pode significar uma possibilidade de extinção dessa forma de sexualidade... eu duvido, mas, do que jeito que o cientificismo é, a promessa daqui a pouco passa a ser cobrada no laboratórios de inseminação artificial...

não quero duvidar da forma como se lida e vivencia o desejo, mas minha formação e simpatia pela psicanálise - e a crença em escolhas inconscientes - me fazem temer essas circunstâncias apesar do que se aponta como os ganhos com essa posição - a impossibilidade de culpabilização desses indivíduos e a própria eliminação da fobia de se transmitir esse comportamento para as crianças a partir do convívio e aceitação social dos LGBTs.

no mais, não percam, vale a pena, excelente película!!!!

até porque, sinceramente, tenho pensado muito nisso: esse campo de lutas exige a integração de todos os campos minoritários e o ativismo ou o ativista deve procurar desenvolver uma assunção integral desse modo de pensar... um racista homofóbico é tão idiota quanto um gay branco racista ou um machista de qual cor ou sexo seja... afinal, a forma mais perversa de preconceito é quando se apresenta introjetado pela vítima histórica... eu acho... mas isso é assunto para outra hora...

a escolha pelo slumdog millionaire junto com milk se dá por conta da reflexão sobre a introjeção de modos de subjetivação e pensamento, tal como a reflexão nietzscheana sobre a moral... isso porque tudo o que o personagem principal desse filme NÃO queria era ser era milionário. é triste ver que os tradutores deram esse título ao filme. o melhor seria 'quem quer ser milionário' brincando com o 'quem quer dinheiro' do sílvio santos... mais condizente com a ironia do filme, que na verdade é uma história de amor... péssima comparação, com esse programa deprimente, aquelas mulheres se engalfinhando por uma nota de 50 reais ou sei lá qual é a que ele faz as gaivotas de mau gosto que joga no auditório.


gostei do filme, mas... a discussão que ele traz é fraca... mas vale como entretenimento, ganha o oscar e tal...


é engraçado como a mídia constrói e reproduz uma espécie de subjetividade capitalista que está estampada na escolha do título. quem não quer ser milionário?? todos se perguntam, como se nesta via residisse o real sentido da existência... ganhar e acumular dinheiro...


aí eu acho que até faz sentido desenvolver uma leitura da realidade como totalidade, como resposta ao mecanismo do capital que também é totalizante e indica os prazeres e liberdades individuais como contrapartidas de uma inserção subjetiva capitalista no mundo. nesse sentido, o marxismo e sua aposta no proletariado perde ao dissolver as individualidades em ideiais coletivos unificados. isso sem falar que o ópio do povo, futebol, religião, bebedeiras, pequenas irresponsabilidades são importantes na vida... sei lá, o militante tradicional, clássico, se me assemelha a um chato que policia o mundo atrás de motivos para encrencas e reclamações e impropérios e blá blá blás politicamente corretos... apesar de ninguém negar a festa como importante momento de agregação de valores e lutas...


minha dissertação de mestrado, sua investigação, acabou por apontar um caminho comum dos movimentos sociais em buscar a construção de leis que garantam e protejam sua existência e cidadania, que signifiquem direitos conquistados... o caminho costuma ser o da criminalização dos comportamentos inadequados e fascistas e de ações afirmativas variadas, condicionadas por condições negativas de existência, faltas, desvantagens sociais, e tal... mas isso não basta para mudar uma moral ou sistema de valores... é preciso mais...


a culpabilização e a condecendência com o sofrimento alheio é um caminho de convencimento, as leis são importantes, mas é preciso mais, é preciso afirmar a positividade dessas pessoas, as suas capacidades e genialidades, a sua dimensão e potencialidades inventivas, a sua produção de vida, festa, arte e bom humor...


o movimento gay sabe disso, vide a gay parade...


outros parecem saber menos ou...


bem, ainda bem que spike lee sabe disso também...


mas isso é assunto para outra postagem e eu hoje tenho uma festa para ir...

Goodbye GM


achei esse texto em um email e depois neste blog, que é ligado ao PSTU, uma tradução de uma carta do michael moore que fora publicada no estadão.


como o texto do email é mais longo e tem algumas propostas interessantes, preferi então postá-lo. mais tarde escrevo alguma coisa sobre minhas divagações com marques sobre revolução, ambientalismo, capitalismo e proletariado, não necessariamente nessa ordem...

agora vou ver "milk''...

eis o texto:

ADEUS GENERAL MOTORS

Por Michael Moore

Escrevo na manhã que marca o fim da toda-poderosa General Motors. Quando chegar a noite, o Presidente dos Estados Unidos terá oficializado o ato: a General Motors, como conhecemos, terá chegado ao fim.

Estou sentado aqui na cidade natal da GM, em Flint, Michigan, rodeado por amigos e familiares cheios de ansiedade a respeito do futuro da GM e da cidade. 40% das casas e estabelecimentos comerciais estão abandonados por aqui. Imagine o que seria se você vivesse em uma cidade onde uma a cada duas casas estão vazias. Como você se sentiria?

É com triste ironia que a empresa que inventou a “obsolescência programada”– a decisão de construir carros que se destroem em poucos anos, assim o consumidor tem que comprar outro – tenha se tornado ela mesma obsoleta. Ela se recusou a construir os carros que o público queria, com baixo consumo de combustível, confortáveis e seguros. Ah, e que não caíssem aos pedaços depois de dois anos. A GM lutou aguerridamente contra todas as formas de regulação ambiental e de segurança. Seus executivos arrogantemente ignoraram os “inferiores” carros japoneses e alemães, carros que poderiam se tornar um padrão para os compradores de automóveis. A GM ainda lutou contra o trabalho sindicalizado, demitindo milhares de empregados apenas para “melhorar” sua produtividade a curto prazo.

No começo da década de 80, quando a GM estava obtendo lucros recordes, milhares de postos de trabalho foram movidos para o México e outros países, destruindo as vidas de dezenas de milhares de trabalhadores americanos. A estupidez dessa política foi que, ao eliminar a renda de tantas famílias americanas, eles eliminaram também uma parte dos compradores de carros. A História irá registrar esse momento da mesma maneira que registrou a Linha Maginot francesa, ou o envenenamento do sistema de abastecimento de água dos antigos romanos, que colocaram chumbo em seus aquedutos.

Pois estamos aqui no leito de morte da General Motors. O corpo ainda não está frio e eu (ouso dizer) estou adorando. Não se trata do prazer da vingança contra uma corporação que destruiu a minha cidade natal, trazendo miséria, desestruturação familiar, debilitação física e mental, alcoolismo e dependência por drogas para as pessoas que cresceram junto comigo. Também não sinto prazer sabendo que mais de 21 mil trabalhadores da GM serão informados que eles também perderam o emprego.

Mas você, eu e o resto dos EUA somos donos de uma montadora de carros! Eu sei, eu sei – quem no planeta Terra quer ser dono de uma empresa de carros? Quem entre nós quer ver 50 bilhões de dólares de impostos jogados no ralo para tentar salvar a GM? Vamos ser claros a respeito disso: a única forma de salvar a GM é matar a GM. Salvar a preciosa infra-estrutura industrial, no entanto, é outra conversa e deve ser prioridade máxima.

Se permitirmos o fechamento das fábricas, perceberemos que elas poderiam ter sido responsáveis pela construção dos sistemas de energia alternativos que hoje tanto precisamos. E quando nos dermos conta que a melhor forma de nos transportarmos é sobre bondes, trens-bala e ônibus limpos, como faremos para reconstruir essa infra-estrutura se deixamos morrer toda a nossa capacidade industrial e a mão-de-obra especializada?

Já que a GM será “reorganizada” pelo governo federal e pela corte de falências, aqui vai uma sugestão ao Presidente Obama, para o bem dos trabalhadores, da GM, das comunidades e da nação. 20 anos atrás eu fiz o filme “Roger & Eu”, onde tentava alertar as pessoas sobre o futuro da GM. Se as estruturas de poder e os comentaristas políticos tivessem ouvido, talvez boa parte do que está acontecendo agora pudesse ter sido evitada. Baseado nesse histórico, solicito que a seguinte idéia seja considerada:

1. Assim como o Presidente Roosevelt fez depois do ataque a Pearl Harbor, o Presidente (Obama) deve dizer à nação que estamos em guerra e que d evemos imediatamente converter nossas fábricas de carros em indústrias de transporte coletivo e veículos que usem energia alternativa. Em 1942, depois de alguns meses, a GM interrompeu sua produção de automóveis e adaptou suas linhas de montagem para construir aviões, tanques e metralhadoras. Esta conversão não levou muito tempo. Todos apoiaram. E os nazistas foram derrotados.

Estamos agora em um tipo diferente de guerra – uma guerra que nós travamos contra o ecossistema, conduzida pelos nossos líderes corporativos. Essa guerra tem duas frentes. Uma está em Detroit. Os produtos das fábricas da GM, Ford e Chrysler constituem hoje verdadeiras armas de destruição em massa, responsáveis pelas mudanças climáticas e pelo derretimento da calota polar.

As coisas que chamamos de “carros” podem ser divertidas de dirigir, mas se assemelham a adagas espetadas no coração da Mãe Natureza. Continuar a construir essas “coisas” irá levar à ruína a nossa espécie e boa parte do planeta.

A outra frente desta guerra está sendo bancada pela indústria do petróleo contra você e eu. Eles estão comprometidos a extrair todo o petróleo localizado debaixo da terra. Eles sabem que estão “chupando até o caroço”.Ecomo os madeireiros que ficaram milionários no começo do século 20, eles não estão nem aí para as futuras gerações.

Os barões do petróleo não estão contando ao público o que sabem ser verdade: que temos apenas mais algumas décadas de petróleo no planeta. À medida que esse dia se aproxima, é bom estar preparado para o surgimento de pessoas dispostas a matar e serem mortas por um litro de gasolina.

Agora que o Presidente Obama tem o controle da GM, deve imediatamente converter suas fábricas para novos e necessários usos.

2. Não coloque mais US$30 bilhões nos cofres da GM para que ela continue a fabricar carros. Em vez disso, use este dinheiro para manter a força de trabalho empregada, assim eles poderão começar a construir os meios de transporte do século XXI.

3. Anuncie que teremos trens-bala cruzando o país em cinco anos. O Japão está celebrando o 45o aniversário do seu primeiro trem bala este ano. Agora eles já têm dezenas. A velocidade média: 265km/h. Média de atrasos nos trens: 30 segundos. Eles já têm esses trens há quase 5 décadas e nós não temos sequer um! O fato de já existir tecnologia capaz de nos transportar de Nova Iorque até Los Angeles em 17 horas de trem e que esta tecnologia não tenha sido usada é algo criminoso. Vamos contratar os desempregados para construir linhas de trem por todo o país. De Chicago até Detroit em menos de 2 horas. De Miami a Washington em menos de 7 horas. Denver a Dallas em 5h30. Isso pode ser feito agora.

4. Comece um programa para instalar linhas de bondes (veículos leves sobre trilhos) em todas as nossas cidades de tamanho médio. Construa esses trens nas fábricas da GM. E contrate mão-de-obra local para instalar e manter esse sistema funcionando.

5. Para as pessoas nas áreas rurais não servidas pelas linhas de bonde, faça com que as fábricas da GM construam ônibus energeticamente eficientes e limpos.

6. Por enquanto, algumas destas fábricas podem produzir carros híbridos ou elétricos (e suas baterias). Levará algum tempo para que as pessoas se acostumem às novas formas de se transportar, então se ainda teremos automóveis, que eles sejam melhores do que os atuais. Podemos começar a construir tudo isso nos próximos meses (não acredite em quem lhe disser que a adaptação das fábricas levará alguns anos – isso não é verdade)

7. Transforme algumas das fábricas abandonadas da GM em espaços para moinhos de vento, painéis solares e outras formas de energia alternativa. Precisamosde milhares de painéis solares imediatamente. E temos mão-de-obra capacitada a construí-los.

8. Dê incentivos fiscais àqueles que usem carros híbridos, ônibus ou trens.Também incentive os que convertem suas casas para usar energia alternativa.

9. Para ajudar a financiar este projeto, coloque US$ 2,00 de imposto em cada galão de gasolina. Isso irá fazer com que mais e mais pessoas convertam seus carros para modelos mais econômicos ou passem a usar as novas linhas de bondes que os antigos fabricantes de automóveis irão construir.

Bom, esse é um começo. Mas por favor, não salve a General Motors, já que uma versão reduzida da companhia não fará nada a não ser construir mais Chevys ou Cadillacs. Isso não é uma solução de longo prazo.

Cem anos atrás, os fundadores da General Motors convenceram o mundo a desistir dos cavalos e carroças por uma nova forma de locomoção. Agora é hora de dizermos adeus ao motor a combustão. Parece que ele nos serviu bem durante algum tempo. Nós aproveitamos restaurantes drive-thru. Nós fizemos sexo no banco da frente – e no de trás também. Nós assistimos filmes em cinemas drive-in, fomos à corridas de Nascar ao redor do país e vimos o Oceano Pacífico pela primeira vez através da janela de um carro na Highway 1. E agora isso chegou ao fim. É um novo dia e um novo século. O Presidente– e os sindicatos dos trabalhadores da indústria automobilística – devem aproveitar esse momento para fazer uma bela limonada com este limão amargo e triste.

Ontem, a último sobrevivente do Titanic morreu. Ela escapou da morte certa naquela noite e viveu por mais 97 anos.

Nós podemos sobreviver ao nosso Titanic em todas as “Flint – Michigans”deste país. 60% da General Motors é nossa. E eu acho que nós podemos fazer um trabalho melhor.

terça-feira, 2 de junho de 2009

the book is on the BECO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!(sugestão d'Amana)


The book is on the table
Junto com meu drink, minha sede, meu maço de Marlboro de U$7,27, um isqueiro e um cinzeiro onde vez por outra pouso minha imaginação acesa... enquanto pinga o tempo...

The book is on the table
Junto com o laptop que grita antibalas fela kuti e afrobeat enquanto não estou aqui

The book is on the table
E eu não quero lê-lo

The book is on the table...
Foda-se
Eu nem estou aqui
E meu coração bate mais forte no beco
Do rato
Hoje
terça-feira

the book
agora
está no lixo

junto com outras reencarnações de árvore recicláveis
(ouvindo antibalas afrobeat orchestra, 'I.C.E.')

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Hoje eu dei uma volta num parque que tem aqui perto, muitos campos de beisebol, futebol, quadras de basquete, área para cães confraternizarem, bancos, churrasqueiras, gansos, veados (os bichos, bambis), lebres, castores, pássaros, esquilos, americanos, asiáticos e latinos-mexicanos. Tava rolando uma partida de futebol, parece ser algum torneio, times uniformizados, juízes idem, torcida vibrante de pais e amigos...

Os carinhas não eram de todo ruins. Eram adolescentes correndo pra caralho, bem distribuídos taticamente e tal, jogadas ensaiadas, bem treinados. Mas faltava alguma coisa, um molho, uma ginga, uma frieza... Eles armavam as jogadas com alguma genialidade, abertos pelos flancos em toques rápidos e precisos, mas na hora de fazer o gol rolava um desespero. Nisso, o brasileiro é foda, eu acho... tem uma coisa de parar a bola, olhar, calma, frieza, faz a diferença.

O futebol deles parece mais com o estilo inglês. Pelo menos num time isso era gritante, aquele chuveirinho incessante, laterais que parecem cobrança de escanteio. Perigosos no alto. Mas, mesmo no alto, desesperados... (fiquei lembrando no gol do Adriano, como ele pára no ar e cabeceia com força, com a testa, pra baixo, que mesmo daqui dá pra ver que ele estava de olho aberto).

Fiquei pensando numa coisa que um amigo me falou uma vez, que o esporte traz em si todas as bases de uma sociedade capitalista e militarizada, disciplina, dedicação, competitividade, e uma ética relativa, pelo menos no futebol isso fica claro (vide, para citar os mais brilhantes e notórios, Maradona em 86, Nílton Santos em 62, dentre outros casos famosos). Pode ser.

Aliás, Clê, não discordo de forma alguma de uma relação ou da conexão entre todos os campos da vida, arte, política, economia, educação, religião, esporte, pelo contrário... Só discordo de um sentido único e totalizante de realidade. Pelo contrário, vejo inconsistências a todo instante... Nem o capital é tão perfeito assim em sua dominação e hegemonia, por um lado, nem o proletariado existe como unidade e nem a denúncia marxista esgota a realidade, por outro... Uma sociedade de controle não significa uma sociedade controlada e tudo sobra e se difunde e espalha sorrateiramente por todos os lados...

Mas isso é papo para outra hora... ou não, fique à vontade ; )

O fato é que aqui vocè tem muito incentivo ao esporte, desde por conta dos espaços disponíveis e públicos e bem cuidados até pelas bolsas de estudos em universidades e outros. Afinal, precisa-se de corpos docilizados, adestrados e prontos para a batalha do dia a dia, certo??

Existe uma urgência por saúde e por uma vida saudável aqui, pelo menos em springfield eu sinto as coisas dessa forma... Diferente do Rio, onde a saúde encontra significação na beleza física e na ostentação de abdomens e bundas e bíceps, aqui a sensação é de que você deve se manter em funcionamento, com saúde para trabalhar, estudar e produzir... Tem os bombados, mas bem menos eu acho... Na Califórnia deve ser diferente, até porque São Francisco é notória pelos gays e o Rio de Janeiro também está dentro desse circuito mundial... É engraçado isso, mas tanto os gays como os homofóbicos mais notórios e emblemáticos tem essa coisa com o corpo como escultura e saúde e ciência e disciplina e ostentação...

Aliás, vejo muitas semelhanças entre alguns estilos de vida brasileira e carioca com o que se vê por aqui... Tem um mesmo ‘acabamento das idéias’, saca??

A maior diferença é quanto a forma como se lida com o ‘público’... mas as perversidades, mesquinharias, recalques, discriminações e outras formas usuais de antagonismos de classes são bem parecidas... Lembro do Guattari e sua idéia de ‘subjetividade capitalista’...

Quanto à saúde, a maior diferença talvez seja que a nóia de saúde daqui se explica também pela forma como se universaliza precariamente o direito e o acesso aos serviços de saúde, todos privados. Precarização do acesso e dependendo do seu plano, do serviço também... É nem tão diferente assim...

devaneios na tarde de springfield (I)

ando meio encucado com minhas postagens. a distância e a total ausência de comentários me fazem titubear e pensar se vale a pena gastar meu tempo elaborando essas postagens. É certo que por vezes os comentários sáo muito cruéis, você passa às vezes dias pensando em como abordar tal assunto, escolhendo as fotos, as falas, os ângulos e piadas e em cinco minutos um breve comentário faz todo seu esforço parecer em vão, seu texto um lixo e suas idéias idem.

por outro lado, faz bem criar esses textos, pensar as possíveis expressões dos outros ombudsman e dos possíveis leitores. eu mesmo, vaidoso que sou, fico lendo e relendo por horas e dias minhas postagens, achando um erro aqui, um deslize ali, uma boa sacada acolá. de qualquer forma, fica patente ainda como reler os seus próprios textos em dias diferentes lhe faz abrir novos sentidos que talvez nem existiam no momento de sua feitura e publicação... pois é, sentidos copulam e se reproduzem pela ação do tempo e do espaço...

pensei em escrever algo que aprofundasse o sentido da realidade, ou da idéia de real que eu pretendia lançar aqui para um colóquio virtual com a Clê ou quem quer que queira dialogar sobre...

mas, não vi sentido nisso aqui agora...

por outro lado, fiquei pensando em temas mais quentes que pudessem gerar mais comentários e possibilidades de interação com leitores, e tal... mas acho que também não daria certo...

nenhum problema com discussões virtuais, acho ótimo, mesmo quando o clima esquenta e a gente usa de acidez, sarcasmo e ironia, ou quando mando anônimos mal intencionados à merda literalmente, sinceramente eu gosto disso. não gosto muito quando descamba para acusações pessoais, ou psicanalismos e orientações de como eu devo agir - coisa que eu realmente não suporto - mas, faz parte também. antes uma reação ainda que negativa que o silêncio...


mas, já que nada resta além do silèncio, falo sozinho, então...

não quero escrever num blog autista, mas também não acho legal ficar me adequando tanto aos outros, mais do que as inconveniências do dia a dia me obrigam.

bom, todo esse blá blá blá inicial é pra dizer que a ausência de comentários me dá uma sensação de morte (do texto postado) e um gosto amargo, mas que eu já estou até me acostumando, apesar de ser uma merda. Gosto amargo com o qual pretendo introduzir o assunto chapa-branca que eu quero dividir aqui, apesar de não saber e desconfiar que tudo isso pouco importa.

na verdade essa postagem foi motivada por um pequeno incidente no almoço de ontem. estávamos eu e amana com duas amigas brasileiras que dormiram aqui em springfield por conta do aniversário da amana no sábado, uma pernambucana e uma carioca, ambas residindo e estudando em NY.

fomos almoçar em um restaurante tailandês muito bem recomendado pelas pessoas que moram aqui. chegando lá, nos deparamos com o maior cardápio que eu já vi na minha vida, páginas e páginas e fotos e nomes orientais com traduções em inglês e, como era de se esperar, demoramos para decidir o pedido.

nisso, veio uma porra de um(a) tailandes(a) com pinta de hermafrodita (buba) nos atender, perguntando pelos nossos pedidos. como ainda não havíamos escolhido o prato principal, pedimos um aperitivo e perguntamos se podia ser servido inicialmente.

pra quê... o (a) filho (a) da puta (da mãe dele) fez uma esgar de insatisfação, disse que não, que os pratos deveriam ser pedidos todos juntos como quem dá uma bronca, expirou impacientemente o ar que infelizmente ainda o (a) mantém vivo (a) e foi embora soltando fogo pelas ventas e jogando o bloquinho de pedidos no balcão ao fundo onde outro garçom oriental, visivelmente do sexo masculino, lhe perguntava o que houve e tentava disfarçar a conversa quando viu que nós estávamos observando a cena perplexos. depois de algumas considerações sobre comer e não dar gorjeta, e tal, puxei o bonde para outro restaurante, levantando e indo embora...

pois uma coisa é certa: comer é uma hora sagrada e qualquer incidente ou aborrecimento pode comprometer o gosto e o prazer da refeição. ainda mais uma merda daquela...

realmente, inacreditável.

não quero dizer que o infeliz deveria ser uma máquina e me atender independente do seu dia, de seu humores e tal, mas foi demais, muita grosseria, a casa nem estava cheia para tanta impaciência. meu dindim ele nunca verá a cor, até porque o que não faltam são opções e restaurantes orientais em NY.

aliás, tenho que dizer, existem coisas muito bacanas nos restaurantes daqui, como a prática de servir água de graça e o quanto voce quiser - ao que parece, fruto de uma política pública de combate a obesidade que obriga os restaurantes a fazerem essa gentileza. por outro lado, nos restaurantes americanos, principalmente, eles te impõe um ritmo frenético de rotatividade e ficam te pressionando para você pedir e comer e pedir a sobremesa e comer e pagar e ir embora para que outros sentem no seu lugar e consumam... horrivel. você acaba de comer e a conta vem sem que você tenha pedido.

não obstante esse evento, tenho aproveitado minha condição de turista, onde pagar caro faz parte do pacote, para conhecer algumas culinárias interessantes. afinal, aqui tem restaurantes de todas as nacionalidades possíveis...

já experimentei diversas cozinhas e sabores... faço abaixo um breve apanhado dessas pequenas aventuras gastronômicas...

etiópia - a comida tem um forte sabor picante e, pelo que vi consiste basicamente em imensos e finíssimos pães abertos tais como pães arabes com pastas variadas de legumes, carnes e tal. vêm tudo numa bandeja, sobre um desses pães e outras fatias a parte e se come com a mão. adorei o vinagrete deles e um molho com tiras de cenouras cozidas e vagem, bem bacana.

jamaica - peixes fritos e frutos do mar, muita fritura e pimenta em geral, muito apimentada mesmo... mas com mojitos e margueritas fica o bicho!!

grécia - show de bola, nem sei descrever direito. tem muita coisa de frutos do mar e umas tortas salgadas com temperos bem suaves. comi uma sobremesa sensacional, galaktobourecos, uma coisa assim, show. é uma massa de mil folhas com um recheiro cremosos como um pudim de baunilha, muito bom. e tem uma outra com nozes, amêndoas e mel que é foda também.

turquia - tomei uma sopa de lentilhas diferente, deliciosa e comi a melhor pasta de grão de bico (hummus, né?) da minha vida. meu pedido era um prato com umas kaftas, kebabs de carneiros com arroz, legumes e um molho meio picante, delicioso.

china - mermão. olha, a china vale um capitulo a parte que escreverei em breve, junto com todo o universo paralelo que é chinatown. quem ainda me lê, aguarde...

***************

no mais, o computador deu tilt e o teclado nao me obedece mais, o dia esta acabando e eu fiquei no computador desde que acordei e preciso dar uma volta. mais tarde eu posto algo mais interessante (ou nao).

quarta-feira, 27 de maio de 2009

c`est la vie e bola pra frente!!!




acabei de ver esse filme do Alain Resnais e vim correndo pra cá. muito bom!! mesmo. o original se chama `coeurs`' , coraçóes... no Brasil deve ter ido com esse título `nada a ver`americano traduzido literalmente, 'medos privados em locais públicos`... realmente nada a ver...
além de todas as jogadas de câmera e da sensação de que o diretor está ali junto dos atores e da trama e do cenário dizendo coisas, aquele ar meio deprê meio c'est la vie dos filmes franceses ( ao que eu emendaria 'e bola pra frente' carioquíssimamente) me fez bem agora. muito melhor que os happy ends americanos (ao que eu remendaria, meio mineiramente, 'ah, tá bom, então`)...
aliás, as diferentes tramas parisienses enredadas me lembraram, muito de leve, um leblon a la domingos oliveira ou a los angeles de magnólia... definitivamente os franceses brincam com o cenário e o nonsense muito melhor... chuva de sapos foi difícil de engolir...
realmente foi um achado... veria de novo!!!
revi, copiei as falas e transcrevo abaixo um diálogo primoroso!!!! (em inglês, conforme as legendas... estou meio sonolento para traduzir agora... mas é fácil, dá pra entender tranquilo... afinal, somos todos cucarachas subdesenvolvidos pequeno-burgueses e temos alguma noção de inglês, ainda que superficial, certo?...)
LIONEL : I wish i had your inner strength. Your faith. The confort it brings you. But i'm afraid i can't. God up there somewhere in his heaven, and hellfire waiting for us below. I can't believe all that. I'd like to. But i can't. I suppose we pass through life alone.
CHARLOTTE : If i may say so, Lionel... I think it's more complex than that. I'm not a great believer in hell either. Or in any other form of damnation. But if hellfire exists, it's burning within us. And we feed it with our weakness and failings. If we don't try to put it out... It consumes us. And even worse, consumes others too.
LIONEL : It's within us?
CHARLOTTE : I'm convinced of it.
LIONEL : Even within you?
CHARLOTTE : I must go.
******
E eu também Charlotte...
(e vou dormir com a sensação de que se a gente assimilasse efetivamente o sentido latente gritante desse diálogo, teria muito psicanalista passando fome a essa hora)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

eu jurei que não ia postar nada hoje, mas... resolvi furar meu programa de recuperação e vou fazer uns breves relatos antes de ir para wall street. para controlar minha blogadicção, aí váo pequenas notas e comentários:

não dá para ler esses manuscritos de 1844. consigo ver um valor histórico tanto pelos textos em si, quanto pelas partes retiradas, os fichamentos, enfim, vale muito para alguém que pretende ser um comentador de marx, o que não é o meu caso... vou procurar outra coisa dele aqui, ou vou me ater ao zapatismo e paul auster... não, meus caros, isso não quer dizer que abandonei as aventuras de carlos marques...

***

ontem rolou um rango aqui em casa muito bom. veio um casal amigo da amana, andrea e greg, ela uma americana de origem germânica muito simpática com excelentes dons culinários - trabalhou com alguns bons chefs na adolescência, aquela coisa americana de trabalhar nas férias... - e ele um crítco de música em algumas revistas e colecionador de vinis. o cara tem um gosto super eclético e bom, viu. ouvi de fela kuti a astrud gilberto, passando por jair rodrigues 1971 e martinho da vila (little martin from the village) das antigas...

antes da comida ficar pronta ela soltou a pérola 'to cook for me is like a kind of mix between art and chemistry, you know`... no, andrea, mas agora eu tô sabendo... show de bola... e melhor de tudo: amana ficou observando o preparo, o que garante futuras aventuras culinárias da minha gatinha... e do seu bode lariquento!!!

***

esse promete ser um final de semana de muito calor. às vezes não acredito que vou passar meu segundo verão deste ano. tem um psicólogo social famoso que fez aquela experiência sobre as prisões (que deu origem a um bom filme alemão, 'a experiência')... pois bem ele fez uma palestra na rutgers e amana me contou uma pérola, no mau sentido, de sua fala. ele diz estar pesquisando as diferentes possibilidades de´elaborar projetos de vida e planos de futuro entre diferentes sujeitos de diferentes países e continentes com uma escala de merda lá que ele inventou e tem a hipótese de que as pessoas do hemisfério norte teriam maior facilidade para elaborar um planejamento a médio e longo prazo porque as estações do ano são mais bem definidas, o que favorece uma percepção apropriada da passagem do tempo... é, a distribuição desigual do capital, a exploração imperialista, os genocídios e colonizações do passado e presente, isso não entra na escala do filho da puta e tudo cai, pra variar, na conta do indivíduo...

bem, eu então com dois verões não quero saber de futuro, presentificação total (uh-ru!!!)

***

hoje vou numa festa não sei aonde só sei que é em ny... agora é sério, vou me afastar por alguns dias... não, não vou procurar computadores para acessar o blog na rua... se bem que vou ter que trabalhar um pouco mais em um artigo que tenho que terminar... sinistro ter que encaixar meus pensamentos em um número de laudas pré-estipulado... sou verborrágico...

e além do que, tenho que controlar minha blogadicção se não daqui a pouco estou roubando para pagar dívidas em lan houses e similares...

enquanto isso:
clementina, vê se ajeita esse layout, please... vou ver se acho um carlinhos marquinhos pra você também...

faveleiro, menos faveleiro... posta ae cara, qualquer coisa...

capilo, cadê você????

leitores, me aguardem...

(já tô indo, marques, caralho, esse filho da puta está ansioso demais para conhecer wall street... o que será que está planejando???...)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

direito de resposta, cerveja e saudades

bem, cheguei em casa agora e aproveitando que Marques está dormindo, vou postar alguma coisa.

antes de mais nada, tenho que falar uma coisa: Faveleiro, você me surpreendeu... Pensei que você fosse me sacanear, falar que eu não entendo nada de Marx, marxismo, só falei besteira, e tal. É, você na verdade disse que achou horrível. Até aí tudo bem, faz parte, e eu até esperava que você fizesse isso. Mas me fazer quase um apelo para eu não escrever a parada... Não entendi. Bom, deve ter ofendido. Sinto muito, mas vou tirar fotos do Marques em NY, sim!!! Afinal, é um boneco (produto bem capitalista não acha??? Parece camisa do Che... da Osklen)

Realmente nunca li Marx, aliás, estou até lendo agora... Ele quase me obrigou de tanto que falou que eu não entendo nada do que ele está me dizendo... Comecei pelos Manuscritos de 1844... E o bom é que apesar de ser em inglês o autor está aqui para tirar minhas dúvidas...

Na verdade eu escrevi pensando em vocês que dizem tanto ser marxistas, pra cutucar, brincar... Aí você pega e parece que lê a parada como se fosse um sacrilégio... Menos, Faveleiro...

Se você for ver, na maior parte do tempo em que escrevo e posto aqui são bobagens... A maior parte do tempo eu estou falando sobre porra nenhuma... A maior parte do tempo, eu me dedico a falar merda...

Ah, antes de dormir Marques ficou aqui me cutucando e dizendo que você está enganado, ele não é deus...

**************

Bem, censuras à parte, descobri finalmente a minha cerveja predileta aqui nos states. Diretamente da Filadelfia, terra de RockyBalboa e cream cheese, Yuengling!!!!!!





Bem, ia agora postar uma análise antropológica das cozinhas americanas e a relação dos americanos com os afazeres domésticos, lixo, ambientalismo e como tudo aqui no fundo, no fundo fede a sangue, exploração e imperialismo...

Mas ia ser muito etnográfico... do jeito que Faveleiro prefere...

Também não escrevo, só de sacanagem...


Tintim!!! Saudades!!!!

Vou dar uma folga procês...

Amanhã vou pra NY levar o Marx para conhecer o umbigo da Besta imperialista yankee...

Só não vou tirar foto dele no memorial do WTC porque tenho medo de apanhar... Mas que vai passar a mão na bunda do touro da wall street vai, ah isso eu agarantchio!!!!

dirty speech


uma seda, um fuminho, um cigarrão...


ensaiando versos infames bêbados na madrugada in english...


i hit a small joint
and it smells great like skunk


i hit another one
and have fun

i hit and feel
like i've got stoned

but

after

another

small one

i just feel like

i might

hit

another one...

high fun...

*********

vou tentar traduzir alguma poesia minha pro inglês pra recitar nas partys...
rolam vários eventos de poesia no central park...
e a galera gostar e eu tiver doido com certeza vou me arriscar no stage...

aaaaahhhh muleke!!!!

(e Marques fica rindo ao meu lado socializando uma caipivodka com svedka - vodka sueca - e limões sicilianos)

cheeba cheeba!!!!

(ouvindo Sharon Jones & the Dap-kings, '100 days, 100 nights')

terça-feira, 19 de maio de 2009

Livros, filmes, tv & outros passatempos caseiros


Tenho passado um bom tempo aqui vendo filmes. Os donos da casa tem vários filmes indianos e europeus, o que tem preenchido minhas tardes, quando Amana vai estudar na biblioteca da Rutgers e fico só em casa, ou mesmo quando ela estuda em casa. Eu realmente adoro ver filmes, mesmo no Brasil, e essa rotina tem sido show de bola.

Aqui na casa a tv fica no porão, junto com aparelhos e vídeos e livros de yoga e pilates. Aliás, essa casa é quase uma biblioteca, tem livros em quase todos os cômodos. Basicamente livros sobre política e sociologia, movimentos sociais, muita coisa sobre a Índia, muita mesmo, além de clássicos e livros sobre o movimento negro americano, zapatismo, feminismo, yoga, culinária indiana, etc. Como meu inglês não é também lá essas coisas, tenho ido aos poucos, por conta da quantidade de palavras desconhecidas e termos técnicos, além de meu interesse limitado – afinal, sou turista, certo.

Tenho melhorado meu inglês com a soma de situações irremediáveis (quando toca o telefone, estou numa festa, vou fazer compras, bebo e puxo papo com outras pessoas, etc), lendo (jornais, Paul Auster e o livro sobre o movimento zapatista com textos de Octavio Paz, Gabriel Garcia Marques, Eduardo Galeano, entre outros) e vendo filmes com legendas em inglês.

Aqui nos EUA tem uma locadora muito interessante, a Netflix. Ela é toda gerida pela internet e os filmes chegam pelo correio num envelope em que vem o dvd dentro de um porta-dvd de papel onde encontramos a sinopse e um breve quadro técnico do filme e um outro envelope, este destinado para a a devolução do dvd. Não tem propriamente uma data para devolução, o que acontece é que você envia uma lista de filmes e conforme os filmes são vistos e devolvidos pelo correio, eles lhe enviam os próximos filmes listados. Muito bacana.

Vi coisas muito boas, mas alguns não sei se são fáceis de achar no Brasil, dentre outros mais antigos que já vi em diversas locadoras cariocas. Eis então uma breve lista dos melhores filmes vistos até agora:

- ‘Torremolinos 73’ – essa comédia é excelente... um vendedor de enciclopédias e sua mulher são chamados para fazer filmes de educação sexual para serem veiculados na Dinamarca, Suécia e demais países escandinavos, mas acabam sendo transformados em estrelas-pornô. Muito bom!!

- Antes da chuva – esse acho que tem no Brasil. O filme versa sobre conflitos étnicos na Albânia e Macedônia enquanto mescla sua história com a de um fotógrafo macedônio que vive na Europa e é especializado em fotografar áreas de guerra e conflitos armados. Tem uma mistura de imagens escatológicas e sangrentas com outras bucólicas e estonteantes, enredando uma série de cenas bacanas num ritmo bem poético. Adorei a forma como foi editado, com (não sei o nome certo) trajetórias de câmeras não lineares, ou melhor que brincam com a linearidade. Bem, não sei explicar, só vendo para entender melhor – o filme e meus gestos que preenchem minha falta de palavras.

- Kitcshen Stories – muito doido, um filme sueco sobre um processo de pesquisa de cozinhas desenvolvido por uma empresa especializada em ‘standards kitchens’ que pretende expandir seus negócios na Noruega. Poucas palavras e uma expressividade teatral e poética simplória, comovente e muito elegante.

- Paradise Now – filme sobre dois homens-bomba palestinos numa ação meio atrapalhada em Tel Aviv. Diálogos versam sobre dilema democracia versus terrorismo, com alguma imparcialidade... Ou melhor, exposição de bons argumentos de ambos os lados, sem fechar propriamente com nenhuma das idéias, sem bater o martelo – o que, sem dúvida, aponta para uma posição democrática. Vejam e discutam... Eu e Amana debatemos por horas... Afinal, é seu estudo atual, a posição democrática e liberal e suas contradições.

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Eu andei fazendo diversas anotações sobre os programas de tv... deixa eu ver... lá vai:

Antes de mais nada, uma coisa tem de ser dita, sintetizando todas minhas anotações: o lixo que se consome aí é o mesmo trash que se consome aqui.

O que eu quero dizer é que a TV aberta aqui é composta por programas similares aos da tv aberta brasileira, fato que qualquer assinante da Net, Netcat ou TVA da vida já consegue entrever. Até versão mexicana de escolinha do professor raimundo ou do golias tem aqui. Terrível!

Tem um programa bizarro aqui, apresentado por juízes vestidos de togas num tribunal de auditório, em que você resolve alguma pendenga judicial, em geral problemas de vizinhos, casais ou casos como uma menina negra de cabelo liso que queria processar o pai por danos morais por ele ter ficado bêbado e estragado sua festa de debutante. Dá pena das situações realmente constrangedoras de exposição total das vidas privadas... O pior é que, como são juízes de verdade, o que fica decidido tem peso de uma decisão judicial. Assustador!!

(Clê, prosecco e festas de casamento aqui podem dar cadeia rsrsrs)

Nos intervalos, rola uma interação com os telespectadores, quando eles fazem perguntas para serem respondidas por telefone. O programa que eu consegui ver por mais de um bloco perguntava 'você procura a polícia quando percebe pessoas com comportamento estranho ou usando drogas nas ruas da sua vizinhança?' Terror total!!

Mas tem umas coisas interessantes, vez por outra. Ontem passou um programa de três horas sobre os anos 60, mais especificamente sobre JFK, o caso dos mísseis soviéticos em Cuba, do movimento social de afirmação dos direitos civis dos negros e como Kennedy comprou essa idéia – foi promessa de campanha ao movimento negro, mas não conseguiu levar adiante, por conta dos WASP (White Anglo-Saxon Protestants) - a Guerra do Vietnam, sua morte no Texas, e tal. Fiquei pensando a merda que seria se naquela época tivesse um idiota como Bush no poder... Não tenho certeza se essa mula texana seria capaz de deflagrar uma guerra nuclear... Mas...

Interessante foi o telejornal de domingo que trouxe imagens de uma atividade de simulação de uma ataque terrorista no metrô de NY, desenvolvida pelas instituições relacionadas à segurança pública e defesa civil (policiais, bombeiros, paramédicos, entre outros), contando com a ajuda de diversos voluntários que se passavam por vítimas do pseudo-ataque a bomba.

Não quero aqui apontar uma paranóia estúpida nem uma previdência necessária, ou como o civismo americano é exemplar, assim como suas instituições públicas. O interessante era a forma como os voluntários teatralizavam sua participação, especialmente para as câmeras dos telejornais que cobriam a atividade. Disgusting... Eles agem como um misto de palhaços-idiotas-com-esgares-de-dor-e-pânico e consciência cidadã que, sei lá, acho que eu jamais me prestaria a esse papel.

Bem, paranóias a parte, nesse final de semana morreu a primeira vítima da gripe suína em NY. Vou pra lá sexta feira e passarei o final de semana na casa de meus amigos dominicanos no Brooklyn. Já imagino a quantidade de pessoas com máscaras de proteção nas ruas.

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Ontem finalmente consegui comprar um fuminho bom. Vem da Califórnia e essa quantidade aí da foto (mais ou menos uns dez gramas) custou $60. Mas valeu a pena... Dá uma onda bacana... Depois é só preparar a larica, tomar um vinhozinho personalizado (sul-africano), ver um filminho, ouvir um sonzinho ou jogar conversa fora.



Encontrei um amigo inusitado aqui em Highland Park... Jamais sequer imaginei encontrá-lo por essas bandas.
Bem, estou preparando sua postagem há dias... Vocês vão ficar realmente surpresos.

Mas, por enquanto, um pouco de suspense (...)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

I just called to say i'm high too!!


Sexta feira de sol em highland park e cá estou eu bebendo meu whisky, ouvindo john lee hooker - 'i got the mad man blues, man, don't you know, don't you know' - fumando meu marlboro e me preparando para uma ida a new brunswick, no ale 'n ' wich pub, um bar que serve pintcher de cerveja a preços justos - uma jarra que dá mais ou menos cinco pints ou calderetas de cerveja a mais ou menos $10, dependendo da marca.
Os preços das bebidas aqui, mesmo whiskies, não são tão diferentes do Brasil. Paguei$31.99 num litro de johnnie walker red label... façam as contas. Aliás, comprar cerveja aqui também não é uma tarefa simples. São tantas marcas e variações de preço e teor de malte e tal... estou experimentando todas...
Ainda não cheirei aqui. Tinha até meio que combinado com um cara de pegar um pó no sábado passado. Ele diz que só cheira aos sábados, fazer o que, né... Custa $50 o grama. Mas também nem sei se vale a pena aqui. Com essa casa cercada de michael myers, jason e outros traumas cinematográficos, é melhor não. Além do que, minha gatinha não gosta, eu ia ficar meio anacrônico e dissonante na parada. Bebo então, tranquilo. Além do que um conhecido em ny falou que arruma a $60 o grama, e acho que lá vai valer mais a pena, ouvindo jazz, falando pra caralho, interagindo com a fauna doida de lá.
Às vezes me dá um pensamento tipo ‘a vida fica bem melhor sem pó, mais tranquila, relax’... Mas... nada que não se dissipe na primeira rapa, tipo ‘aaaahhhh, agora sim!!!!!’, saca.
A maconha que eu fumei em NY parece uma variação de skunk outdoor, sem ser plantado em estufa, o que a torna mais light. Não tenho certeza. Mas pelo cheiro e gosto e onda da planta, tem tudo para ser assim. Esqueci de perguntar a procedência. Só sei que era do Brooklyn, que os drugdealers entregam em casa e que o primeiro trafica conectado falou que não poderia fazer a entrega no local onde estávamos porque não era a área dele, problema que foi facilmente contornado com uma consulta aos contatos do celular da galera e uma segunda ligação para outro cara que chegou em uma hora e trouxe cerca de 10 gramas por $60. Bem carinho o bagulho aqui, viu. Mas tá valendo.
Bem, é isso. Ia escrever outra parada, tipo análise metida a séria da crise da imprensa escrita americana metida a besta, tomei duas doses caprichadas e mudei de idéia.
TIN-TIM!!!!! SAÚDE!!!!! E...
ACORDA CAPILO QUE JÁ ESTÁ AMANHECENDO!!!!!! RSRSRS

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Don’t try

Nem ia postar nada agora, pois meu último texto criticando o diabo pedófilo do boitatá estava alinhado a foto do dito cujo. Além disso,tinha me prometido que hoje à tarde iria a bilioteca da universidade onde Amana está estudando adiantar um artigo que tenho que escrever. Mas acordei meio ressaqueado, sei lá, e além disso não tenho dormido tão bem aqui. Dia sim, dia não entro numas nóias com a casa, tenho pesadelos, e tal. O problema é que as casas aqui em Highland Park são tipo Springfield, saca, sem muros, devassadas, sem muitas trancas, com garagens e porões e quintais nos fundos e, sendo de madeira, estalam. Aí, já viu... E pra completar tem um jardineiro doido aqui que enche o saco e está meio em atrito conosco... Liga um alerta para serial killers em meu corpo e fico meio tenso. Incrível o que o cinema americano fez comigo... Além de processar o Spielberg por me impedir de surfar por conta de ‘Tubarão’, tenho que incluir na lista de coisas que tenho que fazer antes de morrer pedir um ressarcimento por danos morais ao John Carpenter. Pesquisei meu subconsciente e a nóia aqui se refere diretamente ao Michael Myers, de ‘Halloween’...

Bem, o fato é que eu comi pra caralho, fumei um baseado, comprei umas cervejas e fiquei viajando...

Vai rolar um petit comiteé aqui em casa no sábado, tipo festinha de final de período. Muitas das amigas da Amana vão aproveitar as férias de verão para passarem um tempo em seus países de origem – Índia, Vietnam, Alemanha, etc – e ela mesma volta pro Brasil. Por conta disso estou baixando freneticamente músicas brasileiras para rolar na festa. Acabei não trazendo nada de casa nos pendrives.

Entre um disco e outro, perambulo na rede. Fui pesquisar sobre Bukowski, ler uns poemas. Acabei dando uma olhada no wikipedia e fiquei maravilhado com uma curiosidade sobre Buk. Em seu túmulo, na lápide, está escrito: “Don’t try”. Achei fantástico.

Explico...

Há uns dias atrás, lendo o Nytimes, encontrei um texto sobre o desemprego que tinha um final interessante. Era escrito por um jornalista que havia sido demitido por telefone enquanto passeava com os filhos em um domingo, no carro, ao volante, enquanto retornavam de uma partida de beisebol em que seu time saiu vitorioso. Ele criticou a sociedade americana, o mundo capitalista em geral, discutindo os conceitos e mitos de losers e self-made men que povoam obsessivamente todas as dimensões subjetivas da sociedade americana.

Mas o que importa é que no final do texto ele justifica a forma como ocultou dos filhos a demissão e todas essas críticas com uma tirada moralista e hipócrita que acaba por sintetizar o próprio processo de educação e manutenção de mitos e obsessões na sociedade americana e, acredito, qualquer cultura, ou, mais especificamente, as ocidentais.

Anotei a frase no meu caderno de campo... Pois é arrumei um caderno de campo para registrar meus pensamentos e curiosidades encontradas em minhas caminhadas triviais e aventuras etílico-etnográficas, seguindo conselho e demanda de nosso companheiro Faveleiro – que continua sumido das postagens, embora, reconheço, progrediu bastante no que tange aos comentários, o que nos indica que ele continua nos lendo...

A frase é a seguinte:

“Unless the children think the game is winnable, even when it’s not, they might not play” Walter Kirn, Nytimes, 10 de maio.

(Traduzindo mal e porcamente, ‘a menos que as crianças pensem poder vencer, mesmo quando de fato não podem, elas podem desistir ou nem querer jogar o jogo)

Exatamente o oposto do que, segundo minha interpretação, o velho safado quis expressar. Ainda que isso possa reforçar a idéia de um loser, perdedor, uma vez que o mito do anti-herói e a imagem de alcóolatra podem ser usadas para reforçar uma dimensão individual da derrota e da vitória na vida, seja lá o que isso signifique, a forma como Buk parece cagar para tudo isso é de uma dignidade admirável.

Estou ainda pensando nessa coisa que é tão presente nas ruas, nas casas, na arquitetura, na forma como as pessoas bebem, trabalham, servem e se relacionam aqui. Não quero ser precipitado... preciso conhecer e ver mais pessoas e lugares. Enquanto isso, tomo nota e de vez em quando mando alguma digressão ou devaneio como esse.

Mas agora, um pouco de Buk:

Poema nos meus 43 anos


Terminar sozinho
no túmulo de um quarto
sem cigarros
nem bebida —
careca como uma lâmpada,
barrigudo,
grisalho,
e feliz por ter
um quarto.
… de manhã
eles estão lá fora
ganhando dinheiro:
juízes, carpinteiros,
encanadores, médicos,
jornaleiros, guardas,
barbeiros, lavadores de carro,
dentistas, floristas,
garçonetes, cozinheiros,
motoristas de táxi…
e você se vira
para o lado esquerdo
pra pegar o sol
nas costas
e não
direto nos olhos.

fonte:http://www.germinaliteratura.com.br/bukowskipoemas.htm

Poem for my 43rd birthday

To end up alone
in a tomb of a room
without cigarettes
or wine —
just a lightbulb
and a potbelly,
gray-haired,
and glad to have
the room.
… in the morning
they’re out there
making money:
judges, carpenters,
plumbers, doctors,
newsboys, policemen,
barbers, carwashers,
dentists, florists,
waitresses, cooks,
cabdrivers…
and you turn over
to your left side
to get the sun
on your back
and out
of your eyes.

*************

Old Man death in a room

Quando minhas mãos pálidas
deixarem cair a última caneta
em um quarto barato
eles vão me achar lá
e nunca saberão
meu nome
minha intenção
nem o valor de minha fuga

http://epicosubmundo.wordpress.com/2007/01/21/poemas-de-charles-bukowski/

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Suicídios, reencarnações e viagens
Suicídio é sempre uma questão que me impõe milhões de dedos e reservas para falar. Ainda mais quando o papo gira em torno de desejos suicidas de outrem. Também não consigo nem dar conselhos nem fazer grandes conjecturas. Na verdade, bêbado então, é melhor nem me procurar para falar nessas coisas, correndo o sério risco de eu fazer pouco, ironizar ou ser grosseiro, dimensões usuais da minha bebedeira. Mas, como não fui eu quem tocou nesse assunto e eu não conheço o André, vou pegar carona no texto da Clê.

Uma coisa que sempre me ocorre é que a idéia do suicídio acomete com mais frequência pessoas jovens. Obviamente isso não procede, mas arriscaria dizer que pelo menos as razões do suicídio variam e obedecem a certos padrões forjados por faixas etárias. Ademais, fora essa hipótese estranha, em geral, o que mais acontece é que a pessoa, quando não se mata sem fazer alarde, explane desvairadamente as razões pelas quais ela não quer mais viver, embora na realidade também não queira se matar, e aí você fica sabendo de suas razões antes que o fato se consuma, o que de certo modo garante que o suicida desista – até porque, geralmente, depois de um porre tudo muda de figura.

Tem gente que chama de cena, viadagem, fraqueza, histeria. Eu respeito, na medida em que respeito as intensidades de cada um – além do fato do suicídio ser uma idéia dramática que de vez em quando me ocorre e de já ter tentado fazê-lo noutro momento de minha vida. Também fui salvo por um telefonema, ainda que não tenha ligado para ninguém, e acordei em um hospital todo entubado...

Bem, tudo isso é pra dizer que ontem sentado numa mureta do Central Park eu pensei que se eu tivesse me matado mesmo não teria visto o que eu vi, feito essa viagem e sentido toda a dimensão filosófica das transformações que uma viagem efetua numa pessoa, ainda que isso esteja apenas começando a ocorrer comigo. Nesse deslumbramento, pensei em quantos lugares do mundo eu não conheço e como a vida é pequena para realizar tudo o que naquele momento eu queria fazer e conhecer e viver e viajar... Comentei isso com minha mulher e brinquei ‘nessas horas eu queria acreditar piamente em reencarnação’, ao que ela emendou ‘ não adiantaria... quando você reencarna não lembra de suas vidas passadas...’(...)

Pois é... e depois à noite li o texto da Clê e fiquei com isso na cabeça!!!

C’est la vie!!!

Malucos novaiorquinos

Se tem uma coisa que eu gosto de conhecer e observar são as pessoas de uma cidade. Ainda que as grandes obras e construções nos digam muito sobre um povo e que a arquitetura, o trânsito, a forma como se dispõe as ruas, os serviços públicos, os transportes, todos esses aspectos juntos sejam de suma importância para a compreensão da sua lógica urbana, nada me fascina mais do que prestar atenção nas pessoas.

A galera aqui tem nitidamente um respeito muito grande pelas individualidades. Pela própria idéia de individualidade. A impressão que dá é que somente se alcança uma dimensão coletiva aqui a partir da soma das individualidades. Nesse sentido, sem atingir diretamente o outro, ou incomodar de maneira inevitável uma pessoa, você pode fazer o que bem entender e ninguém vai te encher o saco por conta disso. Aqui em Manhattan, melhor dizendo...

Fora as hordas de turistas que inundam as ruas ao redor da Times Square, e se vestem e comportam basicamente da mesma maneira – como turistas – dentre os moradores e malucos novaiorquinos encontramos umas figuras realmente incríveis, principalmente para um cucaracha niteroiense e latino americano deslumbrado como eu. Nada tão diferente da Lapa, mas... para uma diversão diurna é bem doido. O fato é que - especialmente no Central Park, onde eu tive a impressão que estavam todos os novaiorquinos de Manhattan na tarde de domingo - as pessoas dançam e cantam e jogam frisbie e rebolam com bambolês e tem experiências místicas e fazem pequenas raves e jogam beisebol e usam roupas esquisitas e fazem coisas estranhas e outras nem tão estranhas assim... Nada demais, assim descritas, mas é o jeito como a coisa acontece... Sei lá.

Eu sei é que fiquei encantado com alguns dos mendigos e loucos ipsi litteris do lugar. No Central Park tinha uma negra bonita, de seus vinte e poucos anos, com um vestido branco que lembrava uma mistura de vestido de noiva com roupa de babá dando papinha para uma boneca sentada num carrinho de bebê. Parei para ver disfarçadamente e ela estava realmente entretida na tarefa... No Times Square, em frente a uma casa de striptease, tinha um mendigo com um papelão escrito: ‘Give me some money to buy drugs, drinks, junky food, bitches and other things like that. See, at least I am not telling lies and bullshitting you!!’ Sensacional!!!! Mas não o bastante para levar meus dólares apesar de nunca ter visto nada parecido nem na Glória...

Coffee shit

Não, não... ao contrário do que o subtítulo sugere eu não acho o café daqui uma merda. Pelo contrário. Eles fazem misturas bem interessantes. Ainda que não tenha nada como o nosso cafezinho, taí uma parada que eu gostei aqui. Canela, baunilha, cremes, chocolate, sorvete, tudo casa com café.

Desde janeiro, em nossa versão sazonal do inferno – ao que parece, aqui o inferno é frio e também acontece em janeiro e fevereiro – eu andei procurando no Rio algum lugar que servisse um bom café gelado. Bem, pelo menos na minha área não encontrei. Talvez na Barra ou em Ipanema eu encontrasse, sei lá. O fato é que aqui eu encontrei o meu tipo predileto de café: Iced Coffee Mocha, café gelado com chocolate e um creme tipo chantily, show de bola.

Na verdade, o título diz respeito a um pequeno evento que eu vivi. Ontem, na metade da caminhada por Manhattan, depois de andar por três horas, paramos numa das milhares de lojas da Starbucks para tomar um café e descansar um pouco.

Aliás, um breve digressão: ontem eu e Amana andamos por seis horas com breves paradas em Manhattan. Como estou bebendo e comendo pouco, acho que vou perder alguns quilos nessa viagem.

Pois bem, ao parar na Starbuck e tomar alguns goles do meu café, imediatamente senti meu peristaltismo intestinal vibrar. Gelado ou quente, o café continua exercendo um efeito laxativo em meu corpo. Aproveitei que não tinha fila para os banheiros (dois) e lá fui eu dar uma barrigada na quinta avenida. No meio da cagada, que nem demorou tanto assim, alguém começa a bater na porta. Não me apressei e simplesmente falei em inglês ‘take it easy, i am going out’, uma maneira que eu encontrei de dizer tem gente. Mal passou um minuto e eu já estava lavando as mãos e novamente batem na porta. Eu fiquei nervoso e mandei o inglês pras cucuias e a pessoa que estava batendo também – ou melhor, mandei se foder, tomar no cu, espera porra!, vai pra puta que pariu!, etc... Fiquei com pressa e me enrolei com o papel para secar as mãos e o rosto, aquela porra daquele papel colou na minha cara e a pessoa bateu de novo na porta. Nem respondi. Demorei mais de propósito. Ao abrir a porta era uma funcionária negra imensa desesperada para ir ao banheiro. Olhei com ódio para sua cara e ela perguntou se estava tudo bem comigo. As pessoas da fila olhavam para baixo meio constrangidas e eu respondi um ‘yes’ fazendo uma cara de babaca do tipo ‘claro que está sua filha da puta’ que os americanos costumam fazer entre si, tipo ‘dããã’, sabe qual é... Não sei se aqui não é correto fazer isso em estabelecimentos comerciais, ou se aqui as coisas funcionam tão bem e perfeitamente que até o intestino deles tem uma regulagem eficiente e infalível, ou se esse povo simplesmente não caga. Bem, só sei que da próxima vez não vou tocar a descarga só de sacanagem.

Aliás, é engraçado isso. Aqui, eu fico pensando ora em inglês, ora em português. Aí, nas horas em que me irrito ou me empolgo eu solto frases inteiras em português... Outro dia num bar eu mandei o berro ‘ae, me dá outra cerveja ae por favor’... O cara do bar ficou me olhando com cara de idiota e eu fiquei rindo horas...

Bem, por enquanto é isso o que eu tenho para contar. Comprei um ‘new york times’ para ler. Já de saída achei estranho a forma como as manchetes não tem quase negrito e os textos da capa não são específicos para a capa, são os mesmo textos que simplesmente continuam na parte interna do jornal com um referência de que se trata de uma continuação e no meio da frase... Estranho. Bom, outra hora eu comento melhor. Assim como sobre as cervejas e bares e festas e drogas... ainda estou no meio da pesquisa entendem... daqui a alguns porres e baseados eu escrevo a respeito.

No mais, saudades...

AAAAAAAAAAhhhhhh!!!!!! Já ia me esquecendo!!!!

Ontem eu me emocionei quando em frente ao Empire States eu vi um cara com a camisa do Flamengo!!!! Lembrei imediatamente do Imperador!!!!! Me deu vontade de correr e abraçar o cara como quem comemora um gol e gritar ‘tricampeão!!!!! Tricampeão!!!!!’, mas não deu. Travei. Além do mais, o cara parecia um daqueles leitores do globo da classe média carioca morador da zona sul que adora choques de ordem e muros em favelas. E não é porque estou em Nova Iorque que deixei de ser um latino americano de esquerda extremamente preconceituoso que não dá trela para esse tipo de gente.