segunda-feira, 1 de junho de 2009

Hoje eu dei uma volta num parque que tem aqui perto, muitos campos de beisebol, futebol, quadras de basquete, área para cães confraternizarem, bancos, churrasqueiras, gansos, veados (os bichos, bambis), lebres, castores, pássaros, esquilos, americanos, asiáticos e latinos-mexicanos. Tava rolando uma partida de futebol, parece ser algum torneio, times uniformizados, juízes idem, torcida vibrante de pais e amigos...

Os carinhas não eram de todo ruins. Eram adolescentes correndo pra caralho, bem distribuídos taticamente e tal, jogadas ensaiadas, bem treinados. Mas faltava alguma coisa, um molho, uma ginga, uma frieza... Eles armavam as jogadas com alguma genialidade, abertos pelos flancos em toques rápidos e precisos, mas na hora de fazer o gol rolava um desespero. Nisso, o brasileiro é foda, eu acho... tem uma coisa de parar a bola, olhar, calma, frieza, faz a diferença.

O futebol deles parece mais com o estilo inglês. Pelo menos num time isso era gritante, aquele chuveirinho incessante, laterais que parecem cobrança de escanteio. Perigosos no alto. Mas, mesmo no alto, desesperados... (fiquei lembrando no gol do Adriano, como ele pára no ar e cabeceia com força, com a testa, pra baixo, que mesmo daqui dá pra ver que ele estava de olho aberto).

Fiquei pensando numa coisa que um amigo me falou uma vez, que o esporte traz em si todas as bases de uma sociedade capitalista e militarizada, disciplina, dedicação, competitividade, e uma ética relativa, pelo menos no futebol isso fica claro (vide, para citar os mais brilhantes e notórios, Maradona em 86, Nílton Santos em 62, dentre outros casos famosos). Pode ser.

Aliás, Clê, não discordo de forma alguma de uma relação ou da conexão entre todos os campos da vida, arte, política, economia, educação, religião, esporte, pelo contrário... Só discordo de um sentido único e totalizante de realidade. Pelo contrário, vejo inconsistências a todo instante... Nem o capital é tão perfeito assim em sua dominação e hegemonia, por um lado, nem o proletariado existe como unidade e nem a denúncia marxista esgota a realidade, por outro... Uma sociedade de controle não significa uma sociedade controlada e tudo sobra e se difunde e espalha sorrateiramente por todos os lados...

Mas isso é papo para outra hora... ou não, fique à vontade ; )

O fato é que aqui vocè tem muito incentivo ao esporte, desde por conta dos espaços disponíveis e públicos e bem cuidados até pelas bolsas de estudos em universidades e outros. Afinal, precisa-se de corpos docilizados, adestrados e prontos para a batalha do dia a dia, certo??

Existe uma urgência por saúde e por uma vida saudável aqui, pelo menos em springfield eu sinto as coisas dessa forma... Diferente do Rio, onde a saúde encontra significação na beleza física e na ostentação de abdomens e bundas e bíceps, aqui a sensação é de que você deve se manter em funcionamento, com saúde para trabalhar, estudar e produzir... Tem os bombados, mas bem menos eu acho... Na Califórnia deve ser diferente, até porque São Francisco é notória pelos gays e o Rio de Janeiro também está dentro desse circuito mundial... É engraçado isso, mas tanto os gays como os homofóbicos mais notórios e emblemáticos tem essa coisa com o corpo como escultura e saúde e ciência e disciplina e ostentação...

Aliás, vejo muitas semelhanças entre alguns estilos de vida brasileira e carioca com o que se vê por aqui... Tem um mesmo ‘acabamento das idéias’, saca??

A maior diferença é quanto a forma como se lida com o ‘público’... mas as perversidades, mesquinharias, recalques, discriminações e outras formas usuais de antagonismos de classes são bem parecidas... Lembro do Guattari e sua idéia de ‘subjetividade capitalista’...

Quanto à saúde, a maior diferença talvez seja que a nóia de saúde daqui se explica também pela forma como se universaliza precariamente o direito e o acesso aos serviços de saúde, todos privados. Precarização do acesso e dependendo do seu plano, do serviço também... É nem tão diferente assim...

2 comentários:

Clementina disse...

todos os links que vc é capaz de fazer sobre as relações sociais (saúde, esporte, comportamento...) nesse texto e em outros com a base material da nossa sociedade (ao se referir com frequencia ao capitalismo) devem deixar seu amigo carlos marques orgulhoso. viva a totalidade!

Rodrigo Bodão disse...

rsrs

seu comentário tb me deu um risinho...

carlos marques quer te conhecer...