sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Você já foi à Bahia?

Continua tudo mais ou menos no mesmo lugar. O calor ainda é delicioso. A praça que me viu crescer tá mais bonita. Eu ainda me sinto em casa. Você, raro leitor, se não conhece, devia conhecer a Bahia. Se pedir com jeitinho, eu trago.


pôr do sol no farol da barra

a panela de acarajé de regina, no rio vermelho

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todas as boas energias amanhã para o Circulando 5. tudo junto no Alemão.

sábado, 23 de agosto de 2008

A/C: Doralice

É melhor dizer
Amor acabou a cerveja!
Do que chorar
Cerveja acabou o amor!

Cerveja, do desconhecido grupo Porcas Borboletas


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É importante que você saiba que isso que você vai ler aqui é um devaneio de um jovem de vinte e alguns anos que tanto assim viveu porque conseguiu fazer uma manobra radical com sua bicicleta quando esteve preste a ser atropelado aos treze e porque não teve coragem de se suicidar – quando ainda tinha razões para fazê-lo – aos dezoito. Digo isso porque me parece que quando não situados, os devaneios tomam a forma que queremos. Você deve saber que essa criatura de vinte e cinco anos segue arrastando-se mundo a fora, vida adentro, sem lenço ou sonhos, com documento surrado no bolso de trás, sem solas ou deuses, crendo em nada do que lhe dizem e em tudo que lhe mentem, cantando vagabundos do cavaco ou do pandeiro, lendo Nietzsche, Morin, Sartre e esses loucos, tolerando Marx e Bakhtin, cuspindo Leminski, perdendo-se em Andrade, Ramos, Amado e qualquer um que invente uma coisa que lhe pareça absurda porque o que não é absurdo já lhe entupiram as fuças.

Fato é que depois das doses frustradas de Domecq com rivotril, dos três cortes no pulso com a serra de pão sem cabo, das inúmeras tentativas de roleta russa com cano enferrujado e os tímpanos estourados por conta do barulho vindo dos três rádios ligados, cá estou eu... Cá estou eu esbravejando como Mick Jagger – mais conservado, porém – e mais desesperado do que qualquer garçom de um bar de Ipanema ou da Lapa – os primeiros por conta dos gringos de sunga e os segundos por conta dos bêbados de cueca, que fique bem claro.

Já estão furados os discos, Lupicínio Rodrigues ficou rouco, todos partiram e deixaram-me só. Damien Rice, Phil Collins e Beatles, para não dizer que não falo inglês. Nem Vinícius restou e Cartola frustrou-se ao ver-me chorar sem disfarçar. Bruno e Marrone fizeram o possível com o baixo cachê [ehh minha cara mudei, minha cara, mas por dentro eu não mudo, o sentimento não pára a doença não sara, seu amor ainda é tudo].

Depois de toda dor possível, daquelas que cachaça não cura nem embebeda, eu, contrito, humilde e temeroso diante da possibilidade de ser acometido por um surto emo, não vejo outra solução, outra saída macha e digna, a não ser dizer-te, com esse peito corno estufado, que não importa as mãos que alisaram tua bunda ou os pássaros que visitaram teu ninho: volta pra mim, Doralice.

Volta que essa bunda e esse ninho são meus, por direito e por amor.

parando de beber

Estava definido. Tinha que perder pelo menos seis quilos. Num tem sido uma tarefa fácil. Quanto mais penso em emagrecer, mais engordo. Parece que é psicológico. O dia que você e tá esquecendo chega no trabalho e “você tá fofinho hein?!”. Decidi então que beber agora (até perder o peso) só final de semana (de quinta a domingo). Mas não é tarefa fácil. Depois de uma certa fama (sem méritos, as pessoas exageram), as pessoas tomom como ofensa você não beber.

Segunda.

– Não vou beber hoje não
– Ah! Fala sério. Enchem o copo e não dá pra recusar, ainda mais desperdiçar um copo de cerveja.
– Bom, colocando o copo de lado – mas não impossibilitando o acesso a ele, aí é querer demais - por hoje é só. Alguém enche. Mais um. Depois do terceiro a dieta alcoólica fica pra terça.

Terça.

– Pessoal, não posso nem beber hoje. Estou tomando um remédio aí, se não corta o efeito e aí é mais remédio, mais dias sem beber, resumindo, mais problema – já prevendo que se falo apenas que não estou bebendo, não teria êxito.

– Deixa disso. É antibiótico? Se não for não tem problema nenhum, é mito – sempre aparece um na mesa metido a médico, que entende das coisas, e desce cerveja. Nem tento discutir, já estava mesmo com sede...

Quarta

Bebi segunda, bebi terça, já vinha bebendo desde num sei quanto, já teria mesmo que voltar a beber na quinta, um dia não faria diferença. Já me adiantei, abri a cerveja e eu mesmo me servi.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Aos secadores do Bronzil

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, do esforço inútil de o país se tornar uma potência olímpica, surgiu o Macunaemo, primo pobre e trocadilhesco do herói sem nenhum caráter, um tal de Macunaíma, que nasceu no fundo do mato-virgem e da pena de Mário de Andrade, aquele mesmo do vestibular, meu querido e amado leitor jovem.

O Macunaemo é filho não de uma pura índia tapanhumas, como o bocó e demodè herói da nossa gente, mas de uma mestiça do Terceiro Mundo que se engraçou com um órfão legítimo do mundo globalizado, um galego anglo-saxônico, hétero sensível que ama o lirismo possível do rock hardcore, sim, a poesia está mais para o barulho, som & fúria, esses clichês maravilhosos, do que para as frescuras do João Gilberto e um Brasil que não existe mais a não ser nos segundos cadernos.

Nosso herói moderno não diz: "Ai! Que preguiça!...". Macunaemo desaba no choro, não por ter perdido o ouro, mas pelos buracos olímpicos d'alma.
Quem nunca esqueceu a vara em casa que babe no divã mais caro de Viena, Leblon, Higienópolis, Ondina, Espinheiro ou Jardim Europa.

Macunaemo, que surgiu em prosa do acaso domingueiro com Ortinho, cantor e compositor do jazz de Caruaru e do fim do mundo, é um ser quase olímpico, o que rói a corda, o quase também da música de Fred 04, "porque estamos quase lá, sempre, a gostosa da praia que dá, não dá, dá, não dá mole...".

No futuro, o Macunaemo vai rir disso tudo, porque só nos restará os esportes coletivos, o resto será tudo programado para bater recordes, competição científica e nada esportiva -como é um pouco hoje, noves fora os bravos negões jamaicanos que enganam a vida na curva como esse coqueiro que dá coco-dub da Nação Zumbi e outros futurismos.

A Olimpíada terá tanta graça quanto uma corrida de 100 metros rasos da F-1.
Os atletas nem precisarão ficar em suas marcas, nada de tiro de pistola para o alto, carece apenas que um tiozinho olímpico meça a possibilidade genética no sangue de cada ratazana do espetáculo.

Agora sim, ai, que preguiça, Dorival Caymmi! Pára o mundo, o grid, que eu quero uma rede. Para que tanta pressa, amigo, se o futuro é a morte, morrida ou de tiro certeiro?
Que fascismo submeter nossos jovens, que já venceram etapas sociais muito mais grandiosas, a esse orgulho idiota decidido nos laboratórios de atletas. Vamos fazer bonito na várzea mais próxima, sem jet-leg, no almoço de domingo, com flores para as nossas negas, mães e amores, e continuar rezando, como Jorge Ben e Antônio Maria, para as moças, ai, dorivei geral, populista do amor e da sorte, ai que preguiça do mundo.

Post scriptum, P.S.: Gerado no mundo virtual, entre uma Lan house do Capibaribe e um albergue de Amsterdã, o Macunaemo conhecerá seus pais no Recife ou em Olinda, no carnaval que se aproxima, evoé, Baco, chega de trabalho para enriquecer os outros.
Agora mais um chorinho, o Macunaemo merece: por que todo mundo acha apenas que Dunga & cia. devem fazer o papel de românticos em um Brasil f.d.p. que põe o cano na cara do outro, seja no beco escuro seja nos ambientes ditos civilizados?

Xico Sá, na Folha de hoje

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Vatapá, caruru e mugunzá

Tudo, tudo na Bahia
Faz a gente querer bem

A Bahia tem um jeito,

Que nenhuma terra tem!
Você já foi à Bahia?, Dorival Caymmi



Ontem conversava com Bodão e ele lamentava que nem postamos nada sobre Caymmi. Eu concordei. 'É verdade, deveríamos ter postado algo ou dado uma de emo e colocado a letra de uma música'.

Acho que o assunto não entrou em nossa pauta porque - com exceção do José Mariano Beltrame que a gente adora - raramente tratamos de coisas que todo mundo trata. A impressão que eu tenho é que tudo o que se tinha para dizer - e o que não precisava ser dito - sobre o Caymmi, já foi falado e repetido. Por exemplo: você pode ler em três jornais distintos, escrito por jornalista, colunistas ou chefs de cozinha que o Dorival inventou a Bahia que o senso comum conhece (ou a identidade baiana que compõe o imaginário social brasileiro), juntamente com o Jorge Amado. É verdade. Ele criou a Bahia idílica do Abaeté, do vatapá e das nêgas, com seu samba praieiro. Mas precisa repetir isso à exaustão? A imprensa brasileira me cansa. Assim como Olimpíadas e eleições americanas. Então, nós poupamos nossos raros leitores do senso comum, do feijão com arroz, do óbvio... é o nosso diferencial!


Mas
acontece que eu sou baiana e acontece que resolvi escrever duas coisinhas sobre o Caymmi. A primeira, motivada pelo texto do Xexéu n'O Globo de hoje. Xexéu conta que foi entrevistar Dorival há uns 20 anos atrás (ou mais) e se surpreendeu quando descobriu que ele morava em um apartamento em Copacabana e não em Itapuã numa rede rodeada de coqueiros de frente para o mar, com duas nêgas cuidando dele.

As canções de Dorival fazem parte do imaginário baiano, conhecemos ainda criança - me lembro das aulas de história com '365 Igrejas', por exemplo. Quem não sabe cantar 'Maracangalha' ou 'Você já foi à Bahia?' ou 'Tabuleiro da baiana'? Boa parte das canções dele estão sempre tocando em algum lugar, em algum encontro de trios no fim do carnaval, nas festinhas da escolinha, nas ruas da Ribeira, do Pelô ou de Amaralina e muitas vezes as pessoas nem sabem que são dele - principalmente os mais jovens. Mas todo baiano sabe que Dorival é baiano, inventou a Bahia e pouco viveu por lá. Pelo mesmo motivo que o baiano passa pelo Rio Vermelho e sabe que Jorge Amado morou lá - mesmo aqueles baianos que nunca leram Jorge Amado. Porque se para o resto do Brasil eles são inventores, na terra de Iá Iá, são filhos de santo de mãe Menininha. E os filhos de mãe Minininha são mais que tudo, bons baianos.


A gente tende a buscar identificar o artista com o que ele faz, como se tudo fosse autobiográfico. Pois, me parece que o contrário é justamente o admirável. Dorival Caymmi é genial exatamente porque descrevia Itapuã sem sair do Posto 6, como ninguém.


A outra coisa que queria dizer, é que com Caymmi morre um jeito baiano de ser que sempre admirei. Ele não está presente, por exemplo, em João Gilberto, que como sua música, é do mundo. Dorival tinha aquela baianidade nagô do terreiro, da simplicidade, do bigode que vai bem com chapéu e do sotaque na medida certa. Essa baianidade, claro, foi sendo reinventada. Pensemos por exemplo em Caetano, que sem bigode ou colar de contas tem a sua. Mas essa que eu via presente em Dorival Caymmi ou nas minhas tias-avós, sempre me causou fascínio.


Em tempos de globalização e multiculturalismo (argh!) essa coisa da raiz se torna cada vez mais comercial. O que vemos são pessoas inventando origens e forçando identidades. Até que aquela identidade vira pop e passa a ser vendida na Renner. É o que fazem por exemplo os admiráveis expoentes do ritmo baiano
axé music, símbolos da Bahia contemporânea, que forçam o sotaque, mas não vêem a hora de morar numa mansão no Recreio (pobre de quem acretida na glória e no dinheiro para ser feliz). Querem passar uma áurea baiana que eu não sei de onde tiram - isso faz muito sucesso no mundo da celebridades. Sabe, tipo festa em Ilha de Caras decorada de Pelourinho com caruru feito por chef francês? Ou camarote-lapa no carnaval? Aí todo mundo põe chapéu de malandro, canta um samba da mangueira e come torresmo. Cultura de massa na veia. Yeah!

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Apostemos qual será a próxima 'amarelada' brasileira: seleção de vôlei masculina ou a dupla do vôlei de praia? Seleção feminina de vôlei não conta porque elas provaram em 2004 que amarelam como ninguém.

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Rapaz, eu pensei em três coisas pra escrever: Caymmi, ok! Brasil-amarelão, ok! Qual era a outra coisa mesmo??

*as duas músicas citadas são: "Acontece que eu eu sou baiano" e "Saudade da Bahia", respectivamente.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

acordei bemol
tudo estava sustenido

sol fazia
só não fazia sentido
Leminski





Dia 30, sábado, tem Circulando 5 no Alemão. Você, raro leitor, que nunca foi ao Circulando, devia experimentar. Essa edição vai ser gigante, uma avenida inteira fechada, cheia de artistas de tudo quanto é lado e todo um dia de programação cultural.

http://eventocirculando.blogspot.com/

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Vale avisar também que a próxima sessão do Sem Tela, lá no Alemão, é na quinta dia 21. Quem quiser ir conosco é só avisar a mim ou a Capilo. Lembrando que a última sessão foi maravilhosa. Veja aqui.

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Eu vinha acordando bemol. Confesso! Mas com o tempo tudo volta ao normal... e as férias vêm aí lá iá lá iá lá iá!!!!! Rá, raro leitor. Em poucos dias este blog ganhará posts nordestinos, direto da terra de iá iá. Aguardem!


Ela bem que tentou explicar
Só que deu azar
Porque ele não queria entender

O povo diz que quando um quer
Dois vão brigar
E é desse jeito que foi

Ela fechou o livro sem marcador
Jogou a agulha no palheiro
Pegou o ônibus errado
Tomou a trilha desconhecida

Sem coçar a cabeça
Ou franzir a testa
Decidiu perdê-lo
E se perder-se

Clê

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

joão gilberto e outras boss[t]as


joão gilberto é baiano. joão gilberto canta chega de saudade com barulhinhos deliciosos e com um ritmo próprio, que para outros seria fora do ritmo. joão gilberto canta 'eu vim da bahia' pra mim e insiste que: 'eu vim da bahia cantar, mas algum dia eu volto pra lá'. joão gilberto é maravilhoso (sei que essa não é a melhor definição, mas não consigo encontrar um adjetivo a altura). e eu não consegui comprar ingressos para o show aqui no rio. então, li tudo sobre o show de são paulo, que aconteceu ontem, para ficar com mais raiva ainda. se alguém souber de ingressos andando por aí, por favor me comunique. e ouça joão gilberto.

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eu não sei quanto tempo dura uma olimpíada. mas alguma coisa me diz que essa já tem uns 4 meses. será que acaba antes das eleições americanas e do corte de cabelo da ingrid bittencourt? saco!!! ontem no bar nêgo gritando pelos segundos no atletismo. na boa! bar, uma hora da manhã, chop duplo e a galera tensa com o tempo dos JAMAICANOS. o chop duplo me salvou: 'ok, ok, o cara do meu lado é imbecil, mas opa! o chop é duplo, bem tirado e com 2 dedos de colarinho. Ei, ivanildo, traz mais um [ainda bem que reli essa merda, porque antes escrevi 'trás'. por mim não, que não ligo, mas só tem chato lendo e escrevendo isso aqui - malas!].

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acho sacanagem isso que estão fazendo com cajibrina. desmoralizando o cara. ainda mais agora que o primo dele, capilo, é meu superior hierárquico a nível de trabalho e funções empregatícias, me sinto na obrigação de prestar solidariedade ao amigo.

tá sabendo, bode? temos que comemorar a promoção (ele vai ficar puto com essa) do amigo! nas palavras do chefe: 'ascensão meteórica'. grande capilo!

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e não esqueça, raro leitor... ou melhor, se for esperto se lembre: distraídos, venceremos.

DRUMMOND

bem... perdoem-me a formatação...

esse cara, rapaz, me dá vontade de morar na praia... ou em minassssssss...

MEMÓRIA

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

PROCURA DA POESIA

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro

são indiferentes.
Nem me reveles teus sentimentos,
que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.

O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O canto não é a natureza

nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)
elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques,

não indagues. Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,
vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família
desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
Não recomponhas

tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras.

Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.

Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara:

ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.


OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.

Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?

Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossege
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.



MÃOS DADAS

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,

não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.


A PALAVRA


Já não quero dicionários
consultados em vão.
Quero só a palavra
que nunca estará neles
nem se pode inventar.
Que resumiria o mundo

e o substituiria.
Mais sol do que o sol,

dentro da qual vivêssemos
todos em comunhão,
mudos,
saboreando-a.

OVÍDIO

Alguns Fragmentos do Pensamento de Ovídio



Se eu pudesse, seria mais sensata; mas uma força nova
Arrasta-me contra a minha vontade, e o desejo
Atrai-me a uma direção, e a razão, a outra:
Vejo e aprovo o melhor, mas sigo o pior.
As frivolidades cativam os espíritos levianos.
Quem aceitou um beijo e não aceita tudo,
Merece perder aquilo que recebeu.
Para onde quer que me volte,
Só vejo a imagem da morte.
A beleza é um bem frágil.
Tudo em nós é mortal, menos os bens do espírito e da inteligência.
Esforçamo-nos sempre para alcançar o proibido e desejamos o que nos é negado.
Enquanto fores feliz, terás muitos amigos; Se teu céu tornar-se triste, ficarás sozinho.
Terminei, enfim, esta obra, que nem a ira de Júpiter, nem o fogo,
Nem o ferro, nem o tempo devorador poderão destruir.
Quando aquele dia, que dispõe apenas do meu corpo, quiser,
Poderá pôr fim ao tempo da minha incerta vida;
Mas com a melhor parte de mim me elevarei imortal
Sobre as estrelas, e o meu nome não perecerá.


http://recantodasletras.uol.com.br/biografias/1081870

MAIAKÓVSKI

IMPOSSÍVEL

Sozinho não posso
carregar um piano
e menos ainda um cofre-forte.
Como poderia então
retomar de ti meu coração
e carregá-lo de volta?
Os banqueiros dizem com razão:
"Quando nos faltam bolsos,
nós que somos muitíssimo ricos,
guardamos o dinheiro no banco".
Em ti
depositei meu amor,
tesouro encerrado em caixa de ferro,
e ando por aí
como um Creso contente.
É natural, pois,
quando me dá vontade,
que eu retire um sorriso,
a metade de um sorriso ou menos até
e indo com as donas
eu gaste depois da meia-noite
uns quantos rublos de lirismo à toa.
Manuel Bandeira
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O último poema


Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

Pra quem vem de cima, esse aqui foi o limiar
(até porque ainda vou postar, acima, 4:31, muitas outras rimas de poetas importantes para minha constituição delirante).
limiar

limite

da sanidade prosaica...

ou melhor...
antes...

foi mesmo
o quando
recordei Seu França.

Eis então
outro poeta
que embora morto
e ao que me consta
suicida
ainda vive
em meus delírios
e inexatos...

Pra os íntimos
e infalíveis
pedófilos
do abstrato:

Torquato...

Torquato NetoTorquato Neto
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Cogito


eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado
indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim.

Querido Cajibrina...

Primeiro:

eu lamento muito pela falta de vírgulas em seu texto... Eu e a língua portuguesa.

Tudo bem...

Tem que caber na diagramação do buteco, né????

Segundo:


(bom, acho bom lembrar, segundo, numeral ordinal, não é medida de tempo)

: (dois pontos) ceroula é e, que eu saiba, sempre foi, uma vestimenta íntima que cobria todo o corpo... shortinho apertado e cavado é e sempre foi outra coisa.

Cajibrina... adoro seu blog, seus textos, seu tema, mas... sinceramente...

Acho melhor que vc saia logo da gaveta, de trás (desse negão chamado) armário, do closet rosa pink, e se assuma logo um *&%$# de bêbado desvairado.

Sério. Fica mais bonito.

Não dê uma de fenômeno...

Santa...

****

Sobre o emo...

duas colocações (sem duplo sentido):

Primeiro: já vi que a carapuça serviu pra descrição do botafoguense.

Segundo (numeral ordinal, não é medida de tempo, sic): adorei a versão!!
Gosto muito de Chitãozinho e Xororó, gosto mais das músicas antigas que remetem a modas de viola e um primeiro movimento nacional (NACIONAL E ORIGINAL) de fazer uma leitura pop, meio country rock, das modas de viola sertanejas,pantaneiras...

Aliás, adoro essa música, em particular.

Clê... eu até acho que vc deve conhecer... mas... procure ouvir Renato teixeira, Rolando Boldrin, Pena Branca e Xavantinho, Almir Sater, Tonico e Tinoco...

Dá vontade de virar sapo... ou vaga-lume... e medo de onça...

robow... frog... robow... ssss... rrrraaaauuuu!!!!

Ê coisa boa, sô...

****

Por falar nisso, um de meus poetas prediletos...

Aliás,


VIVO,

O preferido:

(e me desculpem a formatação infiel... peguei na net... sem pressa... nem livro à mão)


MANOEL de BARROS


Seis ou Treze Coisas que Aprendi Sozinho
de "O Guardador de Águas", Ed. Civilização Brasileira.


1
Gravata de urubu não tem cor.
Fincando na sombra um prego ermo, ele nasce.
Luar em cima de casa exorta cachorro.
Em perna de mosca salobra as águas se cristalizam.
Besouros não ocupam asas para andar sobre fezes.
Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina.
No osso da fala dos loucos têm lírios.

3
Tem 4 teorias de árvore que eu conheço.
Primeira: que arbusto de monturo agüenta mais formiga.
Segunda: que uma planta de borra produz frutos ardentes.
Terceira: nas plantas que vingam por rachaduras lavra um poder mais lúbrico de antros.
Quarta: que há nas árvores avulsas uma assimilação maior de horizontes.

7
Uma chuva é íntima
Se o homem a vê de uma parede umedecida de moscas;
Se aparecem besouros nas folhagens;
Se as lagartixas se fixam nos espelhos;
Se as cigarras se perdem de amor pelas árvores;
E o escuro se umedeça em nosso corpo.

9
Em passar sua vagínula sobre as pobres coisas do chão, a
lesma deixa risquinhos líquidos...
A lesma influi muito em meu desejo de gosmar sobre as
palavras
Neste coito com letras!
Na áspera secura de uma pedra a lesma esfrega-se
Na avidez de deserto que é a vida de uma pedra a lesma
escorre. . .
Ela fode a pedra.
Ela precisa desse deserto para viver.

11
Que a palavra parede não seja símbolo
de obstáculos à liberdade
nem de desejos reprimidos
nem de proibições na infância,
etc. (essas coisas que acham os
reveladores de arcanos mentais)
Não.
Parede que me seduz é de tijolo, adobe
preposto ao abdomen de uma casa.
Eu tenho um gosto rasteiro de
ir por reentrâncias
baixar em rachaduras de paredes
por frinchas, por gretas - com lascívia de hera.
Sobre o tijolo ser um lábio cego.
Tal um verme que iluminasse.

12
Seu França não presta pra nada -
Só pra tocar violão.
De beber água no chapéu as formigas já sabem quem ele é.
Não presta pra nada.
Mesmo que dizer:
- Povo que gosta de resto de sopa é mosca.
Disse que precisa de não ser ninguém toda vida.
De ser o nada desenvolvido.
E disse que o artista tem origem nesse ato suicida.

13
Lugar em que há decadência.
Em que as casas começam a morrer e são habitadas por
morcegos.
Em que os capins lhes entram, aos homens, casas portas
a dentro.
Em que os capins lhes subam pernas acima, seres a
dentro.
Luares encontrarão só pedras mendigos cachorros.
Terrenos sitiados pelo abandono, apropriados à indigência.
Onde os homens terão a força da indigência.
E as ruínas darão frutos

http://www.jornaldepoesia.jor.br/manu.html#seis

****

Né, não!!!!????

Simplesmente, LINDO!!!!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Ombudsman music indicator [emo mood]

Leitor assíduo e amigo do blog disse que é coisa de emo ficar postando música. É mesmo. Também acho. Mas isso é um blog de desvarios, então nada mais justo do que colocarmos nossos 'emos' pra fora.

Liberte o emo que vive dentro de você!!!

Sim, mas essa de hoje é muito boa. A coca-cola promove uns 'encontros musicais' nada a ver pra MTV. Num sei o nome do programa, num sei nada. Só que semana passada, cheguei do trabalho e tou lá meditando em frente a TV e vejo isso (se você, querido leitor anda sem saco, escute pelo menos o começo. é foda!) :



A banda emo se chama Fresno, a dupla sertaneja dispensa apresentação. A música é um clássico. E mermão, ficou MUITO bom. Só dá Chitão, Xororó e Fresno no meu mp3 player:

eu preciso aceitar que não dá mais, para separar as nossas vidas
[tira o pé do chão]
e nessa loucura de dizer que não te quero
vou negando as aparências
disfarçando as evidências
mas pra que viver fingindo
se não posso enganar meu coração
...

eu entrego a minha vida
pra você fazer o que quiser de mim
só quero ouvir você dizer que SIM

Muito emo.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Deixem minha cueca em paz

Cajibrina, primo próximo meu, enviou uma mensagem, solicitando que repassasse aos membros desse blog. Então, reproduzo abaixo:

Caro Capilo,

Lamento muito pela falta de respeito de seus companheiros de blog, em especial o que se intitula Rodrigo Bodão, com suas gracinhas sem graça alguma. Clementina, a quem prezava até então, também decepcionou seu primo com seus comentários, também nada engraçados.

Primeiro gostaria de esclarecer que nem de cueca estava durante a foto tirada por uma fã e enviada para mim via email. É apenas uma ceroula de três cores, que os nobres não conseguiram identificar. E caso fosse, continuaria sem entender tamanhas gracinhas.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Cajibrina

Enquetes

primeiro: será Faveleiro, tal como o dia 29 de fevereiro, bissexto???? Só posta de tempos em tempos??? Qual calendário indica sua iminência????

segundo: qual foto condiz com o Capilo real: o bigodinho cafona estilo psicopata de Tarantino em filme de Robert Rodriguez, ou a cuequinha singela a la Almodóvar????

Aguardo retorno...

terça-feira, 12 de agosto de 2008

por aí...

ao descer do ônibus:

- ai, ônibus nojento.
- ãhn
- esse ônibus, nojento.
- mas nem tava cheio.
- e daí. detesto ônibus assim cheio de trabalhador. esse cheiro. todo mundo suando.
- eu gosto de trabalhadores.


cena de "toma lá, dá cá" que vai ao ar hoje. esse garoto aí, é o personagem mais lúcido de uma família de loucos

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

corpo (in)sano. mente (in)sone.

- ei...

(...)

- ei... oi.

- hum...

- opa.

- ãhn.

- acorda mariana.

- putaqueOpariu!

- calma...sou eu! sua metade.

- metade porra ninhuma. tu é um encosto. só pode.

- é. metade é pouco, porque sem mim, tu é um corpo moribundo e vazio pairando por aí.

- ah é? e você, amada mente, sem um corpo, é o quê? uma idéia pairando sobre a cabeça dos homens. feuebarch não diria melhor.

- ah, não vem não com esse papo hegeliano.

- ué, mas você é toda chegada num idealismo.

- pára! não sou não. me chama de rubro-negra, mas não me chama de idealista.

- tá. boa noite, rubro-negra.

- não, péra aí. oww, acorda aí. tou com insônia.

- ãhn? vira de lado na cama.

- já virei.

- vira de ponta cabeça.

- não dá, aí eu dependo de você. porque revirar aqui dentro, eu já revirei umas 3 vezes.

- se eu virar, você vai dormir?

- bom, aí não sei. só tentando.

- ai meu deus. fica quietinha, minha linda, que o sono vem.

- você é uma pessoa difícil né? não sei como dei o azar de nascer num corpo assim, que não me compreende.

- a mesma coisa lhe digo. lá se vão anos em que eu acordo pregado por sua culpa. azar foi o meu, de ter ganho uma mente que não pára, que não dorme e que se ocupa de tanta besteira.

- tá, eu não quero brigar.

- e eu quero dormir. olha só, amanhã tem que acordar cedo. aí sobra pra mim. porque eu levanto, ando pra pegar o ônibus, passo a manhã de olhão aberto e músculos cansados. e você lá, amarradona, dormindo por detrás dos olhos espertos. incapaz de lembrar o número do ônibus.

- quem vê você falando assim, pensa que essa situação é porque eu quero.

- ai que mania de se fazer de vítima. vai...vamos lá, que que podemos fazer pra embalar esse sono?

- então, tava pensando em comer.

- não! pensa outra coisa. comer não dá, depois o estômago começa a trabalhar e quem não dorme sou eu.

- imaginei que você não fosse querer. mas, não consigo pensar em mais nada.

- tou fudida mesmo. tenho uma mente que só pensa em comer.

- mentira!! eu penso em muitas outras coisas. você sabe.

- tudo bem, pequeno gênio. vamos lá, outra coisa pra fazermos.

- bom, assim rápido, lembrei que ainda tem 4 itaipavas na geladeira...

- má, nem pensar!!! de maneira alguma. cerveja? às 2 da manhã de domingo?

- ué, que que tem? eu durmo bem depois de uma itaipava e isso nem vai te tirar o sono.

- não tira o sono, mas engorda.

- (risos) vai bancar a vaidosa agora? a essa altura das olimpíadas?

- engraçada que só ela. vamos logo, antes que eu desista. cerveja não!

- podemos ir assistir um pouco das competições olímpicas. quem sabe me distraindo não consigo dormir...

- dormir com tv? isso nunca funcionou... não que eu me lembre.

- é. não mesmo...

- além do mais, tem o mala do pedro bial se achando nelson rodrigues. melhor não.

- mas que mania de falar mal do bial. eu gosto dele.

- mentira. você gosta é de big brother.

- gosto mesmo e daí?

- ainda bem que a boca é diligência minha. se eu saísse por aí expondo seus gostos e insanidades, seríamos um desastre,

- ai que ódio essa censura que você me impõe. ai que ódio.

- você devia era me agradecer. e não é censura. eu apenas faço uma pequena seleção do que vamos mostrar de nós para o mundo. é assim que funciona com todos: nem tudo que se pensa, pode ser dito.

- tá, tá. não quero discutir a relação agora. nosso terapeuta disse para focarmos as discussões e vontades. nada de querer resolver tudo numa tacada só.

- disse? nem ouvi. foi na última sessão?

- eu fico revoltada com esse seu descaso com o terapeuta.

- eu fico assustada com essa sua crença de que freud pode te ajudar. ainda sou a resistência materialista desta mulher.

- que mané freud. deixa de baixar o nível da discussão quando não tem argumentos. opa! Esqueci, você não pensa.

- sem ofensas, por favor.

- e além do mais, o materialismo chegou aqui por minha causa. baixa a bola.

- baixei. mas abre teu olho, não foi só eu que avisei. tu bem viu o bodão falando na sexta que enquanto a gente fica lá falando da nossa vida, o tal freudiano bonitinho de cabelo grisalho tá é ouvindo ipod ou fazendo lista de compras.

- ai chega. esse assunto não está mais em discussão. o combinado foi que eu colaborava no futebol e você nos levava pro terapeuta. eu estou cumprindo minha parte. jogadas ensaiadas, bola matada no peito no tempo certo, roubada de bola sem truculência. tudo isso é obra minha. agora, se você quiser, rompemos o combinado.

- não! claro que não. eu estou adorando. gosto do terapeuta. aquele divã é gostosinho, dá uma relaxada. a vista também agrada aos olhos. pra mim, na minha humilde condição de corpo, é até bom.

- então pronto. assunto encerrado.

- encerrado.

- acho que eu queria ler.

- jura?

- porra, preguiçoso hein? pra ler você só tem que passar as páginas e guiar os olhos. o esforço é quase todo meu.

- na verdade, não queria levantar. o torcicolo de ontem me derrubou. e achei aqui uma posição agradável.

- tá. não sei então...

- posso colocar uma música. Nunca mais fizemos isso.

- é uma!

- lembra que antigamente você gostava de dormir com o som ligado?

- é mesmo. tentemos.

- tentemos e boa noite. qualquer coisa me chama.

- te chamo.

domingo, 10 de agosto de 2008

EU????? - que barato!!!!!


Há momentos
em que o som
da minha respiração
ensurdece e atrapalha
o pensamento

Noutros

a ventania enfurecida
das idéias
varre de mim
minhas lembranças
mais alertas

Nado
num mar calmo e niilista
de onde não concebo
planos nem listas
nem metas
tarefas
contas
datas
senhas
limites

?????????

Gosto de mim quando me esqueço
e penso que mereço
bem mais
do que cabe
ao pensamento

Se o devaneio só existe
fora do encadeamento
racional cotidiano

– vivo em fuga –

e acho no barato
um barato
essa ausência

O espaço
onde não respiro
é ensurdecedor
ao pensamento

que é todo em si sem nome:

nem meu

nem seu

nem nosso...


Longe

outro

estranho

de outro

abstrato

endereço

me olha

no espelho

ao avesso


– gosto quando acordo

e não me reconheço.

****

Há um pau ereto
no meio das pernas
desse corpo
que acordei
hoje

Por nada desse mundo
quero saber o que se passa
em sua cabeça

Sabe lá
o que tal falo
falará

Sabe lá
o que aciona
suas cavernas

Sabe lá
o que ele sabe
que eu não sei

Sabe lá...

****

Há uma mulher deitada
dormindo
ao lado do corpo
que ocupo
nesse instante

Uma bela mulher
ronronando
um ronronar tão belo
num corpo em curvas
de violoncelo
que quase arrisco
assumir esse corpo
que habito
apesar do risco
que desconheço

Suas nádegas redondas
macias e pedintes
quase gritam por carinho
e um tapa

Na dúvida
dou ambos

A mulher desperta
serpenteando
sua volúpia matinal
e pronuncia
um nome
familiar
enquanto afaga
o corpo que habito
no peito
e no pau

– gosto quando acordo
e não reconheço
onde deito

mas bom mesmo é acordar
e lembrar de tudo

desse jeito!

sábado, 9 de agosto de 2008

sabedoria popular

a vantagem de se estar bêbada ás 17h da tarde [como diz minha vó] é a certeza de que não vai se acordar de ressaca

ps: às favas. opa!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

O que você leva na mente?

Ando meio preocupado com esse blog. Menos por conta da sua qualidade, coisa que a Clê, a cada dia que passa, só faz elevar, e muito menos por causa da glasnost operada recentemente, quando dei uma de Bodatchov e possibilitei a perestroika ombudsmiana, abrindo a administração e o controle do mesmo para seus colaboradores. Até porque, pouco fizeram, além de botar pilha.

Ando bolado com seu caráter público e sua difusão.

Desde a origem, esse espaço se caracteriza por uma quase absoluta liberdade de expressão. Aqui, vale postar qualquer coisa.

Mas, hoje sinto medo de algumas possíveis leituras.

De pessoas do trabalho, mais especificamente.

Mais especificamente, do meu chefe, sr. Jota (que de tão próximo do K, principalmente no alfabeto imperial, já me sugere vôos de insetos kafkianos).

Uma coisa que sempre fiz questão – ou melhor, fizemos, agora que vivemos um período ‘pós-Muro de Login' – é que esse espaço pudesse ser um canal de difusão dos meus pensamentos mais politicamente INcorretos. Até porque tenho restrições a essa parada. Aliás, me incomoda mais uma expressão quase evangélica de seus proponentes, do tipo ‘você não sabe o que está dizendo’ ou ‘se não está comigo, é meu inimigo’ ou um afetado e estridente ‘que absurdo!’, do que suas proposições concretas.

Fico pensando onde mais poderei verbalizar tranqüilamente minhas piadas incorretas, meus comentários sobre o uso de cocaína (maconha pode), meu dom vagabundo, minhas bebedeiras em horários impróprios, meus impropérios, golfadas verbais e blasfêmias altissonantes.

Mas posso perder o emprego, ou sei lá, ameaça-lo com essa exposição.

E eu não estou a fim de voltar a estaca zero, nem trabalhar noutros ramos. Nem noutras ongs. Nem em lugar nenhum.

Eu queria mesmo é viver de samba e poesia.

Mas não dá.

Por outro lado, a idéia de progresso e trabalho pode tornar o que me é prazeroso outra coisa , e é até melhor eu não ter uma relação profissional com minha arte.

Tenho medo.


E contas a pagar.

*****

O sr. Jota, na última quarta, depois da pelada institucional, trouxe uma reflexão interessante. Versou sobre o significado social, a história social dos times de futebol, suas representações e tal.

Lembrando do futebol dos filósofos que vi no youtube, pensei nas correntes que melhor se coadunariam a cada clube.

Acho que ficaria assim:

Botafogo: idealismo alemão, aquela coisa romântica e sofrida. Se fosse estilo de música, seria EMO.

Fluminense; sem dúvida alguma, o platonismo, elitista e noutro plano (cor de rosa ou pó de arroz). República seria seu livro de cabeceira.

Flamengo: dada a magnitude de expressão, algo próximo de Nietsche em sua defesa das paixões e do excesso. Mas, no final das contas, seria mesmo é filosofia de botequim, irracional e intensa em seu absolutismo etílico.

Vasco: nenhuma, pois não existem pensadores relacionados a esse clube. Prova disso é o Sérgio Cabral, pai, filho e corja.

******

Aliás, o futebol anda muito maneiro. Até as meninas compareceram e fizeram bonito.

Já penso em montar um time do ombudsman...



quinta-feira, 7 de agosto de 2008

O que você leva na carteira?

Tava lendo a Cora Rónai (coisa que pouco faço). Cora foi assaltada em Botafogo há umas duas semanas. Na coluna de hoje, ela dava dicas para que evitemos aborrecimentos pós-assaltos. Algumas são bem válidas, inclusive.

Numa das dicas, ela recomenda que se xeroque tudo que levamos na carteira. Primeiro, para lembrar aquilo que nos roubaram, quantos cartões foram afanados, etc. Segundo, porque as cópias também podem ser úteis em casos de lembranças roubadas. No caso dela, levaram o “bilhetinho lindo que o meu [dela] amor desenhou”. O tal bilhetinho era meio que como um amuleto, uma recordação preciosa.

Fiquei pensando nisso. Primeiro que não tenho carteira. Muito menos bolsa. Minhas coisas andam jogadas de mochila em mochila. Fotos 3x4 de familiares? Nunca. Cartões carinhosos, figurinhas de bala? Jamais.

Depois, porque fui me desapegando de tudo com o passar dos anos. É muita recordação nessa vida: é gente que parte dessa pra melhor, é namoro que acaba, amizades que passam, gostos que mudam e no meu caso, um agravante: 5 cidades em 7 anos. Cada mudança era uma enxurrada de cartas e bilhetes de amigos e namoros (ou namoricos) acabados. E cada casa nova tinha seu espaço reservado para as recordações. Com o tempo, o espaço foi ficando cada vez menor, porque de uma mudança pra outra, eu ia sempre deixando muita coisa pra trás. Fria. Insensível. Será?

Acho que não. Lembro-me, por exemplo, de ter todos os cartões de aniversário que me foram enviados na vida. Sempre achei fantástico as pessoas lembrarem do aniversário e mandarem um cartão. Acho bonito também quando o presente (que é sempre a parte menos importante da coisa) vem acompanhado de um cartão - e não estou falando do clássico “parabéns e votos de felicidade”. Um dos últimos, por exemplo, ta lá na cabeceira da cama. Se entrar na mochila, perco qualquer dia desses.

Então lembrei que guardo mensagens de celular. Elas meio que funcionam como o bilhetinho da Cora. Eu sempre releio mensagens carinhosas. Bom, daí troca-se de aparelho ou eles são roubados. E aí? Aí que outras mensagens chegam. E começa tudo de novo. As mensagens de celular são uma chave pra questão: tudo começa de novo. A vida é cíclica. E foi esse movimento das coisas que fez de mim uma desapegada, jamais uma insensível. Como diria Paulinho, “eu não preciso de uma talismã”. Afinal, pra que serve um bilhetinho do meu amor? Muito melhor é quando “meu amuleto é meu bem”.

Lembranças boas são aquelas que conseguimos ver sem nem fechar os olhos, o resto é xerox.

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Numa das muitas questões que me tocaram em “Nome Próprio”, a personagem da Leandra Leal expõe sua angústia com o silêncio do outro. Eu não estou falando de indiferença, veja bem. Porque indiferença é uma coisa que incomoda mesmo, muda o contexto e isso a gente sabe desde pequenino, quando a mamãe ensina que pra deixarem aquele seu apelido maldoso de lado é só você fingir que não liga. Eu estou falando é de silêncio mesmo, o “não dizer” quando você sabe que há coisas a serem ditas e mais, que serão ditas. Aí, o que a maioria das pessoas faz é dizer de outras maneiras. É o famoso “mandar recado”.

O silêncio quase surta Camila Jam – que já é uma das minhas personagens favoritas do cinema. Mas também aguça sua criatividade.

É por aí. Engole o silêncio. Entope o choro. Enxuga o suor. Entuba a raiva. E sai escrevendo no rodapé da sala.

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Suzana, cara leitora, tens razão em teu comentário: sem rebeldia.
P-r-a s-e-m-p-r-e

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Fiquem tranqüilos, leitores do ombudsman, Bodão já nos deu seu perdão. Só não mexe muito com o amigo, porque desde que o Mengo saiu do G4 ele anda meio alterado.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

curtinhas insignificantes

Palavra de honra que, em certos momentos, uma dúvida me assalta: não teria eu perdido a razão, e não estaria eu, durante todo esse tempo, fechado num asilo de alienados?
Dostoievski, O Jogador



Aumentou a classe média no Brasil (ôh desgraça). Já somos meio Brasilzão.
Diminuiu o número de pessoas que vivem com até R$104,00 por mês. E?
Estatísticas, para quê te quero?

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Responda rápido: o que enche mais o saco do que o caso Isabela: olimpíadas em Pequim ou eleições nos EUA? (a Ingrid Bittencourt deu um tempo e tiramos ela desta votação)

Eu sei, também acho: Pedro Bial, apresentador de BBB, querendo fazer flashback do homem que cobriu a Guerra do Golfo em explosão (Oi, atentado terrorista aonde?) na China, é o pior.

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A Patrícia Pillar é a vilã da novela das 8. Se eu fosse o Ciro Gomes não deixava. Pode atrapalhar na campanha.

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À merda o pessimismo francês.
De nada serve.
Idealismo só entra aqui quando houver silêncio para se dormir.
Há que se ocupar dos problemas concretos do mundo.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

umanodeombudsman

ontem foi um ano de blog. eu preparei um post quando cheguei em casa. acabei postando no outro blog do qual faço parte, sem querer. achei chato postar de novo. deletei e fui dormir.

a comemoração foi ótima. o Alemão é um lugar no qual todo mundo se sente a vontade. temos bons amigos lá. e vamos agregando outros. e no fim a festa tava cheia.

tem essa coisa que eu acho muito maneira da gente ficar se sacaneando. é engraçado. às vezes incomoda. às vezes incomoda pra cacete. mas geralmente fica só no incômodo mesmo. Bodão, eu não me recordo de parte do que você disse - ok, não recordo de algumas coisas -, mas se foi assim chato, desculpa nós! acho também que algumas coisas podem ser impressão sua. a gente bem sabe que você não é e não fica retardado. sabemos bem! além disso, rola esse lance também de admirar sua excentricidade - pra usar um termo seu -, você sabe.

tem esse negócio também da gente ficar horas conversando sobre tudo. gravei parte de uma conversa ontem. escutei agora de manhã e chorei de rir. amigo cajibrina vai adorar. perfeito pro seu buteco.

bom, parabéns aê.
esse final de semana, se eu quisesse demonstrar estatisticamente, flutuou entre pontos altos, relevantes, e outros, de mesma importância, mas noutra incidência... Baixos, quero dizer.

no sábado vivi um grande fracasso profissional. Tinha uma missão pedagógica que por uma escolha infeliz, sucumbiu a uma didática precária.

Bem, poderia dizer, faz parte.

Mas não.

Fiquei mal, bolado.

Foi muito ruim.

Terrível.

Deixa pra lá.

Por outro lado, também houve pontos altos.

Ontem completou-se um ano desde a primeira postagem deste presente blog.

Todos os integrantes juntamo-nos para comemorar essa data.

Tirando uma aparente obsessão dos meus companheiros em me pilhar e sacanear (movimento que por vezes enche o saco), meu domingo foi excelente.

Nem liguei pra derrota rubronegra. Aliás, fiquei até contente em saber que Vandinho marcou.

Bom sinal.

******

No final das contas, da minha energia, vigília e doideira quero deixar breves mensagens, pequenos 'toques', para meus companheiros literários virtuais...

Primeiro: maconha não leva ninguém para outro mundo. Muito menos cocaína.

Logo, seu uso não produz retardo mental.

Continuo sendo o mesmo. Um tanto mais lento e com um humor peculiar, mas o mesmo. Não me torno um retardado.

Fazer chacota do efeito psicotrópico produzido é muito chato.

Muito chato.

Você querendo curtir a onda e alguém cortando-a sistematicamente com sua denúncia altissonante e desvairada.

Muito chato.

Segundo: sou muito doido mesmo. Tenho comportamentos e histórias e posições dignas de alguém, no mínimo, excêntrico. Fora da norma.

já fui internado mais de uma vez por causa de drogas, já dormi na sarjeta mais de uma vez por causa de doideiras, já vivi muitas derrotas.

Foda-se!!!

Como diria Camila Jam, eu não consigo ficar puto com determinadas vivências reprovadas e inadequadas socialmente.

Ruim de tudo, não tô nem aí.

Até porque, no meu modo de ver, isso não me torna ridículo.

Longe disso.

******

Estou bêbado, cheirei e fumei...

Ainda estou usando cocaína...

Como sempre.

Essa é e sempre foi a minha escolha.

Fazer pouco disso, no mínimo, me afasta.

Malandro que é malandro, não espalha.

Bjs

Parabéns.

Mas vê se muda o disco.

Porque esse ficou chato.

Muito chato.

sábado, 2 de agosto de 2008

Esses jornalistas...

Tava lá, e no primeiro gole o telefone toca. Número que não conheço, mas pelo menos não era “número restrito” dos amigos da imprensa. Não era restrito, mas era dos coleguinhas. Uma merda. Nove da noite e pra perguntar coisas idiotas. Jornalista é preguiçoso. Muito preguiçoso. Os caras ligam pra mim, que não tenho nada a ver diretamente com o evento, apenas coloquei uma notícia num site, e me perguntam coisas que eu não deveria saber.

Mas o mais irritante é que os caras perguntam justamente o que está escrito no site. Se estão me ligando, deve ser porque viram no site. E se viram no site, eles deveriam saber onde é, que horas é, a programação e inclusive ter os contatos de quem pode dar informações além dessas, que no caso não era eu. Mas não. Eles me ligam pra perguntar onde é, que horas, a programação, que em tese já deveriam saber. Ou seja. Preguiça total. Os caras nem lêem a porra do negócio e já vão ligando. Af.

Samba recém-nascido

Eu deveria estar dormindo,mas estou bêbado e compondo...

Procês:


É PRECISO VIVER

É preciso viver
Superar essa nossa contradição

É preciso entender
Cada um traz a sua limitação

Quando nos conhecemos
Esquecemos dos medos

Nós nos entregamos
Trocamos segredos

Fizemos mil planos
Em nosso aconchego

Mesmo quando erramos
Faz parte do enredo

Só não dá pra fugir
Fingir que não tem nada a ver

Não podemos negar
Botar tudo a perder

É preciso ter calma
É bom dar um tempo

Pra medir nossa alma
Nosso investimento

Por causas pequenas
É que nós não podemos

Desfazer nossa história
No torpor de um momento

Admito os meus erros
E hoje pago o preço

Dos passos não pensados
Que causaram tropeços

Só não dá pra deixar
Esse sonho perdido

Não podemos ficar
Feito elos partidos

Se todos nós caímos
Essa é a hora de levantar

E seguir de mãos dadas
Com uma nova razão pra cantar

Afirmar que a vida
Ainda nos trará
Confusão e muita briga
Mas também
Lala laiá!!! REPETE ESSA ESTROFE


– Termina com um ‘lalaiá’ tipo clímax
[1] e com um solo.






[1] ADORO CLÍMAX!!!!!!!!!!

di madrugada

aqui dentro

já foi um caldeirão
uma panela de pressão
e até um balaio

teve sua fase disco rígido
memória de pen drive
e capacidade de dvd

me lembro de quando era boa como um livro do Jorge
quiçá uma enciclopédia
ou um exemplar de dois volumes

hoje, minha mente é só um quadro branco
muita coisa se escreve
pouco delas se aproveita
o resto apaga-se com álcool no fim do dia

clê