quinta-feira, 7 de agosto de 2008

O que você leva na carteira?

Tava lendo a Cora Rónai (coisa que pouco faço). Cora foi assaltada em Botafogo há umas duas semanas. Na coluna de hoje, ela dava dicas para que evitemos aborrecimentos pós-assaltos. Algumas são bem válidas, inclusive.

Numa das dicas, ela recomenda que se xeroque tudo que levamos na carteira. Primeiro, para lembrar aquilo que nos roubaram, quantos cartões foram afanados, etc. Segundo, porque as cópias também podem ser úteis em casos de lembranças roubadas. No caso dela, levaram o “bilhetinho lindo que o meu [dela] amor desenhou”. O tal bilhetinho era meio que como um amuleto, uma recordação preciosa.

Fiquei pensando nisso. Primeiro que não tenho carteira. Muito menos bolsa. Minhas coisas andam jogadas de mochila em mochila. Fotos 3x4 de familiares? Nunca. Cartões carinhosos, figurinhas de bala? Jamais.

Depois, porque fui me desapegando de tudo com o passar dos anos. É muita recordação nessa vida: é gente que parte dessa pra melhor, é namoro que acaba, amizades que passam, gostos que mudam e no meu caso, um agravante: 5 cidades em 7 anos. Cada mudança era uma enxurrada de cartas e bilhetes de amigos e namoros (ou namoricos) acabados. E cada casa nova tinha seu espaço reservado para as recordações. Com o tempo, o espaço foi ficando cada vez menor, porque de uma mudança pra outra, eu ia sempre deixando muita coisa pra trás. Fria. Insensível. Será?

Acho que não. Lembro-me, por exemplo, de ter todos os cartões de aniversário que me foram enviados na vida. Sempre achei fantástico as pessoas lembrarem do aniversário e mandarem um cartão. Acho bonito também quando o presente (que é sempre a parte menos importante da coisa) vem acompanhado de um cartão - e não estou falando do clássico “parabéns e votos de felicidade”. Um dos últimos, por exemplo, ta lá na cabeceira da cama. Se entrar na mochila, perco qualquer dia desses.

Então lembrei que guardo mensagens de celular. Elas meio que funcionam como o bilhetinho da Cora. Eu sempre releio mensagens carinhosas. Bom, daí troca-se de aparelho ou eles são roubados. E aí? Aí que outras mensagens chegam. E começa tudo de novo. As mensagens de celular são uma chave pra questão: tudo começa de novo. A vida é cíclica. E foi esse movimento das coisas que fez de mim uma desapegada, jamais uma insensível. Como diria Paulinho, “eu não preciso de uma talismã”. Afinal, pra que serve um bilhetinho do meu amor? Muito melhor é quando “meu amuleto é meu bem”.

Lembranças boas são aquelas que conseguimos ver sem nem fechar os olhos, o resto é xerox.

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Numa das muitas questões que me tocaram em “Nome Próprio”, a personagem da Leandra Leal expõe sua angústia com o silêncio do outro. Eu não estou falando de indiferença, veja bem. Porque indiferença é uma coisa que incomoda mesmo, muda o contexto e isso a gente sabe desde pequenino, quando a mamãe ensina que pra deixarem aquele seu apelido maldoso de lado é só você fingir que não liga. Eu estou falando é de silêncio mesmo, o “não dizer” quando você sabe que há coisas a serem ditas e mais, que serão ditas. Aí, o que a maioria das pessoas faz é dizer de outras maneiras. É o famoso “mandar recado”.

O silêncio quase surta Camila Jam – que já é uma das minhas personagens favoritas do cinema. Mas também aguça sua criatividade.

É por aí. Engole o silêncio. Entope o choro. Enxuga o suor. Entuba a raiva. E sai escrevendo no rodapé da sala.

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Suzana, cara leitora, tens razão em teu comentário: sem rebeldia.
P-r-a s-e-m-p-r-e

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Fiquem tranqüilos, leitores do ombudsman, Bodão já nos deu seu perdão. Só não mexe muito com o amigo, porque desde que o Mengo saiu do G4 ele anda meio alterado.

4 comentários:

Vitor Castro disse...

inda mais depois de ontem, com um gol do goiás nos acréscimos...

Rodrigo Bodão disse...

porra,tá foda mesmo...
pelo menos na maré o futebol tá rolando bonito...

Faber disse...

É tão bom ler você, Clementina...

André Lima disse...

Bem dito, Faber.