sábado, 23 de agosto de 2008

A/C: Doralice

É melhor dizer
Amor acabou a cerveja!
Do que chorar
Cerveja acabou o amor!

Cerveja, do desconhecido grupo Porcas Borboletas


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É importante que você saiba que isso que você vai ler aqui é um devaneio de um jovem de vinte e alguns anos que tanto assim viveu porque conseguiu fazer uma manobra radical com sua bicicleta quando esteve preste a ser atropelado aos treze e porque não teve coragem de se suicidar – quando ainda tinha razões para fazê-lo – aos dezoito. Digo isso porque me parece que quando não situados, os devaneios tomam a forma que queremos. Você deve saber que essa criatura de vinte e cinco anos segue arrastando-se mundo a fora, vida adentro, sem lenço ou sonhos, com documento surrado no bolso de trás, sem solas ou deuses, crendo em nada do que lhe dizem e em tudo que lhe mentem, cantando vagabundos do cavaco ou do pandeiro, lendo Nietzsche, Morin, Sartre e esses loucos, tolerando Marx e Bakhtin, cuspindo Leminski, perdendo-se em Andrade, Ramos, Amado e qualquer um que invente uma coisa que lhe pareça absurda porque o que não é absurdo já lhe entupiram as fuças.

Fato é que depois das doses frustradas de Domecq com rivotril, dos três cortes no pulso com a serra de pão sem cabo, das inúmeras tentativas de roleta russa com cano enferrujado e os tímpanos estourados por conta do barulho vindo dos três rádios ligados, cá estou eu... Cá estou eu esbravejando como Mick Jagger – mais conservado, porém – e mais desesperado do que qualquer garçom de um bar de Ipanema ou da Lapa – os primeiros por conta dos gringos de sunga e os segundos por conta dos bêbados de cueca, que fique bem claro.

Já estão furados os discos, Lupicínio Rodrigues ficou rouco, todos partiram e deixaram-me só. Damien Rice, Phil Collins e Beatles, para não dizer que não falo inglês. Nem Vinícius restou e Cartola frustrou-se ao ver-me chorar sem disfarçar. Bruno e Marrone fizeram o possível com o baixo cachê [ehh minha cara mudei, minha cara, mas por dentro eu não mudo, o sentimento não pára a doença não sara, seu amor ainda é tudo].

Depois de toda dor possível, daquelas que cachaça não cura nem embebeda, eu, contrito, humilde e temeroso diante da possibilidade de ser acometido por um surto emo, não vejo outra solução, outra saída macha e digna, a não ser dizer-te, com esse peito corno estufado, que não importa as mãos que alisaram tua bunda ou os pássaros que visitaram teu ninho: volta pra mim, Doralice.

Volta que essa bunda e esse ninho são meus, por direito e por amor.

Um comentário:

Suzana disse...

menina, mas é verdade... de onde eu tirei Lupicínio?!