terça-feira, 3 de novembro de 2009

para onde vamos?


eu podia falar aqui do artigo que o FHC publicou no domingo no globo e no estadão. podia passar horas falando que ele ataca o lula evocando "bons costumes" - sem se 'lembrar' do filho fora do casamento que ele tem com uma conhecida jornalista brasileira. podia comentar da cara de pau do homem que MUDOU a constituição para ser reeleito - porque não impor que a mudança valesse a partir de seu sucessor? -, evocando os valores democráticos e dizendo que lula tem sede de poder. ou ainda falar do absurdo, sem pé nem cabeça, que é ele RECLAMAR da gestão que o governo faz junto a Vale, a maior empresa brasileira, por ele privatizada - num dia em que o jornal nacional deu 4 minutos para o parto de xuxa e 45 segundos para o leilão. ora, se tem uma coisa no governo a ser parabenizada é isso: no auge da crise, o presidente chamou junto o presidente da vale e exigiu o fim das demissões. enfim... a falta de qualquer senso de realidade ou democracia de FHC daria pano pra um manga, colarinho e gravata.

mas eu queria falar mesmo é do jornalismo porco, tosco, grosseiro e desrespeitoso. reparem na ilustração que o globo usou na sua publicação. reparem na 'brincadeira' com a mão que parodia o defeito físico do presidente. até a ironia com a língua inglesa me passa, mas o lance da mão é inaceitável.

eu edito fotos diariamente para irem ao ar numa página que é lida por 6 dúzia de gatos pingados, se comparado com o globo. nosso critério primordial é sempre prezar por aqueles que são expostos, seja na foto, seja no texto. eu não coloco uma criança brincando num balanço feliz e sorridente se o texto fala de uma mãe que teve seu filho assassinado. evitamos expor as fragilidades e as dores da pessoas que retratamos. é assim no meu trabalho e num é faculdade que ensina isso. a gente aprende diariamente como pode ser cruel expor os outros. mais cruel ainda é se o escárnio pessoal passa para as páginas dos jornais. pior: se ele é usado no debate político.

os meios de comunicação são a principal arena do debate público. ora, como colocar para debater os 190 milhões de brasileiro, senão via imprensa? não dá pra colocar todo mundo num vale com direito à fala e à voto como faziam os gregos. só que os espaço público do debate é privado. veja que ironia. e como tudo que é privado serve a seu dono. ou você acha que levo caixas de som e ligo no meu ipod no ônibus para a galera ouvir também? ele é meu. e a mim ele serve. no máximo, empresto pra minha irmã, em quem confio e de quem utilizo favores - eu empresto, ela empresta.

é assim que funciona a vida. eu sou os marinho, meu ipod é o globo e FHC é minha irmã. interesses regem o mundo.

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vou falar pela enésima vez pra já me blindar de críticas. eu não estou defendendo o lula. só estou condenando o FHC, figura morta na política hoje, de quem aécio já avisou que quer distância e que o serra está evitando claramente. único ex-presidente que dedica seu tempo à acusar seu sucessor - reparem em itamar, por exemplo, ou resgatem os anos que se seguiram a sarney.

volto a dizer: as críticas a lula são infinitas. mas não serão feitas pelos tucanos ou pela direita em geral. não serão porque eles não têm interesse em criticar aquilo que fazem igual. ou você já viu FHC falando de reforma agrária? já o viu comentando sobre a queda na pobreza no país? o que fez FHC com as favelas em 8 anos de presidência?

essa merda não vai mudar tão cedo. mas eu não vou deixar de reclamar mesmo assim. ainda mais diante de algo tão rídiculo e gritante como a plaquinha de STOP do The Globe - este periódico norte-americano que uma tradicional família brasileira imprime no rio de janeiro.

eu sei que pensar não é uma coisa muito na moda. em tempos que intelectual é xingamento e o bom mesmo é mandar tudo à merda - como se pudéssemos mandar tudo à merda, sem que a merda voltasse para nós em forma de violência, trânsito, inflação poluição etc. ihh me perdi. ah sim, ia dizer que se não for pedir demais, pensa bem antes de comprar o jornal. pensa antes de reproduzir o que você lê nele - meus ouvidos já tão cheios dessas merdas.

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favelereiro, não que eu lhe deva explicações, mas se você soubesse do esforço sobrehumano (tudo junto, com hífen? tá estranho) que fiz para estar na Ilha no sábado você não me chamaria de sulista.

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um dia você vai receber uma carta misteriosa. isso é legal: http://www.mysteriousletters.blogspot.com/

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o calor que fez nessa cidade hoje me fez imaginar se na verdade nós já não morremos e estamos desfrutando de uma bela estadia no inferno.

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vou voltar pro poderoso chefão.

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