terça-feira, 24 de novembro de 2009

mau-humor e ordem


mau-humorada de um jeito que dá medo.


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vão acabar com o mate e outras comidinhas na praia. é pouco higiênico, diz o prefeito. é canalhice, digo eu. choque de ordem. eu quero é choque de realidade. de justiça. de desordem. porque eu não sei vocês, mas eu estou convencida que a ordem não deu certo.

fecharam ainda o acesso à pista do santos dumont. os três absurdos do rio de janeiro: acabaram com cerveja no maracanã, vão acabar com a esfiha da praia e fecharam a pista do aeroporto. eu vou me mudar pra tocantins, porque aqui não é mais meu lugar. aqui é lugar de ordeiros. eu não sou assim. eu como esfiha e vomito a noite. eu bebo no maracanã para xingar o flamenguista no metrô. eu pedalo aos domingos até o santos dumont, deito na grama, leio minhas porcarias e volto pra tomar uma cerveja. viu? nada de ordem. nada certo. nada familiar. nada de higiênico. e bom caráter passou longe.

sorte dos bons costumes que eu não sou prefeita dessa cidade.

em junho de 2008, por ocasião de meus vinte poucos anos, numa bela manhã de sábado, ganhei um café da manhã (meio piquenique) lá na grama que fica na beira da pista do santos dumont (colocaria uma foto linda aqui mas sei lá se os envolvidos iam curtir). tinha vinho, nutella e morango. e tinha três bons amigos. eu diria os melhores, mas aí vão me chamar de pretensiosa.

cara, a pista do santos dumont sempre foi um dos meus lugares favoritos no rio. frustração da porra foi chegar lá ontem e vê-la fechada. ódio.

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só porque falei em ordem, um texto que escrevi há um tempo atrás (trechos, na verdade). a história aí tem um contexto próprio que cortei aqui. se quiser ler o original clique (não achei o link, então não clique) e não se incomode com a pouca coesão que verás abaixo:



Manifesto à desordem



meu assunto por enquanto é a desordem 

o que se nega 
à fala 


o que escapa 
ao acurado apuro 
do dizer

a borra 

a sobra 

a escória 

a incúria 

o não-caber 

ou talvez 
pior dizendo 
o que a linguagem 
não disse

por não dizer 
porque 
por mais que diga 

(...) não é da linguagem 
dizer tudo

Trechos do poema Desordem, de Ferreira Gullar




Em tempos sombrios, como os nossos, questionar a ordem estabelecida não é nada aconselhável. À ordem e a seus condutores estão garantidos todo tipo de desmando. A ordem pode enganar, induzir, calar, roubar, oprimir. Mas a ordem não deve ser questionada, a pena de vir cobrar sua réplica com custos altos.

Ainda assim, surpreendentemente e corajosamente, há aqueles que questionam a ordem. Buscam introduzir a desordem, caminham pelos poros, pelos becos, e claro, mostram que há vida para além dela. Isso acontece em todo lugar.

No Brasil encontramos vários destes homens corajosos, constantemente chamados de invasores e baderneiros. Mundo a fora também não é difícil achá-los. Estão nos carros queimados na França e na Grécia, caminham juntos com os estadunidenses que não aprovam a política belicista de seu país e em muitas outras partes do planeta.

Os desordeiros sabem que no mundo da globalização, onde o fluxo de tudo – capital, tecnologia, informação – é muito rápido, as margens são largas e acomodam bastante gente. Os desordeiros se encantam com as possibilidades que a pós-modernidade oferece, como todo mundo, mas não conseguem deixar de enxergar que essas possibilidades não estão colocadas para todos. Onde se vê o luxo, os desordeiros veem exploração. Onde muitos enxergam oportunidades, os desordeiros veem desigualdade. Na telinha que entretém, veem ignorância. Na ordem aparente, os desordeiros enxergam a violência.

Por isso, constantemente, a ordem persegue os desordeiros. Porque eles não admitem a desigualdade, a violência, a exploração e a ignorância.

(...)
Os desordeiros não podem se calar, jamais. Porque a ordem traz consigo o absurdo. Absurdos cotidianos que tomam conta de nossas vidas, que nos imobilizam, enganam e oprimem. O que está colocado é a árdua tarefa de combatê-los. Os desordeiros não podem abrir mão da parte que lhes cabe, inflados pela capacidade que os seres humanos têm de edificar uma sociedade mais justa e livre.

2 comentários:

Mulher Ativa disse...

Quelé, gostei da parte conceitual do texto, quando fala sobre ordem e desordem e tal. Mas me causou certa revolta essa história da comida na praia. Como assim?! Que prefeito cínico! Ele tá preocupado com a higiene de quem consome as tais comidinhas? Basta então decretar que todo ambulante use uma camiseta dizendo: "A Vigilância Sanitária adverte que ao consumir esses produtos há risco de junto com ele ingerir Escherichia Coli, Salmonella e outros microoganismos patogênicos." E cada um que decida por si se come ou não. Igual ao cigarro, sabe como? Assim, todos felizes, principalmente aqueles muitos cidadãos que têm na praia o sustento das suas famílias. Poderiam ainda colar umas advertêcias nos quiosques dizendo: "A Vigilância Sanitária adverte que devido aos subornos, não nos responsabilizamos pelo risco de contaminação por microorganismos patogênicos também existentes aqui."
É minha querida, acho que seu mal humor me contaminou...

Mulher Ativa disse...

Chii... Mandei um "mal humor". Em público. Foi mal...