quarta-feira, 4 de novembro de 2009

bicicletas sem rodinhas

tem esse blog que eu não gosto muito, mas vez por outra eu leio. não é que eu não goste da mulher, minhas ideias não batem com as dela. eu leio porque me foi indicado por uma amiga, em quem confio muito no gosto, e às vezes surge algo que vale a pena - e que debatemos, eu e a amiga, com alguma frequência.

bom, entrei lá hoje e tinha um texto que me deu até vontade de comentar. mas não vou não. preguiça de discutir com quem já parte do pressuposto de que tudo pode ser relativizado - veja bem, uma concepção relativa do conhecimento é diferente de uma relativista.

a tal senhorita em questão - eu não vou linkar porque não quero debate, quero só tratar do assunto aqui e faço referência para dizer de onde vem minha inspiração - fala sobre a não existência de manipulação nos meios de comunicação. um dos argumento, e este é o mais recorrente entre os que defendem a tese, é de que não podemos imaginar na sociedade atual que os donos dos veículos de comunicação são uns homens do mal que ficam em sua sala comendando nossas ações como titereiros ou que manipulam grosseiramente nossa consciência. é comum que os argumentos que não se sustentam na realidade utilizem do exagero, da exarcerbação. desqualifica o debate.

ora, eu também não acho que a família marinho seja um coletivo de titereiros - até porque os titereiros me são mais cativantes. mas veja bem, manipular não é impôr uma consciência, um olhar. manipular - e não precisa ser um muniz sodré da vida, que sabe a origem de todas as palavras da língua portuguesa de cabeça, basta olhar no houaiss - é influenciar, adulterar, tudo para servir a interesses. pode ser também, claro, manusear os fatos, as informações, os dados conseguindo que o outro se comporte de uma dada maneira.

pensemos. o que faz a folha de são paulo quando publica na CAPA uma ficha falsa da dilma? influencia? adultera? consegue que boa parte da opinião brasileira - ainda que por um tempo, atenção; e outra grande parte para sempre - se comporte (pense) como ela planejou? aqui algo relevante para se tomar em conta: a folha publicou CONSCIENTEMENTE uma imagem falsa.

chamem meu pai aqui e perguntem pra ele se ele já não viu a foto da ficha da dilma? ele afirmará com a sinceridade e a certeza que só os homens de um caráter tão bem moldado como ele afirmariam: SIM. meu pai não mente. é bem informado. tem título de doutor. uma escrita primorosa. fala inglês, francês e espanhol.

se isso não é manipulação, eu não sei o que é.

mas aí dirão: ah, seu pai é desinformado. caramba! o cara lê o jornal mais importante do país. o jornal que todo empresário e político desse país tem em suas mão diariamente. chamem meu velho e ensinem como se informar, porque eu não tenho dúvidas que ele pensa que o faz diariamente.

a questão está aqui: a folha tem um alcance e uma credibilidade que apenas as empresas de comunicação do seu nível (em capital e grandeza) podem alcançar. não me venha o blog do nassif dizer que a foto da dilma não é a foto da dilma. quem pauta o debate é a folha. quem diz o que vai se falar amanhã de manhã no balcão do botequim são os frias e os marinho.

há excessões? claro que há. porque a dinâmica social não é um todo monolítico. otávio frias não é titereiro. e meu pai não é bonequinho. há disputa. até porque se não houvesse, meus caros, podíamos entregar os pontos e curtir a bárbarie. a vida não teria o menor sentido se não houvesse disputa. a isso, eu chamo luta de classes. mas há outros nomes por aí. o fato de haver momentos em que nessa disputa triunfe a verdade (palavra proibida: verdade, que verdade?), como no caso da dilma - não EXISTE ficha no dops, isso é fato, é verdade - não quer dizer que não há manipulação. a manipulação é o ato de adulterar, forjar e provocar com isso o comportamento alheio - vejam papai.

engraçado é que a blogueira por mim citada diz que não se pode falar em manipulação, mas sim em influência. interessante jogo de palavras. manipular não pode, é ideológico, do mal, sectário. influenciar sim, não há dúvidas. no mar de contradições ela diz que o que a mídia faz é construir realidade. de acordo. só que eu não tenho dúvida de que a realidade existe, ela está aí. pergunta pros meus camaradas lá da maré se o caveirão é uma representação? chama os 18 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza e pergunta se tem como deixar de sentir fome atribuindo outro sentido à realidade? senta no fasano e pede um prato de 600 reais, quando o cara vier cobrar entrega uma nota de 10 e explica pra ele que o valor que você atribui àquela nota é de 700, porque a verdade não existe.

existem dois caminhos para os meios de comunicação: ou eles retratam a realidade, dão vazão à ela, mostram a vida social, ou eles "criam uma realidade"- como fez a folha com a ficha da dilma - e isso é manipulação, basta ler um dicionário, nem precisa estudar comunicação.

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ando cada dia mais chata com esses assuntos, eu sei. por que falar em pobreza? violência? exploração? hoje, manipulação?

coisa mais sem sentido. por que?

um exercício pode ser olhar pela janela, a não ser que você viva como uma toupeira (debaixo da terra) as razões vão saltar na sua cara.

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faveleiro, queria te responder por aqui, mas esse texto acabou ficando longo e agora minha cabeça já fervilha pensando em comunicação, manipulação e nojo do meio em que estudo.

de todos modos: não me leve tão a sério. não sou do tipo que manda recados, ainda mais por vias assim.

clê, certa de que nem sempre é bem lida

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o título é lembrança de uma amiga querida com quem um dia conversava sobre temas parecidos e ela rindo, entre uma cerveja e outra, me disse:
- você não se sente feliz quando pensa? quando vê as coisas assim mais claras?
respondi que sim. ela:
- é como andar de bicicletas sem rodinhas, não acha?

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