quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

é... pois é...

o meu desejo primeiro e - de tão guardado e adiado - abandonado, era escrever uma exaltação do carnaval como momento de encontro entre diversas galeras, classes, origens, posições e opiniões num mesmo intuito de beijar, pular, cantar e beber até cair...

pensava ainda em dar uma cutucada no nosso ensandecido-filho-da-puta prefeito, abarcando nessa saraivada todas as secretarias que contribuíram para uma cidade caótica e fétida, com a proliferação de engarrafamentos, a incrível falta de organização da cidade e a repetida e já até esperada falta de banheiros públicos...

sem falar no descaso para com o carnaval de rua da Rio Branco, onde os tradicionais Cacique de Ramos, Bafo da Onça, Embaixadores da Folia, Boêmios do Irajá, e o fabuloso Cordão do Bola Preta, mobilizaram e arrastaram milhares de foliões sem um enfeitezinho sequer nos postes e nas calçadas... apenas uma reles arquibancada e palanques de tapumes de madeira...

... pensei ainda em comentar o desfile das superescolas no sambódromo, de como não dá mais pra confiar nessa apuração da Liesa, do bicheiro de honra de Nilópolis em carreata sobre carro dos bombeiros, sobre como é um absurdo e injusto o super investimento da prefeitura da cidade nessa festa em detrimento do abandono e descaso com o carnaval de rua, esse sim, fiel aos ditames momescos, irreverente, profano, sacana e feito por pessoas normais de carne e osso, sem silicone, botox, aminoácidos, lipoaspirações e outras doideiras mais...

mas penso que esses temas acima já foram muito explorados nos textos pós-carnaval, nas famigeradas cartas de leitores e nas manchetes da mídia carioca, que, diga-se de passagem, resolveu descer a madeira em nosso lamentável alcaide... aliás, outro tema que instigou minha verve...

mas não... venho tratar de outro tema... surgido nas cartas de leitores dos jornais, nos botequins, na volta ao trabalho e na boca de amigos... tema que, aliás, compete com os outros acima como dos mais recorrentes e repetidos do período...

ainda não sabe????? nem um chute?????? bom...

o tema em questão é o papo de elevador e portaria mais falado no momento, mais até que considerações climáticas: a eterna ladainha dos workaholics, patrões, empresários de setores que não lucram com a festa e rabugentos em geral, dizendo que agora (até que enfim, proclamam altissonantes) o ano começou...

tudo bem... faz até sentido... mas o que me irrita é a expressão austera, moralista, como quem reprova tal comportamento e já vem com a legenda: é por isso que esse país não vai pra frente...

ê cambada!!!!

reconheço logo de onde vêm tais papos chatos: de aposentados sem assunto que vivem de olho no que poderia ter sido, mas não foi; de pessoas que odeiam ser brasileiras, veneram o trabalho e desconhecem um troço chamado mais-valia; de amigos marxistas que esquecem o que é a mais-valia, embriagados que ficam na compulsão de reclamar e reclamar e reclamar; de amigos marxistas que querem começar a revolução, mas antes precisam que o carnaval de Santa Teresa acabe; dos que não têm vida própria e fazem do trabalho sua própria vida; dentre outros muquiranas e péla-sacos de plantão...

pois é, o ano para essa galera nunca começa porque não acaba...

explico: porque esses digníssimos desgraçados reclamam sem freio o ano inteiro...

do Natal, por ser uma festa fútil e comercial que perdeu seu sentido religioso verdadeiro; do futebol por, junto com o carnaval ser o ópio do povo; dos feriados, porque impedem o nosso desenvolvimento; do calor; do frio; de ver tudo como conseqüência direta do aquecimento global enquanto, muitos, nada fazem para impedi-lo... dentre diversas outras motivações mesquinhas...

e vou parar por aqui porque reclamar me dá uma sede danada!!!!!

Bodão

4 comentários:

Anônimo disse...

mas que porra de frase final hein? (tinha que reclamar né?)você agora é o culpado por eu ter que descer pra tomar uma breja e saciar minha sede...

Clementina disse...

caro bodão,
permita-me discordar, em parte. na verdade, nem discordo, queria apenas ponderar.
não há vida sem o futebol de quarta (uma das razões pelas quais odeio o fim de ano, quarta tem "especial da globo"); sem carnaval ou sem a rotina desregrada durante todo o mês de janeiro.
mas, há um problema aí. enquanto estamos nós no carnaval e no verão carioca, o governo do estado compra fuzis e os ganha da marinha, preparando-se para invadir metade das favelas do rio. o que deve acontecer ali, entre a final do campeonato carioca e o início das olimpíadas. aí nas olimpíadas os parlamentares dobram seus salários; e quando vemos já é eleição e grande parte da população nem sabe o que está fazendo porque já está pensando no ano novo, no carnaval e se tudo correr bem, comemorando ainda as olimpíadas. não que eu ache que eleição sirva de alguma coisa, mas acho que em meio à reclamação dos aposentados, dos marxistas malas e dos infelizes, eu diria que há algo de sensato, ainda que também não sirva de muita coisa. tô nem aí para o trabalho ou para o PIB nacional que só começa a bombar depois do carnaval, mas há que se pensar no que tá rolando em meio à folia, e aos espetáculos criados pela mídia, como o "fim de ano" ou as olimpíadas por exemplo.

Rodrigo Bodão disse...

Clê, vc sabe que eu sei dessas merdas... mas...

esaa porra toda, há tempos, acontece ininterruptamente nesse nosso país...

a desfaçatez é tamanha, e a crueldade tanta, que acho que, no mínimo, o povo merece essa alienação orgástica... pois de perto, no fundo, no fundo, a poesia do carnaval é trágica...

mas... e sem isso... como é que a gente fica??????

fora isso, vivemos numa proto-democracia, que depende de argumentos fortes e adesões em massa... para que algo, mínimo, bem pouco mesmo, mude...

e precisamos combinar nossos valores com a alegria e bom humor para estender o alcance de nossas utopias...

por isso, reclamar, por vezes, é gol contra...

poxa... é tanta coisa que eu podia dizer...

fica então o convite para uma conversa...

bjs

Clementina disse...

alienação orgástica! Adorei. Viva e urra! Me chama pra conversa que eu vou e ainda banco a primeira cerveja. A primeira caixa claro!