terça-feira, 18 de novembro de 2008

sobre telefones, analistas e amores

O e-mail de uma amiga que mora em SP, com quem não consegui me encontrar quando lá estive, me fez pensar em algumas coisas. Dizia ela:

"Acho que você não conseguiu me ligar porque mudei de celular. Nem mandei e-mail avisando às pessoas porque fiquei alguns meses sofrendo de esquizofrenia telefônica (...) eu ando muito relapsa com telefone, desenvolvi um asco tremendo desse aparelhinho por excesso de uso nos últimos meses"

- Problema de telefone fixo é que depois que privatizou e ele deixou de ser um luxo, todo mundo acha que a função dele é permitir que as pessoas batam papo sem sair de casa. Não é

- Lugar de papo é no bar, na praia ou no terapeuta

- Celular: as pessoas acham que porque você tem um, não existe razão para não ser encontrado na hora que elas bem entendem. Ainda inventaram o SMS: te ligam, você não atende, manda um SMS. Pronto! A obrigação aumenta, porque você já está 'informado'

- Tenho amigos que não têm o menor constrangimento em não atender seus respectivos. Eu confesso que não me agrada não ser atendida, por isso, não deixo de atender. Acho que tem que haver bom senso de quem liga

- E tem que ser sem ressentimentos. Não ser atendido, não quer dizer que o amor acabou, o afeto se foi. Quer dizer simplesmente que não dá pra falar agora

- Mas bom senso é coisa para poucos

- Moacyr Luz diz que a melhor cerveja é aquela que se toma antes do meio-dia, porque ainda não deu tempo de receber nenhuma ligação chata. Eu concordo

- Problema é que as ligações chatas vão chegando cada dia mais cedo. A solução tem sido manter o telefone desligado em horário não comercial

_______

Ontem conversava com um amigo que é psicólogo. Ele me falava sobre contra-transferência e outras dessas coisas da psicanálise que só existem pra te fazer surtar. No fim, concluímos que fazer análise é mesmo muito bom - ainda que surtante -, porque conhecer a si próprio ajuda a conviver consigo mesmo (construção estranha). Tudo fica mais saudável.

Daí hoje, li a coluna do J.P. Cuenca no Globo e ele fala de analista também. No fim dela, ele resume o que eu e meu amigo concluímos ontem: “a experiência psicanalítica não serve pra trazer felicidade ao ser humano [como a maioria das pessoas pensa], mas para ajudar um sujeito a ficar mais confortável com a tristeza que carrega”.

Acho que é por aí. As tristezas fazem parte do espetáculo. E, na minha opinião, vão passar, como tudo na vida. Só que quando elas passarem, outras já terão chegado. O grande lance é conviver com todas elas como se fossem os caroços de uma laranja.

___________

Cuenca também escreve sobre o ‘eu te amo’. E cita Roland Barthes, lembrando que segundo ele, 'eu te amor' só tem algum significado na primeira vez que é dito.

Cuenca se referia a ‘Fragmentos de um discurso amoroso’, de Barthes. O que me fez lembrar que é um livro fantástico. Há quem diga que se lido durante uma paixão, é melhor ainda. Li parte dele apaixonada – vaga lembrança -, mas acho que com paixão ou sem paixão, é fabuloso.

Lembrei que Barthes diz que ‘eu-te-amo’ é uma palavra só. E dentre muitas coisas interessantes, tinha uma teoria que o ‘eu-te-amo’ perfeito seria dito simultaneamente, sem eu também, sem troca, sem obrigação de se dizer, sem espera e sem cobrança.

Bom, mas só lembrei mesmo.

“O proferimento simultâneo funda um movimento cujo modelo é socialmente desconhecido, impensável; nosso proferimento, que não é troca, nem dom, nem roubo, surge de fogos cruzados, designa um gasto que não recai em lugar nenhum e do qual todo pensamento de reserva é abolido pela própria comunidade: entramos um pelo outro no materialismo absoluto”.

O materialismo absoluto!

6 comentários:

Faber disse...

Hoje, por exemplo, fui acordado pela minha coordenadora. Oi Faber, bom dia, você já mandou as notas das provas de segunda chamada?´É que o conselho de classe é hoje, sabe?

Faber disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Ola povo!!!
To de volta... Senti saudades desse site!!! Senti mesmo, no duro...
Eu não resisti e comentei a maioria dos textos que perdi!
Queria comentar: ao Bodão, Cara tu tem talento!!! muito mesmo!!! já é covardia tua dedicação (no livro), acredito que Clarice ali seja ela mesma, a Lispector, certo? C-l-a-r-i-"c"-e assim com cê deve ser a musa mesmo! Mas voltando... tu brinca c/ as palavras... não li tudo, mas tudo que li gostei muito...
Capilo, acho que vou acertar meu palpite futebolístico, em? isso se o Parmeira véio não chafurdar na lama, eita porco ordinário!
Clementina, lembrei de ti, Floresta Amazônica, porto Urucu! 6 cariocas da raça e um paulista branquelo(Eu), só podia dar samba... qndo um felizmente solta: - Não vadeia Clementina... e o coro: -fui feita p/ vadear... vou vadear, vou vadear vou vadear, eu voooou!!! Salve Clementina, Salve Clara Nunes!
Meu msn é: musicwlado@hotmail.com todos, me add!

Anônimo disse...

Profunda essa coisa do caroço de laranja. Profunda...

Suzana disse...

obre o telefone (post multi-assuntal...): como eu não atendo, a minha maior felicidade é quando tb não me atendem.
adoro sms's, adoro fobia social.

Anônimo disse...

http://blig.ig.com.br/tapulhodepsique/files/2008/11/scaner-2-003.jpg Este link contém uma foto, presente p/ Clementina, uma inspiração de um artista baiano que assina simplesmente "D. Pires". Conseguiu ele representar o movimento da representação que o carioca faz tão bem de uma baiana. Ficou meio doida a explicação... Pois é alguém disse anteriormente: Uma imagem vale mais que 1000 palavras. Espero que goste!