quarta-feira, 25 de março de 2009

a vida e a Vida

"Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca."
Apocalipse, capítulo 3, versículo 16 - Bíblia









Eu não concebo uma vida ordinária. Corriqueira. Desculpa, mas não concebo. Não aceito e não quero pra mim. Uma vida mediana, dessas que aceita o que vê, engolindo o que não agrada e deglutindo o que na dimensão da mente é inaceitável. Meu mundo não é das idéias. Eu não suporto. Eu não suporto a aparente sensatez, a segurança, o ‘pode ser’, o razoável. Chamem do que quiser: radical, anacrônico, limitado. Pouco me importa. Prefiro ser assim do que optar por passar pela vida média, incólume, impune. Eu quero ser punida, condenada e apontada na rua. Eu quero ser presa por derrubar o muro, mas jamais manter-me em pé sobre ele. Eu quero ser hipócrita, mentirosa e contraditória. Como são belos os contraditórios – porque são críticos, antes de tudo. Os mentirosos são os mais sinceros que conheço, assim como os hipócritas. Porque reconhecem e aceitam que nessa ordem vil e ordinária que vivemos, não há como passar pela vida sem a hipocrisia e a mentira. Elas têm sua função social. Como viver num mundo que oprime, discrimina e explora sem a hipocrisia? Como sobreviver à vergonha, ao desmando e ao preconceito? A mentira e a hipocrisia são instrumentos da justiça. Eu as exalto e admiro. Mas não admito o estável, o inerte. Não admito porque eles nos fazem menos humanos. Porque é impossível que o humano admita certos absurdos. Eu sei que não admite. Mas engole. Engole pra sobreviver. Pra aproveitar do ordinário. Como um cão que come migalhas, gemendo pelos cantos. Eu não quero migalhas. Eu não sou cão. Eu sou homem. Eu faço meu pão. Eu como o que eu quiser. Mentira! Eu como o que dá pra comer, mas nunca só o que me é dado. Porque eu não admito que seja só isso.

Um comentário:

Anônimo disse...

É muito melhor quando você não escreve sobre política.

Só é interessante saber que você come o que dá pra comer.