terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Hoje, somos todos palestinos*

"Sou palestino. Palestino não tem olho? Não tem mãos, órgãos, altura, peso, sentidos, afeições, afetos, paixões? Não come a mesma comida, não morre pelas mesmas armas, não padece as mesmas doenças, não se cura pela mesma cura, não se aquece no mesmo verão e não congela no mesmo inverno, como o judeu? Se nos furam, não sangramos? Se nos fazem cócegas, não rimos? Se nos envenenam, não morremos? Se nos fazem mal, não nos podemos defender? Se somos iguais em tudo, não reclamem de sermos iguais também nisso… A vilania que nos ensinaram, nós a aprendemos; seremos vis; menos vis que vocês, sim, porque viemos depois. Aprendemos com vocês, mas a vilania purga-se, no tempo. Mais do que isso, não posso prometer."

Adaptação de trecho do “Mercador de Veneza” de Shakespeare, por Tariq Ali


- Há uma resolução da ONU que determina a existência de um Estado da Palestina e um de Israel;

- Os EUA vetaram essa resolução no Conselho de Segurança;

- Israel optou por levar adiante uma guerra que já dura 40 anos;

- A mídia ocidental diz que a guerra está fincada no fundamentalismo religioso. Essa mentira legitima o assassinato de muçulmanos, o preconceito e mais mentiras sobre os povos do Oriente Médio e sua religião;

- Alguns estudiosos andam afirmando que pensar dois Estados separados é inviável. Afirmam que só haverá paz quando for criado um Estado onde os dois povos convivam em paz. Leia um deles aqui, o escritor Tari Ali;

- Eu não sei qual é a solução. Eu só sei que enquanto existirem explorados e oprimidos a paz não existirá;

- E é isso que Israel busca ao perseguir o Hamas, movimento democraticamente eleito pelo povo Palestino: opressão;

- Como bem disse o professor Gilson Caroni: “desde o massacre no Sul do Líbano, em 82, passando pelo sufocamento de duas intifadas, não é o terrorismo de fanáticos que Israel persegue. Na região conflagrada, o movimento palestino era o mais progressista projeto de resistência, o mais prenhe de valores da modernidade. O mais rico em termos culturais. As pedras dos jovens árabes defenderam da insanidade uma herança cara ao Ocidente”;

- Nunca é demais lembrar que a Faixa de Gaza mede 46 km de comprimento e 10 km de largura, lá vivem mais de 1 milhão de habitantes. Não é um estado, mas está submetido aos mandos e ao bloqueio de Israel. Para sair da área, os moradores de Gaza precisam obter uma permissão dos israelenses;

- Esse é o povo (de forma bem resumida), que sem Estado e sem liberdade, submetido há 40 anos ao poder de fogo do mais poderoso exército de ocupação do mundo, reclama por sua independência, liberdade e vida, atirando foguetes de quintal;

- A resposta vem em mísseis que matam 500 pessoas em uma hora;

- O G-8, a ONU, Obama e todo o Ocidente assistem em silêncio a esse massacre. Não por falta de sensibilidade ou maldade, e sim por interesses que transcendem os sentimentos individuais dos seres humanos;

- Afinal de contas, há muito deixamos de viver motivados por sentimentos. O que nos move, o que nos dá vida e o que rege estas vidas, é ele: o capital.

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Tem uma galera com um blog direto de Gaza, o Moments of Gaza. Vale a pena ler, já que Israel proibiu a entrada de jornalistas na região: http://gaza08.blogspot.com/



* A expressão do título é do sociólogo Emir Sader

** Muitas das informações aqui presentes foram tiradas da excelente cobertura da
Agência Carta Maior sobre o tema

2 comentários:

Anônimo disse...

Legal este texto. Se o presidente francês lesse isso ele diria que o povo palestino não teria o mesmo direito. Porque, como ele disse ontem, o Hamas ao lançar foguetes artesanais, sem alcance preciso e de pouca destruição comete atos imperdoáveis; mas os israelenses que invadem, lançam bombas, matam, destroem, tudo com muita precisão e alcance, apenas o deixa preocupado com suas ações.

Se não fosse trágico, isso deveria ser uma boa piada para gargalharmos.

Anônimo disse...

vou fazer contato tb e ver de que forma posso ajudar. voltarei mais vezes ao blog.