terça-feira, 23 de outubro de 2007

INDIGNADA!

No mundo de hoje, eu diria que o que não falta é motivo pra indignação. Aqui, pertinho de você, irá sempre brotar uma indignação.

Ontem e hoje me surgiram duas. Profundas. Doloridas. Daquelas que faz dilatar a veia do pescoço, num misto de raiva e inquietação.

Da série "uma indignação pra chamar de sua":

1. Proibiram a venda de cerveja no Maracanã. Ou melhor, para aqueles que pagam para ir ao Maracanã. Pois, no camarote, o reduto dos globais e boçais, a cerveja é liberada e possivelmente, de graça. Exatamente, caro leitor. Povão não pode beber, senão faz confusão. As celebridades podem, afinal, são finas e educadas, bebem com moderação.

Eu não sabia disso, mas me contaram ontem - Bodão, inclusive ficou sedento para escrever sobre isso, já que ele não fez, externo minha indignação de forma mais grosseira. Depois de acabarem com a geral, de fecharem o anel superior do estádio para o curral vip, agora limaram a venda da loira gelada, do maravilhoso suco de cevada, do lúpulo que alimentava Noel Rosa, no Maraca. E vamo combinar, futebol sem cerveja, até os boçais do curralzinho, sabem que não dá. O cara que me contou, definiu de forma clara: "é o processo de elitização do Maracanã".

2. O Secretário de (In)Segurança Pública, disse hoje na segunda edição do RJTV que a polícia anda preocupada com a migração de traficantes pra Zona Sul da cidade, afinal "um tiro em Copacabana é uma coisa, um tiro na Coréia, no Alemão, é outra". Como diria um amigo meu, esparrou! O secretário deixou bem clara qual a lógica de atuação da polícia: na periferia entra matando, na Zona Sul, há que se ter cuidado. Não que eu não soubesse, mas assim, escancarado, é indignante. Depois, tentando consertar, o babaca disse que é porque em lugares como Copacabana, a polícia está mais perto da população. Não sei, então, o que significam os 100mil moradores do Complexo do Alemão para o secretário. Ou melhor, sei. Como bem disse a professora Adriana Facina, em ótimo artigo - leia aqui - sobre a operação na Coréia, são seres humanos supérfluos.


Maraca sem cerveja e o Estado assumindo que as ações da polícia são definidas pela origem social e pelas condições econômicas. Indignação pra dar e vender.

Dizia Ernesto Che Guevara: "Se você treme de indignação perante uma injustiça no mundo, então somos companheiros".

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