quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Hay que endurecerse sin perder la ternura

Não sou saudosista. "Meu tempo é hoje", como diria Paulinho da Viola. Por isso não gosto da idéia de cultuar pessoas e práticas passadas. Acho que petrifica significados e descontextualiza os fatos. Mas, acho que a história deve servir pra ensinar, pra provocar reflexão e pra inspirar.

Che Guevara tem uma bela biografia. Foi um grande homem, em todos os sentidos. Por isso, acho que deve servir de inspiração e para reflexão. De tudo que li sobre ele nos últimos dias - resultado da polêmica levanta por "VEJA, mas não leia" - segue o que achei menos saudosista e mais interessante. Com a palavra, Emir Sader:


CHE

Há personagens com uma tal estatura histórica que, independente dos adjetivos e de todos os advérbios, ainda assim não conseguimos retratá-los em nada que possamos dizer ou escrever. O que falar de Marx, que permaneça à sua altura? O que escrever sobre Fidel?

Hegel dizia que existem personagens cuja biografia não ultrapassa o plano da vida privada, enquanto outros são os personagens cósmicos, estes cujas biografias coincidem com o olho do furacão da história.

O Che é um destes personagens cósmicos. Basta dizer que, independente de qualquer campanha publicitária, sua imagem transformou-se na mais vista do século XX e assim continua neste novo século. Nenhum esportista, artista ou músico, mesmo com bilionárias promoções pelo mundo globalizado afora, se mantém num lugar parecido. O Che veio para ficar.

Novas gerações, nascidas depois da morte do Che, continuam identificando-se com sua imagem, com seu sentimento de rebeldia, com sua coragem, com sua luta implacável contra toda injustiça.

Não vou gastar palavras inúteis para falar do Che. Basta reproduzir algumas das suas frases, que selecionei para o livro “Sem perder a ternura”.

“A única coisa em que acredito é que precisamos ter capacidade de destruir as opiniões contrárias, baseados em argumentos ou, senão, deixar que as opiniões se expressem. Opinião que precisamos destruir na porrada é opinião que leva vantagem sobre nós. Não é possível destruir as opiniões na porrada e é isso precisamente que mata todo o desenvolvimento da inteligência...”

“Nós, que, pelo império das circunstâncias, dirigimos a revolução, não somos donos da verdade, menos ainda de toda a sapiência do mundo. Temos que aprender todos os dias. O dia que deixarmos de aprender, que acreditarmos saber tudo, ou que tivermos perdido nossa capacidade de contato ou de intercâmbio com o povo e com a juventude, será o dia em que teremos deixado de ser revolucionários e, então, o melhor que vocês poderiam fazer seria jogar-nos fora...”

“Deixa-me dizer, com o risco de parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é feito de grandes sentimentos de amor.”

“Nosso sacrifício é consciente. É a cota que temos de pagar pela liberdade que construímos.”

“Muitos dirão que sou aventureiro, e sou mesmo, só que de um tipo diferente, destes que entregam a própria pele para demonstrar suas verdades.”

“Sobretudo, sejam capazes de sentir, no mais profundo de vocês, qualquer injustiça contra qualquer ser humano, em qualquer parte do mundo.” (Carta de despedida aos filhos)

“É preciso endurecer, sem perder a ternura, jamais.”

“Que importam os perigos ou os sacrifícios de um homem ou de um povo, quando está em jogo o destino da humanidade.”

“É um dos momentos em que é preciso tomar grandes decisões: este tipo de luta nos dá a oportunidade de nos convertermos em revolucionários, o escalão mais alto da espécie humana, mas também nos permite graduar como homens.”

“Nós, socialistas, somos mais livres porque somos mais completos; somos mais completos porque somos mais livres.”

2 comentários:

Rodrigo Bodão disse...

querida clementina... belo achado...

tinha prometido em emails bêbados falar sobre a palhaçada publicada nesta revista infeliz, nossa eterna e leviana opositora... acontecimentos dignos deste em questão me atingiram e deram sede... calei... e agora vejo, a partir desta postagem, que meu silêncio foi oportuno.

quer saber, gostei da agressividade e da trivialidade exposta pelo lamentável periódico, por dois motivos:

1- sua virulência guerreira apresentada demonstra o tipo de furor que nos falta... ou alguém supunha que o combate travado era com tiros de festim e rosas vermelhas...

2- lutando contra psicopatas da cia, armados com a ideologia tosca do cumprimento acrítico de ordens e o maniqueísmo cinematográfico de batalhão, quem pensaria em perfume ou boa aparência, ícones da superficialidade estúpida contemporânea (dos que se intitulam e limitam pragmático)

Bom, em mim surgiram reações adversas...

agora o mito fez sentido,

para além das tatuagens, adesivos, estampas e vendas que capitalizam, escrotizam e diminuem sua mística questionadora...

para além da mercantilização da rebeldia...

para além dos heróis e mártires que adornam nossa paralisia acéfala, nossa implicação fingida...

urge compreender que todos estamos sujos de sangue, lama e chorume

até o pescoço...

irremediavelmente...

Clementina disse...

Bodão sempre faz dos comentários um novo post...hehehe!! Tens toda razão!