Domingo...dia de feira, de dormir até mais tarde, de ler o jornal inteiro sem pressa e, hoje, dia ainda de visitar minha progenitora e de gozar dos prazeres de filho, não lavar a louça, comer rosbife, ouvir histórias, encontrar outros familiares, ver TV a cabo, etc...mas também dia de desprazeres solenes, compartilhando hábitos que por mais que eu tente esta digníssima senhora que me gerou ainda não conseguiu abandonar...
Minha mãe assina a Veja...sempre que eu chego, ensaio um discurso acerca do lixo representado por esse fatídico veículo da mídia podre nacional, que uma revista que publica um Diogo Mainardi não pode ser algo que preste, que ela deve parar de dar dinheiro e prestígio pra esse tipo de gente, e tal, mas acabo por folhear e ler, não sem um esgar irritado, seus absurdos e suas opiniões desprezíveis...
Bom...
No exemplar que tenho agora em mãos, no canto superior da capa, está estampada a manchete: “Um livro mostra que a elite é o lado bom do Brasil”. Na verdade, esta revista é até velha, e já na semana passada eu tomara contato com essa frase, não lhe dando maior atenção do que um 'puta merda, os caras se superam’ e jogá-la de volta para a mesa de centro da sala. Mas depois que o Veríssimo escreveu mais uma de suas belíssimas crônicas sobre o assunto, me animei a enfrentar a fera.
Pouparei os possíveis leitores desse blog de uma descrição pormenorizada da matéria, para variar, desenvolvida num tom extremamente preconceituoso e, no caso, assumida e festivamente elitista. O tal livro fora baseado numa pesquisa intitulada “Pesquisa Social Brasileira”, desenvolvida por um sociólogo chamado Alberto Carlos Almeida, junto ao DataUff, instituto da Universidade Federal Fluminense e financiada pela Fundação Ford. A tal pesquisa procurou mapear o sistema de valores e as posições da população brasileira quando confrontada com situações de conflito ético, tais como “é certo recorrer ao jeitinho para resolver problemas como o de se livrar de uma multa”, “se os moradores permitirem, os empregados devem usar o elevador social” ou “a polícia está certa em bater nos presos para que eles confessem seus crimes”. Dada a questão, perguntava-se ao entrevistado se este concordava ou discordava da afirmação. Sim ou não, certo ou errado.
Bem, não pretendo criticar (e muito menos ler) academicamente essa pesquisa. Antes, pretendo comentar o posicionamento da revista e a matéria do seu jornalistazinho de merda.
Num breve teste elaborado pelo pesquisador, foram descritas diversas situações onde os leitores dessa horrenda revista eram convidados a responder certo ou errado, segundo seu juízo pessoal. Somava-se, ao final, o número de concordâncias e discordâncias, sendo posteriormente apresentados os resultados.
Ao que parece, baseado nos resultados da pesquisa, sua posição junto à elite do pensamento dependia do número de discordâncias apresentado, quanto maior, mais próprio de mentes brilhantes e de maior nível de escolaridade, com características tais como a crença de que o estado deve ser mínimo...
Como um perfeito Narciso, o texto em questão faz um elogio pomposo, sem dúvida, aos leitores dessa revista, enaltecendo suas posições e demonstrando o quanto estão corretos em seus julgamentos éticos e procedimentos cotidianos.
Bem, falar é fácil... mas do mesmo modo acredito que, por exemplo, os pais dos garotos da elite carioca da Barra da Tijuca que espancaram a empregada doméstica Sirley afirmando que pensaram se tratar de uma prostituta, responderiam esse questionário afirmando que o jeitinho brasileiro é uma praga nacional, mas quando de hipotética a situação passa a ser real, tudo muda de figura...lembram...
Dá para entender, a partir do que é exposto, porque parcela da opinião pública defende ações assassinas nas favelas e espaços populares...
O que não dá para entender é a posição ética deste pesquisador que, indubitavelmente, a título de promoção de seu trabalho, colabora por acirrar esse verdadeiro apartheid social em que vivemos, montando um pseudoteste ridículo para a revista...
Espera-se dos que tem curso superior, ao menos, que percebam os limites e alcances de uma pesquisa quantitativa deste tipo...e que não dá para comprar essa conclusão infundada veiculada por essa nefasta revista...
(leitores, por favor, não comprem o livro e muito menos a revista...esperem que ela apareça na sala de espera do seu dentista...ou no Fantástico)
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