sábado, 29 de setembro de 2007

Democracia e Democracias

"Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão"
Chico Buarque - Apesar de Você


Escrevo motivada por um texto do professor Gilson Caroni Filho - A necessidade de uma nova imprensa - publicado na Carta Maior. Vejamos um trecho:

“Cabe ao campo democrático-popular não alimentar ilusões. Se os meios de comunicação são fatores centrais e constitutivos de uma nova esfera pública em formação, não se deve esperar conversões éticas de uma imprensa cuja estruturação está umbilicalmente ligada ao destino de conhecidas oligarquias. (...). Com a experiência acumulada em veículos como Carta Maior, Caros Amigos e Brasil de Fato, entre tantos outros, talvez tenha chegado a hora de investir em um grande jornal de esquerda. (...) Essa é a questão central da democracia brasileira. Precisamos inventar a imprensa democrática”.

O texto me instiga por duas razões: primeiro porque desvincula a reestruturação da mídia do mito de que ela pode ser “reformada de dentro” e segundo porque fala em democracia.Algumas reflexões a partir disso:

1. Cansei! Cansei dos que defendem que é possível mudar a imprensa com bons profissionais lá dentro. As pequenas concessões feitas pela grande mídia são falsas, esvaziam o conteúdo histórico daquilo que reproduzem, descontextualizam atores sociais. Pensemos em quando, por exemplo, retratam a favela e seus “aspectos bons”, para poder escapar da crítica de que a favela é sempre estigmatizada. Saem os estigmas de cena, para entrar idéias vazias, espetaculares e fantasiosas. Lembro de uma amiga que assim definia o “Central da Periferia” da Regina Casé: “Parece que favelado é um bando de chimpanzé adestrado fazendo graça no Fantástico. Um bando de pobre conformado que se vira como pode”.

2. Outra imprensa, outra mídia é algo urgente sim. Não tenho dúvida. Mas, não acreditemos que apenas novos canais irão resolver o problema da comunicação. Não vão, minha gente. Não vão, porque mais do que o monopólio dos meios, a classe dominante possui o monopólio da verdade. E isso, não se rompe com novos canais. Isso se rompe com consciência crítica, com idéias, com uma nova visão de mundo, que também não brotarão de novos canais, o que não tira destes a possibilidade de atuarem na formação daquelas. No entanto, essa responsabilidade não é só dos meios de comunicação.

3. Por último, acho que entender a libertação do monopólio comunicativo dissociado da transformação social, como se fosse um processo sem conflitos e linear, é uma armadilha do nosso tempo. Não se trata de “democratizar a comunicação”, porque democracia não é um princípio ontológico, que vai se projetar da sociedade civil em direção à sociedade econômica. Democracia é um sistema político, é mais do que sufrágio universal, é mais do que uma comunicação não monopolista. Por outro lado, estou de acordo com Gilson, à medida que estou segura de que para vivermos em uma democracia efetiva romper com a estrutura comunicacional vigente é fundamental. Mas, não acreditemos que é suficiente. E será muito pouco, se não for associado a uma ação política transformadora.

PS: Nunca é demais lembrar: dia 05 de outubro vencem várias concessões públicas de grandes grupos, como Globo e Band. Manifestações estão sendo articuladas por todo país. Informações em: fazendomedia.com e direitoacomunicacao.org.br

PS2: O Presidente Lula, em mais um capítulo de sua relação oligofrênica com a grande mídia, nomeou Tereza Cruvinel, da Globo, para presidir a TV Pública. Lá se vão 5 anos de uma bela história: eles batem, ele recua. Eles batem mais, ele faz um agradinho.

PS3: Melhor do que a Tereza Cruvinel, só o capítulo em que ele na inauguração da Record News falou da sua certeza em relação ao compromisso do Bispo Macedo e da nova emissora, com a "DEMOcratização da comunicação". Ê parreia! Vai de reto!

2 comentários:

Anônimo disse...

arrasou, Clementina! me emocionei e lembrei do dia em que concordamos em algo.

TE CUIDA, TE CUIDA, TE CUIDA REDE GLOBO! A TUA CONCESSÃO VAI PARAR NA MÃO DO POVO!!

não que isso seja a solução..mas é só pra empolgar! hehehe

Rodrigo Bodão disse...

engraçado, e eu bem que havia notado um tom mais cordial da tereza cruvinel com relação ao pt e ao governo lula em suas crônicas quando do caso renan calheiros... bom, agora tá explicado...

gosto da idéia de um grande jornal de esquerda... só fico pensando se ele será centrado em sp ou, enfim, como será...