sábado, 24 de novembro de 2007

Manifesto Hip Hop

O manifesto a seguir, assinado por: Coletivo de Hip Hop Lutarmada, Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência, FLP, MST, MNLM e Marcha Mundial das Mulheres. Será panfletado em diversas atividades do festival Hutuz, que está acontecendo no Rio:
22/11 - Canecão e Fundição Progresso (encontro na Fundição às 19h)
24/11 - às 22h no Circo Voador (neste dia haverá show de MV Bill)
25/11 - às 22h no Circo Voador (neste dia haverá show da Facção Central)
Ainda no dia 25/11 haverá o "Hip Hop Santa Marta" a partir das 14h, na
favela em Botafogo, e panfletagem do manifesto. Tentaremos ainda garantir panfletos para o Batendo de Frente nos dias 1 (grafitagem na Av. Presidente Vargas, altura do sambódromo, a partir das 13h) e 2/12 (Av. Paris, 649 - Bonsucesso, passarela 7 da Av. Brasil).
O Lutarmada pede o engajamento militante nas panfletagens.

Falcões ou tubarões :
Quem são os meninos do tráfico?

Você deve saber que a coca e a maconha são plantadas bem longe das favelas.
Depois elas passam por um processo químico em laboratórios que não ficam
dentro de nenhuma favela. Depois desse refino, a coca, já transformada em pó de cocaína, atravessa as fronteiras e entra no país, para, a partir daí, da
mesma forma que a maconha, serem transportadas por rodovias federais e
estaduais, ou pelo mar. Só depois de todas essas etapas é que a droga é
embalada e vendida no varejo nas favelas.
Se em todo o processo, da produção ao consumo, a menor parte fica com a
favela, por que será que combate ao tráfico na nossa sociedade é sinônimo de operações policiais em favelas?
Por dois motivos:
1) enquanto a sociedade acreditar que prendendo ou matando um favelado está se tirando de circulação um traficante, alguns senadores, deputados, prefeitos, secretários estaduais e municipais, ministros e empresários, que são os verdadeiros responsáveis pelo tráfico e beneficiários do grosso do rendimento desse comércio ilícito, continuarão livres e intocáveis em seus cargos e mansões.
2) atribuir à favela a responsabilidade pelo narcotráfico, serve para justificar a violência com a qual o Estado, através da sua policia, age nessas comunidades.
Por isso, o discurso de que traficante é favelado, tem que ser combatido,
principalmente por quem é morador e moradora de lá.
Mas, ao contrário disso. MV Bill e Celso Athaide produziram um filme que muito bem serviu para legitimar esse discurso perverso. Com o título "Falcão. Meninos do tráfico" o documentário esconde o perfil dos verdadeiros traficantes, que vivem em luxuosas mansões e coberturas, e expõem aqueles que estão na ponta do processo vendendo a droga e portando as armas que, também não são fabricadas nas favelas.
Quando o governador fascista do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, diz que mulheres faveladas são fábricas de marginais, entendemos que essa mensagem veio preparar o terreno para a ampliação do foco da sua política de extermínio, que até agora, mínima e relativamente, preservou essa parcela da população, que são as mulheres moradoras de comunidades pobres.
Foi quando a declaração do governador estava no auge da sua repercussão, que a imprensa começou a divulgar o novo documentário da dupla Celso/Bill. Pelo nome do novo projeto, "Falcão. Mulheres e o tráfico" pode-se esperar algo parecido com o documentário que o antecedeu.
O filme, combinado com a declaração do governador, prometem ser um ótimo argumento para legitimar a política de extermínio contra a mulher favelada, anunciada nas entrelinhas das ações e declarações de Sergio Cabral.
Entendemos que um documentário que se proponha a fazer revelações sobre o submundo do narcotráfico, deva sair das favelas e passar pelos gabinetes do legislativo, executivo e judiciário, pelas mansões e coberturas da Barra, Alfaville, e outros bairros nobres do país.
Entendemos que fábrica de marginais são as políticas de educação, habitação, saúde, trabalho, infra-estrutura, segurança, etc. do Estado - que no filme "Falcão" é isentado pelo MV Bill, de qualquer responsabilidade sobre a violência.
Essa é apenas uma peça de um enorme quebra-cabeça, que é esse processo já bem avançado de criminalização da pobreza - organizada, ou não - no campo e na cidade. Precisamos estar unidos e organizados. Só assim poderemos enfrentar essa ofensiva da classe dominante que, infelizmente, tem muitos de nós entre seus aliados.

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