segunda-feira, 12 de novembro de 2007

IV (Temporal)

tudo o que de mim encontro acesso
vejo vir e vivo pelo avesso
com a contradição dos tantos versos
fecundando verbos e adereços

na pressão tão turva e incontida
desse ser que em mim somente some
quero ritmar numa batida
tudo o que me cria e me consome

eu bem sei não ser tão execrável
e quando posto em praça pública não me espanto
porquanto ouço o canto comovido e instauro
o surto onde me embalo e onde me encanto

não posso me dizer nem tão sortudo
e nem mesmo sou assim tão azarado
confundo tudo e dublo o absurdo
com a voz altissonante do meu brado

se a imagem cujo eu me vem do espelho
intenta persuadir-me pela entrega
eu jogo-a de volta pronde veio
e vivo a afirmação que em si me nega

e nessa revoada de delírios
contemplo isso que dentro em mim desperta
os versos desvairados onde insiro
os nomes da paixão que me liberta

sem mais então eu forjo a completude
para perdê-la sempre um passo a frente
trazendo seus efeitos e atitude
na luz da inspiração intermitente

ao longe alguém sempre me aplaude
e me solta mesmo quando alguém me prende
acorda o turbilhão de liberdade
neste homem que até a morte não aprende

persistindo na empreitada desmedida
tão cheia de tolice engano e afronta
está o preço que esta louca vida
cobra de mim por cada estrofe pronta

Rodrigo Bodão

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