terça-feira, 14 de abril de 2009

mentiras sinceras cotidianas

o que eu falo nunca é o que falo e sim outra coisa.
clarisse lispector



hoje a poliícia matou um garoto de 17 anos na Baixa do Sapateiro, no conjunto de favelas da Maré. possivelmente esse menino não foi o único assassinado por um policial na região metropolitana do rio no dia de hoje. mas é a história que eu conheço. e só conheço porque eu estava lá na maré. o nome dele é Felipe dos Santos Correia de Lima. ele estava perto de sua casa, em pé, conversando com amigos na rua e foi atingido por uma bala na cabeça. os que estavam no local afirmaram que a polícia entrou atirando - como de praxe. também, como de costume, o corpo do garoto foi levado por um carro da polícia, sem perícia e à revelia da família.

esses costumes, por vezes, causam certo incômodo, digamos, aos moradores de favelas como felipe e seus familiares. então, esse bando de desocupados que não precisam trabalhar pra comer, porque a nossa democracia garante a todos o direito de morrer de uma hora pra outra, partiram pra linha vermelha no intuito de chamar a atenção e reclamar pela morte de felipe e a retirada do corpo do local. o acontecido resultou em uma nota no site do globo. leia aqui e tire suas conclusões. eu só queria ressaltar dois pequeninos detalhes:

1. a frase "durante troca de tiro com policiais". o bom jornalismo do segundo maior jornal do país ignora que para haver troca é preciso que estejam dois sujeitos interagindo. um, nós notamos que é a polícia. o outro, ora, é um dado irrelevante.

2. a polícia "alega" um monte de coisas sobre o garoto morto. alegar é de uma precisão canalha e criminosa quando se trata da perda da vida de alguém. reproduzir o "alegado" de forma imprecisa - sem nomes, depoimentos e contrapontos - e irresponsável - sem pensar na dor da família - devia ser crime.

o resto, cada um entenda como quiser. as verdades estão aí pra encobrir a realidade.

não é o primeiro caso. não vai ser o último - ainda. mas ainda bem que a resignação não faz parte dos meus sentimentos. não, raro leitor, essa não é mais uma história... é a história do felipe, um muleque que morava na Baixa e trabalhava numa loja de consertos de eletrodomésticos.

ps: a frase da clarisse fica de sugestão para slogan de jornal.


Um comentário:

Vitor Castro disse...

mais um "auto de resistência"