domingo, 23 de agosto de 2009

há muito que bom humor, paciência e mínimo de educação vieram, mas encontraram a porta fechada. ontem de manhã briguei com a minha sombra. a noite chutei a própria canela e hoje se alguém vacilar perde os dedos.



a criatura chega ao ponto de ônibus com fones no ouvido. abre parênteses. uma coisa que eu não entendo é porque nêgo conversa com quem está de fones. vontade de andar com uma placa na mão: estando com fones, não fale comigo nem em caso de incêndio.

quem falou? turista, claro. ela gringa, ele sei lá de onde. parecia gaúcho, não sei se pela cara de pouco sagaz ou se pelo sotaque. laranjeiras? pega o 583.

entramos todos no ônibus, no 583. e os fones lá, a toda altura. puxa papo de novo. o carinha com cara de pouco sagaz. rua ipiranga? fala com o cobrador pra te dar um toque depois da entrada do túnel na rua das laranjeiras. aí o cara não satisfeito, me solta:

- e me diz uma coisa - assim falando baixinho, forçando simpatia e intimidade -, lá é perigoso?
- um pouco.
- já é zona norte?
- [vontade de mandar ir pra putaqueopariu] é. é do lado da tijuca.
- ai ninguém me avisou.

e acabou o assunto e sentou cada um do seu lado. não sei o que rolou, mas quando chegou em copacabana ele e ela desceram do ônibus assim do nada. aí antes de descer ele me olha e pergunta:

- passa outro né?

eu ri.

depois tinha essa festa de despedida. eu juro que é alguém que não me fará a menor falta. ok, gente boa e coisa e tal. aquele abraço, boa viagem e me tira da lista dos e-mails coletivos. mas o sujeito te convida, te pede pra levar o ipod pra você tocar umas músicas, "porque sua seleção de sambas é muito boa". aí bate um arrependimento profundo e fico me perguntando: onde eu tava com a cabeça quando fiquei colocando música em festa do sujeito? deu vontade de responder: então, esquece, porque naquele tempo eu tinha paciência e achava o seu amiguinho paulista bonitinho. e contra todos os anjos que me cercam, lá fui eu, ipod e má vontade.

festinha vai, festinha vem, algum desgraçado propõe uma batalha de ipods. eu explico que não faço a menor questão de tocar. não sou dj. nem tenho ritmo. assume aí amigão, porque já são meia-noite e tá na hora do meu leitinho. nêgo insiste e eu caio. e os anjos que me rodeiam, de tanto avisar e eu fazer o contrário, desistem de mim de uma vez.

como era de se esperar, a seleção do djzinho de merda era ótima. pensei: maravilha, o cara assume e eu vou pro bar da tamoios beber minha cerveja do sono e vou pra casa. no que o cara cede a vez pra mim. do pouco que me restava de opção no meu humilde ipod, mando uma listinha que se abria com um funk. o suficiente para que as massas se levantassem contra mim, com seus baseados em punho e copos de plásticos, dispostos a fumar meu ipod.

em casa de revolucionários de havaianas e vanguardistas que vivem de mesada, não se toca funk. o sujeito que estava sendo despedido, olhava pro chão quando me disse "você já foi melhor".

olha, eu podia escrever horas aqui sobre o tanto de estupidez que escutei. mas correria o risco do post ficar engraçado e não é essa a intenção.

tirei o ipod ao melhor estilo fiquei puta e não tenho esportiva. não que eu tivesse puta, mas seria mais fácil sair assim. nem entrei no debate, como seria de costume. "então, tou indo nessa". fica chateada não. magina, era a deixa que eu precisava. era tão cedo, que deu pra tomar a cerveja no boteco da esquina e comentar sobre a rodada do futebol.

saco cheio e tolerância abaixo de zero. nem vem que não tem - era a música seguinte. otários, perderam uma boa seleção.

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