sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Anteontem participei de um programa de televisão representando o Observatório de Favelas, onde trabalho. Fui pego de surpresa, estava no ônibus a caminho da Maré quando fui avisado que deveria participar desse programa.

Depois de me perder na Fiocruz e chegar em cima da hora todo suado, descobri que o programa se desenvolvia como um bate papo informal, a partir de provocações do apresentador.

Como sempre a coisa toda ocorre em três momentos distintos:
1 - stress pré-set de filmagens; esse momento é quando procuro antecipar todas as gafes possíveis e elaborar a minha fala grifando mentalmente o que não posso esquecer de falar e como. Esse momento, confesso, já está mais tranquilo para mim. Primeiro porque já não é a primeira vez que participo de um programa de TV ou de falar em público em geral. Em segundo lugar, confesso, lembro de Amana que me dizia com uma tranquilidade sincera que tudo daria certo, que eu sei falar bem em público e sempre mando bem nesses momentos, apesar do nervosismo antes da realização dos eventos.

2 - o programa propriamente dito que se divide entre o momento em que o apresentador combina em off o que irá perguntar; quando o programa começa e ele faz uma outra pergunta qualquer que só na cabeça dele tem alguma coisa a ver com a pergunta combinada em off; e os momentos em que o apresentador traduz o que eu falo da maneira que ele entendeu e eu obviamente discordo ou faço pequenas correções ao vivo e/ou ainda respondo com com um "mais ou menos" que o deixa meio constrangido mas ele disfarça, e por aí vai...

aliás é muito engraçada a forma como alguns apresentadores fazem perguntas longuíssimas, verborrágicas e sem sentido... aí fica aquele silêncio, ele com a expressão de "e então?"e eu com a expressão gritante de "puta que o pariu, o que que você quis dizer filho (a) da puta??"... Mas sempre acaba dando certo mesmo... O negócio é sair falando e responder o que você quiser e foda-se a pergunta...

3 - stress obsessivo pós-evento; o momento mais difícil. É quando eu fico reconstituindo mentalmente as respostas, investigando minhas falas para saber se eu fui bem, se não falei besteira, se não fui contra algum posicionamento institucional, etc.

E como sofro de ideias fixas, esse é o momento em que ainda me encontro e que motivou esse texto e motivará nalgum momento quase todas minhas conversas dos próximos dias...

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Não aguento mais ouvir as pessoas reclamendo do frio. Eu não reclamo, pelo contrário, acho que tem seus problemas, ir ao banheiro é uma merda, sair da cama, acordar cedo, trepar exige outra dinâmica, a garganta fica ruim e tal...

Eu estou gostando do friozinho, esse lapso de inverno carioca. É uma oportunidade de usar meus casacos que já estavam embolorando, posso beber café sem ficar suando horrores, chocolate quente, misto quente, sopa pelando, chego no trabalho arrumadinho, pego sol na rua numa boa, tomo vinhozinho, fico mais caseiro... tudo bem, ficar caseiro é mentira... mas o frio acaba remetendo a prazeres mais apropriados para os espaços fechados mesmo, mais aquecidos e tal.

Corre o risco de ficar meio afrescalhado, usar cachecóis e achar que está em Paris e ficar falando de Zizek, cinema europeu e existencialismos de botequim, mas nada que uma ida ao Barroquinho e uma dose de gengibre num botequim vagabundo do centro da cidade não cure...

Aposto que esse povo é o primeiro a reclamar do calor, da urgência do ar condicionado, da merda que é viver ensopado de suor e de como é ruim ficar já todo suado logo após acabar o banho... a galera gosta mesmo é de reclamar...

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O que me fez lembrar Raul...


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