
************
POESIAS DEVANEIOS DESVARIOS


Acordei às 5:30 da madrugada porque a insônia que não me deixa dormir há algumas semanas só foi piorada com o lance do saque indevido em minha humilde conta bancária. Fiz hora, trabalhei, liguei pra Capilo pra falar de trabalho. Tomei um banho, peguei o livro do Bukowski que estou lendo (e adorando) e desci pro banco. Fui pronta pra guerra, pra recuperar meu dinheiro a facadas e vencer a burocracia.
Foi apenas 1 hora e meia de enfrentamento. Tive que narrar a última vez que usei o cartão e quando me dei conta do roubo, apenas 4 vezes. A primeira mulher que me atendeu era meio lenta, mas sem problemas (abaixo, leia mais sobre ela). Mau humor não combina comigo. Daí que entre uma espera e outra eu ficava lendo e chorando de rir. Adoro livros que me fazem rir.
É preciso explicar que o Bukowski é um autor atípico. O cara era um fodido na vida, alcoólatra, mulherengo e viciado em jogo. E os textos dele são sobre essa sua realidade suja. Os mais moralistas diriam que ele escreve baixaria. Pois eu ando adorando. Não a baixaria, mas o jeito escrachado, o cinismo e o humor grosseiro. Logo que cheguei ao banco, foi me dando vergonha de ler porque aquelas cadeiras de espera são bem coladas e dava bem para as pessoas do lado verem coisas como PUNHETA, MEUS BAGOS, TRÊS GALINHAS MORTAS, 12 MACACOS TREPANDO (estão assim em caixa alta no livro). Bom, mas eu tava rindo tanto que perdi a vergonha e deixei que pensasse que eu sou uma maníaca sexual carente que fica lendo contos eróticos e sujos às 10 da manhã na fila do banco.
Fiquei tão relaxada com os contos do Bukowski que quando o gerente me recebeu fui até bastante afável. Verdade seja dita, ele também foi bem simpático. Vão devolver meu dinheiro hoje mesmo. Ele viu lá que tentaram ainda gastar mais R$ 900,00. Claro que não conseguiram, não tinha limite. E viu também onde foi feita a compra que me roubaram, numa loja em Duque de Caxias. Daí ele:
- Você quer saber onde é que foi gasto?
Podia ter dito a ele que sim, pois meus capangas iriam adorar ir à Baixada reaver meu dinheiro, mas me contive e respondi apenas que não.
***************
Antes do gerente, tive que conversar com a tal moça meio lenta. Depois que expliquei tudo, pela primeira vez, ela abriu meu extrato no computador. Os últimos lançamentos eram meu jantar de segunda, uma compra no domingo e o roubo na terça.
- Então, é essa compra aqui que não reconheço – expliquei pra ela apontando na tela.
- Entendi. Onde foi o jantar de segunda?
- Na Parmê, esse débito de 25 – não que fosse da conta dela, mas tentei ser legal e voltei a preencher o tal formulário sobre o roubo.
- E essa ZeroZero de 80 reais?
- É meu também – respondi sem olhar pra ela.
- O que é Zero Zero?
- [eu podia mandar ela procurar na lista telefônica ou no Google, eu sei] É uma boate.
- Nossa, mas você saiu de lá no domingo às 5:20? – rindo. Fica aonde essa boate?
- Na Gávea? - pensando em mandar ela pro inferno.
- E é boa?
- Tem quem goste. Eu vou porque tenho um amigo que trabalha lá - já prevendo a próxima pergunta.
- Ele é DJ ou algo assim?
- Não, é striper.
Acabou o assunto.
Diante da epidemia de dengue que mata no Rio de Janeiro, muitas soluções tem sido apresentadas. Larvicida, fumacê, tendas de hidratação, hospitais de campanha, anúncios na TV e outdoors na tentativa de esclarecer a população quanto ao combate dos focos do mosquito. Esqueça tudo isso! A salvação está num "óleo santo" distribuido pela notória Igreja Universal do Reino de Deus. Num panfleto intitulado "Proteção divina contra a dengue", a Igreja conclama os incautos a se concentrarem nas dependências da suntuosa "Catedral Mundial da Fé", onde receberão um "cálice com o óleo santo" para que "todos sejam livres desta epidemia". No verso do folheto, um espaço para que o fiel possa listar as pessoas que serão agraciadas com a "oração da proteção".