sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Vamo que vamo

Eu não gosto muito dessa época do ano. Por vários motivos. Esse clima de falsidade e hipocrisia que toma conta das pessoas me irrita. Dá vontade de sair gritando: gente, nada muda depois do dia 25, e pior, a vida segue igual na virada do dia 31 pra 1º. Acho também que o mundo acaba ficando em segundo plano, como se o movimento dele parasse e só se retomasse em janeiro. Pior, em 2008 o carnaval é no comecinho de fevereiro. Ou seja, as pessoas só voltam a levar a vida a sério depois da quarta-feira de cinzas. Na verdade, não tenho nada a ver com a vida das pessoas. O que quero dizer é que os problemas do mundo deixam de ser discutidos e questionados em dezembro como se tivessem sido resolvidos e daí vivemos meses de árvores de natal, comida em excesso, espumantes e roupas brancas. Além disso, odeio especiais de fim de ano na TV. Odeio não ter futebol às quartas. Odeio ter que ir ao shopping (sempre tem amigo oculto na minha família e não há outro lugar para comprar presentes que agradem a meus familiares).

Enfim... mas muitos fins de ano ainda terei pela frente. Há que se conformar e aproveitar que tá fazendo sol - sinal que vai chover no ano novo, pra variar.

Dura na queda
Chico Buarque

Perdida
Na avenida
Canta seu enredo
Fora do carnaval
Perdeu a saia
Perdeu o emprego
Desfila natural

Esquinas
Mil buzinas
Imagina orquestras
Samba no chafariz
Viva a folia
A dor não presta
Felicidade, sim

O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol, a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

Bambeia
Cambaleia
É dura na queda
Custa a cair em si
Largou família
Bebeu veneno
E vai morrer de rir

Vagueia
Devaneia
Já apanhou à beça
Mas para quem sabe olhar
A flor também é
Ferida aberta
E não se vê chorar

O sol ensolarará a estrada dela
A lua alumiará o mar
A vida é bela
O sol,a estrada amarela
E as ondas, as ondas, as ondas, as ondas

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Bodes, favelados, cabeludos, jornalistas e outros pagodes

Poucas coisas na vida são tão boas, causam tanto prazer e alegria como...
uma cerveja + um tantã + um pandeiro + um cavaquinho + bons amigos!!


Coisa de pele
Jorge Aragão

Podemos sorrir, nada mais nos impede
Não dá pra fugir dessa coisa de pele
Sentida por nós, desatando os nós
Sabemos agora, nem tudo que é bom vem de fora


É a nossa canção pelas ruas e bares
Nos traz a razão, relembrando Palmares
Foi bom insistir, compor e ouvir
Resiste quem pode à força dos nossos pagodes

E o samba se faz, prisioneiro pacato dos nossos tantãs
E um banjo liberta da garganta do povo as suas emoções
Alimentando muito mais a cabeça de um compositor
Eterno reduto de paz, nascente das várias feições do amor

Arte popular do nosso chão...
é o povo que produz o show e assina a direção
Arte popular do nosso chão...
é o povo que produz o show e assina a direção

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

A vingança do baiano

Em 1994, fiz com Miss Lilly, a pedido da agência DPZ, o livro São Paulo de Bar em Bar. Visitamos uma centena - um deles, o bar Ca­bral, nos elegantes Jardins. O dono, quando Miss Lilly perguntou sobre a clientela, rela­cionou alguns figurões e arrematou: "Uma coisa eu digo: baiano aqui não entra." Disse com aquele nojo que certos magnatas das classes dominantes devotam ao povo. Mas por que me lembrei disso? Ah, sim. Em outu­bro, numa esquina paulistana, um "correria" apontou revólver para o apresentador de tevê Luciano Huck e fugiu na moto levando-lhe o Rolex que, segundo as notas que li, vale uns cinco barracas na favela.

Huck escreveu na Fo­lhona artigo que causou rebuliço, ao desabafar e cobrar ações das autoridades. Muitos o apoia­ram, e muitos fizeram troça, como dizer que Huck precisou ser assaltado para descobrir a desigualdade que grassa.

Na seqüência, a Folhona publicou artigo justo do escritor do Capão Redondo, o colega de hospíoio Ferréz, que resumiu: o correria levou o Rolex que vale várias casas no peda­ço em que ele mora, e Huck ficou com o bem maior, a vida - ou seja, concluiu Ferréz, todos saíram ganhando.

Mas o que tem o bar Cabral a ver com a história? O dono dele era Luciano Huck. Ima­gino então que algum baiano soube da histó­ria que narrei e veio cobrar um Rolex por "da­nos morais".

Mylton SeverianoPublicado originalmente na Revista Caros Amigos (ano XI número 128 novembro 2007, p.11)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Isso existe no Brasil?

Fazendeiros e políticos de Juína (MT) impedem visita de ativistas do Greenpeace, da OPAN (Operação Amazônia Nativa) e de jornalistas europeus à Terra Indígena Enawene Nawe. O ocorrido foi no dia 20 de agosto deste ano, há menos de três meses. Absurdo pouco é bobagem.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Para ver se o Faveleiro desencanta...

Lembrete:

OMBUDSMANDOCAPETA

poesias devaneios desvarios


PATATIVA DO ASSARÉ


Aos Poetas Clássicos



Poetas niversitário,
Poetas de Cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia;
Se a gente canta o que pensa,
Eu quero pedir licença,
Pois mesmo sem português
Neste livrinho apresento
O prazê e o sofrimento
De um poeta camponês.

Eu nasci aqui no mato,
Vivi sempre a trabaiá,
Neste meu pobre recato,
Eu não pude estudá.
No verdô de minha idade,
Só tive a felicidade
De dá um pequeno insaio
In dois livro do iscritô,
O famoso professô
Filisberto de Carvaio.

No premêro livro havia
Belas figuras na capa,
E no começo se lia:
A pá — O dedo do Papa,
Papa, pia, dedo, dado,
Pua, o pote de melado,
Dá-me o dado, a fera é má
E tantas coisa bonita,
Qui o meu coração parpita
Quando eu pego a rescordá.

Foi os livro de valô
Mais maió que vi no mundo,
Apenas daquele autô
Li o premêro e o segundo;
Mas, porém, esta leitura,
Me tirô da treva escura,
Mostrando o caminho certo,
Bastante me protegeu;
Eu juro que Jesus deu
Sarvação a Filisberto.

Depois que os dois livro eu li,
Fiquei me sintindo bem,
E ôtras coisinha aprendi
Sem tê lição de ninguém.
Na minha pobre linguage,
A minha lira servage
Canto o que minha arma sente
E o meu coração incerra,
As coisa de minha terra
E a vida de minha gente.

Poeta niversitaro,
Poeta de cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia,
Tarvez este meu livrinho
Não vá recebê carinho,
Nem lugio e nem istima,
Mas garanto sê fié
E não istruí papé
Com poesia sem rima.

Cheio de rima e sintindo
Quero iscrevê meu volume,
Pra não ficá parecido
Com a fulô sem perfume;
A poesia sem rima,
Bastante me disanima
E alegria não me dá;
Não tem sabô a leitura,
Parece uma noite iscura
Sem istrela e sem luá.

Se um dotô me perguntá
Se o verso sem rima presta,
Calado eu não vou ficá,
A minha resposta é esta:
— Sem a rima, a poesia
Perde arguma simpatia
E uma parte do primô;
Não merece munta parma,
É como o corpo sem arma
E o coração sem amô.

Meu caro amigo poeta,
Qui faz poesia branca,
Não me chame de pateta
Por esta opinião franca.
Nasci entre a natureza,
Sempre adorando as beleza
Das obra do Criadô,
Uvindo o vento na serva
E vendo no campo a reva
Pintadinha de fulô.

Sou um caboco rocêro,
Sem letra e sem istrução;
O meu verso tem o chêro
Da poêra do sertão;
Vivo nesta solidade
Bem destante da cidade
Onde a ciença guverna.
Tudo meu é naturá,
Não sou capaz de gostá
Da poesia moderna.

Dêste jeito Deus me quis
E assim eu me sinto bem;
Me considero feliz
Sem nunca invejá quem tem
Profundo conhecimento.
Ou ligêro como o vento
Ou divagá como a lêsma,
Tudo sofre a mesma prova,
Vai batê na fria cova;
Esta vida é sempre a mesma.