Em 1994, fiz com Miss Lilly, a pedido da agência DPZ, o livro São Paulo de Bar em Bar. Visitamos uma centena - um deles, o bar Cabral, nos elegantes Jardins. O dono, quando Miss Lilly perguntou sobre a clientela, relacionou alguns figurões e arrematou: "Uma coisa eu digo: baiano aqui não entra." Disse com aquele nojo que certos magnatas das classes dominantes devotam ao povo. Mas por que me lembrei disso? Ah, sim. Em outubro, numa esquina paulistana, um "correria" apontou revólver para o apresentador de tevê Luciano Huck e fugiu na moto levando-lhe o Rolex que, segundo as notas que li, vale uns cinco barracas na favela.
Huck escreveu na Folhona artigo que causou rebuliço, ao desabafar e cobrar ações das autoridades. Muitos o apoiaram, e muitos fizeram troça, como dizer que Huck precisou ser assaltado para descobrir a desigualdade que grassa.
Na seqüência, a Folhona publicou artigo justo do escritor do Capão Redondo, o colega de hospíoio Ferréz, que resumiu: o correria levou o Rolex que vale várias casas no pedaço em que ele mora, e Huck ficou com o bem maior, a vida - ou seja, concluiu Ferréz, todos saíram ganhando.
Mas o que tem o bar Cabral a ver com a história? O dono dele era Luciano Huck. Imagino então que algum baiano soube da história que narrei e veio cobrar um Rolex por "danos morais".
Mylton SeverianoPublicado originalmente na Revista Caros Amigos (ano XI número 128 novembro 2007, p.11)
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