segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

A vingança do baiano

Em 1994, fiz com Miss Lilly, a pedido da agência DPZ, o livro São Paulo de Bar em Bar. Visitamos uma centena - um deles, o bar Ca­bral, nos elegantes Jardins. O dono, quando Miss Lilly perguntou sobre a clientela, rela­cionou alguns figurões e arrematou: "Uma coisa eu digo: baiano aqui não entra." Disse com aquele nojo que certos magnatas das classes dominantes devotam ao povo. Mas por que me lembrei disso? Ah, sim. Em outu­bro, numa esquina paulistana, um "correria" apontou revólver para o apresentador de tevê Luciano Huck e fugiu na moto levando-lhe o Rolex que, segundo as notas que li, vale uns cinco barracas na favela.

Huck escreveu na Fo­lhona artigo que causou rebuliço, ao desabafar e cobrar ações das autoridades. Muitos o apoia­ram, e muitos fizeram troça, como dizer que Huck precisou ser assaltado para descobrir a desigualdade que grassa.

Na seqüência, a Folhona publicou artigo justo do escritor do Capão Redondo, o colega de hospíoio Ferréz, que resumiu: o correria levou o Rolex que vale várias casas no peda­ço em que ele mora, e Huck ficou com o bem maior, a vida - ou seja, concluiu Ferréz, todos saíram ganhando.

Mas o que tem o bar Cabral a ver com a história? O dono dele era Luciano Huck. Ima­gino então que algum baiano soube da histó­ria que narrei e veio cobrar um Rolex por "da­nos morais".

Mylton SeverianoPublicado originalmente na Revista Caros Amigos (ano XI número 128 novembro 2007, p.11)

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