quinta-feira, 14 de maio de 2009
dia-a-dia
sentei na van na última fila de bancos. fones no ouvido. pearl jam tocando no talo. entrou um rapaz logo depois de mim. sentou no primeiro banco da primeira fila. ele estava do lado de fora de papo com a cobradora.
papo vai, papo vem, ela estica o braço e se apóia no encosto do banco dele. ele apóia a perna no banco da frente - que é o banco do carona. os corpos se apontam, mas não se tocam. dá pra notar a timidez de ambos.
o papo segue. rola um esporro do motorista na parada na passarela 3. 'grita aí, tem passageiro'. a perna dele se recolhe rapidamente. ela se debruça na janela. 'botafogo, rio sul, copacabana. perimetral direto'. não entra ninguém.
o carro arranca. 'senhores passageiros, poderiam estar adiantando a passagem'. cobra da van inteira numa rapidez de quem está com dor de barriga. trocos dados. papo recomeça lentamente. em 2 minutos o braço dela está apoiado no encosto dele. as pernas dele voltam pro banco da frente. com mais um pouco ele inclina parte do tronco na direção da janela e apóia o braço na porta. os corpos ainda não se tocam. por muito pouco. eu no banco de trás, exatamente de frente pra ela já estou numa ansiedade sem tamanho. 'abaixa um pouco o braço que vai pegar no braço dele'.
mudo de pearl jam para travis, no talo. trilha mais adequada. ele dá o golpe de misericórdia. depois de braços e tronco já atirados no corredor da van, ele atira a perna. ela encaixa daqui e dali. enfim se tocam. nas pernas. os dois de short. ela então abaixa um pouco o braço e toca no dele. tudo por acidente. acaso.
perimetral parada. ôh glória. e lá se foram 20 minutos. ele e ela encostados sem querer, num papo que despertava nela sorrisos de todo jeito. ele passava a mão na cabeça. não ouvi uma única palavra. o diálogo era o de menos.
bem perto do local onde eu deveria descer, ela riu muito. se mexeu. se desgrudaram e numa reação dessas que temos quando rimos, passou a mão na cabeça dele, meio que de brincadeira. 'vou descer no rio sul'.
iria até o ponto final sem o menor problema. dois corpos conversando são bonitos de se ver.
* a foto não é das melhores, a van trepidava demais. mas dá uma pequenina dimensão dos fatos.
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hoje tive meu primeiro contato na vida com a revolução francesa, dentro de uma sala de aula. pela primeira vez um professor explicou pra mim - ainda que rapidamente - o que eram jacobinos e gerondinos. sobre como eu venci na vida e hoje tenho terceiro grau 'completo' sem ter feito o segundo grau, eu explico outro dia.
dizia ele que maria antonieta, esposa do então rei dra frança - ambos foram decapitados pelos revolucionários - perguntou, certa vez, porque o povo estava se rebelando. alguém respondeu:
- porque eles não têm pão, majestade.
- não têm pão?
- não têm.
- mas, então, por que eles não comem brioche?
me lembrou uma anedota que por vezes surge entre os amigos da maré.
- mas por que você não mora em um outro lugar mais limpo e menos perigoso?
alienação que diverte.
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3 comentários:
muito bom...
essa foto foi tirada no celular, certo? Confesso que sempre me disse não ser necessário ter um celular que tire fotos, pra que, coisa consumista e por ai vai... Mas tenho vivido diversas situações que um celular seria um belo recurso para registrar um momento furtivo, como esse, primorosamente descrito como de hábito.
melhor dizendo:'primorosamente descrito por vc, aliás, como de hábito'
já imagino o professor..invejinha dessa aula!
e que cobradora!
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