quarta-feira, 13 de maio de 2009

Don’t try

Nem ia postar nada agora, pois meu último texto criticando o diabo pedófilo do boitatá estava alinhado a foto do dito cujo. Além disso,tinha me prometido que hoje à tarde iria a bilioteca da universidade onde Amana está estudando adiantar um artigo que tenho que escrever. Mas acordei meio ressaqueado, sei lá, e além disso não tenho dormido tão bem aqui. Dia sim, dia não entro numas nóias com a casa, tenho pesadelos, e tal. O problema é que as casas aqui em Highland Park são tipo Springfield, saca, sem muros, devassadas, sem muitas trancas, com garagens e porões e quintais nos fundos e, sendo de madeira, estalam. Aí, já viu... E pra completar tem um jardineiro doido aqui que enche o saco e está meio em atrito conosco... Liga um alerta para serial killers em meu corpo e fico meio tenso. Incrível o que o cinema americano fez comigo... Além de processar o Spielberg por me impedir de surfar por conta de ‘Tubarão’, tenho que incluir na lista de coisas que tenho que fazer antes de morrer pedir um ressarcimento por danos morais ao John Carpenter. Pesquisei meu subconsciente e a nóia aqui se refere diretamente ao Michael Myers, de ‘Halloween’...

Bem, o fato é que eu comi pra caralho, fumei um baseado, comprei umas cervejas e fiquei viajando...

Vai rolar um petit comiteé aqui em casa no sábado, tipo festinha de final de período. Muitas das amigas da Amana vão aproveitar as férias de verão para passarem um tempo em seus países de origem – Índia, Vietnam, Alemanha, etc – e ela mesma volta pro Brasil. Por conta disso estou baixando freneticamente músicas brasileiras para rolar na festa. Acabei não trazendo nada de casa nos pendrives.

Entre um disco e outro, perambulo na rede. Fui pesquisar sobre Bukowski, ler uns poemas. Acabei dando uma olhada no wikipedia e fiquei maravilhado com uma curiosidade sobre Buk. Em seu túmulo, na lápide, está escrito: “Don’t try”. Achei fantástico.

Explico...

Há uns dias atrás, lendo o Nytimes, encontrei um texto sobre o desemprego que tinha um final interessante. Era escrito por um jornalista que havia sido demitido por telefone enquanto passeava com os filhos em um domingo, no carro, ao volante, enquanto retornavam de uma partida de beisebol em que seu time saiu vitorioso. Ele criticou a sociedade americana, o mundo capitalista em geral, discutindo os conceitos e mitos de losers e self-made men que povoam obsessivamente todas as dimensões subjetivas da sociedade americana.

Mas o que importa é que no final do texto ele justifica a forma como ocultou dos filhos a demissão e todas essas críticas com uma tirada moralista e hipócrita que acaba por sintetizar o próprio processo de educação e manutenção de mitos e obsessões na sociedade americana e, acredito, qualquer cultura, ou, mais especificamente, as ocidentais.

Anotei a frase no meu caderno de campo... Pois é arrumei um caderno de campo para registrar meus pensamentos e curiosidades encontradas em minhas caminhadas triviais e aventuras etílico-etnográficas, seguindo conselho e demanda de nosso companheiro Faveleiro – que continua sumido das postagens, embora, reconheço, progrediu bastante no que tange aos comentários, o que nos indica que ele continua nos lendo...

A frase é a seguinte:

“Unless the children think the game is winnable, even when it’s not, they might not play” Walter Kirn, Nytimes, 10 de maio.

(Traduzindo mal e porcamente, ‘a menos que as crianças pensem poder vencer, mesmo quando de fato não podem, elas podem desistir ou nem querer jogar o jogo)

Exatamente o oposto do que, segundo minha interpretação, o velho safado quis expressar. Ainda que isso possa reforçar a idéia de um loser, perdedor, uma vez que o mito do anti-herói e a imagem de alcóolatra podem ser usadas para reforçar uma dimensão individual da derrota e da vitória na vida, seja lá o que isso signifique, a forma como Buk parece cagar para tudo isso é de uma dignidade admirável.

Estou ainda pensando nessa coisa que é tão presente nas ruas, nas casas, na arquitetura, na forma como as pessoas bebem, trabalham, servem e se relacionam aqui. Não quero ser precipitado... preciso conhecer e ver mais pessoas e lugares. Enquanto isso, tomo nota e de vez em quando mando alguma digressão ou devaneio como esse.

Mas agora, um pouco de Buk:

Poema nos meus 43 anos


Terminar sozinho
no túmulo de um quarto
sem cigarros
nem bebida —
careca como uma lâmpada,
barrigudo,
grisalho,
e feliz por ter
um quarto.
… de manhã
eles estão lá fora
ganhando dinheiro:
juízes, carpinteiros,
encanadores, médicos,
jornaleiros, guardas,
barbeiros, lavadores de carro,
dentistas, floristas,
garçonetes, cozinheiros,
motoristas de táxi…
e você se vira
para o lado esquerdo
pra pegar o sol
nas costas
e não
direto nos olhos.

fonte:http://www.germinaliteratura.com.br/bukowskipoemas.htm

Poem for my 43rd birthday

To end up alone
in a tomb of a room
without cigarettes
or wine —
just a lightbulb
and a potbelly,
gray-haired,
and glad to have
the room.
… in the morning
they’re out there
making money:
judges, carpenters,
plumbers, doctors,
newsboys, policemen,
barbers, carwashers,
dentists, florists,
waitresses, cooks,
cabdrivers…
and you turn over
to your left side
to get the sun
on your back
and out
of your eyes.

*************

Old Man death in a room

Quando minhas mãos pálidas
deixarem cair a última caneta
em um quarto barato
eles vão me achar lá
e nunca saberão
meu nome
minha intenção
nem o valor de minha fuga

http://epicosubmundo.wordpress.com/2007/01/21/poemas-de-charles-bukowski/

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