quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Hoje trabalhei em casa e confesso: me fez muito bem. Primeiro pela tranqüilidade do ambiente, bem diversa de onde trabalho, uma sala lotada de papéis, computadores, afazeres, de olhares tensos e insatisfeitos. Por poder ficar sem camisa e descalço. E aqui ainda faço companhia à minha mãe e aproveito da sua presença e de minha avó-materna-quase-mãe de 98 anos, coisa que nem sabia que sentia tanta falta... É muito bom conviver com ela nessa idade... Diferente de outros tempos... Mas isso é papo para outro texto que não pretendo escrever agora, pois mais parece uma elegia fora de hora – e pelo visto, graças a Deus, enquanto expressão popular e obsessão da véinha, ainda há de se adiar por anos...

Outra coisa boa nessa labuta caseira foi poder vivenciar minhas emoções com maior liberdade e privacidade. Vez por outra, minha mente passa a divagar, com a ajuda da tela do computador via internet, e dispara lembranças que me remetem às lágrimas. Lágrimas mansas, calmas, mas, como sempre há de ser dessa estirpe específica de lágrimas, doídas.

Então, em casa, ponho-me a caminhar, acendo um cigarro, permito-me chorar – e as lágrimas fluem. Só não posso dizer que caem ao chão porque encontram antes o obstáculo de minha barriga proeminente, onde encontram cura. Isso porque, ao mesmo tempo em que molham e retornam à fonte da dor que as engendra, que é meu corpo, fazem-me lembrar que devo emagrecer, que devo malhar, fazer dieta, dar um tempo na cerveja, cuidar da saúde – e remetem minha atenção novamente para os afazeres cotidianos e o trabalho que estava a realizar.

Salvo pela pança!!!! – quem diria... ( . )


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Acho bom que a mídia tenha finalmente percebido a gravidade do problema do crack no Rio de Janeiro... Mas, como sempre, também tenho minhas ressalvas:

- por que sempre parece necessário aparecer um caso problema numa família de classe média para haver alguma ação da mídia e, a partir disso, do governo e órgãos competentes. Caramba, as crianças e adolescentes da favela estão padecendo desse mal há tanto tempo e só depois que um idiota mata a namorada estrangulada e se comporta, não leve a mal, mais para um bêbado do que para alguém que usou crack - não lembra, estava dormindo (como assim???) ao lado da namorada morta – a porra da sociedade se mobiliza. As vidas não devem ser hierarquizadas... Mas, como são, fico com a tentação de seguir o furor do Faveleiro e gritar: que se foda esse playboyzinho de merda e sua namoradinha-noiva-cadáver!!! (desculpem o sarcasmo, foi mais forte do que eu)

- que foi aquilo de entrevistar o pai do moleque-idiota-crackeiro-de-merda no RJ TV...

- as respostas dadas por importantes figuras da reforma psiquiátrica como Pedro Gabriel Delgado, quase estimulando a internação involuntária – ainda que em hospitais gerais e não em hospitais psiquiátricos, coerente portanto com as propostas de reforma – me assustam: sinto cheiro da proliferação de bichos de sete cabeças...

- odeio essa coisa de endemonizar a droga. Se o camarada estiver em um momento em que dispõe de alguma estrutura na vida, enfim, coisas que lhe façam sentido, planos de futuro, sonhos possíveis, dinheiro no bolso, algo a perder e tal, é muito mais difícil ele sucumbir à tentação viciante das drogas. O problema geralmente é do cara, é falta de perspectivas, problemas na família, crises temporárias, etc. Óbvio que existe o camarada que é seduzido pelo canto das sereias, mas, feito um Ulisses, se tiver estrutura - um bom mastro, nós firmes e cordas resistentes (não entendeu, vai ler a Odisséia de Homero) – o camarada até pode sucumbir, mas volta... A droga em si, só dá onda, é inócua... Não adianta internar e não criar boas condições posteriores (estrutura) para o cara, que ele volta pro vício.

- é certo que o canto da sereia do crack é sinistro. Digo isso porque já usei e confesso que não gostei muito da parada, tanto por seu efeito anti-social, quanto por ver o que tem feito com a molecada e com alguns amigos meus. O efeito é até bom, mas não vale a pena. Eu gosto muito de gente para ficar me escondendo nas sombras. Por isso mesmo, não o endemonizo. O problema é mais embaixo, parceiro. Mas, enfim, deve haver algum enfrentamento, claro, alguma forma de internação, sim, mas sem nunca esquecer o paradigma ético da reforma psiquiátrica, de tratar o usuário de serviços de saúde mental como sujeito de seu próprio destino... Até porque, internado à força, é mais fácil que ele pule o muro, pire de vez ou simplesmente jogue o joguinho das terapias, medicamentos e ambulatórios de maneira hipócrita... E volte a fumar pedra.

- vale também divulgar a perspectiva da redução de danos, onde a troca do crack por drogas que causem menos dependência e prejuízos, como a maconha, deve ser aceita e por vezes até estimulada.

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Minha avó vendo as pedras de quilos e quilos de crack apreendidas que estavam sendo expostas no Jornal Hoje, perguntou: ‘O que que é isso, meu filho??? Rapadura???’

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E, por fim...

VALEI-ME MEU SÃO JUDAS TADEU!!!!!

TRAGA O HEXA PRA NAÇÃO RUBRONEGRA!!!!!!


3 comentários:

Rodrigo Bodão disse...

é... sem Pet, nem São Judas Tadeu dá jeito...

Mulher A. disse...

Redução de danos é a grande sacada. Mas dá pra se falar nisso sem se falar em discriminalização? Seria bom encarar a droagadicção verdadeiramente como uma questão de saúde pública. Mas cuidar da saúde pública – agora é saúde coletiva – pro governo é vacinar. Até achei interessante um depoimento do sujeito, o pai do cara que matou, quando ele denuncia a falta de alternativa de tratamento. O cara parece que tentou se internar e o plano de saúde só dá 15 dias por ano de internação. E o estado despreparado. Enfim... Quem quer se tratar e tem grana se enche de drogas lícitas numa dessas clínicas particulares. E quem não tem, que morra com as drogas mais ilícitas e mais baratas... Rapadura é doce, mas né mole não, eu diria...

Tereza Antonia disse...

Aaaah, as diferenças sociais...