o ombudsman é minha página inicial da internet. Portanto, toda vez que eu abro a rede dou de cara com o capeta de Caruaru e com a minha última postagem. Menos por falta de assunto e mais por preguiça e vida social intensa, não postava nada há muito tempo - e não aguentava mais ler o título da última postagem.
Mando aqui então uma letra de um samba que eu fiz e tenho cantado sempre que encontro espaço nas festas, churrascos e rodas da vida... Ah!, e nem adianta tentar roubar porque já está devidamente registrado... rsrsrs
TODO ERRADO
Não sei se nasci torto
Ou se entortei ao longo da vida
E renovo a sina,
Em mais uma despedida
Tanto que aprontei, fiz por merecer
Você me agüentou até demais
Hoje faço planos de mudança
Sob o efeito da falta que você me faz
Mas confesso que basta
Uma estrela lá no céu brilhar
A lua até parece me chamar
E eu vou até o sol nascer
Nada nesse caminho vai me desviar
À noite ofereço o meu cantar
Minha alegria de viver
Foi tão ruim te perder
Foi como acordar de um sonho lindo
É um pedaço de mim que vai com você
Parece que estou sumindo
Mas se meus defeitos e virtudes compartilham
De uma mesma raiz
Sei que a fonte da minha tristeza também é
O que me faz feliz (repete estrofe)
E é por isso que basta...
terça-feira, 9 de novembro de 2010
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
caiu na rede é post!!
acho engraçado determinadas críticas e questões levantadas com relação às redes sociais da internet, facebook, orkut, twitter e demais tramas virtuais. Em alguns aspectos, considero interessantes algumas colocações e problematizações, menos por uma experiência pessoal que encontra eco em postulações de outrem e mais até por imaginar que os riscos indicados possam mesmo ocorrer. Afinal, desse tal de ser humano eu espero qualquer coisa. Eu fico incrívi, como dizia Água da Chuva.
No entanto, tem determinadas críticas repetidas à exaustão, leituras do fenômeno que de tão preconceituosas e generalizadas agridem minha inteligência. Até porque, e aí sim, divergem de minha própria experiência e de relatos de diversos outros amigos reais e virtuais.
Uma crítica recorrente correlaciona intrinsecamente o fenômeno das redes virtuais com uma solidão moderna ou pós-moderna. Ou melhor, como um fenômeno atavicamente ligado ao esfriamento das relações sociais e da solidão gerada por este modo de vida contemporâneo, especialmente nos grandes centros urbanos.
Decerto a existência de redes sociais virtuais caem como uma luva para momentos de solidão, quando necessitamos a presença de alguém, necessitamos comunicar algo e não encontramos ou temos acesso imediato e concreto a esse interlocutor. De fato, as redes cumprem esse papel, muitas vezes até servindo de meio para externar essa solidão e, por vezes, reverberar em outras existências solitárias - conectadas, é claro. Torna-se quase uma forma de terapia, uma via catártica possível, uma maneira de ser escutado sem provocar suspeitas de transtornos mentais ou que a polícia bata à sua porta de madrugada chamada por algum vizinho querendo dormir incomodado com seu falatório tresloucado... mas a experiência virtual não se resume a isso.
No limite, eu diria que a experiência virtual tal como a vida, não se resume a isso ou aquilo, a essa forma de uso ou aquela. Ou melhor, não se resume sem que se perca o que ela tem de mais fundamental e, também diria, belo: sua irredutibilidade exposta pela multiplicidade dos momentos e dos humores relativos a eles.
Via de escape, via de encontro, via de comunicação, uma via: eis como percebo essas redes.
Não consigo crer que a vida hoje em dia seja mais ou menos solitária do que em outros tempos. Os tempos mudam, a experiência de solidão muda, seus contornos e sentidos são outros, assim como as suas formas de apaziguamento e remediação.
Os que coadunam com essa visão geralmente acabam por indicar um recrudescimento da solidão por via do mundo virtual, como se as pessoas passassem a viver num mundo à parte e optam por essa via por perceberem-na mais segura, por poder inventar um eu - ou vários - e assim se expor, não se expondo, ganhar visibilidade na medida em que não são vistos... Tudo bem, concordo, isso é possível, mas é apenas uma forma de navegar pelos bytes virtuais, não a forma por excelência.
Outro dia mesmo estava na porta do Canecão tomando cerveja e conversando com amigos esperando para entrar no show do Hypnotic Brass Ensemble - que eu, na condição de fã, talvez, achei fraco - e do Buraka - que eu adorei!!! - quando um desses meus amigos reais que encontro direto no facebook foi interpelado por uma menina - linda!! - se apresentando como "aquela menina X que é sua amiga do facebook, mas que você não 'conhece'". Rolou uma alegria incrível pelo encontro, houve uma retomada de conversas desenvolvidas na rede social, enfim, houve uma explosão de real somente possível pelo contato virtual anterior.
O virtual dando um plus no real!!! Sensacional!!!
Meu pai mesmo e diversos amigos vivem marcando encontros carnais com pretendentes virtuais via site de relacionamentos, de namoro, sei lá como se chamam. Estou até pensando em aderir para ver qual é... Eles adoram!!
Pois então. É óbvio que existem riscos no uso dessas redes, riscos muitas vezes potencializados pela sua existência, mas que somente vão existir na medida em que a vida real, por assim dizer, estiver sendo condicionada, por fatores internos e externos, a um uso específico dessas redes. E, assim, sem dúvida, pode-se cair num círculo vicioso. Pode se criar uma espécie de compulsão ou adicção, sim, como quase tudo, aliás, pode. Mas também podem gerar novas formas de vivência do cotidiano, podem aproximar e/ou afastar as pessoas, podem intensificar os encontros concretos.
[É engraçado como nos habituamos a pensar o real somente pela via do concreto, do que em nossas fantasias cotidianas acostumamos a rotular como real, ou mais real]
Eu tendo a dizer que o virtual também é real; não é menos ou mais real do que um encontro carnal. É limitado, como são limitados todos os encontros. Porém são outros limites, a falta de cheiro, de gosto, de tato, de relevo. Mas é também real. Diferente, mas real. E pode se esgotar em si mesmo ou avançar para outras formas de experiência, sendo delimitado, como tudo na vida, pelos desejos, sentidos, humores, momentos, distâncias, possibilidades e pelas contingências do acaso.
Enfim...
No mais, o assunto é cabuloso, e eu já estou muito tempo devaneando neste blog... Tem um monte de gente postando no facebook e eu tenho que tuitar ainda uma porção de coisas hoje!!
:)
mas o papo é bom... outra hora eu escrevo mais... aqui ou no face, no twitter, nos blogs alheios, nas mesas de bar, caminhando na praia, fumando um cigarro depois de uma bela trepada, esperando para entrar no Canecão, na fila do supermercado, numa voada no trabalho, quando a gente se ver de novo, ............................................
No entanto, tem determinadas críticas repetidas à exaustão, leituras do fenômeno que de tão preconceituosas e generalizadas agridem minha inteligência. Até porque, e aí sim, divergem de minha própria experiência e de relatos de diversos outros amigos reais e virtuais.
Uma crítica recorrente correlaciona intrinsecamente o fenômeno das redes virtuais com uma solidão moderna ou pós-moderna. Ou melhor, como um fenômeno atavicamente ligado ao esfriamento das relações sociais e da solidão gerada por este modo de vida contemporâneo, especialmente nos grandes centros urbanos.
Decerto a existência de redes sociais virtuais caem como uma luva para momentos de solidão, quando necessitamos a presença de alguém, necessitamos comunicar algo e não encontramos ou temos acesso imediato e concreto a esse interlocutor. De fato, as redes cumprem esse papel, muitas vezes até servindo de meio para externar essa solidão e, por vezes, reverberar em outras existências solitárias - conectadas, é claro. Torna-se quase uma forma de terapia, uma via catártica possível, uma maneira de ser escutado sem provocar suspeitas de transtornos mentais ou que a polícia bata à sua porta de madrugada chamada por algum vizinho querendo dormir incomodado com seu falatório tresloucado... mas a experiência virtual não se resume a isso.
No limite, eu diria que a experiência virtual tal como a vida, não se resume a isso ou aquilo, a essa forma de uso ou aquela. Ou melhor, não se resume sem que se perca o que ela tem de mais fundamental e, também diria, belo: sua irredutibilidade exposta pela multiplicidade dos momentos e dos humores relativos a eles.
Via de escape, via de encontro, via de comunicação, uma via: eis como percebo essas redes.
Não consigo crer que a vida hoje em dia seja mais ou menos solitária do que em outros tempos. Os tempos mudam, a experiência de solidão muda, seus contornos e sentidos são outros, assim como as suas formas de apaziguamento e remediação.
Os que coadunam com essa visão geralmente acabam por indicar um recrudescimento da solidão por via do mundo virtual, como se as pessoas passassem a viver num mundo à parte e optam por essa via por perceberem-na mais segura, por poder inventar um eu - ou vários - e assim se expor, não se expondo, ganhar visibilidade na medida em que não são vistos... Tudo bem, concordo, isso é possível, mas é apenas uma forma de navegar pelos bytes virtuais, não a forma por excelência.
Outro dia mesmo estava na porta do Canecão tomando cerveja e conversando com amigos esperando para entrar no show do Hypnotic Brass Ensemble - que eu, na condição de fã, talvez, achei fraco - e do Buraka - que eu adorei!!! - quando um desses meus amigos reais que encontro direto no facebook foi interpelado por uma menina - linda!! - se apresentando como "aquela menina X que é sua amiga do facebook, mas que você não 'conhece'". Rolou uma alegria incrível pelo encontro, houve uma retomada de conversas desenvolvidas na rede social, enfim, houve uma explosão de real somente possível pelo contato virtual anterior.
O virtual dando um plus no real!!! Sensacional!!!
Meu pai mesmo e diversos amigos vivem marcando encontros carnais com pretendentes virtuais via site de relacionamentos, de namoro, sei lá como se chamam. Estou até pensando em aderir para ver qual é... Eles adoram!!
Pois então. É óbvio que existem riscos no uso dessas redes, riscos muitas vezes potencializados pela sua existência, mas que somente vão existir na medida em que a vida real, por assim dizer, estiver sendo condicionada, por fatores internos e externos, a um uso específico dessas redes. E, assim, sem dúvida, pode-se cair num círculo vicioso. Pode se criar uma espécie de compulsão ou adicção, sim, como quase tudo, aliás, pode. Mas também podem gerar novas formas de vivência do cotidiano, podem aproximar e/ou afastar as pessoas, podem intensificar os encontros concretos.
[É engraçado como nos habituamos a pensar o real somente pela via do concreto, do que em nossas fantasias cotidianas acostumamos a rotular como real, ou mais real]
Eu tendo a dizer que o virtual também é real; não é menos ou mais real do que um encontro carnal. É limitado, como são limitados todos os encontros. Porém são outros limites, a falta de cheiro, de gosto, de tato, de relevo. Mas é também real. Diferente, mas real. E pode se esgotar em si mesmo ou avançar para outras formas de experiência, sendo delimitado, como tudo na vida, pelos desejos, sentidos, humores, momentos, distâncias, possibilidades e pelas contingências do acaso.
Enfim...
No mais, o assunto é cabuloso, e eu já estou muito tempo devaneando neste blog... Tem um monte de gente postando no facebook e eu tenho que tuitar ainda uma porção de coisas hoje!!
:)
mas o papo é bom... outra hora eu escrevo mais... aqui ou no face, no twitter, nos blogs alheios, nas mesas de bar, caminhando na praia, fumando um cigarro depois de uma bela trepada, esperando para entrar no Canecão, na fila do supermercado, numa voada no trabalho, quando a gente se ver de novo, ............................................
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Clecle2222...
... só tenho isso a lhe dizer...
http://www.fgv.br/cps/Pesquisas/miseria_queda_grafico_clicavel/FLASH/
http://www.fgv.br/cps/Pesquisas/miseria_queda_grafico_clicavel/FLASH/
terça-feira, 5 de outubro de 2010
no entanto, entretanto, masssss
Não vou entrar no mérito de julgar as pessoas que votaram na Marina, como tenho visto muita gente fazer. Ficar rotulando e desqualificando as pessoas definitivamente não me parece uma prática digna, democrática, respeitosa. Cada um faz o que quer.
Mas é quase impossível para mim não acreditar que no fundo, no fundo, o eleitorado verde, mesmo os de última hora, esteja traquilo e despreocupado com o que possa acontecer nesse segundo turno. E quem abriu as portas para esse possível retrocesso no país, sem dúvida alguma, é essa turma que acreditou nas bravatas messiânicas de uma candidata que afirma poder fazer tudo diferente na política, e engana seus eleitores com essa falsa ideia de que para mudar um país basta vontade política e ética. Pura bravata que encontra eco em milhões de pessoas desiludidas com a política, indignadas com a corrupção que é inerente, enquanto risco, a qualquer atividade humana que envolva dinheiro, seja ele público ou privado.
É verdade que houve uma onda meio verde de boutique nessa eleição, e daí eu tento me convencer com a ideia de que as pessoas não sabem o que é o PV na verdade, e tal, suas alianças, suas posições, etc. No entanto, o que mais me incomoda é o grau de alienação de alguns discursos pró-Marina pelo fim da corrupção. Houve um redimensionamento e reestrutuação das políticas sociais desse país como nunca houve antes, e muitas pessoas não viram. Ou se viram, se encheram de preconceitos de classe e toupeirices narcisistas de quem olha sempre o próprio umbigo e perderam a noção que um país melhor para os pobres também é um país melhor para todos. A economia se alimenta com a estrutura em classes, se ativa. E se pega um momento como o nosso, com certeza a redução da desigualdade acaba sendo boa também para as classes mais abastadas.
Mas não, a galera não quer abrir mão de sua moralzinha puritana de merda, subornando um policial na esquina, se dando bem em alguma jogada aqui, outra acolá e enchendo o peito para dizer que é contra a corrupção. Resta dizer que é a favor da hipocrisia e, no caso da Marina, da demagogia e do despreparo.
Eu não sou a favor da corrupção, mas entendo também que é um mal que assola todos os países, toda grande instituição, empresa, partido político, e sempre que se junta um grupo de seres humanos e dinheiro, o seu risco é iminente. E qualquer governo do mundo e qualquer oposição do mundo está atenta para os ganhos políticas de um escândalo que envolva atos de corrupção.
Não, não sou um oráculo de sabedoria e nem estou livre de preconceitos de classe e/ou de outra ordem. Entretanto, definitivamente, não consigo entender e apontar as causas dessa estúpida decisão de retroceder o país que parece estar sendo tomada por grande parte dos brasileiros de outra forma senão pela via do preconceito, da mesquinharia e da alienação política. Meu voto não é melhor que o de ninguém. Mas as pessoas fazem cada análise absurda que fica difícil dar crédito ao que pensam.
Agora, pasmem, a Veja, a Folha e o Globo são fontes respeitabilíssimas e tem uma credibilidade acima de qualquer suspeita. Pelo menos sustentam os discursos de uma imensa galera que até ontem falavam mal desses mesmos veículos de comunicação e apontavam com nojo a manipulação do povo exercida pelos mesmos.
Brincadeira...
Quero ver agora...
Nunca vi tanta gente torcendo para um país inteiro se foder porque assim vão se dar bem, pagarão menos impostos, verão o povão se foder e precisar de sua filantropia, e cada vez mais vão comer sardinha e arrotar caviar...
Só quero ver agora...
Mas é quase impossível para mim não acreditar que no fundo, no fundo, o eleitorado verde, mesmo os de última hora, esteja traquilo e despreocupado com o que possa acontecer nesse segundo turno. E quem abriu as portas para esse possível retrocesso no país, sem dúvida alguma, é essa turma que acreditou nas bravatas messiânicas de uma candidata que afirma poder fazer tudo diferente na política, e engana seus eleitores com essa falsa ideia de que para mudar um país basta vontade política e ética. Pura bravata que encontra eco em milhões de pessoas desiludidas com a política, indignadas com a corrupção que é inerente, enquanto risco, a qualquer atividade humana que envolva dinheiro, seja ele público ou privado.
É verdade que houve uma onda meio verde de boutique nessa eleição, e daí eu tento me convencer com a ideia de que as pessoas não sabem o que é o PV na verdade, e tal, suas alianças, suas posições, etc. No entanto, o que mais me incomoda é o grau de alienação de alguns discursos pró-Marina pelo fim da corrupção. Houve um redimensionamento e reestrutuação das políticas sociais desse país como nunca houve antes, e muitas pessoas não viram. Ou se viram, se encheram de preconceitos de classe e toupeirices narcisistas de quem olha sempre o próprio umbigo e perderam a noção que um país melhor para os pobres também é um país melhor para todos. A economia se alimenta com a estrutura em classes, se ativa. E se pega um momento como o nosso, com certeza a redução da desigualdade acaba sendo boa também para as classes mais abastadas.
Mas não, a galera não quer abrir mão de sua moralzinha puritana de merda, subornando um policial na esquina, se dando bem em alguma jogada aqui, outra acolá e enchendo o peito para dizer que é contra a corrupção. Resta dizer que é a favor da hipocrisia e, no caso da Marina, da demagogia e do despreparo.
Eu não sou a favor da corrupção, mas entendo também que é um mal que assola todos os países, toda grande instituição, empresa, partido político, e sempre que se junta um grupo de seres humanos e dinheiro, o seu risco é iminente. E qualquer governo do mundo e qualquer oposição do mundo está atenta para os ganhos políticas de um escândalo que envolva atos de corrupção.
Não, não sou um oráculo de sabedoria e nem estou livre de preconceitos de classe e/ou de outra ordem. Entretanto, definitivamente, não consigo entender e apontar as causas dessa estúpida decisão de retroceder o país que parece estar sendo tomada por grande parte dos brasileiros de outra forma senão pela via do preconceito, da mesquinharia e da alienação política. Meu voto não é melhor que o de ninguém. Mas as pessoas fazem cada análise absurda que fica difícil dar crédito ao que pensam.
Agora, pasmem, a Veja, a Folha e o Globo são fontes respeitabilíssimas e tem uma credibilidade acima de qualquer suspeita. Pelo menos sustentam os discursos de uma imensa galera que até ontem falavam mal desses mesmos veículos de comunicação e apontavam com nojo a manipulação do povo exercida pelos mesmos.
Brincadeira...
Quero ver agora...
Nunca vi tanta gente torcendo para um país inteiro se foder porque assim vão se dar bem, pagarão menos impostos, verão o povão se foder e precisar de sua filantropia, e cada vez mais vão comer sardinha e arrotar caviar...
Só quero ver agora...
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
antes dois comentários anônimos do que um silêncio inominável
Pois então, sem mais delongas nem desabafos desaforados de manhãs dominicais...
Fiquei pensando nessa coisa da comunicação, da minha necessidade de me comunicar, de falar e ser ouvido, de ler comentários, de receber algum retorno das minhas palavras e casos e poemas e tintins e bens e tais... Não à toa estou completamente viciado no facebook. Clube de insones, ilusão gostosa de ser ouvido, sensação de não estar só... Mais do que isso confesso que o mundo virtual tem me fascinado e dado até um plus em minha existência real.
Descobri essas possibilidades da internet há pouco tempo. Ainda não consigo gostar propriamente de alguns mecanismos, como o chat ou bate papo. Não consigo menos pela chance de conversar com pessoas que não vejo há tempos, com outras que vejo com mais frequência ou outras ainda que nem conheço - ainda. Adoro essas possibilidades. Chato é quando vc está conversando com uma pessoa e vem uma enxurrada de outros amigos insones-solitários puxando conversa. Fico sem saber direito o que fazer, não consigo cortar a conversa, ou não responder, ao mesmo tempo em que fico todo enrolado em manter o papo que realmente me interessava... Eu tenho o cromossomo Y... Não consigo dividir minha atenção desse jeito, tal como reza a lenda que as mulheres conseguem fazer com maior facilidade...
A parada é que o facebook tem cumprido um papel interessante. É engraçado me pegar por vezes pensando em guardar uma ideia para postar mais tarde ou mesmo quando não tenho assunto ficar esperando alguém postar algumas palavras, reportagem, artigo de outrem, fotos, vídeos ou ideias que disparem outras verborragias e reflexões, curtições e comentários.
Assim como esse blog cumpriu esse papel durante um tempo.
Chega a ser engraçado pensar que ele começou inclusive a ficar perigoso uma época em que os acessos fugiram do controle e do círculo restrito dos amigos reais permitidos... Mas, bem, deixa isso quieto...
*********
Caso vocês tenham percebido, ou não, o texto acima foi fruto de um exercício quase vazio de escrita e busca de assunto. Fiquei sensibilizado com os comentários anônimos... rindo à toa... e com vontade de brindá-l@s com algumas palavras...
Pois bem, como eu sempre faço quando sinto que a postagem ficou sem sentido, como quem quer lembrar - e mostrar - que um dia já esteve mais inspirado, uma poesia para quebrar o gelo e tomar com whisky...
TEMPORAL
“Caracol é uma solidão que anda na parede”
Manoel de Barros
bromélias exalam mães em silêncio
rosas suspiram suor e vinho
lírios cochicham um cheiro de morte
trevos de quatro gaguejam sorte
as horas deitam matéria no canto dos passarinhos
mulher bêbada tem voz de pernas abertas
as certezas disparam conjecturas
maduras as frutas explicam a gravidade
palavras são lapidadas pelo cinzel do silêncio
a leveza da brisa adorna comidas pesadas
barulho na escada não deixa pegadas
na areia mora um silogismo efêmero
a verdade dorme na traquéia dos sofismas
o mundo é efeito de encantos
os homens são meros macacos vaidosos
ventos inventam distâncias
decerto a pronúncia é sempre incerta
todo absoluto tem sabor relativo
irremediavelmente vivo deitado
mesmo quando caminho
todos os olhares são dúbios
sentidos me tangem
trago em meu corpo o gosto do inefável
na companhia das palavras reconheço-me sozinho
em meu peito cochila um latifúndio
minha atividade predileta é a pecuária dos destinos
na terra que me falta planto vozes
encolho versos em guardanapos nomeados pergaminhos
o melhor de mim é inútil
de cerveja e juventude são feitas as revoluções
dentro de mim se esconde uma gargalhada quando encontro algum profeta
desde menino caiu meu queixo
junto ao vazio torno-me inconsútil
lembranças temperam minhas refeições
dizem as más línguas que eu sou poeta:
deixo que digam
deixo que pensem
deixo que falem
deixo isso pra lá
o que é que tem
o vazio das palavras
é meu também.
Fiquei pensando nessa coisa da comunicação, da minha necessidade de me comunicar, de falar e ser ouvido, de ler comentários, de receber algum retorno das minhas palavras e casos e poemas e tintins e bens e tais... Não à toa estou completamente viciado no facebook. Clube de insones, ilusão gostosa de ser ouvido, sensação de não estar só... Mais do que isso confesso que o mundo virtual tem me fascinado e dado até um plus em minha existência real.
Descobri essas possibilidades da internet há pouco tempo. Ainda não consigo gostar propriamente de alguns mecanismos, como o chat ou bate papo. Não consigo menos pela chance de conversar com pessoas que não vejo há tempos, com outras que vejo com mais frequência ou outras ainda que nem conheço - ainda. Adoro essas possibilidades. Chato é quando vc está conversando com uma pessoa e vem uma enxurrada de outros amigos insones-solitários puxando conversa. Fico sem saber direito o que fazer, não consigo cortar a conversa, ou não responder, ao mesmo tempo em que fico todo enrolado em manter o papo que realmente me interessava... Eu tenho o cromossomo Y... Não consigo dividir minha atenção desse jeito, tal como reza a lenda que as mulheres conseguem fazer com maior facilidade...
A parada é que o facebook tem cumprido um papel interessante. É engraçado me pegar por vezes pensando em guardar uma ideia para postar mais tarde ou mesmo quando não tenho assunto ficar esperando alguém postar algumas palavras, reportagem, artigo de outrem, fotos, vídeos ou ideias que disparem outras verborragias e reflexões, curtições e comentários.
Assim como esse blog cumpriu esse papel durante um tempo.
Chega a ser engraçado pensar que ele começou inclusive a ficar perigoso uma época em que os acessos fugiram do controle e do círculo restrito dos amigos reais permitidos... Mas, bem, deixa isso quieto...
*********
Caso vocês tenham percebido, ou não, o texto acima foi fruto de um exercício quase vazio de escrita e busca de assunto. Fiquei sensibilizado com os comentários anônimos... rindo à toa... e com vontade de brindá-l@s com algumas palavras...
Pois bem, como eu sempre faço quando sinto que a postagem ficou sem sentido, como quem quer lembrar - e mostrar - que um dia já esteve mais inspirado, uma poesia para quebrar o gelo e tomar com whisky...
TEMPORAL
“Caracol é uma solidão que anda na parede”
Manoel de Barros
bromélias exalam mães em silêncio
rosas suspiram suor e vinho
lírios cochicham um cheiro de morte
trevos de quatro gaguejam sorte
as horas deitam matéria no canto dos passarinhos
mulher bêbada tem voz de pernas abertas
as certezas disparam conjecturas
maduras as frutas explicam a gravidade
palavras são lapidadas pelo cinzel do silêncio
a leveza da brisa adorna comidas pesadas
barulho na escada não deixa pegadas
na areia mora um silogismo efêmero
a verdade dorme na traquéia dos sofismas
o mundo é efeito de encantos
os homens são meros macacos vaidosos
ventos inventam distâncias
decerto a pronúncia é sempre incerta
todo absoluto tem sabor relativo
irremediavelmente vivo deitado
mesmo quando caminho
todos os olhares são dúbios
sentidos me tangem
trago em meu corpo o gosto do inefável
na companhia das palavras reconheço-me sozinho
em meu peito cochila um latifúndio
minha atividade predileta é a pecuária dos destinos
na terra que me falta planto vozes
encolho versos em guardanapos nomeados pergaminhos
o melhor de mim é inútil
de cerveja e juventude são feitas as revoluções
dentro de mim se esconde uma gargalhada quando encontro algum profeta
desde menino caiu meu queixo
junto ao vazio torno-me inconsútil
lembranças temperam minhas refeições
dizem as más línguas que eu sou poeta:
deixo que digam
deixo que pensem
deixo que falem
deixo isso pra lá
o que é que tem
o vazio das palavras
é meu também.
domingo, 19 de setembro de 2010
de porque eu não escrevo aqui ultimamente
eu não escrevo para mim mesmo. a concepção do texto, as ideias, a análise do texto obviamente são um exercício solitário, mas é mentira, pelo menos para mim, que seja auto-suficiente. eu não preciso escrever. eu escrevo porque quero comunicar algo com as palavras. escrevo para ser lido. quando não sou lido, ou não me sinto sendo lido, eu não escrevo. não faz sentido.
por isso não tenho escrito aqui ultimamente.
mas, deixa quieto que um dia quem sabe eu acordo com vontade de tocar uma punheta vernacular e ejaculo algo por aqui.
por enquanto, confesso que mesmo essa postagem parece coisa de maluco ou idiota que fica falando sozinho. não faz sentido. e apesar de que quando estou bêbado, o que infelizmente ultimamente tem sido uma saída recorrente, eu possa parecer um maluco ou idiota, eu não sou um maluco nem um idiota.
por isso não tenho escrito aqui ultimamente.
mas, deixa quieto que um dia quem sabe eu acordo com vontade de tocar uma punheta vernacular e ejaculo algo por aqui.
por enquanto, confesso que mesmo essa postagem parece coisa de maluco ou idiota que fica falando sozinho. não faz sentido. e apesar de que quando estou bêbado, o que infelizmente ultimamente tem sido uma saída recorrente, eu possa parecer um maluco ou idiota, eu não sou um maluco nem um idiota.
sábado, 28 de agosto de 2010
meu anjo da guarda deve ser workaholic
minha aventura urbana de ontem à noite, tintim por tintim:
- me emputeço com o trânsito, com a falta de dinheiro e por não ter conseguido ir no back2black, pego o celular, ligo o rádio, ponho meus fones de ouvido e venho andando da Maré, passarela 9 até a Praça XV
- no caminho uns moleques desses bem crescidos passam o rodo numa galera que eu acho que estava caminhando em direção à feira de São Cristóvão. Sinceramente, até agora eu não consigo entender porque eles me olharam e não fizeram nada... eu segui andando em frente, não tinha o que fazer, eles me olharam e apesar de eu estar com fones de ouvido e celular na mão, não fizeram nada, juro, inacreditável.
- paro no Estácio, mais puto ainda por passar em frente ao evento na Leopoldina, tomo duas cervejas, e ao final da segunda, não sei porque nem como, estava ainda com os fones de ouvido e entretido nos meus pensamentos, explode uma porradaria sinistra, garrafas quebrando, mesa voando, chamaram a polícia, um maluquinho que parece que mora numa favelinha nas imediações do sambódromo ficou mal, viu, mal mesmo.
- me dá uma dor de barriga desgraçada e eu tenho que usar um banheiro imundo e quente como o inferno em frente à Alerj, tendo que ouvir ainda brincadeiras e zoações de bêbados mijando.
- chego na Praça XV e descubro que meu riocard não tem saldo suficiente para a barca. As barcas não fazem como os ônibus que deixam vc passar e ficam com seu cartão sem saldo. Explico isso para uma vendedora conhecida de uma daquelas banquinhas em frente à estação das barcas e consigo dinheiro para atravessar a baía.
- obviamente sem dinheiro e imundo nessa caminhada maluca, vou pra casa tomar um banho com esperanças ainda de ir numa festinha na casa de uma amiga em Nikiti. Acabo de tomar banho e tal, eis que minha avó surge numa carreira desembestada apertada para ir no banheiro tadinha e, cara, quase, quase, por muito pouco ela não toma um estabaco feio, parecia uma bolinha de pinball batendo nas paredes.
Conclusão: pânico!! Não consegui sair de casa e fiquei a noite inteira acordado escoltando a véinha...
- dormi um pouco quase nada e acordei rimando...
Hoje de manhã fui dar uma bronca nela, disse que eu sei que ela estava apertada, mas que não pode correr e tem que usar a bengala! (porra!!!!), e ela fica rindo e diz para eu não me preocupar não, que Nossa Senhora não vai deixar ela cair, não...
Puta que pariu, sacanagem não, nessas horas que eu vejo de onde vem minha bravura doida e minha teimosia orgulhosa...
Então, tá bom pra vcs??!!!
Mais um capítulo da série "Bodvéi, bodvéi..." rsrs
- me emputeço com o trânsito, com a falta de dinheiro e por não ter conseguido ir no back2black, pego o celular, ligo o rádio, ponho meus fones de ouvido e venho andando da Maré, passarela 9 até a Praça XV
- no caminho uns moleques desses bem crescidos passam o rodo numa galera que eu acho que estava caminhando em direção à feira de São Cristóvão. Sinceramente, até agora eu não consigo entender porque eles me olharam e não fizeram nada... eu segui andando em frente, não tinha o que fazer, eles me olharam e apesar de eu estar com fones de ouvido e celular na mão, não fizeram nada, juro, inacreditável.
- paro no Estácio, mais puto ainda por passar em frente ao evento na Leopoldina, tomo duas cervejas, e ao final da segunda, não sei porque nem como, estava ainda com os fones de ouvido e entretido nos meus pensamentos, explode uma porradaria sinistra, garrafas quebrando, mesa voando, chamaram a polícia, um maluquinho que parece que mora numa favelinha nas imediações do sambódromo ficou mal, viu, mal mesmo.
- me dá uma dor de barriga desgraçada e eu tenho que usar um banheiro imundo e quente como o inferno em frente à Alerj, tendo que ouvir ainda brincadeiras e zoações de bêbados mijando.
- chego na Praça XV e descubro que meu riocard não tem saldo suficiente para a barca. As barcas não fazem como os ônibus que deixam vc passar e ficam com seu cartão sem saldo. Explico isso para uma vendedora conhecida de uma daquelas banquinhas em frente à estação das barcas e consigo dinheiro para atravessar a baía.
- obviamente sem dinheiro e imundo nessa caminhada maluca, vou pra casa tomar um banho com esperanças ainda de ir numa festinha na casa de uma amiga em Nikiti. Acabo de tomar banho e tal, eis que minha avó surge numa carreira desembestada apertada para ir no banheiro tadinha e, cara, quase, quase, por muito pouco ela não toma um estabaco feio, parecia uma bolinha de pinball batendo nas paredes.
Conclusão: pânico!! Não consegui sair de casa e fiquei a noite inteira acordado escoltando a véinha...
- dormi um pouco quase nada e acordei rimando...
Hoje de manhã fui dar uma bronca nela, disse que eu sei que ela estava apertada, mas que não pode correr e tem que usar a bengala! (porra!!!!), e ela fica rindo e diz para eu não me preocupar não, que Nossa Senhora não vai deixar ela cair, não...
Puta que pariu, sacanagem não, nessas horas que eu vejo de onde vem minha bravura doida e minha teimosia orgulhosa...
Então, tá bom pra vcs??!!!
Mais um capítulo da série "Bodvéi, bodvéi..." rsrs
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
neguinha?
Tem cada coisa que acontece que, puta que pariu, é foda.
Tenho uma amiga do facebook, dessas que são amigas reais de um amigo real e um dia concordam com uma posição ou um comentário virtual seu, se manifesta em seu favor, alguém envia uma solicitação de amizade e se torna uma de suas melhores amigas virtuais. Essa, em especial, eu nutria, ou nutro, sei lá, uma vontade e uma promessa de nos conhecermos no mundão dito real, encontro pelo qual eu alimentava, ou alimento, sei lá - alimento - expectativas eróticas. Nosso amigo real em comum já havia falado à beça dela, como quem joga um super trunfo erótico canalha (pernas, coxas, bumbum, quadril, seios, lábios, etc...rsrs).
Pois bem, essa semana minha querida amiga virtual me postou um texto no facebook dizendo que foi abordada pela pesquisa do censo do IBGE e que, ao ser questionada sobre sua cor e/ou raça, depois de pensar um pouco respondeu cantando em tom de galhofa 'eu sou neguinha', mesmo sendo branca como a neve, mais caucasiana do que a Nicole Kidman - na verdade, seguindo o papo Manderlay, que aliás tem tudo a ver com esse presente texto, ela está mais para Bryce Dallas Howard, a segunda Grace e ou a Dama na Água do Shyamalan...
O pior é que o idiota do rapaz do censo riu da piada e transcreveu-a solenemente, afirmando ainda que ela podia mentir à vontade. Na certa estava rolando um flerte de ambos os lados - além de uma estupidez e alienação inacreditáveis, ainda mais quando se sabe que o dito cujo passou por uma formação de pesquisador...
Porra, cara pálida, para que fazemos um censo, meu Deus do céu?? Para que será que servem suas informações?? Para termos uma ideia estatisticamente construída acerca da sociedade brasileira, seus arranjos, distribuições, configurações e desigualdades.... Para construirmos políticas públicas que dêem conta e superem essas desigualdades, certo?! Então fraudar ou sabotar uma informação no censo é sabotar todo esse processo, concordam??!!
Francamente. Não consegui ficar propriamente puto com ela. Ela me parecia meio ainda sem entender direito o que tinha acontecido, apesar de ter achado bacana, e tal. Fiquei bem mais revoltado de saber o tipo de entrevistador que está realizando essa pesquisa, do seu despreparo ou falta de noção do que está fazendo. Não concorda com a pesquisa, tem suas questões, faça-as ouvir noutro momento, estude, faça um mestrado, sei lá. Ou vai vender pó, vai roubar, vai fazer o que for, menos aplicar questionários do censo.
O pior foram os comentários do tipo: pois é, mandou bem, viva a raça humana, como fazem essa pergunta no Brasil... Como se não houvesse racismo no Brasil, como se a cor da pele não fosse um determinante de uma série de configurações sociais opressoras que milhões de brasileiros vivem, como se a discriminação racial não fosse uma realidade vivida cotidianamente em nosso país. Lamentável.
Há poucos dias escrevi sobre essa ideia de uma democracia racial e de como Caetano Veloso, citando Antônio Cícero, irmão da Marina - Marina Lima, a cantora, por favor - propunha adotar essa postura que considero no mínimo cínica e alienada como um mito propulsor dessa igualdade racial. Como se negar o racismo fosse transformar a sociedade num passe de mágica, como se viver ignorando e impondo uma visão não racista pura e simplesmente corrigisse as desigualdades concernentes ao componente racial na sociedade brasileira. E olha que ele diz não usar droga, hein... Eu que me entupi de ácidos, cogumelos, cocaína, maconha e álcool a vida inteira pareço perceber a realidade de maneira bem mais lúcida. Ou menos cínica e blasé.
Tudo bem, existe toda uma corrente mais elaborada que defende a adoção dessa linha de pensamento na formulação das políticas públicas segundo o argumento de que incluindo o componente cor junto a outras questões sociais você poderia corrigir uma série de desigualdades históricas sem a criação de um objeto específico "cor' ou 'raça' e o isolamento dessa variante. No entanto, o problema é que essa variante já está isolada, esse objeto já foi recortado, e só não vê quem não quer. Apesar da inegável miscigenação, elucidar o que está relacionado ao componente cor e raça não é criar o racismo no Braisl. Muito pelo contrário, é admitir que existe, observar suas consequências nefastas e procurar corrigí-las. Penso assim.
E penso ser triste ver tanta gente negando esse problema, e mais triste ainda ver que são todos brancos, ou predominantemente brancios caucasianos, moradores de bairros nobres da zona sul do Rio de Janeiro. Triste, mas compreensível, é verdade. Tal ideologia só poderia vicejar mesmo nessas localidades. Triste mesmo é o menino pretinho do morro querer ser branco, achar ser preto feio, saber que a polícia pára ele por conta de suas roupas, ethos e cor e ter introjetado goela abaixo essa ideologia perversa. Isso é triste. Isso me causa tristeza.
Já essa galerinha metida a vanguarda do pensamento me dá é nojo.
*******
Mas tudo bem, se houver oportunidade eu bem pego ainda de jeito a Bryce Dallas Howard neguinha entre aspas do facebook... rsrsrs
Tenho uma amiga do facebook, dessas que são amigas reais de um amigo real e um dia concordam com uma posição ou um comentário virtual seu, se manifesta em seu favor, alguém envia uma solicitação de amizade e se torna uma de suas melhores amigas virtuais. Essa, em especial, eu nutria, ou nutro, sei lá, uma vontade e uma promessa de nos conhecermos no mundão dito real, encontro pelo qual eu alimentava, ou alimento, sei lá - alimento - expectativas eróticas. Nosso amigo real em comum já havia falado à beça dela, como quem joga um super trunfo erótico canalha (pernas, coxas, bumbum, quadril, seios, lábios, etc...rsrs).
Pois bem, essa semana minha querida amiga virtual me postou um texto no facebook dizendo que foi abordada pela pesquisa do censo do IBGE e que, ao ser questionada sobre sua cor e/ou raça, depois de pensar um pouco respondeu cantando em tom de galhofa 'eu sou neguinha', mesmo sendo branca como a neve, mais caucasiana do que a Nicole Kidman - na verdade, seguindo o papo Manderlay, que aliás tem tudo a ver com esse presente texto, ela está mais para Bryce Dallas Howard, a segunda Grace e ou a Dama na Água do Shyamalan...
O pior é que o idiota do rapaz do censo riu da piada e transcreveu-a solenemente, afirmando ainda que ela podia mentir à vontade. Na certa estava rolando um flerte de ambos os lados - além de uma estupidez e alienação inacreditáveis, ainda mais quando se sabe que o dito cujo passou por uma formação de pesquisador...
Porra, cara pálida, para que fazemos um censo, meu Deus do céu?? Para que será que servem suas informações?? Para termos uma ideia estatisticamente construída acerca da sociedade brasileira, seus arranjos, distribuições, configurações e desigualdades.... Para construirmos políticas públicas que dêem conta e superem essas desigualdades, certo?! Então fraudar ou sabotar uma informação no censo é sabotar todo esse processo, concordam??!!
Francamente. Não consegui ficar propriamente puto com ela. Ela me parecia meio ainda sem entender direito o que tinha acontecido, apesar de ter achado bacana, e tal. Fiquei bem mais revoltado de saber o tipo de entrevistador que está realizando essa pesquisa, do seu despreparo ou falta de noção do que está fazendo. Não concorda com a pesquisa, tem suas questões, faça-as ouvir noutro momento, estude, faça um mestrado, sei lá. Ou vai vender pó, vai roubar, vai fazer o que for, menos aplicar questionários do censo.
O pior foram os comentários do tipo: pois é, mandou bem, viva a raça humana, como fazem essa pergunta no Brasil... Como se não houvesse racismo no Brasil, como se a cor da pele não fosse um determinante de uma série de configurações sociais opressoras que milhões de brasileiros vivem, como se a discriminação racial não fosse uma realidade vivida cotidianamente em nosso país. Lamentável.
Há poucos dias escrevi sobre essa ideia de uma democracia racial e de como Caetano Veloso, citando Antônio Cícero, irmão da Marina - Marina Lima, a cantora, por favor - propunha adotar essa postura que considero no mínimo cínica e alienada como um mito propulsor dessa igualdade racial. Como se negar o racismo fosse transformar a sociedade num passe de mágica, como se viver ignorando e impondo uma visão não racista pura e simplesmente corrigisse as desigualdades concernentes ao componente racial na sociedade brasileira. E olha que ele diz não usar droga, hein... Eu que me entupi de ácidos, cogumelos, cocaína, maconha e álcool a vida inteira pareço perceber a realidade de maneira bem mais lúcida. Ou menos cínica e blasé.
Tudo bem, existe toda uma corrente mais elaborada que defende a adoção dessa linha de pensamento na formulação das políticas públicas segundo o argumento de que incluindo o componente cor junto a outras questões sociais você poderia corrigir uma série de desigualdades históricas sem a criação de um objeto específico "cor' ou 'raça' e o isolamento dessa variante. No entanto, o problema é que essa variante já está isolada, esse objeto já foi recortado, e só não vê quem não quer. Apesar da inegável miscigenação, elucidar o que está relacionado ao componente cor e raça não é criar o racismo no Braisl. Muito pelo contrário, é admitir que existe, observar suas consequências nefastas e procurar corrigí-las. Penso assim.
E penso ser triste ver tanta gente negando esse problema, e mais triste ainda ver que são todos brancos, ou predominantemente brancios caucasianos, moradores de bairros nobres da zona sul do Rio de Janeiro. Triste, mas compreensível, é verdade. Tal ideologia só poderia vicejar mesmo nessas localidades. Triste mesmo é o menino pretinho do morro querer ser branco, achar ser preto feio, saber que a polícia pára ele por conta de suas roupas, ethos e cor e ter introjetado goela abaixo essa ideologia perversa. Isso é triste. Isso me causa tristeza.
Já essa galerinha metida a vanguarda do pensamento me dá é nojo.
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Mas tudo bem, se houver oportunidade eu bem pego ainda de jeito a Bryce Dallas Howard neguinha entre aspas do facebook... rsrsrs
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Anteontem participei de um programa de televisão representando o Observatório de Favelas, onde trabalho. Fui pego de surpresa, estava no ônibus a caminho da Maré quando fui avisado que deveria participar desse programa.
Depois de me perder na Fiocruz e chegar em cima da hora todo suado, descobri que o programa se desenvolvia como um bate papo informal, a partir de provocações do apresentador.
Como sempre a coisa toda ocorre em três momentos distintos:
1 - stress pré-set de filmagens; esse momento é quando procuro antecipar todas as gafes possíveis e elaborar a minha fala grifando mentalmente o que não posso esquecer de falar e como. Esse momento, confesso, já está mais tranquilo para mim. Primeiro porque já não é a primeira vez que participo de um programa de TV ou de falar em público em geral. Em segundo lugar, confesso, lembro de Amana que me dizia com uma tranquilidade sincera que tudo daria certo, que eu sei falar bem em público e sempre mando bem nesses momentos, apesar do nervosismo antes da realização dos eventos.
2 - o programa propriamente dito que se divide entre o momento em que o apresentador combina em off o que irá perguntar; quando o programa começa e ele faz uma outra pergunta qualquer que só na cabeça dele tem alguma coisa a ver com a pergunta combinada em off; e os momentos em que o apresentador traduz o que eu falo da maneira que ele entendeu e eu obviamente discordo ou faço pequenas correções ao vivo e/ou ainda respondo com com um "mais ou menos" que o deixa meio constrangido mas ele disfarça, e por aí vai...
aliás é muito engraçada a forma como alguns apresentadores fazem perguntas longuíssimas, verborrágicas e sem sentido... aí fica aquele silêncio, ele com a expressão de "e então?"e eu com a expressão gritante de "puta que o pariu, o que que você quis dizer filho (a) da puta??"... Mas sempre acaba dando certo mesmo... O negócio é sair falando e responder o que você quiser e foda-se a pergunta...
3 - stress obsessivo pós-evento; o momento mais difícil. É quando eu fico reconstituindo mentalmente as respostas, investigando minhas falas para saber se eu fui bem, se não falei besteira, se não fui contra algum posicionamento institucional, etc.
E como sofro de ideias fixas, esse é o momento em que ainda me encontro e que motivou esse texto e motivará nalgum momento quase todas minhas conversas dos próximos dias...
*****
Não aguento mais ouvir as pessoas reclamendo do frio. Eu não reclamo, pelo contrário, acho que tem seus problemas, ir ao banheiro é uma merda, sair da cama, acordar cedo, trepar exige outra dinâmica, a garganta fica ruim e tal...
Eu estou gostando do friozinho, esse lapso de inverno carioca. É uma oportunidade de usar meus casacos que já estavam embolorando, posso beber café sem ficar suando horrores, chocolate quente, misto quente, sopa pelando, chego no trabalho arrumadinho, pego sol na rua numa boa, tomo vinhozinho, fico mais caseiro... tudo bem, ficar caseiro é mentira... mas o frio acaba remetendo a prazeres mais apropriados para os espaços fechados mesmo, mais aquecidos e tal.
Corre o risco de ficar meio afrescalhado, usar cachecóis e achar que está em Paris e ficar falando de Zizek, cinema europeu e existencialismos de botequim, mas nada que uma ida ao Barroquinho e uma dose de gengibre num botequim vagabundo do centro da cidade não cure...
Aposto que esse povo é o primeiro a reclamar do calor, da urgência do ar condicionado, da merda que é viver ensopado de suor e de como é ruim ficar já todo suado logo após acabar o banho... a galera gosta mesmo é de reclamar...
******
O que me fez lembrar Raul...
Depois de me perder na Fiocruz e chegar em cima da hora todo suado, descobri que o programa se desenvolvia como um bate papo informal, a partir de provocações do apresentador.
Como sempre a coisa toda ocorre em três momentos distintos:
1 - stress pré-set de filmagens; esse momento é quando procuro antecipar todas as gafes possíveis e elaborar a minha fala grifando mentalmente o que não posso esquecer de falar e como. Esse momento, confesso, já está mais tranquilo para mim. Primeiro porque já não é a primeira vez que participo de um programa de TV ou de falar em público em geral. Em segundo lugar, confesso, lembro de Amana que me dizia com uma tranquilidade sincera que tudo daria certo, que eu sei falar bem em público e sempre mando bem nesses momentos, apesar do nervosismo antes da realização dos eventos.
2 - o programa propriamente dito que se divide entre o momento em que o apresentador combina em off o que irá perguntar; quando o programa começa e ele faz uma outra pergunta qualquer que só na cabeça dele tem alguma coisa a ver com a pergunta combinada em off; e os momentos em que o apresentador traduz o que eu falo da maneira que ele entendeu e eu obviamente discordo ou faço pequenas correções ao vivo e/ou ainda respondo com com um "mais ou menos" que o deixa meio constrangido mas ele disfarça, e por aí vai...
aliás é muito engraçada a forma como alguns apresentadores fazem perguntas longuíssimas, verborrágicas e sem sentido... aí fica aquele silêncio, ele com a expressão de "e então?"e eu com a expressão gritante de "puta que o pariu, o que que você quis dizer filho (a) da puta??"... Mas sempre acaba dando certo mesmo... O negócio é sair falando e responder o que você quiser e foda-se a pergunta...
3 - stress obsessivo pós-evento; o momento mais difícil. É quando eu fico reconstituindo mentalmente as respostas, investigando minhas falas para saber se eu fui bem, se não falei besteira, se não fui contra algum posicionamento institucional, etc.
E como sofro de ideias fixas, esse é o momento em que ainda me encontro e que motivou esse texto e motivará nalgum momento quase todas minhas conversas dos próximos dias...
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Não aguento mais ouvir as pessoas reclamendo do frio. Eu não reclamo, pelo contrário, acho que tem seus problemas, ir ao banheiro é uma merda, sair da cama, acordar cedo, trepar exige outra dinâmica, a garganta fica ruim e tal...
Eu estou gostando do friozinho, esse lapso de inverno carioca. É uma oportunidade de usar meus casacos que já estavam embolorando, posso beber café sem ficar suando horrores, chocolate quente, misto quente, sopa pelando, chego no trabalho arrumadinho, pego sol na rua numa boa, tomo vinhozinho, fico mais caseiro... tudo bem, ficar caseiro é mentira... mas o frio acaba remetendo a prazeres mais apropriados para os espaços fechados mesmo, mais aquecidos e tal.
Corre o risco de ficar meio afrescalhado, usar cachecóis e achar que está em Paris e ficar falando de Zizek, cinema europeu e existencialismos de botequim, mas nada que uma ida ao Barroquinho e uma dose de gengibre num botequim vagabundo do centro da cidade não cure...
Aposto que esse povo é o primeiro a reclamar do calor, da urgência do ar condicionado, da merda que é viver ensopado de suor e de como é ruim ficar já todo suado logo após acabar o banho... a galera gosta mesmo é de reclamar...
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O que me fez lembrar Raul...
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Depoimentos e versos
Hoje tive que tomar uma decisão chata para mim. Ou melhor, ratifiquei uma decisão e movimento já tomados pelos outros antigos colaboradores desse blog em mais uma tentativa de ressurreição. Removi suas entradas como colaboradores.
Faveleiro e Capilo já haviam manifestado sua falta de assunto e de ânimo para escrever aqui. Clementina, talvez sua mais frequente colaboradora, nos abandonou por motivos que não cabem ser discutidos publicamente, apesar de já estarem amarelecidos pelo efeito do tempo e devidamente resolvidos e assentados. Pelo menos, creio eu.
Pois é... sobrou o bode véio que aqui vos fala.
Prometo colaborar com a assiduidade que a vida louca me permitir e que nossa ligação será infinita enquanto dure, parodiando o grande poetinha...
Reclamações e comentários me acusando de tirano virtual serão bem vindos. O silêncio dos 'excluídos' (seria melhor dizer auto-excluídos) somente irá corroborar o acerto de meu gesto.
******
Quinta passada participei de um evento histórico, um ato em favor da devolução ou reabertura do espaço cultural da Cantareira para a população de Niterói. Fora a importância desse ato-show, foi uma oportunidade rara de encontrar velhas amizades de dez, vinte anos. Uns com mais barriga, outros com menos cabelos, uns grisalhos, outros cada vez mais pirados, enfim, sensacional.
Toquei no Bloco do Vigário. Ou melhor, enganei tocando caixa no Bloco do Vigário. Eu tinha bebido e fumado tanto, empolgado e eufórico com os incessantes e festejados encontros que quando fui tocar meus braços já não me obedeciam e foi foda pra segurar a pressão. A molecada do bloco é foda, todos cascudos de baterias de escolas de samba. No entanto, fui raçudo, não cedi e lutei até o final... Ainda que com muitos knock downs, deu pra ganhar até moral com a galera... rsrs
Uma coisa engraçada, ou nem tanto, é a galera que me pergunta o que houve comigo que estou tão gordo, e tal. Engraçado, ou nem tanto, porque se tratam de pessoas que me conhecem há muito tempo e já me viram até mais gordo do que estou agora. Lamento a forma como hoje em dia as pessoas tratam os pesos a mais como uma aberração física, quase uma deformação de caráter.
Minha vontade é mandar todos que me vem com esse blá, blá, blá pra puta que pariu. Mas relevo, brinco, finjo que não é comigo e somente me exalto ou saio fora se a pessoa insistir, me mandar fazer dieta, me cuidar ou qualquer outra bosta dessa. O pior é que eu sei que no fundo a intenção é boa...
Bom, como bem sei que de boas intenções o inferno já está cheio, eu quero mais é que vão todos à merda, pra casa do caralho e que fiquem bem gordos ou que sejam precocemente proibidos de comer e beber o que gostam... e, claro, que obedeçam...
*****
Uma poesia pra não perder o hábito... a segunda parte eu postei recentemente no facebook:
Uma doideira assim qualquer sem nome
Há momentos
em que o som
da minha respiração
ensurdece e atrapalha
o pensamento
Noutros
a ventania enfurecida das idéias
varre de mim
minhas lembranças mais alertas
Nado
num mar calmo
de onde não concebo
planos
metas
tarefas
contas
datas
senhas
limites
Gosto assim
quando me esqueço de mim
e penso que mereço
bem mais
do que cabe no pensamento
Se o devaneio só existe
fora do encadeamento
racional cotidiano
– vivo em fuga!!
e acho no barato que me dá
um barato
essa ausência
O espaço
onde não respiro
é ensurdecedor
ao pensamento
que é todo em si sem nome:
nem meu
nem seu
nem nosso...
Longe
outro
estranho
de outro
abstrato
endereço
me olha
no espelho
ao avesso
– gosto quando acordo
e não me reconheço.
****
Há uma mulher deitada
ao meu lado
ronronando
um ronronar tão belo
num corpo em curvas
...de violoncelo
Suas nádegas redondas
macias e pedintes
gritam por carinho
- e eu faço...
A mulher desperta
serpenteando
sua volúpia matinal
e pronuncia meu nome
enquanto afaga meu corpo
É estranho quando acordo
e não reconheço
onde deito
- mas é muito bom acordar
e lembrar de tudo
desse jeito...
Faveleiro e Capilo já haviam manifestado sua falta de assunto e de ânimo para escrever aqui. Clementina, talvez sua mais frequente colaboradora, nos abandonou por motivos que não cabem ser discutidos publicamente, apesar de já estarem amarelecidos pelo efeito do tempo e devidamente resolvidos e assentados. Pelo menos, creio eu.
Pois é... sobrou o bode véio que aqui vos fala.
Prometo colaborar com a assiduidade que a vida louca me permitir e que nossa ligação será infinita enquanto dure, parodiando o grande poetinha...
Reclamações e comentários me acusando de tirano virtual serão bem vindos. O silêncio dos 'excluídos' (seria melhor dizer auto-excluídos) somente irá corroborar o acerto de meu gesto.
******
Quinta passada participei de um evento histórico, um ato em favor da devolução ou reabertura do espaço cultural da Cantareira para a população de Niterói. Fora a importância desse ato-show, foi uma oportunidade rara de encontrar velhas amizades de dez, vinte anos. Uns com mais barriga, outros com menos cabelos, uns grisalhos, outros cada vez mais pirados, enfim, sensacional.
Toquei no Bloco do Vigário. Ou melhor, enganei tocando caixa no Bloco do Vigário. Eu tinha bebido e fumado tanto, empolgado e eufórico com os incessantes e festejados encontros que quando fui tocar meus braços já não me obedeciam e foi foda pra segurar a pressão. A molecada do bloco é foda, todos cascudos de baterias de escolas de samba. No entanto, fui raçudo, não cedi e lutei até o final... Ainda que com muitos knock downs, deu pra ganhar até moral com a galera... rsrs
Uma coisa engraçada, ou nem tanto, é a galera que me pergunta o que houve comigo que estou tão gordo, e tal. Engraçado, ou nem tanto, porque se tratam de pessoas que me conhecem há muito tempo e já me viram até mais gordo do que estou agora. Lamento a forma como hoje em dia as pessoas tratam os pesos a mais como uma aberração física, quase uma deformação de caráter.
Minha vontade é mandar todos que me vem com esse blá, blá, blá pra puta que pariu. Mas relevo, brinco, finjo que não é comigo e somente me exalto ou saio fora se a pessoa insistir, me mandar fazer dieta, me cuidar ou qualquer outra bosta dessa. O pior é que eu sei que no fundo a intenção é boa...
Bom, como bem sei que de boas intenções o inferno já está cheio, eu quero mais é que vão todos à merda, pra casa do caralho e que fiquem bem gordos ou que sejam precocemente proibidos de comer e beber o que gostam... e, claro, que obedeçam...
*****
Uma poesia pra não perder o hábito... a segunda parte eu postei recentemente no facebook:
Uma doideira assim qualquer sem nome
Há momentos
em que o som
da minha respiração
ensurdece e atrapalha
o pensamento
Noutros
a ventania enfurecida das idéias
varre de mim
minhas lembranças mais alertas
Nado
num mar calmo
de onde não concebo
planos
metas
tarefas
contas
datas
senhas
limites
Gosto assim
quando me esqueço de mim
e penso que mereço
bem mais
do que cabe no pensamento
Se o devaneio só existe
fora do encadeamento
racional cotidiano
– vivo em fuga!!
e acho no barato que me dá
um barato
essa ausência
O espaço
onde não respiro
é ensurdecedor
ao pensamento
que é todo em si sem nome:
nem meu
nem seu
nem nosso...
Longe
outro
estranho
de outro
abstrato
endereço
me olha
no espelho
ao avesso
– gosto quando acordo
e não me reconheço.
****
Há uma mulher deitada
ao meu lado
ronronando
um ronronar tão belo
num corpo em curvas
...de violoncelo
Suas nádegas redondas
macias e pedintes
gritam por carinho
- e eu faço...
A mulher desperta
serpenteando
sua volúpia matinal
e pronuncia meu nome
enquanto afaga meu corpo
É estranho quando acordo
e não reconheço
onde deito
- mas é muito bom acordar
e lembrar de tudo
desse jeito...
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Manderlay, etnocentrismos, racismos e Caetano...
Acabei de ver 'Manderlay', filme de Lars von Trier e dica já antiga da minha ex-mulher. Realmente é um filmaço. Eu tinha ficado com uma certa repulsa e agonia com relação ao universo dramático deste diretor dinamarquês depois de ver 'Anticristo'. Agora até confesso que mudei em certa medida minha opinião.
Não vou contar a história dos filmes, mas o enredo do Anticristo, que usa o símbolo feminino, aquele círculo com uma cruz embaixo no lugar do segundo t na capa do filme em seu nome original em inglês, Antichrist, justifica em certa medida toda a bizarrice e violência da película. Querem saber por quê? Vejam o filme, ora essa, e choquem-se também como eu, Cannes e todo mundo que viu esse filme sinistro...
Bem, o importante é que num primeiro momento eu achei exagerada e desnecessária as cenas de automutilação e outras bizarrices, mas, pensando bem, faz sentido com o enredo e o rumo da história, apesar de serem talvez excessivamente violentas, explícitas e chocantes. De mal gosto, eu diria, embora, pensando agora de cabeça fresca e sem sentir dor alheia - variante contorcida e traumatizante da vergonha alheia - façam sentido.
Em 'Manderlay', novamente temos um mesmo ambiente experimental, com o cenário inusitado e teatral, que impõe a utilização de vários elementos de mímica, presente também em Dogville, filme do qual, aliás, é uma continuação, sendo a segunda parte de uma trilogia anunciada e ainda não concluída pelo autor. Novamente um tom de fábula criado pela conjunção de um narrador em off, o caráter surreal e experimental do cenário, um clima de sombras e contrastes, os cortes abruptos nos planos sequenciais e diálogos, além da própria organização do roteiro em capítulos com títulos que sugerem uma argumentação filosófica, nos colocam uma série de problemas reais e contemporâneos.
Aliás, eu diria que uma das principais virtudes dessa trilogia é essa sua opção experimental pela fábula, por não abrir mão de uma narrativa surreal e ficcional para expor problemas atuais. No final, causa incômodo um certo nonsense e absurdo da situação e de uma série de discursos e argumentos quye encontramos cotidianamente em jornais, nos locais de trabalho, nas campanhas políticas, bares e, o melhor de tudo, em nossos próprios discursos. É um "nosso lugar" de branco e ocidental, portador de um senso comum sustentando diversas posições que muitas vezes já não pomos em questão por assumirem um caráter 'indiscutível' cotidianamente, acerca de temas como liberdade, democracia, justiça, dentre outros que o autor fará surgir como problemas abertos, não resolvidos, e os inflama, jogando-os em nossa direção como coquetéis molotov. Nessa dança surreal das cadeiras, ele nos toma todos os assentos possíveis e nos manda embora da trama como quem nos passa uma rasteira bem dada. Assentos, por sinal, já de antemão inexistentes em sua obra e escolha cenográfica.
******
Lembrei do Caetano Veloso e do eterno debate sobre o mito da democracia racial brasileira. Caetano, neste domingo, fez uma provocação a Liv Sovik, pesquisadora da ECO/UFRJ que aponta as diversas perversidades existentes na noção disseminada de que vivemos na sociedade brasileira um racismo mais leve ou menos violento, e que o componente cor ou raça não influi tanto no cotidiano e nas histórias pessoais dos brasileiros.
Não sou tucano, logo não fico em cima do muro: não concordo com essa tese e sou, inclusive, defensor das cotas raciais em universidades e onde mais for preciso uma intervenção do Estado na sociedade na forma de políticas públicas em prol de uma igualdade social, racial, etc. Caetano assume outra posição, e questiona o que as diversas cotas raciais existentes nos Estados Unidos produziram de mudança nas mentalidades e mesmo no status quo da sociedade americana.
Não li Gilberto Freyre, não li nenhum outro grande pensador que defenda o mito da democracia racial, o que torna em certa medida capenga qualquer explanação que eu arrisque formular a seu respeito. No entanto, o já mais nem tão doce, muito menos bárbaro, mas sempre provocador em sua verve tropicalista, o baiano conseguiu me provocar com uma colocação sua, ou melhor, uma citação do Antônio Cícero: a de que o mito da democracia racial deveria ser interpretado como uma espécie de mito propulsor.
O que me traz de volta à Manderlay - e chega a ser uma ironia eu ver justamente esse filme hoje depois de ler e me encucar com essa argumentação do Caetano.
A forma como o filme de desenvolve tem muito a ver com uma crença numa democracia racial possível de ser produzida com um decreto ou com uma simples revogação e abolição da escravatura. Apesar desta proposição ter certas nuances mais calcadas numa convivência entre as raças marcada pela mestiçagem, no caso brasileiro, a questão colocada pelo filme é, por um lado, as dificuldades de superação das marcas da violência social existentes em anos de práticas escravagistas sustentadas por teorias eugênicas que apontam para um projeto civilizador branco e eurocêntrico. Por outro, indica como a ideia de uma superação imediata e forçada das marcas e rancores produzidos nesse período são a continuação desse projeto civilizador em sua face cínica e igualmente violenta. Apontam para uma abolição dos brancos, de uma superação das mágoas, da culpa e de um apagamento perverso das condições que justamente impedem a vivência de uma democracia racial. Negar essas perversidades continua significando atropelar toda uma questão histórica formadora do Brasil e do mundo tal como o vivemos hoje em dia, além da perpetuação das desigualdades nas relações de força e da dominação exercida por grupos raciais específicos sobre outros.
O mundo globalizou-se e homogeneizou-se toscamente através do estupro, da pilhagem, da dominação colonial e escravização dos ditos povos bárbaros ou inferiores. E isso não se muda ou supera de uma hora para outra. Reconhecer essa dívida histórica não é nenhuma legitimação do ressentimento, pelo contrário.
[Engraçado, eu ia falar agora que esse ressentimento se produz e reverbera através dos movimentos racistas ao contrário, como muitas vezes ouvimos falar... Não existe racismo ao contrário, existe racismo e pronto, seja para onde for apontada sua irracionalidade raivosa.]
É lógico que temos que ter o mito da democracia racial como um mito propulsor - mas como horizonte ético, como utopia. Porque do contrário, apontando-o como presente e original, negamos as vicissitudes históricas e afirmamos ainda nosso racismo perverso por linhas tortas e falsas dizendo que um dia chegará a vez do negro - mas que primeiro ele deve escolarizar-se e ascender socialmente tal como uma etnia bárbara que passa por um processo civilizatório, globalizado e modernoso...
******
Por fim, possíveis leitores dessa mídia teimosa, assistam 'Manderlay'... pode deixar que eu não explanei o final, não: ele inelutavelmente se imporá como um soco no estômago... aliás, bem como tudo o que eu já vi na obra desse dinamarquês maluco chamado Lars von Trier...
Não vou contar a história dos filmes, mas o enredo do Anticristo, que usa o símbolo feminino, aquele círculo com uma cruz embaixo no lugar do segundo t na capa do filme em seu nome original em inglês, Antichrist, justifica em certa medida toda a bizarrice e violência da película. Querem saber por quê? Vejam o filme, ora essa, e choquem-se também como eu, Cannes e todo mundo que viu esse filme sinistro...
Bem, o importante é que num primeiro momento eu achei exagerada e desnecessária as cenas de automutilação e outras bizarrices, mas, pensando bem, faz sentido com o enredo e o rumo da história, apesar de serem talvez excessivamente violentas, explícitas e chocantes. De mal gosto, eu diria, embora, pensando agora de cabeça fresca e sem sentir dor alheia - variante contorcida e traumatizante da vergonha alheia - façam sentido.
Em 'Manderlay', novamente temos um mesmo ambiente experimental, com o cenário inusitado e teatral, que impõe a utilização de vários elementos de mímica, presente também em Dogville, filme do qual, aliás, é uma continuação, sendo a segunda parte de uma trilogia anunciada e ainda não concluída pelo autor. Novamente um tom de fábula criado pela conjunção de um narrador em off, o caráter surreal e experimental do cenário, um clima de sombras e contrastes, os cortes abruptos nos planos sequenciais e diálogos, além da própria organização do roteiro em capítulos com títulos que sugerem uma argumentação filosófica, nos colocam uma série de problemas reais e contemporâneos.
Aliás, eu diria que uma das principais virtudes dessa trilogia é essa sua opção experimental pela fábula, por não abrir mão de uma narrativa surreal e ficcional para expor problemas atuais. No final, causa incômodo um certo nonsense e absurdo da situação e de uma série de discursos e argumentos quye encontramos cotidianamente em jornais, nos locais de trabalho, nas campanhas políticas, bares e, o melhor de tudo, em nossos próprios discursos. É um "nosso lugar" de branco e ocidental, portador de um senso comum sustentando diversas posições que muitas vezes já não pomos em questão por assumirem um caráter 'indiscutível' cotidianamente, acerca de temas como liberdade, democracia, justiça, dentre outros que o autor fará surgir como problemas abertos, não resolvidos, e os inflama, jogando-os em nossa direção como coquetéis molotov. Nessa dança surreal das cadeiras, ele nos toma todos os assentos possíveis e nos manda embora da trama como quem nos passa uma rasteira bem dada. Assentos, por sinal, já de antemão inexistentes em sua obra e escolha cenográfica.
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Lembrei do Caetano Veloso e do eterno debate sobre o mito da democracia racial brasileira. Caetano, neste domingo, fez uma provocação a Liv Sovik, pesquisadora da ECO/UFRJ que aponta as diversas perversidades existentes na noção disseminada de que vivemos na sociedade brasileira um racismo mais leve ou menos violento, e que o componente cor ou raça não influi tanto no cotidiano e nas histórias pessoais dos brasileiros.
Não sou tucano, logo não fico em cima do muro: não concordo com essa tese e sou, inclusive, defensor das cotas raciais em universidades e onde mais for preciso uma intervenção do Estado na sociedade na forma de políticas públicas em prol de uma igualdade social, racial, etc. Caetano assume outra posição, e questiona o que as diversas cotas raciais existentes nos Estados Unidos produziram de mudança nas mentalidades e mesmo no status quo da sociedade americana.
Não li Gilberto Freyre, não li nenhum outro grande pensador que defenda o mito da democracia racial, o que torna em certa medida capenga qualquer explanação que eu arrisque formular a seu respeito. No entanto, o já mais nem tão doce, muito menos bárbaro, mas sempre provocador em sua verve tropicalista, o baiano conseguiu me provocar com uma colocação sua, ou melhor, uma citação do Antônio Cícero: a de que o mito da democracia racial deveria ser interpretado como uma espécie de mito propulsor.
O que me traz de volta à Manderlay - e chega a ser uma ironia eu ver justamente esse filme hoje depois de ler e me encucar com essa argumentação do Caetano.
A forma como o filme de desenvolve tem muito a ver com uma crença numa democracia racial possível de ser produzida com um decreto ou com uma simples revogação e abolição da escravatura. Apesar desta proposição ter certas nuances mais calcadas numa convivência entre as raças marcada pela mestiçagem, no caso brasileiro, a questão colocada pelo filme é, por um lado, as dificuldades de superação das marcas da violência social existentes em anos de práticas escravagistas sustentadas por teorias eugênicas que apontam para um projeto civilizador branco e eurocêntrico. Por outro, indica como a ideia de uma superação imediata e forçada das marcas e rancores produzidos nesse período são a continuação desse projeto civilizador em sua face cínica e igualmente violenta. Apontam para uma abolição dos brancos, de uma superação das mágoas, da culpa e de um apagamento perverso das condições que justamente impedem a vivência de uma democracia racial. Negar essas perversidades continua significando atropelar toda uma questão histórica formadora do Brasil e do mundo tal como o vivemos hoje em dia, além da perpetuação das desigualdades nas relações de força e da dominação exercida por grupos raciais específicos sobre outros.
O mundo globalizou-se e homogeneizou-se toscamente através do estupro, da pilhagem, da dominação colonial e escravização dos ditos povos bárbaros ou inferiores. E isso não se muda ou supera de uma hora para outra. Reconhecer essa dívida histórica não é nenhuma legitimação do ressentimento, pelo contrário.
[Engraçado, eu ia falar agora que esse ressentimento se produz e reverbera através dos movimentos racistas ao contrário, como muitas vezes ouvimos falar... Não existe racismo ao contrário, existe racismo e pronto, seja para onde for apontada sua irracionalidade raivosa.]
É lógico que temos que ter o mito da democracia racial como um mito propulsor - mas como horizonte ético, como utopia. Porque do contrário, apontando-o como presente e original, negamos as vicissitudes históricas e afirmamos ainda nosso racismo perverso por linhas tortas e falsas dizendo que um dia chegará a vez do negro - mas que primeiro ele deve escolarizar-se e ascender socialmente tal como uma etnia bárbara que passa por um processo civilizatório, globalizado e modernoso...
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Por fim, possíveis leitores dessa mídia teimosa, assistam 'Manderlay'... pode deixar que eu não explanei o final, não: ele inelutavelmente se imporá como um soco no estômago... aliás, bem como tudo o que eu já vi na obra desse dinamarquês maluco chamado Lars von Trier...
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Gustavo Adolfo Bécquer
recentemente, ao adicionar a página do facebook do link do 'Poema ao Acaso', descobri esse poeta e seus versos cheios de lirismo e paixão.
eis então uma pequena mostra colhida em
http://www.astormentas.com/poemas.aspx?id=Gustavo%20Adolfo%20Bécquer
Espreitava em seus olhos uma lágrima
Espreitava em seus olhos uma lágrima,
e em meus lábios uma frase a perdoar;
falou o orgulho, o seu pranto secou,
senti nos lábios essa frase expirar.
Eu vou por um caminho, ela por outro;
mas, ao pensar no amor que nos prendeu,
digo ainda: porque me calei aquele dia?
E ela dirá: porque não chorei eu?
Hoje sorriem-me a terra e os céus
Hoje sorriem-me a terra e os céus;
sinto no fundo da minha alma o sol;
eu hoje vi-a..., vi-a e ela olhou-me...
Creio hoje em Deus!
Levai-me por piedade onde a vertigem
Levai-me por piedade onde a vertigem
com a razão me arranque a memória.
Por piedade! Tenho medo de ficar
com a minha dor a sós!
É um sonho esta vida
É um sonho esta vida,
mas um sonho febril de um instante único.
Quando dele se acorda,
vê-se que tudo é só vaidade e fumo...
Oxalá fosse um sonho
bem profundo e bem longo,
um sonho que durasse até a morte!...
Eu sonharia com o meu e teu amor.
Gustavo Adolfo Bécquer
eis então uma pequena mostra colhida em
http://www.astormentas.com/poemas.aspx?id=Gustavo%20Adolfo%20Bécquer
Espreitava em seus olhos uma lágrima
Espreitava em seus olhos uma lágrima,
e em meus lábios uma frase a perdoar;
falou o orgulho, o seu pranto secou,
senti nos lábios essa frase expirar.
Eu vou por um caminho, ela por outro;
mas, ao pensar no amor que nos prendeu,
digo ainda: porque me calei aquele dia?
E ela dirá: porque não chorei eu?
Hoje sorriem-me a terra e os céus
Hoje sorriem-me a terra e os céus;
sinto no fundo da minha alma o sol;
eu hoje vi-a..., vi-a e ela olhou-me...
Creio hoje em Deus!
Levai-me por piedade onde a vertigem
Levai-me por piedade onde a vertigem
com a razão me arranque a memória.
Por piedade! Tenho medo de ficar
com a minha dor a sós!
É um sonho esta vida
É um sonho esta vida,
mas um sonho febril de um instante único.
Quando dele se acorda,
vê-se que tudo é só vaidade e fumo...
Oxalá fosse um sonho
bem profundo e bem longo,
um sonho que durasse até a morte!...
Eu sonharia com o meu e teu amor.
Gustavo Adolfo Bécquer
quinta-feira, 22 de julho de 2010
quarta-feira, 21 de julho de 2010
não tarda e sempre
um dia
a morte bate a porta
aquiete-se
nada fará diferença
acomode-se
ache a posição mais confortável
não tem jeito: é ela
lembre-se das conquistas
amores e amigos
esqueça as derrotas
e o que poderia ter sido
agradeça
por tudo o que foi vivido
arrependa-se
mas não se curve em perdões e verborragias
leve consigo a altivez charmosa
de um orgulho inquebrantável
até porque
convenhamos
nessa hora
foda-se
um dia
a morte bate a porta
aquiete-se
nada fará diferença
acomode-se
ache a posição mais confortável
não tem jeito: é ela
lembre-se das conquistas
amores e amigos
esqueça as derrotas
e o que poderia ter sido
agradeça
por tudo o que foi vivido
arrependa-se
mas não se curve em perdões e verborragias
leve consigo a altivez charmosa
de um orgulho inquebrantável
até porque
convenhamos
nessa hora
foda-se
domingo, 4 de julho de 2010
reproduzo aqui um poema postado a pouco tempo no facebook, como quem empurra a verve pra ver se o texto pega no tranco...
tem dor que a gente toma uns comprimidos
e sara
tem dor que a gente toma um porre
e esquece
tem dor que a gente lança no tempo
e no que passa
o tempo leva
mas tem dor
que a gente toma uns comprimidos
e não sara
toma um porre
e não esquece
lança no tempo
e o tempo não leva
Faz o seguinte: aguarda
e aos poucos,
a dor, vai cativando
Se ela gostar de você
concede doer
só de vez em quando...
tem dor que a gente toma uns comprimidos
e sara
tem dor que a gente toma um porre
e esquece
tem dor que a gente lança no tempo
e no que passa
o tempo leva
mas tem dor
que a gente toma uns comprimidos
e não sara
toma um porre
e não esquece
lança no tempo
e o tempo não leva
Faz o seguinte: aguarda
e aos poucos,
a dor, vai cativando
Se ela gostar de você
concede doer
só de vez em quando...
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Dilma, Dunga, sociedade civil e universitários
Como eu sou todo ao contrário, começo pelo fim.
*****
Ontem fui à Praia Vermelha, atendendo uma solicitação de um grupo de alunos de psicologia para apresentar meu trabalho no âmbito da atuação da psicologia social comunitária para a disciplina Psicologia Social I.
A princípio, nada me foi devidamente explicado, até porque, tenho que admitir, eu acabei me esquecendo e faltando um encontro marcado com eles na Maré, quando me poriam a par do que esperavam de mim, o que era para eu falar. Fiz um contato telefônico e me mandei pra Urca, aproveitando para resolver uma pendenga burocrática antiga: pegar meu diploma.
Lá chegando, fui pego de surpresa com umas questões a serem abordadas que mudava totalmente a fala planejada. Tranquilo, pensei, eu improviso...
Fiquei duas horas esperando pra falar. Nesse meio tempo assisti três apresentações: de um profissional de psicologia do esporte, com pinta de general e arcabouço teórico do tipo samba-do-crioulo-doido, misturando conceitos de psicanálise, terapia sistêmica e cognitivo-comportamental como quem prepara uma salada; de gerontologia, defendendo políticas para a terceira idade que reconheçam e promovam os direitos e as capacidades dos sujeitos idosos fazendo uma série de piadas infantis sobre (sic) idosos, reforçando os estigmas que diz combater ; e de um psicólogo clínico especializado em dependência química com um discurso recheado de lugares comuns como o ‘mito dos neurônios queimados’, fazendo um ataque ao modelo da redução de danos e coroando sua fala com a noção de que um indivíduo dependente de crack ‘pára de funcionar como um ser humano’. Tsc, tsc, tsc... lamentável. Fiquei curioso de saber qual era o seu conceito de ser humano, mas não tive coragem de perguntar.
Ou seja, o mesmo show de horrores de sempre...
Depois ficam me perguntando porque às vezes eu sinto vergonha de ser psicólogo...
O pior é que eu gostei de estar ali, vendo aquilo tudo que eu odeio, matou uma saudade que eu mesmo desconhecia...
Quando falei, com a habitual ênfase e gesticulação entusiasmada, sobre favela, estigmatização, necessidade de superar preconceitos para formular políticas públicas adequadas e tal a turma assistiu a tudo o que eu falava,com uma expressão inerte enquanto percorria em meu corpo a sensação de estar mandando mal. Todos dispersos, menos uma menina na primeira fila, integrante do grupo, que acompanhava toda a fala com os olhinhos brilhantes. Mirei nela e fui em frente.
No fim, abri para perguntas. Uma menina me perguntou sobre o muro da Maré, ou muro da vergonha, o que valeu alguma agitação da turma diante das explicações, uma vez que muitos não sabiam dos detalhes da obra como a justificativa dada pelas autoridades de que a barreira de acrílico se tratava de uma proteção auditiva para a comunidade.
Mais alguma pergunta? Silêncio. Então tá... Palmas, correria pra ir embora e eu ali com a mais nítida sensação de que eu ali e nada seria a mesma coisa. Bom, pelo menos o grupo que me convidou me levou até a porta, anotou o endereço eletrônico do site do Observatório, perguntou como fazer para fazer um estágio na área e me agradeceu encarecidamente.
E eu me sentindo um idiota e me lembrando de quantas vezes eu também tinha feito a mesma coisa, doido que estava pelo término da aula. Pensei que “não dá pra competir com a Copa do Mundo né”, e me senti um tanto confortado em meu ego ferido...
*****
Ando meio de saco cheio com a sociedade civil, confesso. Hoje estive em uma reunião na Subsecretaria de Direitos Humanos da SEASDH (Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos). Esta reunião tinha como objetivo travar um primeiro contato com a sociedade civil a fim de apresentar e discutir uma agenda política traçada para os primeiros meses desse mandato. Mandato curto, diga-se de passagem, mas assumido por um time interessante composto por pessoas que já a algum tempo tem uma ligação com as lutas e reivindicações das organizações e grupos que compõem o campo dos direitos humanos na cidade e no estado do Rio de Janeiro.
Um primeiro mal-estar surgiu na forma como as pessoas presentes tratavam as perguntas, demandas e posições expostas no grupo. Uns se exaltavam, com frases de efeito, expressões de escárnio e incômodo, respondendo em voz mais alta do que necessário, já que a audiência era pequena e o espaço silencioso.
Em um ponto mais polêmico, as pessoas se sucediam em propostas do que fazer sem ouvir as propostas do colega do lado, descambando para um falatório histérico e contraproducente, somente interrompido – aliás, com muita habilidade – pelo subsecretário que propôs uma solução para o impasse.
Quando a calma finalmente pôde pairar no ar, seguimos em frente até o final da reunião, que durou duas horas. No final, ao abrir para sugestões de pautas para a subsecretaria, novas rusgas entre os presentes, mas, ainda bem, ferimentos leves contornados, penso eu, pela fome e pela mesa de salgadinhos, biscoitos e bolos que todos namoravam desde o início da atividade.
Come, come, mastiga, mastiga, toma suco, conversa com a gatinha de uma outra ONG, come, bebe, conversa sobre outra reunião, antecipa pontos de pauta, combina coisas, come, mastiga, bebe, olha o bumbum da gatinha...
Na hora de ir embora, quando julgava que nada mais poderia acontecer, eis que me deparo com uma pérola que me fez escrever o presente texto. Uma participante, já conhecida por sua postura cri-cri, procurando sempre polêmicas e confusões e dissidências com quem está ali justamente pra somar forças em prol de um objetivo comum, vem, como de hábito, reclamar com outras participantes na fila do elevador.
Diz que “pronto, agora já pode dizer que a sociedade civil foi consultada e chamar a gente pra bater palmas no dia 30 (quando será oficialmente apresentada a agenda ali discutida). Eu sei que é o X., mas agora ele é governo, né, tem que apanhar também... rsrs”.
Ainda que ela tenha mudado o tom da fala para uma piadinha – penso eu, motivado em parte pelo meu oplhar de reprovação – fica patente um vício dos movimentos sociais, a noção de que seu papel é somente bater, bater, reivindicar, cobrar. Aí, quando é convidado a propor e construir junto, fica meio sem saber o que fazer. E na falta de quem bater, briga com o colega do lado.
É certo que esse molde de reuniões que funcionam como anestésicos da sociedade civil, como sugerido por ela a respeito dessa que então se encerrava, são muito comuns. No entanto, tratava-se ali de um cara conhecido de todos – e todas, pra ser politicamente correto – que não precisa provar seu comprometimento e filiação às causas e lutas dos movimentos de direitos humanos. É certo também que é uma figura acostumada aos bastidores do poder, mas alguém que, minimamente, está a fim de colaborar e fazer acontecer o que sempre foi reivindicado. Para que então esse veneno constante? Para que essa postura combativa excessiva?
Respondo: por não saber agir de outra forma.
Quem se acostuma a chiar e reclamar e brigar acaba desaprendendo a dar a mão e construir coletivamente – o que acaba dando a impressão que suas reivindicações são vazias, uma vez que não se faz a menor ideia de como realizá-las...
*****
Dunga é chato. Dunga é tosco. Dunga é mal-educado.
Mas Dunga mandou a Globo e a Veja tomar no cu.
Aí, agora, Dunga é macho. Dunga é foda. Dunga não leva desaforo pra casa – e é um técnico vitorioso.
Incrível como que com esse ato, atacando a toda-poderosa, Dunga ganhou a simpatia da população, a ponto da própria Globo não bater tanto nele, apesar de ter acirrado a radicalidade das críticas ao seu comportamento. Enquanto não era com ela, estava tudo traquilo, era quase uma excentricidade.
No Twitter mandaram um #calaabocagalvão que virou fenômeno mundial.
Agora inicia-se uma campanha por um #diasemglobo.
A Globo que se cuide.
A Veja que se cuide.
A internet mostra sua força.
Dunga mostra sua força.
E alguma coisa me diz que isso pode ser positivo para Dilma 2010...
Mas aí é assunto para outra postagem...
*****
Ontem fui à Praia Vermelha, atendendo uma solicitação de um grupo de alunos de psicologia para apresentar meu trabalho no âmbito da atuação da psicologia social comunitária para a disciplina Psicologia Social I.
A princípio, nada me foi devidamente explicado, até porque, tenho que admitir, eu acabei me esquecendo e faltando um encontro marcado com eles na Maré, quando me poriam a par do que esperavam de mim, o que era para eu falar. Fiz um contato telefônico e me mandei pra Urca, aproveitando para resolver uma pendenga burocrática antiga: pegar meu diploma.
Lá chegando, fui pego de surpresa com umas questões a serem abordadas que mudava totalmente a fala planejada. Tranquilo, pensei, eu improviso...
Fiquei duas horas esperando pra falar. Nesse meio tempo assisti três apresentações: de um profissional de psicologia do esporte, com pinta de general e arcabouço teórico do tipo samba-do-crioulo-doido, misturando conceitos de psicanálise, terapia sistêmica e cognitivo-comportamental como quem prepara uma salada; de gerontologia, defendendo políticas para a terceira idade que reconheçam e promovam os direitos e as capacidades dos sujeitos idosos fazendo uma série de piadas infantis sobre (sic) idosos, reforçando os estigmas que diz combater ; e de um psicólogo clínico especializado em dependência química com um discurso recheado de lugares comuns como o ‘mito dos neurônios queimados’, fazendo um ataque ao modelo da redução de danos e coroando sua fala com a noção de que um indivíduo dependente de crack ‘pára de funcionar como um ser humano’. Tsc, tsc, tsc... lamentável. Fiquei curioso de saber qual era o seu conceito de ser humano, mas não tive coragem de perguntar.
Ou seja, o mesmo show de horrores de sempre...
Depois ficam me perguntando porque às vezes eu sinto vergonha de ser psicólogo...
O pior é que eu gostei de estar ali, vendo aquilo tudo que eu odeio, matou uma saudade que eu mesmo desconhecia...
Quando falei, com a habitual ênfase e gesticulação entusiasmada, sobre favela, estigmatização, necessidade de superar preconceitos para formular políticas públicas adequadas e tal a turma assistiu a tudo o que eu falava,com uma expressão inerte enquanto percorria em meu corpo a sensação de estar mandando mal. Todos dispersos, menos uma menina na primeira fila, integrante do grupo, que acompanhava toda a fala com os olhinhos brilhantes. Mirei nela e fui em frente.
No fim, abri para perguntas. Uma menina me perguntou sobre o muro da Maré, ou muro da vergonha, o que valeu alguma agitação da turma diante das explicações, uma vez que muitos não sabiam dos detalhes da obra como a justificativa dada pelas autoridades de que a barreira de acrílico se tratava de uma proteção auditiva para a comunidade.
Mais alguma pergunta? Silêncio. Então tá... Palmas, correria pra ir embora e eu ali com a mais nítida sensação de que eu ali e nada seria a mesma coisa. Bom, pelo menos o grupo que me convidou me levou até a porta, anotou o endereço eletrônico do site do Observatório, perguntou como fazer para fazer um estágio na área e me agradeceu encarecidamente.
E eu me sentindo um idiota e me lembrando de quantas vezes eu também tinha feito a mesma coisa, doido que estava pelo término da aula. Pensei que “não dá pra competir com a Copa do Mundo né”, e me senti um tanto confortado em meu ego ferido...
*****
Ando meio de saco cheio com a sociedade civil, confesso. Hoje estive em uma reunião na Subsecretaria de Direitos Humanos da SEASDH (Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos). Esta reunião tinha como objetivo travar um primeiro contato com a sociedade civil a fim de apresentar e discutir uma agenda política traçada para os primeiros meses desse mandato. Mandato curto, diga-se de passagem, mas assumido por um time interessante composto por pessoas que já a algum tempo tem uma ligação com as lutas e reivindicações das organizações e grupos que compõem o campo dos direitos humanos na cidade e no estado do Rio de Janeiro.
Um primeiro mal-estar surgiu na forma como as pessoas presentes tratavam as perguntas, demandas e posições expostas no grupo. Uns se exaltavam, com frases de efeito, expressões de escárnio e incômodo, respondendo em voz mais alta do que necessário, já que a audiência era pequena e o espaço silencioso.
Em um ponto mais polêmico, as pessoas se sucediam em propostas do que fazer sem ouvir as propostas do colega do lado, descambando para um falatório histérico e contraproducente, somente interrompido – aliás, com muita habilidade – pelo subsecretário que propôs uma solução para o impasse.
Quando a calma finalmente pôde pairar no ar, seguimos em frente até o final da reunião, que durou duas horas. No final, ao abrir para sugestões de pautas para a subsecretaria, novas rusgas entre os presentes, mas, ainda bem, ferimentos leves contornados, penso eu, pela fome e pela mesa de salgadinhos, biscoitos e bolos que todos namoravam desde o início da atividade.
Come, come, mastiga, mastiga, toma suco, conversa com a gatinha de uma outra ONG, come, bebe, conversa sobre outra reunião, antecipa pontos de pauta, combina coisas, come, mastiga, bebe, olha o bumbum da gatinha...
Na hora de ir embora, quando julgava que nada mais poderia acontecer, eis que me deparo com uma pérola que me fez escrever o presente texto. Uma participante, já conhecida por sua postura cri-cri, procurando sempre polêmicas e confusões e dissidências com quem está ali justamente pra somar forças em prol de um objetivo comum, vem, como de hábito, reclamar com outras participantes na fila do elevador.
Diz que “pronto, agora já pode dizer que a sociedade civil foi consultada e chamar a gente pra bater palmas no dia 30 (quando será oficialmente apresentada a agenda ali discutida). Eu sei que é o X., mas agora ele é governo, né, tem que apanhar também... rsrs”.
Ainda que ela tenha mudado o tom da fala para uma piadinha – penso eu, motivado em parte pelo meu oplhar de reprovação – fica patente um vício dos movimentos sociais, a noção de que seu papel é somente bater, bater, reivindicar, cobrar. Aí, quando é convidado a propor e construir junto, fica meio sem saber o que fazer. E na falta de quem bater, briga com o colega do lado.
É certo que esse molde de reuniões que funcionam como anestésicos da sociedade civil, como sugerido por ela a respeito dessa que então se encerrava, são muito comuns. No entanto, tratava-se ali de um cara conhecido de todos – e todas, pra ser politicamente correto – que não precisa provar seu comprometimento e filiação às causas e lutas dos movimentos de direitos humanos. É certo também que é uma figura acostumada aos bastidores do poder, mas alguém que, minimamente, está a fim de colaborar e fazer acontecer o que sempre foi reivindicado. Para que então esse veneno constante? Para que essa postura combativa excessiva?
Respondo: por não saber agir de outra forma.
Quem se acostuma a chiar e reclamar e brigar acaba desaprendendo a dar a mão e construir coletivamente – o que acaba dando a impressão que suas reivindicações são vazias, uma vez que não se faz a menor ideia de como realizá-las...
*****
Dunga é chato. Dunga é tosco. Dunga é mal-educado.
Mas Dunga mandou a Globo e a Veja tomar no cu.
Aí, agora, Dunga é macho. Dunga é foda. Dunga não leva desaforo pra casa – e é um técnico vitorioso.
Incrível como que com esse ato, atacando a toda-poderosa, Dunga ganhou a simpatia da população, a ponto da própria Globo não bater tanto nele, apesar de ter acirrado a radicalidade das críticas ao seu comportamento. Enquanto não era com ela, estava tudo traquilo, era quase uma excentricidade.
No Twitter mandaram um #calaabocagalvão que virou fenômeno mundial.
Agora inicia-se uma campanha por um #diasemglobo.
A Globo que se cuide.
A Veja que se cuide.
A internet mostra sua força.
Dunga mostra sua força.
E alguma coisa me diz que isso pode ser positivo para Dilma 2010...
Mas aí é assunto para outra postagem...
domingo, 20 de junho de 2010
pretensão de entendimento ou cegueira egóica
outro dia durante uma festa na instituição em que trabalho, uma colega me abordou e fez alguns comentários sobre meu comportamento e minhas postagens no Facebook, comentários nítida e assumidamente moldados com contornos de conselhos. Segundo ela, minha relação com o álcool e drogas e minhas postagens refletiam algo que ela entendia perfeitamente e que ela queria me dizer o seguinte: que a dor passa, eu posso não acreditar agora, mas passa.
confesso que durante alguns instantes eu quase acreditei que ela havia percebido alguma coisa, justamente por mencionar o facebook, local em que tinha me exposto excessivamente, para variar, a poucos dias anteriores a essa conversa. Entretanto, não era nada do que eu pensava, suas observações se remetiam a minha separação com Amana, minha ex-mulher.
por um lado, me deu uma vontade de dizer: você não está entendendo nada!!! como quem manda calar a boca. Mas como havia uma intenção declaradamente positiva, não cometi tal grosseria. No entanto, mesmo aparentemente em silêncio, minha mente gritava desesperadamente diante do contato repetido com esse fenômeno da identificação dos seres humanos com o que acontece na vida alheia. A impressão era que o conselho dado para mim, uma vez que justificado a partir de uma identificação, servia para ela ou melhor, seria na verdade direcionado para ela mesmo, já que ela também passou por uma separação, mudança de endereço e de cotidiano a menos tempo que eu, mas praticamente no mesmo período.
e esse é o tema deste texto: a incrível capacidade das pessoas de não enxergarem o próximo e mesmo assim sentirem-se capazes de entender e intervir, ainda que com palavras, na vida do outro.
eu já tinha reparado isso em algumas pessoas. Confesso que também existem os que não incorrem nesse erro, no entanto sua raridade nme autoriza a fazer uma generalização acerca dessa conduta.
uma primeira observação vem da pretensão de entendimento autorizada por uma identificação. Quando estava na faculdade e me dedicava com mais afinco ao estudo da psicanálise do que de outras formas psicoterapêuticas, uma das frases mais importantes e eloquentes aos meus ouvidos - talvez até por identificação, quem sabe? rs - era que essa possibilidade de entendimento além de ser algo complicado de garantirmos com certeza, era o caminho para que todo o esforço terapêutico fosse jogado por água abaixo, quando se constrói uma espécie de cumplicidade inconsciente entre analista e analisando que pode desviar o rumo e a própria capacidade inventiva do trabalho analítico. Risco anunciado de descambarmos para um aconselhamento que significaria a cessão do trabalho ali realizado de dar novos/outros sentidos ao vivido.
essa cumplicidade incosnciente poderia ser aproximada, grosso modo, de uma cegueira egóica, onde o corolário de problemas, leituras, hípóteses, angústias, opiniões, valores e preocupações do analista aceca sua vida invadiriam o universo psíquico do analisando, autorizado pela sensação de identificação vivenciada.
eis o grande risco: o conselho não é dado para o outro, mas utiliza-se do outro para falar consigo mesmo, e assim, acobnselhar-se, consolidando e determinando um simulacro de senso comum entre ambos.
ou seja: quem me aconselha, não me vê. Quem me vê não me aconselha. Por que quem olha para o outro não vem com afirmações e certezas, ou caminhos pré-moldados, pela simples noção de que é o do outro que estou falando: e do outro eu não posso saber nada além de suposições... Quem sabe de mim, sou eu = quem sabe de si, é o outro.
em outras palavras: quem me vê me pergunta, quem se vê em mim, me aponta.
e minha vontade, confesso, é torcer o dedo em direção do peito de quem aponta... Mas poderia quebrá-lo ou machucar quem está com boas intenções, apesar da estúpida convicção de que todos são iguais e eu sou igual a ele ou ela. Prefiro ficar em silêncio, olhando e pensando em como é engraçado o ser humano...
confesso que durante alguns instantes eu quase acreditei que ela havia percebido alguma coisa, justamente por mencionar o facebook, local em que tinha me exposto excessivamente, para variar, a poucos dias anteriores a essa conversa. Entretanto, não era nada do que eu pensava, suas observações se remetiam a minha separação com Amana, minha ex-mulher.
por um lado, me deu uma vontade de dizer: você não está entendendo nada!!! como quem manda calar a boca. Mas como havia uma intenção declaradamente positiva, não cometi tal grosseria. No entanto, mesmo aparentemente em silêncio, minha mente gritava desesperadamente diante do contato repetido com esse fenômeno da identificação dos seres humanos com o que acontece na vida alheia. A impressão era que o conselho dado para mim, uma vez que justificado a partir de uma identificação, servia para ela ou melhor, seria na verdade direcionado para ela mesmo, já que ela também passou por uma separação, mudança de endereço e de cotidiano a menos tempo que eu, mas praticamente no mesmo período.
e esse é o tema deste texto: a incrível capacidade das pessoas de não enxergarem o próximo e mesmo assim sentirem-se capazes de entender e intervir, ainda que com palavras, na vida do outro.
eu já tinha reparado isso em algumas pessoas. Confesso que também existem os que não incorrem nesse erro, no entanto sua raridade nme autoriza a fazer uma generalização acerca dessa conduta.
uma primeira observação vem da pretensão de entendimento autorizada por uma identificação. Quando estava na faculdade e me dedicava com mais afinco ao estudo da psicanálise do que de outras formas psicoterapêuticas, uma das frases mais importantes e eloquentes aos meus ouvidos - talvez até por identificação, quem sabe? rs - era que essa possibilidade de entendimento além de ser algo complicado de garantirmos com certeza, era o caminho para que todo o esforço terapêutico fosse jogado por água abaixo, quando se constrói uma espécie de cumplicidade inconsciente entre analista e analisando que pode desviar o rumo e a própria capacidade inventiva do trabalho analítico. Risco anunciado de descambarmos para um aconselhamento que significaria a cessão do trabalho ali realizado de dar novos/outros sentidos ao vivido.
essa cumplicidade incosnciente poderia ser aproximada, grosso modo, de uma cegueira egóica, onde o corolário de problemas, leituras, hípóteses, angústias, opiniões, valores e preocupações do analista aceca sua vida invadiriam o universo psíquico do analisando, autorizado pela sensação de identificação vivenciada.
eis o grande risco: o conselho não é dado para o outro, mas utiliza-se do outro para falar consigo mesmo, e assim, acobnselhar-se, consolidando e determinando um simulacro de senso comum entre ambos.
ou seja: quem me aconselha, não me vê. Quem me vê não me aconselha. Por que quem olha para o outro não vem com afirmações e certezas, ou caminhos pré-moldados, pela simples noção de que é o do outro que estou falando: e do outro eu não posso saber nada além de suposições... Quem sabe de mim, sou eu = quem sabe de si, é o outro.
em outras palavras: quem me vê me pergunta, quem se vê em mim, me aponta.
e minha vontade, confesso, é torcer o dedo em direção do peito de quem aponta... Mas poderia quebrá-lo ou machucar quem está com boas intenções, apesar da estúpida convicção de que todos são iguais e eu sou igual a ele ou ela. Prefiro ficar em silêncio, olhando e pensando em como é engraçado o ser humano...
quarta-feira, 14 de abril de 2010
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Uma das coisas que eu achei mais interessante em minha estadia em Nova Iorque foi o número de bandas e artistas de rua, e a qualidade desses artistas. É certo que isso não é um fenômeno que podemos apontar como tipicamente americano, mas a forma como o espaço urbano é tomado por músicos, mímicos, bboys, dançarinos, desenhistas, pintores, caricaturistas, dentre outros é muito peculiar.
Fico pensando em como essa cena era mais comum antigamente no Largo da Carioca, Cinelândia, a galera de colecionadores e vendedores de LPs na Treze de Maio que foram para a rua Pedro Lessa. Hoje em dia, em tempos de choque de ordem e guerra da Guarda Municipal contra os camelôs, a arte de rua parece estar se restringindo aos malabaristas e demais artistas circenses nos sinais fechados da cidade. Tem o sax da estação de metrô Carioca, os capoeiristas, o sombra da Uruguaiana, o guitarrista da Praça XV, mas é pouco perto até do que eu já vi na cidade do Rio de Janeiro.
Esses vídeos dessa banda genial, Hypnotic Brass Ensemble, me trouxeram um pouco dessa atmosfera de arte urbana, poesia no concreto, da cultura erudita trepando com a popular numa orgia de sons, cores, vozes e sentidos.
Divido então agora com @s possíveis companheir@s de vadiagem virtual e infernal!!!
Fico pensando em como essa cena era mais comum antigamente no Largo da Carioca, Cinelândia, a galera de colecionadores e vendedores de LPs na Treze de Maio que foram para a rua Pedro Lessa. Hoje em dia, em tempos de choque de ordem e guerra da Guarda Municipal contra os camelôs, a arte de rua parece estar se restringindo aos malabaristas e demais artistas circenses nos sinais fechados da cidade. Tem o sax da estação de metrô Carioca, os capoeiristas, o sombra da Uruguaiana, o guitarrista da Praça XV, mas é pouco perto até do que eu já vi na cidade do Rio de Janeiro.
Esses vídeos dessa banda genial, Hypnotic Brass Ensemble, me trouxeram um pouco dessa atmosfera de arte urbana, poesia no concreto, da cultura erudita trepando com a popular numa orgia de sons, cores, vozes e sentidos.
Divido então agora com @s possíveis companheir@s de vadiagem virtual e infernal!!!
quarta-feira, 31 de março de 2010
Ellen Oléria - Peça (2009)
descobri esse CD dessa cantora de Brasília em minhas perambulações de pirataria internética. acabou sendo um achado. cantora de grande versatilidade e acompanhada por uma banda muito talentosa, Ellen nos brinda com um banquete musical de muito bom gosto, transitando pelo universo pop nacional com destreza, talento e personalidade. isso sem falar na banda, de grooves bem elegantes e precisos, e, mais que dando base para os vôos vocais da cantora, decola também em performances jazzísticas que indicam muito entrosamento e alegria.
a meu ver, sua grande virtude reside ou explode na interpretação intensa realçada com temperos pessoais que floreiam, singularizam e caracterizam esse belo disco. aliás, penso que esse não é apenas mais um trabalho de mais uma cantora pop no já quase saturado cenário nacional, mas vejo como um trabalho consistente de quem já tem muito passado e bagagem artística e sabe muito bem o que está fazendo. tenho inclusive um palpite que nossa querida Clementina, onde quer que esteja ou venha, caso nos visite mesmo como disse, vai gostar muito desse disco. se é que já não conhece, né...
antigas leitoras ativas e atuantes também tem tudo para gostar dessa peça... bem, mas isso é só um palpite.
como não sei como postar o link direto para baixar o disco, escrevo dois abaixo: um do blog onde encontrei a obra e outro no servidor que disponibiliza o download - se é que é assim mesmo que se fala, né...
boa audição a tod@s possíveis leitores e leitoras do presente veículo intermitente da mídia virtual dos quintos dos infernos...
http://cozinhadavovoconga.blogspot.com/search/label/Ellen%20Ol%C3%A9ria
http://rapidshare.com/files/255856657/ellen_oleria_peca.rar
a meu ver, sua grande virtude reside ou explode na interpretação intensa realçada com temperos pessoais que floreiam, singularizam e caracterizam esse belo disco. aliás, penso que esse não é apenas mais um trabalho de mais uma cantora pop no já quase saturado cenário nacional, mas vejo como um trabalho consistente de quem já tem muito passado e bagagem artística e sabe muito bem o que está fazendo. tenho inclusive um palpite que nossa querida Clementina, onde quer que esteja ou venha, caso nos visite mesmo como disse, vai gostar muito desse disco. se é que já não conhece, né...
antigas leitoras ativas e atuantes também tem tudo para gostar dessa peça... bem, mas isso é só um palpite.
como não sei como postar o link direto para baixar o disco, escrevo dois abaixo: um do blog onde encontrei a obra e outro no servidor que disponibiliza o download - se é que é assim mesmo que se fala, né...
boa audição a tod@s possíveis leitores e leitoras do presente veículo intermitente da mídia virtual dos quintos dos infernos...
http://cozinhadavovoconga.blogspot.com/search/label/Ellen%20Ol%C3%A9ria
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Declaração dos Direitos dos Internautas/Partido Pirata Francês
Déclaration des Droits de l'Internaute
Since the advent of the informatic, an international digital community has born.
All the technology and the cultural diversity on which lean Internet have to come along with the respect for inalienable rights.
Conscious of our duties and the importance of the defence on Internet of our rights and liberties that treaties, conventions and declarations already dedicate, and to protect us of any infringements on these, at the dawn of this peace era and of digital revolution, us, Internet users, declare here:
Article 0: Access to Internet is an inalienable right.
Article 0.1: Every individual is free to reach or not Internet and to choose the ways of access which are convenient for him.
Article 0.2: The Internet users are equal in rights and in duties (on this network).
Article 1: Internet is a neutral and decentralized network.
Article 1.1: The data pass in transit there in a equal and undifferentiated way, no information has priority on the other one.
Article 1.2: Only the judiciary can authorize the surveillance, the interception or the ban on a stream or on a datum.
Article 2: Nobody can be arbitrarily deprived of the access to Internet.
Article 2.1: The right for the communication is an inalienable right in conformance with the freedom of expression and with the right for the information, who guarantee the right to share the knowledge, the ideas and the culture.
Article 2.2: Every individual has an equal protection of his rights on Internet so that the freedom of consultation and broadcasting of contents of some strikes a blow at the physical or moral integrity of the others.
Article 3: Internet is a universal space opened to all, and no entity can it appropriate in its entirety.
Article 3.1: The deployment of its infrastructures has to facilitate the communication and the exchange for all.
Article 3.2: No entity, private or public, can appropriate arbitrarily data or contents which pass in transit there to serve its interests.
Article 4: Every individual is entitled to the respect for his private life.
Article 4.1: All electronic communications and their contents, with the exception of publications, are a part integral of the private sphere. Any authority, as it is deprived or public, cannot watch these private communications, except the judiciary.
Article 4.2: The data of connection to Internet and the recordings of activity cannot be kept in a systematic way. The private or public bodies the activity of which requires keeping back of certain data have to warn their customers of it and their users.Only the judiciary can, within framework of a survey, require the keeping back from it.
Article 5: Every individual is entitled to the anonymity.
Article 5.1: The use of pen names and virtual identities not crossed with the real identity is recognized as a means of protection of the freedom of expression and, thus, as right for the Internet user.
Article 6: Nobody can impose usage or ownership of a particular digital technology, both for material and for software.
Article 6.1: The use of methods of encoding is free in conformance with protection of the private life.
Article 6.2: Each is free to choose degree of opening of its connection and to adapt to this choice a reassurance which seems to him most appropriate without any shape of limitation.
Article 6.3: Every Internet user is entitled to information about good practices inherent to use of Internet, both for his interactions with other users and for his safety and that of his personal information.
Article 7: Internet is a common good.
Article 7.1: Technological evolutions, resources and benefactions educational and cultural which Internet engenders have to benefit all.
Article 7.2: The educational system has to have computing and educational tools, without ascendancy of a technology on other one, to consult, share and enrich knowledge diffused on Internet.
Article 8: Guarantee of the rights of the Internet user is assured by the public authority.
Article 8.1: This public authority is independent from any particular interest and statue in interest of all.
Article 8.2: Every legal or physical entity can seize the public authority if he considers that his rights were scoffed.
Declaration des Droits des Internautes by Commission DDI est mis à disposition selon les termes de la licence Creative Commons Paternité-Pas d'Utilisation Commerciale-Pas de Modification 2.0 France.
Last Updated on Tuesday, 23 March 2010 19:40
http://ddi.partipirate.org/
All the technology and the cultural diversity on which lean Internet have to come along with the respect for inalienable rights.
Conscious of our duties and the importance of the defence on Internet of our rights and liberties that treaties, conventions and declarations already dedicate, and to protect us of any infringements on these, at the dawn of this peace era and of digital revolution, us, Internet users, declare here:
Article 0: Access to Internet is an inalienable right.
Article 0.1: Every individual is free to reach or not Internet and to choose the ways of access which are convenient for him.
Article 0.2: The Internet users are equal in rights and in duties (on this network).
Article 1: Internet is a neutral and decentralized network.
Article 1.1: The data pass in transit there in a equal and undifferentiated way, no information has priority on the other one.
Article 1.2: Only the judiciary can authorize the surveillance, the interception or the ban on a stream or on a datum.
Article 2: Nobody can be arbitrarily deprived of the access to Internet.
Article 2.1: The right for the communication is an inalienable right in conformance with the freedom of expression and with the right for the information, who guarantee the right to share the knowledge, the ideas and the culture.
Article 2.2: Every individual has an equal protection of his rights on Internet so that the freedom of consultation and broadcasting of contents of some strikes a blow at the physical or moral integrity of the others.
Article 3: Internet is a universal space opened to all, and no entity can it appropriate in its entirety.
Article 3.1: The deployment of its infrastructures has to facilitate the communication and the exchange for all.
Article 3.2: No entity, private or public, can appropriate arbitrarily data or contents which pass in transit there to serve its interests.
Article 4: Every individual is entitled to the respect for his private life.
Article 4.1: All electronic communications and their contents, with the exception of publications, are a part integral of the private sphere. Any authority, as it is deprived or public, cannot watch these private communications, except the judiciary.
Article 4.2: The data of connection to Internet and the recordings of activity cannot be kept in a systematic way. The private or public bodies the activity of which requires keeping back of certain data have to warn their customers of it and their users.Only the judiciary can, within framework of a survey, require the keeping back from it.
Article 5: Every individual is entitled to the anonymity.
Article 5.1: The use of pen names and virtual identities not crossed with the real identity is recognized as a means of protection of the freedom of expression and, thus, as right for the Internet user.
Article 6: Nobody can impose usage or ownership of a particular digital technology, both for material and for software.
Article 6.1: The use of methods of encoding is free in conformance with protection of the private life.
Article 6.2: Each is free to choose degree of opening of its connection and to adapt to this choice a reassurance which seems to him most appropriate without any shape of limitation.
Article 6.3: Every Internet user is entitled to information about good practices inherent to use of Internet, both for his interactions with other users and for his safety and that of his personal information.
Article 7: Internet is a common good.
Article 7.1: Technological evolutions, resources and benefactions educational and cultural which Internet engenders have to benefit all.
Article 7.2: The educational system has to have computing and educational tools, without ascendancy of a technology on other one, to consult, share and enrich knowledge diffused on Internet.
Article 8: Guarantee of the rights of the Internet user is assured by the public authority.
Article 8.1: This public authority is independent from any particular interest and statue in interest of all.
Article 8.2: Every legal or physical entity can seize the public authority if he considers that his rights were scoffed.
Declaration des Droits des Internautes by Commission DDI est mis à disposition selon les termes de la licence Creative Commons Paternité-Pas d'Utilisation Commerciale-Pas de Modification 2.0 France.
Last Updated on Tuesday, 23 March 2010 19:40
sábado, 27 de março de 2010
sonosono
semana inteira acordando cedo, dormindo tarde. mas sabadão se aproximando, nada de compromisso pela manhã,feliz da vida. meio-dia é cedo pra levantar, vou compensar tudo no final de semana. quinze pras sete, levanta, bebe aquela água, deita de novo. deita. deitado há meia hora. uma hora. duas horas. deitado. deitado. e nada de sono. esse tal relógio biológico que se auto programa sem o seu consentimento é uma merda. nem a cerveja ontem (pouca, como poucas vezes acontece) adiantou pra me deixar mais tempo dormindo. não que eu esteja super disperto aqui, tô com os olhos quase fechando, mas dormir que é bom, nada. pior é que chega mais tarde, no bar, sou o primeiro (geralmente o único) a dar uma boa cochilada na mesa.
não sei qual vai ser de hoje inclusive. faveleiro comemora mais um aninho de vida, e possivelmente vou dar os parabéns ao vivo (como nunca fiz, sou o dos que sempre faltou ao seu aniversário). tomara que não durme atéa lá.
não sei qual vai ser de hoje inclusive. faveleiro comemora mais um aninho de vida, e possivelmente vou dar os parabéns ao vivo (como nunca fiz, sou o dos que sempre faltou ao seu aniversário). tomara que não durme atéa lá.
sexta-feira, 12 de março de 2010
quinta-feira, 11 de março de 2010
a arte de ficar rico
nunca tive problemas com sebo, comprando via internet, mais especificamente pela estante virtual. mas tudo tem uma primeira vez. ontem chego em casa e tem uma encomenda. comprei - pelo menos eu achava isso - o livro negro do andré dahmer. ao abrir o envelope, que já estava achando pequeno demais, me deparei com o livro da foto acima: "a ciência de ficar rico". tá certo que dinheiro num é uma coisa que esteja sobrando - na verdade salário tá mais atrasado que o aluguel, o celular, a luz, o gás, mas tá valendo, nada que eu estivesse divulgando por aí, muito menos prum sebo que nem sei onde fica.
o livro tem um subtítulo que diz o seguinte: "uma mensagem poderaso para atrair suucesso financieiro usando o Poder Criativo". veio dentro de um plasticozinho, e nem tive muito interesse em abrir. na verdade pensei em abrir só hoje, falando com ombudsmianos no trabalho, porque eles até chegaram a me pedir o livro emprestado. coisa de falta de dinheiro todo mundo tem. pelo menos os que estão próximos de mim.
mas até parece que alguma coisa vai acontecer com a força do meu Poder Criativo. mas depois disso parei pra ler o que tinha no verso, e lá está que "é um livro pragmático (...) destina-se a homens e mulheres cuja necessidade mais premente é ganhar dinheiro (...) aos que querem enriquecer primeiro e filosofar depois (...) àqueles que estão dispostos a aceitar as conclusões da ciência como base para a ação, sem precisar conhecer os processos por meio dos quais as conclusões foram alcançadas".
********
Bodão colocou aí que espera de volta leitores e leitoras, clê, etc., etc., e disse que capilo nem adianta chamar. faltou olhar pro próprio umbigo - no caso o umbido do ombudsman - pra ver que a última postagem antes de seu "triunfal retorno", era sobre ele, uma homenagem a ele, mas não postada por ele. deixe estar...
********
à clê, deixo um recado. como diria meu amigo mano brow - lembrado hoje por bodão -, se o barato é louco e o processo é lento ... no momento... deixa eu caminhar contra o vento.
********
ao faveleiro: a boa companhia não debanda. a banda tá de volta!
o livro tem um subtítulo que diz o seguinte: "uma mensagem poderaso para atrair suucesso financieiro usando o Poder Criativo". veio dentro de um plasticozinho, e nem tive muito interesse em abrir. na verdade pensei em abrir só hoje, falando com ombudsmianos no trabalho, porque eles até chegaram a me pedir o livro emprestado. coisa de falta de dinheiro todo mundo tem. pelo menos os que estão próximos de mim.
mas até parece que alguma coisa vai acontecer com a força do meu Poder Criativo. mas depois disso parei pra ler o que tinha no verso, e lá está que "é um livro pragmático (...) destina-se a homens e mulheres cuja necessidade mais premente é ganhar dinheiro (...) aos que querem enriquecer primeiro e filosofar depois (...) àqueles que estão dispostos a aceitar as conclusões da ciência como base para a ação, sem precisar conhecer os processos por meio dos quais as conclusões foram alcançadas".
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Bodão colocou aí que espera de volta leitores e leitoras, clê, etc., etc., e disse que capilo nem adianta chamar. faltou olhar pro próprio umbigo - no caso o umbido do ombudsman - pra ver que a última postagem antes de seu "triunfal retorno", era sobre ele, uma homenagem a ele, mas não postada por ele. deixe estar...
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à clê, deixo um recado. como diria meu amigo mano brow - lembrado hoje por bodão -, se o barato é louco e o processo é lento ... no momento... deixa eu caminhar contra o vento.
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ao faveleiro: a boa companhia não debanda. a banda tá de volta!
Querid@s possíveis leitoras e leitores deste blog. Espero que tenham sentido nossa falta, ou ao menos percebido nossa ausência. Por motivos de força maior, que não cabe aqui explanar, perdemos nossa ilustre e brilhante colaboradora, Clê. Como andei me dedicando a sambas e facebooks, e os nossos outros colaboradores, Faveleiro e Capilo, há muito já nos abandonaram, um longo silêncio desabou, ou, para nos mantermos fiéis a nossa linha editorial, vivemos um inferno astral prolongado...
Muita coisa aconteceu nesse hiato, que pretendo encerrar a partir de hoje. Muitas águas rolaram, sambas foram feitos e cantados, dissertações foram escritas, litros e litros de cerveja ingeridos e bem curtidos, muitas ressacas, chacotas, baseados e alegrias, dentre otras cositas más...
Mas, pois bem, o ombudsman voltou e espera contar com @s antig@s possíveis leitoras e leitores e com as valorosas contribuições etílico-prosaico-poéticas de seus colaboradores...
Quem sabe a Clê não se anima, rompe o silêncio e também e dá o ar de sua graça por aqui... Nem que seja nos comentários...
*****
Uma das coisas que andei fazendo nesse período foi ler uma biografia do Simonal. Bom livro, por sinal, cheio de referências históricas do movimento da bossa nova, além de incontáveis dicas para pesquisas e downloads em blogs e sites. Com relação ao Simonal, o livro toma um certo partido, procura expor as coisas de modo a inocentar o rei da pilantragem, desenhando-o quase como um bom selvagem rosseauniano, bobo, ingênuo, quase infantil. Não acredito. Acho que ele sabia muito bem aproveitar e tirar proveito de tudo o que seu tempo lhe ofereceu, para o bem e para o mal. O que não quer dizer de modo algum que eu não reconheça seu talento como cantor e sua facilidade na condução da platéia, sua sagacidade e presença de palco, e tal.
Fiquei pensando em como a mídia e o show business funcionam e como o personagem criado por Simonal naufragou pelo mesmo caminho que o levou um dia ao estrelato e ao sucesso, como tudo parece se resumir na construção de uma imagem e suas vicissitudes. Tem algo antropofágico nessa relação entre público e celebridades e até um prazer em vê-los decaírem, quase uma vingança da platéia. E, principalmente, existe um prazer mórbido entre os jornalistas com seus julgamentos e análises superficiais que criam e destroem mitos.
Juntem olhos de polaróide, língua de sogra, espírito de porco e uma postura beavis & butthead perante a vida e eis aí mais um jornalista...
Mas, independente disso, o fato é que o negão vacilou feio ao assinar aquela papelada incriminadora, sendo ou não dedo-duro, demonstrando um total alheamento e alienação não somente ao debate político, mas ao contexto vivido na época e as conseqüências nefastas e óbvias de seu ato.
E pior do que isso é ver gente que se esquivou por muito tempo de sua companhia para não naufragar com ele, vindo a público depois de sua morte (e redenção midiática) anistiá-lo. Aí, é mole mermão.
*****
Fiquei pensando ainda no Adriano, em como a mídia e por extensão as pessoas são quase cruéis na sua ânsia de consumir a vida alheia sem pensar que todo personagem traz por trás das imagens um ser humano de carne e osso. Eu que não queria ser famoso e ser perseguido constantemente pelos olhos devoradores da opinião pública... Cruz credo!
*****
Bem, deixa eu voltar ao trabalho. Com essa postagenzinha preguiçosa e sem vergonha deu pra ver que eu ando enferrujado na escrita, mas prometo afinco e dedicação nos próximos dias.
Por enquanto é só pessoal.
*****
Pra encher lingüiça e enriquecer a postagem, uma entrevista muito interessante que saiu na Galileu e um amigo postou no facebook
ENTREVISTA
Conversamos com William Kamkwamba, o menino africano que construiu um moinho com lixo e dois livros de física
* Conte-me um pouco sobre você, William. Quando você nasceu, onde foi, como é sua família?
Nasci em 5 de agosto de 1987 em Dowa, no Malauí. Moro com seis irmãs, meu pai e minha mãe. Em uma família de garotas, você pode imaginar os problemas por que passei. Na escola, os garotos sempre implicavam comigo porque eu não tinha um irmão mais velho que me protegesse. De qualquer jeito, sobrevivi.
* Como é sua vida na vila onde mora, como são as condições de água, eletricidade...?
Moro na vila de Wimbe. É um lugar pequeno com uma grande estrada empoeirada e algumas lojas. Chamamos de Centro de Comércio. Há o barbeiro, o soldador, vários armazéns que vendem roupas e uma loja Farmer’s World, onde meu pai compra milho para plantar e fertilizante. Seguindo essa estrada, há a minha vizinhança, Masitala. A cidade grande mais próxima é Kasungu, com muitos habitantes, um grande supermercado e várias lojas. Para chegar até lá, tem que ir de carona, espremido por uma hora na caçamba de um caminhão. Só 2% da população rural do Malauí tem eletricidade e isso é um grande problema. E antes de eu conseguir perfurar um poço e providenciar água limpa para minha família, não havia água corrente por quase 100 km.
* Em 2000, o Malauí passou por uma seca terrível. Foi por isso que você teve de deixar a escola em 2002?
Sim. Essa seca fez faltar alimento em todo o país. Ninguém conseguia plantar o suficiente para comer. As pessoas começaram a passar fome. Muitos moradores aqui perto de Wimbe morreram de inanição. Causou a morte de mais de 10 mil malauianos. Meus vizinhos e minha família fomos forçados a cavar o solo para achar raízes e cascas de banana, qualquer coisa para forrar o estômago. A taxa para minha escola era 80 dólares por ano. Por causa da situação, meu pai não conseguia pagar, tive que para de estudar com 14 anos.
* Como você se sentiu por estar fora da escola?
Era bem ruim. Se você não está estudando, quer dizer que vai ser fazendeiro. Eles não controlam a própria vida; dependem do sol, da chuva, do preço das sementes e do fertilizante. Quando saí da escola, olhei meu pai, aqueles campos ressecados e vi o resto de minha vida. Era um futuro que não podia aceitar.
* Foi aí que você começou a frequentar uma biblioteca perto da sua casa?
Sim. Era um lugar bem pequeno dentro de minha escola primária, a uns dois km de casa. Eu geralmente caminhava, ou ia de bicicleta. A biblioteca tinha três estantes cheias de livros doados pelos EUA, Reino Unido, Zâmbia e Zimbábue. Fui com a esperança de estudar por conta própria, para ficar no mesmo nível dos amigos que continuaram na escola. Comecei a ler livros de ciência, e isso mudou minha vida.
* Você construiu um moinho de vento a partir das explicações de um livro, sem nunca ter visto um. Como foi isso, e para que você queria um moinho?
No livro, “Explaining Physics”, entendi como funcionavam motores e geradores. Não lia inglês muito bem. Usei diagramas e fotos para associar as palavras, e assim aprender física básica. O outro livro que li chamava-se “Using energy”, tinha uma foto de um moinho de vento na capa. Dizia que moinhos podem bombear água e gerar eletricidade. Meu pai poderia irrigar a plantação, aumentar a colheita e nós nunca mais passaríamos fome! Por isso decidi construir um moinho. Não havia instruções, mas sabia que se um homem havia construído no livro, eu também conseguiria.
* Como você fez para arranjar as peças? Quanto tempo levou?
Fui a um ferro-velho perto de casa e encontrei vários pedaços de metal e uns canos de plástico. Mas vi que não tinha todas as peças para uma bomba-d’água, então procurei fazer um moinho que gerasse eletricidade. Quando me viam carregando os ferros, as pessoas achavam que eu estava louco. Me provocavam e diziam que eu estava fumando maconha. Mas não deixei que isso me incomodasse. Continuei. Meu primo, Geoffrey, e outro amigo, Gilbert, me ajudaram a construir. Ficou pronto em dois meses. Quando o vi funcionando, fiquei muito feliz. Finalmente as pessoas sabiam que eu não estava louco.
* Quanta energia gerava o moinho?
O gerador do moinho era um dínamo de bicicleta, produzia 12 volts. Era suficiente para acender uma lâmpada. Mais tarde, meu primo achou uma bateria de carro na estrada. Demos uma carga nela, e conseguimos energia para manter quatro lâmpadas e dois rádios. As pessoas faziam fila para carregar seus celulares. Os celulares estão em todo o lugar na África porque são baratos. Há poucos lugares onde a eletricidade chega - geralmente nos arredores das empresas estatais de tabaco - e algumas lojas cobram para as pessoas carregarem os celulares. Comigo era grátis.
* Depois que sua história se espalhou, você voltou a estudar. Como estão seus estudos?
Depois que eu fui à conferência do TED [organização sem fins lucrativos que promove conferências anuais para divulgar boas ideias] em Arusha, na Tanzânia, algumas pessoas se aproximaram e me ofereceram ajuda para voltar à escola. Primeiro frequentei um colégio cristão na capital. Agora estudo em Johannesburgo, na África do Sul, na African Leadership Academy, uma escola que pretende treinar a próxima geração de líderes do continente. Há 200 estudantes de 42 países diferentes da África.
* Agora que você viu que seu moinho não só ajudou sua família, mas gerou esperança em cima de energia elétrica e renovável, quais são seus próximos planos?
Depois de fazer faculdade, talvez nos EUA, quero voltar ao Malauí e descobrir maneiras de produzir energia barata e renovável nas vilas. Quero construir bombas-d’água de baixo custo e que possam ser operadas facilmente. E também colocar um moinho de vento em cada cidade do Malauí. Quando a companhia estatal de telefones se recusou a atender às vilas, as empresas particulares de telefonia celular chegaram com torres e agora todos têm celulares. Nós simplesmente passamos por cima dessas companhias ineficientes. Espero fazer o mesmo com a energia no Malauí. Em vez de esperar o governo levar eletricidade até as vilas por linhas de força, vamos construir moinhos de vento e gerá-la nós mesmos.
Muita coisa aconteceu nesse hiato, que pretendo encerrar a partir de hoje. Muitas águas rolaram, sambas foram feitos e cantados, dissertações foram escritas, litros e litros de cerveja ingeridos e bem curtidos, muitas ressacas, chacotas, baseados e alegrias, dentre otras cositas más...
Mas, pois bem, o ombudsman voltou e espera contar com @s antig@s possíveis leitoras e leitores e com as valorosas contribuições etílico-prosaico-poéticas de seus colaboradores...
Quem sabe a Clê não se anima, rompe o silêncio e também e dá o ar de sua graça por aqui... Nem que seja nos comentários...
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Uma das coisas que andei fazendo nesse período foi ler uma biografia do Simonal. Bom livro, por sinal, cheio de referências históricas do movimento da bossa nova, além de incontáveis dicas para pesquisas e downloads em blogs e sites. Com relação ao Simonal, o livro toma um certo partido, procura expor as coisas de modo a inocentar o rei da pilantragem, desenhando-o quase como um bom selvagem rosseauniano, bobo, ingênuo, quase infantil. Não acredito. Acho que ele sabia muito bem aproveitar e tirar proveito de tudo o que seu tempo lhe ofereceu, para o bem e para o mal. O que não quer dizer de modo algum que eu não reconheça seu talento como cantor e sua facilidade na condução da platéia, sua sagacidade e presença de palco, e tal.
Fiquei pensando em como a mídia e o show business funcionam e como o personagem criado por Simonal naufragou pelo mesmo caminho que o levou um dia ao estrelato e ao sucesso, como tudo parece se resumir na construção de uma imagem e suas vicissitudes. Tem algo antropofágico nessa relação entre público e celebridades e até um prazer em vê-los decaírem, quase uma vingança da platéia. E, principalmente, existe um prazer mórbido entre os jornalistas com seus julgamentos e análises superficiais que criam e destroem mitos.
Juntem olhos de polaróide, língua de sogra, espírito de porco e uma postura beavis & butthead perante a vida e eis aí mais um jornalista...
Mas, independente disso, o fato é que o negão vacilou feio ao assinar aquela papelada incriminadora, sendo ou não dedo-duro, demonstrando um total alheamento e alienação não somente ao debate político, mas ao contexto vivido na época e as conseqüências nefastas e óbvias de seu ato.
E pior do que isso é ver gente que se esquivou por muito tempo de sua companhia para não naufragar com ele, vindo a público depois de sua morte (e redenção midiática) anistiá-lo. Aí, é mole mermão.
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Fiquei pensando ainda no Adriano, em como a mídia e por extensão as pessoas são quase cruéis na sua ânsia de consumir a vida alheia sem pensar que todo personagem traz por trás das imagens um ser humano de carne e osso. Eu que não queria ser famoso e ser perseguido constantemente pelos olhos devoradores da opinião pública... Cruz credo!
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Bem, deixa eu voltar ao trabalho. Com essa postagenzinha preguiçosa e sem vergonha deu pra ver que eu ando enferrujado na escrita, mas prometo afinco e dedicação nos próximos dias.
Por enquanto é só pessoal.
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Pra encher lingüiça e enriquecer a postagem, uma entrevista muito interessante que saiu na Galileu e um amigo postou no facebook
ENTREVISTA
Conversamos com William Kamkwamba, o menino africano que construiu um moinho com lixo e dois livros de física
* Conte-me um pouco sobre você, William. Quando você nasceu, onde foi, como é sua família?
Nasci em 5 de agosto de 1987 em Dowa, no Malauí. Moro com seis irmãs, meu pai e minha mãe. Em uma família de garotas, você pode imaginar os problemas por que passei. Na escola, os garotos sempre implicavam comigo porque eu não tinha um irmão mais velho que me protegesse. De qualquer jeito, sobrevivi.
* Como é sua vida na vila onde mora, como são as condições de água, eletricidade...?
Moro na vila de Wimbe. É um lugar pequeno com uma grande estrada empoeirada e algumas lojas. Chamamos de Centro de Comércio. Há o barbeiro, o soldador, vários armazéns que vendem roupas e uma loja Farmer’s World, onde meu pai compra milho para plantar e fertilizante. Seguindo essa estrada, há a minha vizinhança, Masitala. A cidade grande mais próxima é Kasungu, com muitos habitantes, um grande supermercado e várias lojas. Para chegar até lá, tem que ir de carona, espremido por uma hora na caçamba de um caminhão. Só 2% da população rural do Malauí tem eletricidade e isso é um grande problema. E antes de eu conseguir perfurar um poço e providenciar água limpa para minha família, não havia água corrente por quase 100 km.
* Em 2000, o Malauí passou por uma seca terrível. Foi por isso que você teve de deixar a escola em 2002?
Sim. Essa seca fez faltar alimento em todo o país. Ninguém conseguia plantar o suficiente para comer. As pessoas começaram a passar fome. Muitos moradores aqui perto de Wimbe morreram de inanição. Causou a morte de mais de 10 mil malauianos. Meus vizinhos e minha família fomos forçados a cavar o solo para achar raízes e cascas de banana, qualquer coisa para forrar o estômago. A taxa para minha escola era 80 dólares por ano. Por causa da situação, meu pai não conseguia pagar, tive que para de estudar com 14 anos.
* Como você se sentiu por estar fora da escola?
Era bem ruim. Se você não está estudando, quer dizer que vai ser fazendeiro. Eles não controlam a própria vida; dependem do sol, da chuva, do preço das sementes e do fertilizante. Quando saí da escola, olhei meu pai, aqueles campos ressecados e vi o resto de minha vida. Era um futuro que não podia aceitar.
* Foi aí que você começou a frequentar uma biblioteca perto da sua casa?
Sim. Era um lugar bem pequeno dentro de minha escola primária, a uns dois km de casa. Eu geralmente caminhava, ou ia de bicicleta. A biblioteca tinha três estantes cheias de livros doados pelos EUA, Reino Unido, Zâmbia e Zimbábue. Fui com a esperança de estudar por conta própria, para ficar no mesmo nível dos amigos que continuaram na escola. Comecei a ler livros de ciência, e isso mudou minha vida.
* Você construiu um moinho de vento a partir das explicações de um livro, sem nunca ter visto um. Como foi isso, e para que você queria um moinho?
No livro, “Explaining Physics”, entendi como funcionavam motores e geradores. Não lia inglês muito bem. Usei diagramas e fotos para associar as palavras, e assim aprender física básica. O outro livro que li chamava-se “Using energy”, tinha uma foto de um moinho de vento na capa. Dizia que moinhos podem bombear água e gerar eletricidade. Meu pai poderia irrigar a plantação, aumentar a colheita e nós nunca mais passaríamos fome! Por isso decidi construir um moinho. Não havia instruções, mas sabia que se um homem havia construído no livro, eu também conseguiria.
* Como você fez para arranjar as peças? Quanto tempo levou?
Fui a um ferro-velho perto de casa e encontrei vários pedaços de metal e uns canos de plástico. Mas vi que não tinha todas as peças para uma bomba-d’água, então procurei fazer um moinho que gerasse eletricidade. Quando me viam carregando os ferros, as pessoas achavam que eu estava louco. Me provocavam e diziam que eu estava fumando maconha. Mas não deixei que isso me incomodasse. Continuei. Meu primo, Geoffrey, e outro amigo, Gilbert, me ajudaram a construir. Ficou pronto em dois meses. Quando o vi funcionando, fiquei muito feliz. Finalmente as pessoas sabiam que eu não estava louco.
* Quanta energia gerava o moinho?
O gerador do moinho era um dínamo de bicicleta, produzia 12 volts. Era suficiente para acender uma lâmpada. Mais tarde, meu primo achou uma bateria de carro na estrada. Demos uma carga nela, e conseguimos energia para manter quatro lâmpadas e dois rádios. As pessoas faziam fila para carregar seus celulares. Os celulares estão em todo o lugar na África porque são baratos. Há poucos lugares onde a eletricidade chega - geralmente nos arredores das empresas estatais de tabaco - e algumas lojas cobram para as pessoas carregarem os celulares. Comigo era grátis.
* Depois que sua história se espalhou, você voltou a estudar. Como estão seus estudos?
Depois que eu fui à conferência do TED [organização sem fins lucrativos que promove conferências anuais para divulgar boas ideias] em Arusha, na Tanzânia, algumas pessoas se aproximaram e me ofereceram ajuda para voltar à escola. Primeiro frequentei um colégio cristão na capital. Agora estudo em Johannesburgo, na África do Sul, na African Leadership Academy, uma escola que pretende treinar a próxima geração de líderes do continente. Há 200 estudantes de 42 países diferentes da África.
* Agora que você viu que seu moinho não só ajudou sua família, mas gerou esperança em cima de energia elétrica e renovável, quais são seus próximos planos?
Depois de fazer faculdade, talvez nos EUA, quero voltar ao Malauí e descobrir maneiras de produzir energia barata e renovável nas vilas. Quero construir bombas-d’água de baixo custo e que possam ser operadas facilmente. E também colocar um moinho de vento em cada cidade do Malauí. Quando a companhia estatal de telefones se recusou a atender às vilas, as empresas particulares de telefonia celular chegaram com torres e agora todos têm celulares. Nós simplesmente passamos por cima dessas companhias ineficientes. Espero fazer o mesmo com a energia no Malauí. Em vez de esperar o governo levar eletricidade até as vilas por linhas de força, vamos construir moinhos de vento e gerá-la nós mesmos.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
parabéns?!
Não chegou a hora ainda, porque o centenário do Noel Rosa é só dia 11 de dezembro deste ano que se inicia, mas como o cara era do samba e hoje bodvéi fica mais velho, vai então os parabéns pra bodão, com uma música de Noel em parceria com Ary Barroso, "de qualquer maneira", que foi a primeira que encontrei dele quando fui procurar aqui na internet. Gravada 1939 por Déo com Conjunto Odeon.
E como qualquer música tem alguma coisa a ver com o bodão, vai essa mesmo. Valeu filhão!
E como qualquer música tem alguma coisa a ver com o bodão, vai essa mesmo. Valeu filhão!
sábado, 9 de janeiro de 2010
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