Querid@s possíveis leitoras e leitores deste blog. Espero que tenham sentido nossa falta, ou ao menos percebido nossa ausência. Por motivos de força maior, que não cabe aqui explanar, perdemos nossa ilustre e brilhante colaboradora, Clê. Como andei me dedicando a sambas e facebooks, e os nossos outros colaboradores, Faveleiro e Capilo, há muito já nos abandonaram, um longo silêncio desabou, ou, para nos mantermos fiéis a nossa linha editorial, vivemos um inferno astral prolongado...
Muita coisa aconteceu nesse hiato, que pretendo encerrar a partir de hoje. Muitas águas rolaram, sambas foram feitos e cantados, dissertações foram escritas, litros e litros de cerveja ingeridos e bem curtidos, muitas ressacas, chacotas, baseados e alegrias, dentre otras cositas más...
Mas, pois bem, o ombudsman voltou e espera contar com @s antig@s possíveis leitoras e leitores e com as valorosas contribuições etílico-prosaico-poéticas de seus colaboradores...
Quem sabe a Clê não se anima, rompe o silêncio e também e dá o ar de sua graça por aqui... Nem que seja nos comentários...
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Uma das coisas que andei fazendo nesse período foi ler uma biografia do Simonal. Bom livro, por sinal, cheio de referências históricas do movimento da bossa nova, além de incontáveis dicas para pesquisas e downloads em blogs e sites. Com relação ao Simonal, o livro toma um certo partido, procura expor as coisas de modo a inocentar o rei da pilantragem, desenhando-o quase como um bom selvagem rosseauniano, bobo, ingênuo, quase infantil. Não acredito. Acho que ele sabia muito bem aproveitar e tirar proveito de tudo o que seu tempo lhe ofereceu, para o bem e para o mal. O que não quer dizer de modo algum que eu não reconheça seu talento como cantor e sua facilidade na condução da platéia, sua sagacidade e presença de palco, e tal.
Fiquei pensando em como a mídia e o show business funcionam e como o personagem criado por Simonal naufragou pelo mesmo caminho que o levou um dia ao estrelato e ao sucesso, como tudo parece se resumir na construção de uma imagem e suas vicissitudes. Tem algo antropofágico nessa relação entre público e celebridades e até um prazer em vê-los decaírem, quase uma vingança da platéia. E, principalmente, existe um prazer mórbido entre os jornalistas com seus julgamentos e análises superficiais que criam e destroem mitos.
Juntem olhos de polaróide, língua de sogra, espírito de porco e uma postura beavis & butthead perante a vida e eis aí mais um jornalista...
Mas, independente disso, o fato é que o negão vacilou feio ao assinar aquela papelada incriminadora, sendo ou não dedo-duro, demonstrando um total alheamento e alienação não somente ao debate político, mas ao contexto vivido na época e as conseqüências nefastas e óbvias de seu ato.
E pior do que isso é ver gente que se esquivou por muito tempo de sua companhia para não naufragar com ele, vindo a público depois de sua morte (e redenção midiática) anistiá-lo. Aí, é mole mermão.
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Fiquei pensando ainda no Adriano, em como a mídia e por extensão as pessoas são quase cruéis na sua ânsia de consumir a vida alheia sem pensar que todo personagem traz por trás das imagens um ser humano de carne e osso. Eu que não queria ser famoso e ser perseguido constantemente pelos olhos devoradores da opinião pública... Cruz credo!
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Bem, deixa eu voltar ao trabalho. Com essa postagenzinha preguiçosa e sem vergonha deu pra ver que eu ando enferrujado na escrita, mas prometo afinco e dedicação nos próximos dias.
Por enquanto é só pessoal.
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Pra encher lingüiça e enriquecer a postagem, uma entrevista muito interessante que saiu na Galileu e um amigo postou no facebook
ENTREVISTA
Conversamos com William Kamkwamba, o menino africano que construiu um moinho com lixo e dois livros de física
* Conte-me um pouco sobre você, William. Quando você nasceu, onde foi, como é sua família?
Nasci em 5 de agosto de 1987 em Dowa, no Malauí. Moro com seis irmãs, meu pai e minha mãe. Em uma família de garotas, você pode imaginar os problemas por que passei. Na escola, os garotos sempre implicavam comigo porque eu não tinha um irmão mais velho que me protegesse. De qualquer jeito, sobrevivi.
* Como é sua vida na vila onde mora, como são as condições de água, eletricidade...?
Moro na vila de Wimbe. É um lugar pequeno com uma grande estrada empoeirada e algumas lojas. Chamamos de Centro de Comércio. Há o barbeiro, o soldador, vários armazéns que vendem roupas e uma loja Farmer’s World, onde meu pai compra milho para plantar e fertilizante. Seguindo essa estrada, há a minha vizinhança, Masitala. A cidade grande mais próxima é Kasungu, com muitos habitantes, um grande supermercado e várias lojas. Para chegar até lá, tem que ir de carona, espremido por uma hora na caçamba de um caminhão. Só 2% da população rural do Malauí tem eletricidade e isso é um grande problema. E antes de eu conseguir perfurar um poço e providenciar água limpa para minha família, não havia água corrente por quase 100 km.
* Em 2000, o Malauí passou por uma seca terrível. Foi por isso que você teve de deixar a escola em 2002?
Sim. Essa seca fez faltar alimento em todo o país. Ninguém conseguia plantar o suficiente para comer. As pessoas começaram a passar fome. Muitos moradores aqui perto de Wimbe morreram de inanição. Causou a morte de mais de 10 mil malauianos. Meus vizinhos e minha família fomos forçados a cavar o solo para achar raízes e cascas de banana, qualquer coisa para forrar o estômago. A taxa para minha escola era 80 dólares por ano. Por causa da situação, meu pai não conseguia pagar, tive que para de estudar com 14 anos.
* Como você se sentiu por estar fora da escola?
Era bem ruim. Se você não está estudando, quer dizer que vai ser fazendeiro. Eles não controlam a própria vida; dependem do sol, da chuva, do preço das sementes e do fertilizante. Quando saí da escola, olhei meu pai, aqueles campos ressecados e vi o resto de minha vida. Era um futuro que não podia aceitar.
* Foi aí que você começou a frequentar uma biblioteca perto da sua casa?
Sim. Era um lugar bem pequeno dentro de minha escola primária, a uns dois km de casa. Eu geralmente caminhava, ou ia de bicicleta. A biblioteca tinha três estantes cheias de livros doados pelos EUA, Reino Unido, Zâmbia e Zimbábue. Fui com a esperança de estudar por conta própria, para ficar no mesmo nível dos amigos que continuaram na escola. Comecei a ler livros de ciência, e isso mudou minha vida.
* Você construiu um moinho de vento a partir das explicações de um livro, sem nunca ter visto um. Como foi isso, e para que você queria um moinho?
No livro, “Explaining Physics”, entendi como funcionavam motores e geradores. Não lia inglês muito bem. Usei diagramas e fotos para associar as palavras, e assim aprender física básica. O outro livro que li chamava-se “Using energy”, tinha uma foto de um moinho de vento na capa. Dizia que moinhos podem bombear água e gerar eletricidade. Meu pai poderia irrigar a plantação, aumentar a colheita e nós nunca mais passaríamos fome! Por isso decidi construir um moinho. Não havia instruções, mas sabia que se um homem havia construído no livro, eu também conseguiria.
* Como você fez para arranjar as peças? Quanto tempo levou?
Fui a um ferro-velho perto de casa e encontrei vários pedaços de metal e uns canos de plástico. Mas vi que não tinha todas as peças para uma bomba-d’água, então procurei fazer um moinho que gerasse eletricidade. Quando me viam carregando os ferros, as pessoas achavam que eu estava louco. Me provocavam e diziam que eu estava fumando maconha. Mas não deixei que isso me incomodasse. Continuei. Meu primo, Geoffrey, e outro amigo, Gilbert, me ajudaram a construir. Ficou pronto em dois meses. Quando o vi funcionando, fiquei muito feliz. Finalmente as pessoas sabiam que eu não estava louco.
* Quanta energia gerava o moinho?
O gerador do moinho era um dínamo de bicicleta, produzia 12 volts. Era suficiente para acender uma lâmpada. Mais tarde, meu primo achou uma bateria de carro na estrada. Demos uma carga nela, e conseguimos energia para manter quatro lâmpadas e dois rádios. As pessoas faziam fila para carregar seus celulares. Os celulares estão em todo o lugar na África porque são baratos. Há poucos lugares onde a eletricidade chega - geralmente nos arredores das empresas estatais de tabaco - e algumas lojas cobram para as pessoas carregarem os celulares. Comigo era grátis.
* Depois que sua história se espalhou, você voltou a estudar. Como estão seus estudos?
Depois que eu fui à conferência do TED [organização sem fins lucrativos que promove conferências anuais para divulgar boas ideias] em Arusha, na Tanzânia, algumas pessoas se aproximaram e me ofereceram ajuda para voltar à escola. Primeiro frequentei um colégio cristão na capital. Agora estudo em Johannesburgo, na África do Sul, na African Leadership Academy, uma escola que pretende treinar a próxima geração de líderes do continente. Há 200 estudantes de 42 países diferentes da África.
* Agora que você viu que seu moinho não só ajudou sua família, mas gerou esperança em cima de energia elétrica e renovável, quais são seus próximos planos?
Depois de fazer faculdade, talvez nos EUA, quero voltar ao Malauí e descobrir maneiras de produzir energia barata e renovável nas vilas. Quero construir bombas-d’água de baixo custo e que possam ser operadas facilmente. E também colocar um moinho de vento em cada cidade do Malauí. Quando a companhia estatal de telefones se recusou a atender às vilas, as empresas particulares de telefonia celular chegaram com torres e agora todos têm celulares. Nós simplesmente passamos por cima dessas companhias ineficientes. Espero fazer o mesmo com a energia no Malauí. Em vez de esperar o governo levar eletricidade até as vilas por linhas de força, vamos construir moinhos de vento e gerá-la nós mesmos.
quinta-feira, 11 de março de 2010
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