quarta-feira, 25 de agosto de 2010

neguinha?

Tem cada coisa que acontece que, puta que pariu, é foda.

Tenho uma amiga do facebook, dessas que são amigas reais de um amigo real e um dia concordam com uma posição ou um comentário virtual seu, se manifesta em seu favor, alguém envia uma solicitação de amizade e se torna uma de suas melhores amigas virtuais. Essa, em especial, eu nutria, ou nutro, sei lá, uma vontade e uma promessa de nos conhecermos no mundão dito real, encontro pelo qual eu alimentava, ou alimento, sei lá - alimento - expectativas eróticas. Nosso amigo real em comum já havia falado à beça dela, como quem joga um super trunfo erótico canalha (pernas, coxas, bumbum, quadril, seios, lábios, etc...rsrs).

Pois bem, essa semana minha querida amiga virtual me postou um texto no facebook dizendo que foi abordada pela pesquisa do censo do IBGE e que, ao ser questionada sobre sua cor e/ou raça, depois de pensar um pouco respondeu cantando em tom de galhofa 'eu sou neguinha', mesmo sendo branca como a neve, mais caucasiana do que a Nicole Kidman - na verdade, seguindo o papo Manderlay, que aliás tem tudo a ver com esse presente texto, ela está mais para Bryce Dallas Howard, a segunda Grace e ou a Dama na Água do Shyamalan...

O pior é que o idiota do rapaz do censo riu da piada e transcreveu-a solenemente, afirmando ainda que ela podia mentir à vontade. Na certa estava rolando um flerte de ambos os lados - além de uma estupidez e alienação inacreditáveis, ainda mais quando se sabe que o dito cujo passou por uma formação de pesquisador...

Porra, cara pálida, para que fazemos um censo, meu Deus do céu?? Para que será que servem suas informações?? Para termos uma ideia estatisticamente construída acerca da sociedade brasileira, seus arranjos, distribuições, configurações e desigualdades.... Para construirmos políticas públicas que dêem conta e superem essas desigualdades, certo?! Então fraudar ou sabotar uma informação no censo é sabotar todo esse processo, concordam??!!

Francamente. Não consegui ficar propriamente puto com ela. Ela me parecia meio ainda sem entender direito o que tinha acontecido, apesar de ter achado bacana, e tal. Fiquei bem mais revoltado de saber o tipo de entrevistador que está realizando essa pesquisa, do seu despreparo ou falta de noção do que está fazendo. Não concorda com a pesquisa, tem suas questões, faça-as ouvir noutro momento, estude, faça um mestrado, sei lá. Ou vai vender pó, vai roubar, vai fazer o que for, menos aplicar questionários do censo.

O pior foram os comentários do tipo: pois é, mandou bem, viva a raça humana, como fazem essa pergunta no Brasil... Como se não houvesse racismo no Brasil, como se a cor da pele não fosse um determinante de uma série de configurações sociais opressoras que milhões de brasileiros vivem, como se a discriminação racial não fosse uma realidade vivida cotidianamente em nosso país. Lamentável.

Há poucos dias escrevi sobre essa ideia de uma democracia racial e de como Caetano Veloso, citando Antônio Cícero, irmão da Marina - Marina Lima, a cantora, por favor - propunha adotar essa postura que considero no mínimo cínica e alienada como um mito propulsor dessa igualdade racial. Como se negar o racismo fosse transformar a sociedade num passe de mágica, como se viver ignorando e impondo uma visão não racista pura e simplesmente corrigisse as desigualdades concernentes ao componente racial na sociedade brasileira. E olha que ele diz não usar droga, hein... Eu que me entupi de ácidos, cogumelos, cocaína, maconha e álcool a vida inteira pareço perceber a realidade de maneira bem mais lúcida. Ou menos cínica e blasé.

Tudo bem, existe toda uma corrente mais elaborada que defende a adoção dessa linha de pensamento na formulação das políticas públicas segundo o argumento de que incluindo o componente cor junto a outras questões sociais você poderia corrigir uma série de desigualdades históricas sem a criação de um objeto específico "cor' ou 'raça' e o isolamento dessa variante. No entanto, o problema é que essa variante já está isolada, esse objeto já foi recortado, e só não vê quem não quer. Apesar da inegável miscigenação, elucidar o que está relacionado ao componente cor e raça não é criar o racismo no Braisl. Muito pelo contrário, é admitir que existe, observar suas consequências nefastas e procurar corrigí-las. Penso assim.

E penso ser triste ver tanta gente negando esse problema, e mais triste ainda ver que são todos brancos, ou predominantemente brancios caucasianos, moradores de bairros nobres da zona sul do Rio de Janeiro. Triste, mas compreensível, é verdade. Tal ideologia só poderia vicejar mesmo nessas localidades. Triste mesmo é o menino pretinho do morro querer ser branco, achar ser preto feio, saber que a polícia pára ele por conta de suas roupas, ethos e cor e ter introjetado goela abaixo essa ideologia perversa. Isso é triste. Isso me causa tristeza.

Já essa galerinha metida a vanguarda do pensamento me dá é nojo.

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Mas tudo bem, se houver oportunidade eu bem pego ainda de jeito a Bryce Dallas Howard neguinha entre aspas do facebook... rsrsrs

Um comentário:

Rodrigo Bodão disse...

só um adendo: eu não me considero branco, no sentido branco puro, vamos dizer assim. Tenho muitas mestiçagens na minha história genealógica, minha avó é baiana, descendente de índios, negros e brancos numa salada miscigenada comum no Brasil. Mas minha pele é branca. Meu cabelo é liso. Logo, eu sou inegavelmente beneficiado por esses aspectos e aparência em comparação com alguém de cor preta e traços negros, distintivos da negritude.