Pois é gente... o tempo passa, o tempo voa, minha mãe continua assinando a ‘veja’ e eu lendo, não propriamente numa boa. Muito pelo contrário.
Semanas atrás, esse fatídico veículo da mídia publicou um grande bloco especial de reportagens sobre o fenômeno das igrejas evangélicas embaladas por mais um escândalo de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito envolvendo bispos, pastores e outras figuras, basicamente da Igreja Universal do Reino de Deus.
Não pretendo aqui nem defender esses caras, muito menos atacá-los... Confesso que não tenho muito ânimo para esse assunto. Mas eis que um reporterzinho dessa revista, que eu prefiro não dizer o nome pra não dar ibope, escreveu uma pequena análise de dois parágrafos sobre o avanço das igrejas neopentecostais, indicando vantagens, desvantagens e explicações para o fenômeno. Transcrevo abaixo o segundo parágrafo em outra cor de fonte para não ser confundido como autor dessas ridículas linhas e idéias...
"O pentecostalismo, com sua doutrina do bem-estar econômico indissociável da espiritualidade religiosa, teve o mérito de barrar o avanço de ideologias revolucionárias de esquerda na América Latina. As novas fés protestantes abordam o descontentamento social de maneira radicalmente diferente das teorias marxistas. Para os pentecostais, a pobreza é resultado do fracasso pessoal, não de um sistema econômico injusto. Na década de 70, quando as igrejas pentecostais começaram a crescer mais rapidamente na América Latina, o foco no conforto espiritual e na realização material serviu como contraponto à Teologia da Libertação, aquela estranha concepção marxista de catolicismo que transformou Jesus Cristo numa espécie de Che Guevara da Antiguidade (15/08/2009)”
[respira profundamente na falta de cigarros]
Uma primeira comprovação com esse texto é a tese de que quem acusa um discurso de ser ideológico em prol de uma suposta realidade dos fatos, já está sendo ideológico. Na verdade,ideologia é justamente um dos fatores que sustentam a leitura de um suposta realidade dos fatos...Ainda que isso não esteja claro no texto acima, a simples freqüência com que parte majoritária da mídia nos metralha semanal, mensal, diária e insistentemente com ataques a ideais de esquerda ou teorias filiadas a um pensamento de esquerda que procuram entender e analisar as nuances, problemas e movimentos das sociedades existentes já demonstra um caráter panfletário das suas concepções e publicações. A impressão que dá é que todos formam uma mesma voz e, nessa operação, procuram nos convencer acerca de sua veracidade pela repetição estridente.
No entanto, o que acontece é que por vezes tropeçam em suas próprias ladainhas e argumentos tolos – tal como no trecho acima da Não-Veja...
Um dos pontos positivos que sempre percebi nas ações e na própria organização das igrejas evangélicas é um senso de comunidade e uma rede social, uma coletividade voltada para a criação de oportunidades. A solidariedade é tomada como um fator fundamental para o crescimento e sucesso pessoal. A pobreza, antes de um fracasso pessoal é um Mal, com M maiúsculo, fruto da obra do Diabo ou dos milhões de nomes utilizados para a denominação do que é oposto ao caminho de Deus, do Bem e da salvação. Apesar de ter sim uma ênfase numa ética do trabalho e no investimento individual como caminhos da virtude, é justamente no acolhimento, na caridade e no trabalho social que reside o segredo do sucesso individual.
Tive contato com algumas pessoas que procuraram a igreja principalmente por conta de problemas com drogas. O sentido de irmandade, o apoio de uma rede que disponibiliza desde uma internação em sítios no interior até a oportunidade de ingressar em um trabalho, geralmente tendo como patrão algum outro irmão de fé, é que justificam em última instância a recuperação, a gratidão com quem os acolheu, reforçada ainda por valores divinos. Esse laço entre o divino e etéreo com o terreno e concreto geram uma disciplina e devoção que fazem alguns fiéis chegarem ao ponto de pagar o quanto for pedido de dízimo e fazer o que o pastor bem quiser.
Obviamente, existe um pensamento de natureza mística e a presença de dogmas cristãos favorece alguns exageros, fanatismos e aberrações. Mas no geral, ao contrário do que se propaga, os fiéis não se deixam enganar pura e simplesmente. Antes se deixam levar por uma corrente coletiva que gera frutos concretos em sua vida individual – a partir da inserção nessa coletividade organizada segundo preceitos bem mais próximos de algumas teorias de esquerda do que parece num primeiro momento.
Talvez a dimensão individual se manifeste mais fortemente na transgressão dos valores religiosos e no enriquecimento a qualquer custo, para sustentando exemplos mirabolantes e falsos testemunhos. Ainda que a ambição e o desejo de ascensão social sejam comuns ao rebanho, é por respeito ao próximo e à coletividade, além das leis divinas, obvviamente, que sustentam uma vida regrada, uma ética do trabalho e toda a disciplina cristã.
Semanas atrás, esse fatídico veículo da mídia publicou um grande bloco especial de reportagens sobre o fenômeno das igrejas evangélicas embaladas por mais um escândalo de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito envolvendo bispos, pastores e outras figuras, basicamente da Igreja Universal do Reino de Deus.
Não pretendo aqui nem defender esses caras, muito menos atacá-los... Confesso que não tenho muito ânimo para esse assunto. Mas eis que um reporterzinho dessa revista, que eu prefiro não dizer o nome pra não dar ibope, escreveu uma pequena análise de dois parágrafos sobre o avanço das igrejas neopentecostais, indicando vantagens, desvantagens e explicações para o fenômeno. Transcrevo abaixo o segundo parágrafo em outra cor de fonte para não ser confundido como autor dessas ridículas linhas e idéias...
"O pentecostalismo, com sua doutrina do bem-estar econômico indissociável da espiritualidade religiosa, teve o mérito de barrar o avanço de ideologias revolucionárias de esquerda na América Latina. As novas fés protestantes abordam o descontentamento social de maneira radicalmente diferente das teorias marxistas. Para os pentecostais, a pobreza é resultado do fracasso pessoal, não de um sistema econômico injusto. Na década de 70, quando as igrejas pentecostais começaram a crescer mais rapidamente na América Latina, o foco no conforto espiritual e na realização material serviu como contraponto à Teologia da Libertação, aquela estranha concepção marxista de catolicismo que transformou Jesus Cristo numa espécie de Che Guevara da Antiguidade (15/08/2009)”
[respira profundamente na falta de cigarros]
Uma primeira comprovação com esse texto é a tese de que quem acusa um discurso de ser ideológico em prol de uma suposta realidade dos fatos, já está sendo ideológico. Na verdade,ideologia é justamente um dos fatores que sustentam a leitura de um suposta realidade dos fatos...Ainda que isso não esteja claro no texto acima, a simples freqüência com que parte majoritária da mídia nos metralha semanal, mensal, diária e insistentemente com ataques a ideais de esquerda ou teorias filiadas a um pensamento de esquerda que procuram entender e analisar as nuances, problemas e movimentos das sociedades existentes já demonstra um caráter panfletário das suas concepções e publicações. A impressão que dá é que todos formam uma mesma voz e, nessa operação, procuram nos convencer acerca de sua veracidade pela repetição estridente.
No entanto, o que acontece é que por vezes tropeçam em suas próprias ladainhas e argumentos tolos – tal como no trecho acima da Não-Veja...
Um dos pontos positivos que sempre percebi nas ações e na própria organização das igrejas evangélicas é um senso de comunidade e uma rede social, uma coletividade voltada para a criação de oportunidades. A solidariedade é tomada como um fator fundamental para o crescimento e sucesso pessoal. A pobreza, antes de um fracasso pessoal é um Mal, com M maiúsculo, fruto da obra do Diabo ou dos milhões de nomes utilizados para a denominação do que é oposto ao caminho de Deus, do Bem e da salvação. Apesar de ter sim uma ênfase numa ética do trabalho e no investimento individual como caminhos da virtude, é justamente no acolhimento, na caridade e no trabalho social que reside o segredo do sucesso individual.
Tive contato com algumas pessoas que procuraram a igreja principalmente por conta de problemas com drogas. O sentido de irmandade, o apoio de uma rede que disponibiliza desde uma internação em sítios no interior até a oportunidade de ingressar em um trabalho, geralmente tendo como patrão algum outro irmão de fé, é que justificam em última instância a recuperação, a gratidão com quem os acolheu, reforçada ainda por valores divinos. Esse laço entre o divino e etéreo com o terreno e concreto geram uma disciplina e devoção que fazem alguns fiéis chegarem ao ponto de pagar o quanto for pedido de dízimo e fazer o que o pastor bem quiser.
Obviamente, existe um pensamento de natureza mística e a presença de dogmas cristãos favorece alguns exageros, fanatismos e aberrações. Mas no geral, ao contrário do que se propaga, os fiéis não se deixam enganar pura e simplesmente. Antes se deixam levar por uma corrente coletiva que gera frutos concretos em sua vida individual – a partir da inserção nessa coletividade organizada segundo preceitos bem mais próximos de algumas teorias de esquerda do que parece num primeiro momento.
Talvez a dimensão individual se manifeste mais fortemente na transgressão dos valores religiosos e no enriquecimento a qualquer custo, para sustentando exemplos mirabolantes e falsos testemunhos. Ainda que a ambição e o desejo de ascensão social sejam comuns ao rebanho, é por respeito ao próximo e à coletividade, além das leis divinas, obvviamente, que sustentam uma vida regrada, uma ética do trabalho e toda a disciplina cristã.
Independente das críticas que nutro ao papel social das religiões, no caso especiaolmennte as de base cristã tradicionais, por não estimular uma crítica social ou a percepção dos problemas relacionados a um sistema econômico injusto, e mesmo exista certa alienação na leitura de base divina do mito moderno do indivíduo criando uma espécie de self made man de Cristo, é inegável que se elas produzem a conquista de um bem-estar social e realização material estas se dão basicamente por razões e arranjos de ordem social e coletiva – as mesmas que sustentam as propostas e paradigmas próprios de um pensamento de esquerda.
2 comentários:
papel social das religiões (...) crítica social ou a percepção dos problemas relacionados a um sistema econômico injusto, (...) certa alienação (...) ordem social e coletiva (...)
Tá convivendo demais com a Clementina, Bodão.
Pior do que essa só a reportagem(?) dessa semana sobre o MST. Eu literalmente destruí o exemplar gratuito que eles me mandaram na tentativa de fazer com que eu financiasse as mentiras deles. Que ódio, nunca li tanta mentira.
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