segunda-feira, 22 de junho de 2009


Sábado eu abri os olhos numa cama do Brooklyn ainda meio ressaqueado e mal balbuciei algumas brincadeiras o celular da minha mulher tocou e ela disse que era minha mãe.

Soltei um puta que pariu chateado porque minha avó paterna estava internada numa CTI num hospital de Niterói e eu pedi para minha mãe me ligar no caso de minha avó falecer e quando tocou o celular e eu tinha que atender e não queria mais acordar nem atender o celular eu já sabia o que ia ser dito e que minha vózinha tinha morrido.

O resto do dia eu só pude beber e chorar como também chorava o céu de Nova Iorque e eu me afundei em Coors e Carlsberg em um pub chamado Moe´s que me lembrava os Simpsons e tinha um nome engraçado e um clima agradável até aquele momento em que fiquei bebendo e eu e minha mulher passamos a tarde chorando a falta de nossas avós com uma melancolia escrota enquanto tocava rock sem parar e eu ia pra fora do bar chorar na chuva fumando cigarro bem no meio do caminho dos americanos que puritanamente passavam sem olhar para minha cara e eu me sentia melhor assim..

Eu ainda hoje estou abalado e acabei de falar com meu pai que parece estar bem resignado e ficou me dizendo sua leitura da vida da minha avó que eu concordei e também ressaltei em coro sua força e inteligência e que a forma como ela morreu sem muito sofrimento nem passar por toda a via crucis de uma quimioterapia combina de certa forma com a independência e energia que a caracterizava e que reforça a beleza de sua trajetória nesse planeta.

Falei com minha mãe para saber dela e de minha outra avó com medo do pior acontecer e fiquei mais tranquilo quando soube que ela passa bem e que a forma como minha avó morreu sem saber que estava com câncer de pulmão e sem dar trabalho para ninguém combina com um desejo manifestado por telefone com minha mãe meses antes quando ela reclamava de desânimo e dores no corpo além de um cansaço esquisito que todo mundo achou que era depressão e eu estava muito ocupado em terminar minha dissertação de mestrado e nem fui visitá-la apesar de estar a poucos quarteirões de distância.

Lembrei agora de como tinha medo e falei com Amana que eu temia perder minha avó materna ao longo dessa viagem e de como a morte de minha avó paterna acaba refletindo uma triste ironia emoldurada ainda pelo sentimento disparado pela história do Benjamin Button me fazendo lembrar a morte de meu avô paterno e de como eu ouvia minha vó Conceição sabiamente dizendo que envelhecer é colecionar saudades e pensava que meu avô inaugurou essa coleção melancólica na qual ela hoje é a dor mais recente.

Queria postar alguma coisa sobre NY ou sobre a genealogia da moral ou algum outro assunto interessante desses que eu anoto no meu caderno de campo para agradar leitores anônimos e provocar comentários e risinhos na Clê mas hoje nenhuma máscara de carnaval me cabe e fica aqui esse texto estranho num formato que surgiu a partir de um erro de português no segundo parágrafo como uma tentativa solitária e melancólica de despressurização estética.

E fico muito feliz mesmo sem ironia de saber que a Clê dormiu dezoito horas que o brunobandido nos visitou e achou tudo lindo que Bebeto tem tino jornalístico e que o Flamengo ganhou do Inter desfalcado com três gols de Adriano e a vida segue em frente.

3 comentários:

Amana disse...

teamomeuamor

Clementina disse...

sentia sua falta por aqui...

tamo junto!

F A V E L E I R O disse...

Conheci sua avó sem conhece-la voce sempre falava dela em nossas embriaguez Assim que vi que voce tinha postado lembrei da música A volta do Bohemio releia esta letra