quinta-feira, 4 de junho de 2009

sobre moletons, fardos e outros devaneios

esse frio todo dá uma desanimada. não que eu ande animada. mas o frio dissipa qualquer possibilidade de que haja animação. ou talvez ele seja a desculpa perfeita para a ausência dela. mas aí já é um coisa a se refletir, se é verdade ou não. por hora, melhor ficar no campo das hipóteses. ou, ainda melhor, mantenhamos a afirmação de que o frio desanima.

esse papo de frio me lembra um pouco da minha infância. porque em salvador não faz temperaturas assim tão baixas e eu torcia por elas quando era bem nova para poder ir de moleton para o colégio - pelo simples prazer de poder amarrá-lo na cintura - ou ainda para poder colocar uma calça jeans - que nesse tempo me parecia meio adulto, já que crianças, à minha época, não usavam calças jeans no dia-a-dia.

ao menor sinal de chuva, nuvens e qualquer coisa que eu pudesse ligar ao frio, eu entrava no quarto de minha mãe (coisa de 5:30h da matina) e perguntava baixinho para não irritá-la:
- mãe, vou levar casaco hoje, tá?

ou então:
- mãe, você não acha que devo ir de calça?

era um ritual doméstico. minha mãe gostava de procedimentos. era a forma que ela, uma pessoa altamente fora de qualquer parâmetro que você possa estabelecer de normalidade, encontrou para tocar a vida de mãe solteira com duas filhas. era a forma dela de nos educar. então, pela manhã, a senhorita que cuidava de nós, nos chamava e colocava no banho (cinco da manhã). daí ela punha os uniformes - sempre uma bermuda jeans, a camiseta do colégio, meias brancas e tênis preto - em cima do sofá - o que ficava do lado esquerdo da sala. saíamos do banheiro rumo ao sofá e nos vestíamos sem colocar a blusa. a tal moça penteava os cabelos e minha mãe - por um tempo, porque depois que começou a trabalhar a noite não aguentava - levantava e tomava café conosco, o qual era sempre um xícara daquelas duralex com café e leite e um pão com manteiga. era raro que esse café sofresse alterações, porque já vinha pra mesa pronto. a moça arrumava tudo na cozinha. biscoitos, nescau e possíveis presuntos e queijos apenas nos fins de semana.

acabado o café, escovávamos os dentes, vestíamos a blusa e descíamos para esperar o transporte escolar - um dos momentos que eu mais gostava no dia. eu era daquelas crianças que reinavam no transporte, super amiga do motorista, tinha banco cativo, comandava as rodadas de baralho e jogo de RPG. aprendi muita coisa no transporte. mas enfim, essa foi minha primeira rotina do dia por anos.

levar o casaco ou ir até o quarto pegar a calça era sair da rotina. nós não tínhamos autorização prévia de minha mãe para isso. para usar o casaco eu deveria ir até o quarto e pedir. minha mãe, na maioria das vezes, não negava, claro. mas me lembro que ela começou a se dar conta de como aquilo era uma questão séria pra mim. não era o frio, era o estilo. daí pra frente, por várias vezes ela negava.
- nem tá frio, vai de calça não.

eu queria m-o-r-r-e-r. maldizia com toda a minha força o fato de morar numa cidade onde nunca, nunquinha fazia um frio digno e que ao contrário, o que me restava era suar compulsivamente nas mão pelo restos dos meus dias, sem moleton e calça jeans.

mas a vida gira e a conjuntura muda (assim como a correlação de forças) e um belo dia, voltei a morar com papai. com papai, o sentimento era exatamente o contrário. ocorre que com ele eu já não dispunha de casacos que me agradassem ou calças jeans que fizessem jus à moda colegial vigente em meu colégio particular jesuíta de ensino excepcional e formação humana admirável. daí pra frente eu orava aos céus para que não fizesse frio porque era sempre um martírio encarar os corredores e os moletons do hard rock café que nessa época brotavam às dúzias. e adivinhem? por muitas vezes choveu e fez frio e eu queria m-o-r-r-e-r e maldizia...

e o que aconteceu? passou. moletons não são um problema que ocupe minha mente nos dias de hoje. muito menos o hard rock que vem neles estampado. e onde eu vivo? numa cidade que faz frio numa dada época do ano, mas é tão úmida que mesmo no frio minhas mãos continuam suando aos montes. mas o frio passa e vem o verão que também vai passar e vai dar lugar ao belo céu de outono de novo e de novo e mais uma vez até que eu me mude para o maravilhoso reino da perfeição, onde o clima é seco, ameno, com belo céu e só existem problemas banais: não tão sérios como os moletons nem tão desanimadores como os que carrego hoje.

vai passar. o frio. os moletons. o hard rock e tudo mais. passa. vem o verão. o céu bonito. e passa. e vem. e quando você olha pra marca do seu moleton ele nem está mais em você.

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sabe aquele clichê de que o fardo fica mais leve se dois ombros carregam? muito clichê. lugar comum. frase de msn. sorte do orkut. e a mais pura verdade.

o que eu fiquei pensando hoje a tarde é que esse lance de carregar fardo e tal, pode ser uma oportunidade de negócio a ser explorada. podia rolar um serviço em que você paga a alguém pra carregar os seus. genial!

me me deixa aqui com meus planos secretos de enriquecimento e ascensão social.

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quando você for beber vinho, lembre-se: duas garrafas são suficientes. a terceira é pura demonstração da sua capacidade de fazer mal a si próprio. todo o resto que te ensinaram na vida é dispensável. esse é o mandamento primordial.

5 comentários:

Anônimo disse...

3 garrafas sozinha? Porque se foi com um monte de gente não é nada.

Suzana disse...

te garanto que foi em muito boa companhia, ôh, desaforado.

Clementina disse...

éramos duas belas senhoritas, anônimo. esta que vos fala e esta que vos falou arriba.

uma garrafa pra cada uma e um pro santo.

Faber disse...

A minha mãe, achando que eu continuo com 15 anos e supondo que Hard Rock ainda garante estilo na minha roda de amigos, sempre volta de viagens ao exterior com um moletom ou camisa Hard Rock qualquer lugar pra mim. Ontem mesmo eu usei meu moletom preto Hard Rock Atenas pra dormir. Todo surrado, tadinho.

Amana disse...

Amei o post. Lindo.