... e um beijo pra Mulher Ativa...
TEMA E VOLTAS
Mas para quê
tanto sofrimento,
se nos céus há o lento
deslizar da noite?
Mas para quê
tanto sofrimento,
se lá fora o vento
é um canto na noite?
Mas para quê
tanto sofrimento,
se agora, ao relento,
cheira a flor da noite?
Mas para quê
tanto sofrimento,
se o meu pensamento
é livre na noite?
Manuel Bandeira
O ENTERRADO VIVO
É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.
É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.
É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.
É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.
Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.
Carlos Drummond de Andrade
OLHA EU AQUI DE NOVO
No meio do caminho tinha uma pedra.
E essa pedra era eu.
Cansado da vida,
cansado da estrada,
cansado de mim,
cansado e sozinho,
negando o caminho,
apressando seu fim.
Preso
numa falsa liberdade.
Fechado
num torpor voluntário.
Perdido
num vacilante alheamento.
Entregue
à insipidez frenética
de salivas, orgias e anestésicos triviais.
Estirado
numa paz falsa e absurda
sob um manto de silêncios e suspiros...
...até que a água da chuva
fez carnaval comigo
e acendeu meus olhos
num desfile de novos sentidos.
Desde então é que eu já não sou pedra,
renasceu minha verve e desejo,
pois do encontro da chuva com a terra,
fecundado por orgasmos e beijos,
os meus versos encontraram pernas
no orvalho e seu doce lampejo.
E é assim que enfim hoje vejo
― apesar das retinas fatigadas,
apesar das dores, dos porres, das lágrimas,
apesar desse relutante debochado insolente descarado e atrevido medo mesquinho,
apesar
de tudo e todas
minhas antigas cantilenas ―
o quanto estou ainda
apenas
no meio do caminho.
Rodrigo Bodão
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2 comentários:
Adorei beijo pra mim... E eu não sou anônima. Somos todos uns mascarados, de que anonimato estamos falando? Eu só sou uma frequência etérea, imaterial, sei lá. Liga não. Continua apenas...
Olha só, cinco dias e nada de você por aqui... Por essas e outras que eu quero um livro seu... Eu quero muito um livro seu. Diz como?
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