quando eu vim morar no rio dei uma empolgada com o fato da cidade ter um festival de cinema. eu não sabia muito bem do que se tratava, mas sabia que gostava de cinema. logo, imaginei que deveria ser legal. parêntesis pra lembrar pro estimado leitor que, antes de morar no rio, eu morei em la paz - lá tem 2 cinemas e nos 2 anos que lá vivi fui uma única vez -, morei no interior de MG - onde há uma sala e no ano que lá vivi fui uma vez assistir todo mundo em pânico XXX em pé -, morei em salvador - que tinha muitas salas e eu assistia o que surgia e sempre atrasado -, e morei em brasília - cinematograficamente falando minha melhor morada, mas lá vivi apenas 4 meses!!! quer dizer, o rio, para mim que curtia cinema, era um mundo novo e promissor.
ocorre que nesse início de vida carioca eu era uma retirante nordestina só e sem amigos. não tinha muita companhia para ir ao festival. não sabia nem do que se tratava um festival. e a internet da casa onde eu morava era discada, na mesma linha do telefone, ou seja, nem rolava de me informar direito.
na mesma época, vovó veio ficar conosco no rio, por conta do falecimento de vôvo. era eu só e triste de um lado e ela do outro. foi aí que vimos a luz e decidimos que não íamos afundar num mar de tristezas só porque éramos duas nordestinas abandonadas no rio de janeiro. resolvemos desbravar essa cidad, começando pelo festival.
pausa pra contextualizar: vóvo - 80 anos, corpinho de 70, alzheimer, hipertensão, diabetes, 1,59m de charme, leveza e catarata nos dois olhos. ela olha pra vc e vê um risco que se mexe.
mas vovó adora cinema. ela se diverte de um jeito que dá gosto. ok, eu libero a pipoca doce e o guaraná normal. é um segredinho nosso. ela gentilmente, nesse primeiro momento, cedia o dinheiro das entradas - eu era só uma estudante. e lá íamos nós rumo à diversão.
nesse primeiro ano acho que vimos uns 6 filmes. nenhum brasileiro - porque eu saquei antes que não importava entender o diálogo, ela não ia entender o filme mesmo. o lance é que ela se emociona com as imagens, ri quando todo mundo ri, se diverte saindo de casa e pegando ônibus e de quebra cai na pipoca.
ia tudo bem até minha tia descobrir que a levei para um filme iraniano. aí abri o jogo e contei que nunca tínhamos visto um brasileiro. deu trabalho, mas juntas (eu e vovó) convencemos minha tia de que minha intenção não era extorqui-la e que, na verdade, só estávamos nos divertindo. desde então, vovó é minha parceira fiel de festival do rio.
foi por isso que, hoje pela manhã, liguei pra ela animada e disse: - vó, bota a calça xadrez e seu allstar, hoje começa nossa jornada na micareta cult. chego para buscá-la e lá está a velha no seu melhor modelito indie e cartão do plano de saúde na mão - não saimos sem ele. nossa primeira investida seria na gávea. como de costume, com poucas palavras ela conquistou o cobrador que, sem pedirmos, mandou o motorista parar na porta do shopping para ela não andar muito. tomamos um café e demos início à maratona.
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filme: os yes men consertam o mundo
os caras são uns ativistas meio antiglobalização, meio anticapitalismo. o lance deles é promover intervenções que evidenciem como o capital pode ser cruel. isso é feito através da crítica às grandes indústrias e empresários. alguém falou michael moore? é por aí mesmo. parece até que um dos caras é produtor dele. mas eu achei que eles conseguem ir um pouco mais fundo que moore. de alguma forma conseguem sistematizar uma crítica às grandes coorporações e evidenciar como que fome, tragédias ambientais e outras mazelas são condições inelimináveis do sistema. tudo bem que eles fazem isso muito mais criticando o livre mercado (e demonizando milton fridman) do que que o capitalismo em si. mas assim mesmo achei interessante, já que vem de americanos. é legal também vê-los se passar por empresários, enrolar um bando de otários e dar entrevista pra bbc como se fossem CEO de uma grande indústria química. as "peças" pregadas por eles divertem. mas o que mais me agradou foi que eles colocam no final a questão que é fundamental: por que é tudo tão ruim no mundo em que a gente vive e nós não conseguimos sair do lugar? por que é tão evidente que tá uma merda e nada é feito? a realidade é inaceitável - e por mais egoísta que você seja, eu não tenho dúvida que medo de ser assaltado você tem -, mas controlada por poucos que estão em cima. por que diabos os muitos que estão embaixo aceitam que seja assim?
escreva sua resposta e deposite na caixinha da esquerda.
o filme foi muito aplaudido. mas certamente mais da metade das pessoas que estavam lá, hoje a noite já não lembrarão de nenhuma das desgraças que ele mostrou. aliás, interessante notar como o filme provoca risadas. o desastre de bhopal sendo mostrado, onde 120 mil indianos se fuderam e risadas na platéia. o sarcasmo dos yes man causam reações imediatas, os indianos mortos causam nada. interessante.
pra acabar: cinema da gávea: continuo te odiando. sala muito clara. capuccino horroroso. e as cadeiras são péssimas. minha vó que é pequenha e magra quase não consegue ficar sentada. as poltronas são daquelas que sobem sozinha - fecham. mas são muito pesadas. como minha vó é leve elas meio que vão fechando e fazendo sanduíche de vovó. péssimo.
minha vó riu muito da caveira dourada.
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filme: eu matei minha mãe.
jurava que era francês, mas é canadense. bem achei estranho falarem em vancouver no meio. mas enfim, o filme é cheio de referências à cultura européia. tem algumas boas sacadas nos diálogos e só. não achei ruim, mas não é o tipo que eu recomendaria.
foi meu plano b da noite. minha primeira opção era "uma vida nova em folha" - sobre uma menina de 9 anos abandonada pelo pai e sem mãe. o gosto por drama familiar veio e eu dei um abraço. como a sessão tava cheia, saí desesperada por um draminha e caí nesse aí. o cara não se entende com a mãe cafona, imbecil, grosseira e bla bla bla mãe! ele é gay, lê muito, é culto, pinta e bla bla bla filho!
alguns diálogos bons. dá pra rir em alguns momentos. umas referências interessantes. e como todo filme francês: não sabiam como acabar e colocaram qualquer plano no final. opa, é canadense. mas eles falavam francês. é o que importa.
domingo, 27 de setembro de 2009
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