quarta-feira, 30 de setembro de 2009
o dia depois de ontem
E nem era choro meu.
Era choro de gente querida.
Acordei e fiquei olhando para a cama ao lado, me recuso a ser a primeira a levantar.
Tomei chuva.
Enxuguei o óculos na manga do casaco.
Ficou embassado.
Aí tirei o óculos.
Gosto de olhar e simplesmente não ver.
E fui da praia de botafogo à avenida brasil assistindo o mundo passar embassado.
No rádio tocava qualquer coisa.
Sentei na cadeira que sento todo dia.
Fiz quae tudo que faço todo dia com pausas para um café.
Escrevi um texto que não gostei.
Muita gente gostou.
É nessas horas que eu me lembro que minha sina é não ser entendida.
Porque todo mundo tem uma sina – isso é uma das verdades da vida que você deve saber.
Almocei sopa de ervilha.
E choveu de novo.
Não dá pra tomar chuva duas vezes no mesmo dia.
Só os fracos são repetitivos.
Desisti do cinema pelo simples fato de que me recuso a sair com guarda-chuva.
Tive que jantar a torta de frango que sobrou do almoço.
Fiz panquecas para o almoço de amanhã.
Adoro fazer minhas próprias panquecas porque encho tanto de recheio que elas nem fecham.
Fiz uma de queijo e presunto e duas de carne.
Estou ansiosa para almoçar amanhã.
Jogo do botafogo.
Enquanto isso vou perdendo horas escolhendo um adesivo para colocar na parede do quarto novo e pensando de que cor vou pintá-la.
No fim, o adesivo do quarto é o fato mais relevante. Todo resto é a burocracia que nos empurram guela abaixo.
Foi assim o dia seguinte ao dia em que eu concretizei de novo o exercício de mudar de casa.
Casa de número nove em 24 invernos.
Vou tomar minhas gotas e sonhar com ela. Sem choro por hoje.
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Não que eu queira ter uma opinião sobre tudo, mas vamos lá: Roman Polanski. Pouco me importa se ele está preso ou não. Veja bem, ele transou com a tal menina e fugiu dos EUA. Quer dizer, tem um processo lá, mano. Não que eu acredite em justiça (nesse tipo de justiça), mas são as regras do jogo. E estamos no jogo. É como se eu dissesse: opa, sou comunista, portanto me recuso a aceitar a propriedade privada. Não rola. O jogo tá aí e nós estamos dentro dele. Aí vem nego e fala que o cara é um bom cineasta e sobreviveu ao holocausto e a mulher foi brutalmente assassinada. E daí? Lamento, Polanski, mas não há lei que diga: se você fizer bons filmes não precisa pagar pelos crimes de estupro. Não tem lógica. O crime do cara é uma coisa, o que ele fez o resto da vida é outra. E tem uma coisa que me irrita também: esse papo de holocausto explicar tudo. Rola meio que uma consciência coletiva de que se o cara é judeu ele pode fazer o que quiser: e nós pagamos eternamente porque os alemães elegeram Hitler DEMOCRATICAMENTE. Eu acho interessante é que essa lógica não se aplica a negros, índios ou curdos.
Veja bem, antes que me achem pelo google e eu seja condenada à fogueira, nada contra judeus. Só acho que o fato de serem vitimados no holocausto não justifica condutas futuras. Como no caso de Polanski. Não é porque o cara sofreu que não merece ser preso. Isso pra mim é meio óbvio. E olha que se fosse eu quem decidisse ele nem iria preso. Acho meio desnecessário. Mas é a lei. E a lei não “pensa”.
Podiam pelo menos pensar em argumentos melhores, do tipo: a mãe da menina a levou e a deixou sozinha numa suíte com o velho que ela tava cansada de saber que era um maluco pervertido? Deviam prender a mãe também, isso sim.
Esse papo de estupro e pedofilia ainda me lembra um papo bom que os ombudsminianos tiveram uma vez. Os pervertidos de um lado, eu e bodão, defendendo que a parada é social – cara, os gregos se comiam loucamente sem importar idade e sexo -, faveleiro do seu lugar de pai (super compreensível) bradando sobre os absurdos de um velho comer uma menininha e capilo… bom, já devia estar dormindo na mesa. Enfim, não vou entrar na questão aqui… mas óh, nem defendo que velhos comam criancinhas. Não mesmo. Pedofilia é crime e eu condeno, register-se.
entrevista com o Homem de Bem
Leia a íntegra no Blog do BRUNO RIBEIRO
Como podemos identificar a carta de um colaborador do Homem de Bem nos jornais?
Não raro, ela começa assim: “Sou um cidadão de bem, cumpridor dos meus deveres e pagador dos meus impostos...”
Como o senhor consegue influenciar tanta gente?
Tenho uma equipe grande de colaboradores que escrevem diariamente para os principais jornais do País. Muitos se deixam fotografar e assinam seus nomes em meu lugar. Oriento que batam na política de cotas raciais, uma forma dissimulada que o governo encontrou de jogar os negros contra os brancos. Peço que defendam a pena de morte, que protestem contra a presença de mendigos e travestis no centro das cidades e que elogiem o regime militar, lembrando que naqueles tempos não havia tanta permissividade na televisão.
E o decreto que suspendeu a liberdade de imprensa em Honduras? O governo golpista não estaria se aproveitando da crise diplomática com o Brasil para implantar uma ditadura?
Não há governo golpista em Honduras. Zelaya foi deposto porque queria consultar o povo sobre o segundo mandato. Queria se perpetuar no poder, como Hugo Chávez. Ele iria rasgar a Constituição e implantar uma ditadura nos moldes cubanos.
A imprensa não pode ser estatal em Cuba, mas em Honduras pode. Por quê?
O governo hondurenho está agindo corretamente ao fechar rádios, TVs e jornais. Estavam infestados de chavistas. Os pseudo-jornalistas queriam incitar o povo à violência. Não eram democratas, estavam à serviço do Eixo do Mal.
portaria
- é rapaz, televisão bonita, maior investimento, mas ela não pega quase nenhum canal...
- quê isso, a antena do prédio não chega aqui não? vocês sempre assitiram televisão.
- é, mas mesmo com essa tv nova, só passam os mesmos canais, só pegam seis...
- a é?
- é, quando comprei achei que ia pegar tudo quanto era canal, lá de longe, dos estados unidos. maior prejuízo, num pega nada de diferente.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
dias dois e três
ontem foram dois. primeiro esse aí de cima: lake tahoe. gostei. adorei os planos fixos e os longos pretos de um plano pro outro. o protagonista é tão apático, tão sem graça que apaixona. blasé é pouco pra definir o moleque.
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vi também viajo porque preciso, volto porque te amo. alguma expectativa e bluft! só salva o título. o filme não dá filme, apesar do argumento interessante. não recomendo mesmo. cansativo, se estica sem ter porque e um protagonista / narrador que não me convence.
filme ruim não ganha foto!
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hoje foi dia de singularidades de uma rapariga loira. filme de manoel de oliveira, o cineasta de 100 anos. o filme é baseado num conto de eça de queiroz. adorável. simpático e o bom humor seco português. ainda tem de lambuja poema de alberto caeiro no meio. vale a pena.
se quiser ler o conto: aqui
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de resto, a vida segue numa boa. simpática.
domingo, 27 de setembro de 2009
dia um
ocorre que nesse início de vida carioca eu era uma retirante nordestina só e sem amigos. não tinha muita companhia para ir ao festival. não sabia nem do que se tratava um festival. e a internet da casa onde eu morava era discada, na mesma linha do telefone, ou seja, nem rolava de me informar direito.
na mesma época, vovó veio ficar conosco no rio, por conta do falecimento de vôvo. era eu só e triste de um lado e ela do outro. foi aí que vimos a luz e decidimos que não íamos afundar num mar de tristezas só porque éramos duas nordestinas abandonadas no rio de janeiro. resolvemos desbravar essa cidad, começando pelo festival.
pausa pra contextualizar: vóvo - 80 anos, corpinho de 70, alzheimer, hipertensão, diabetes, 1,59m de charme, leveza e catarata nos dois olhos. ela olha pra vc e vê um risco que se mexe.
mas vovó adora cinema. ela se diverte de um jeito que dá gosto. ok, eu libero a pipoca doce e o guaraná normal. é um segredinho nosso. ela gentilmente, nesse primeiro momento, cedia o dinheiro das entradas - eu era só uma estudante. e lá íamos nós rumo à diversão.
nesse primeiro ano acho que vimos uns 6 filmes. nenhum brasileiro - porque eu saquei antes que não importava entender o diálogo, ela não ia entender o filme mesmo. o lance é que ela se emociona com as imagens, ri quando todo mundo ri, se diverte saindo de casa e pegando ônibus e de quebra cai na pipoca.
ia tudo bem até minha tia descobrir que a levei para um filme iraniano. aí abri o jogo e contei que nunca tínhamos visto um brasileiro. deu trabalho, mas juntas (eu e vovó) convencemos minha tia de que minha intenção não era extorqui-la e que, na verdade, só estávamos nos divertindo. desde então, vovó é minha parceira fiel de festival do rio.
foi por isso que, hoje pela manhã, liguei pra ela animada e disse: - vó, bota a calça xadrez e seu allstar, hoje começa nossa jornada na micareta cult. chego para buscá-la e lá está a velha no seu melhor modelito indie e cartão do plano de saúde na mão - não saimos sem ele. nossa primeira investida seria na gávea. como de costume, com poucas palavras ela conquistou o cobrador que, sem pedirmos, mandou o motorista parar na porta do shopping para ela não andar muito. tomamos um café e demos início à maratona.
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filme: os yes men consertam o mundo
os caras são uns ativistas meio antiglobalização, meio anticapitalismo. o lance deles é promover intervenções que evidenciem como o capital pode ser cruel. isso é feito através da crítica às grandes indústrias e empresários. alguém falou michael moore? é por aí mesmo. parece até que um dos caras é produtor dele. mas eu achei que eles conseguem ir um pouco mais fundo que moore. de alguma forma conseguem sistematizar uma crítica às grandes coorporações e evidenciar como que fome, tragédias ambientais e outras mazelas são condições inelimináveis do sistema. tudo bem que eles fazem isso muito mais criticando o livre mercado (e demonizando milton fridman) do que que o capitalismo em si. mas assim mesmo achei interessante, já que vem de americanos. é legal também vê-los se passar por empresários, enrolar um bando de otários e dar entrevista pra bbc como se fossem CEO de uma grande indústria química. as "peças" pregadas por eles divertem. mas o que mais me agradou foi que eles colocam no final a questão que é fundamental: por que é tudo tão ruim no mundo em que a gente vive e nós não conseguimos sair do lugar? por que é tão evidente que tá uma merda e nada é feito? a realidade é inaceitável - e por mais egoísta que você seja, eu não tenho dúvida que medo de ser assaltado você tem -, mas controlada por poucos que estão em cima. por que diabos os muitos que estão embaixo aceitam que seja assim?
escreva sua resposta e deposite na caixinha da esquerda.
o filme foi muito aplaudido. mas certamente mais da metade das pessoas que estavam lá, hoje a noite já não lembrarão de nenhuma das desgraças que ele mostrou. aliás, interessante notar como o filme provoca risadas. o desastre de bhopal sendo mostrado, onde 120 mil indianos se fuderam e risadas na platéia. o sarcasmo dos yes man causam reações imediatas, os indianos mortos causam nada. interessante.
pra acabar: cinema da gávea: continuo te odiando. sala muito clara. capuccino horroroso. e as cadeiras são péssimas. minha vó que é pequenha e magra quase não consegue ficar sentada. as poltronas são daquelas que sobem sozinha - fecham. mas são muito pesadas. como minha vó é leve elas meio que vão fechando e fazendo sanduíche de vovó. péssimo.
minha vó riu muito da caveira dourada.
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filme: eu matei minha mãe.
jurava que era francês, mas é canadense. bem achei estranho falarem em vancouver no meio. mas enfim, o filme é cheio de referências à cultura européia. tem algumas boas sacadas nos diálogos e só. não achei ruim, mas não é o tipo que eu recomendaria.
foi meu plano b da noite. minha primeira opção era "uma vida nova em folha" - sobre uma menina de 9 anos abandonada pelo pai e sem mãe. o gosto por drama familiar veio e eu dei um abraço. como a sessão tava cheia, saí desesperada por um draminha e caí nesse aí. o cara não se entende com a mãe cafona, imbecil, grosseira e bla bla bla mãe! ele é gay, lê muito, é culto, pinta e bla bla bla filho!
alguns diálogos bons. dá pra rir em alguns momentos. umas referências interessantes. e como todo filme francês: não sabiam como acabar e colocaram qualquer plano no final. opa, é canadense. mas eles falavam francês. é o que importa.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
o filme do dia é "amantes". pese a má fama recente de joaquin phoenix, merece ser visto. é de uma sutileza adorável. phoenix está excelente: bipolar, sincero e intenso. o filme não tem grandes clímax, nem diálogos surpreendentes, mas te conduz o tempo inteiro de forma constante (não menos intensa) pela história do cara estranho e sua busca por dar sentido a vida.
no fundo é isso que todos nós buscamos. dar sentido ao que fazemos. leonard, personagem de phoenix, procura isso no amor. e o sentido que buscamos pode estar no óbvio.
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era um cara muito tranquilo. tava na porta da casa da família em curitiba. mostrava a casa para possíveis compradores. as duas filhas do casal que visitava a casa ainda estavam no carro. apareceu um cara, sacou uma arma e entrou no carro para levá-lo. ele pediu que não levasse o carro e se mostrou nevoso pelas crianças. o cara não conseguiu ligar o carro. sacou a arma de novo e deu cinco tiros no leonardo. ele foi nosso vizinho na bolívia. à época me acompanhava no estádio de futebol pra ver jogos da libertadores. assistimos um são paulo e bolívar. e um corinthians e strongest.
um bom descanso para leonardo.
para uma manhã de quinta ociosa
Coisa que já fiz mas não faria mais: empurrar dívida do cartão de crédito - entra compras e saques
Coisa que fazia e deixei de fazer sem mais nem menos: tomar iogurte todo dia de manhã
Coisa que gostaria de saber: tocar um instrumento qualquer
Coisa que gostaria de apertar: sua bunda
Coisa que gostaria de fazer agora: viajar sem a passagem de volta
Coisa que me dá enjôo: seringa, sangue, cortes, fraturas e essas coisas de hospital e afins
Coisa que gostaria de ter: a camisa oficial nova do palmeiras
Coisa a que gostaria de assistir agora: 500 days of summer
Coisa que me faz rir: as tiradas de andrelima
Coisa que eu gostaria de não ter: prazo pra acabar a dissertação
Coisa que costumo fazer: falar demais
Coisa que vou fazer daqui a pouco: tomar banho
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
domingo, 20 de setembro de 2009
sábado, 19 de setembro de 2009
por mim e por você
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
meu epitáfio e outras inutilidades
postar bobagens das quais me arrependo depois está intimamente ligado ao meu dom de gerar fúria nos demais seres humanos via sms quando alcoolizada. hábitos feios. mas eu vou superar.
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uma das bobagens que postei ontem dizia respeito a essa frase que escrevi aí embaixo: a vida me deu chances, isso eu nunca vou negar. eu é que insisti em ser assim.
eu queria que fosse meu epitáfio. pra ficar mais cafona podia ser na terceira pessoa: a vida lhe deu chances, ela nunca negou, mas insistiu em ser assim. eu sou uma pessoa que gosta de assumir culpas.
bom, mas do jeito que ando com sorte os céus me presenteiam é com a vida eterna e eu não morro nunca e nunca terei epitáfio. tipo o tom hanks em "à espera de um milagre": o castigo do cara é viver pra sempre. viver muito! puxa!
se bem que tem nego que acha maneiro. tem gosto pra tudo.
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o pinguim que dorme do meu lado aqui em cima da minha cômoda tava perguntando o que pode fazer pra me deixar mais alegrinha. respondi: arruma 260 dólares e manda a roberta trazer de nova iorque a porra da coleção dos discos dos beatles remasterizados que acabou de sair, que ainda vem num box preto tipo gaveteiro, que tem a miniatura das capas de todos os lps e de quebra traz uma série de minidocumentário dos caras.
o pinguim me deu o endereço do limewire.
eu desejei muito a coleção beatles in choro e não comprei. baixei toda. ok. mas da miniatura das capas de todos os discos eu não abrirei mão. só tenho que arrumar alguém pra chantagear até o natal.
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bodão, vc vai gostar do post do marcelo rubens paiva sobre nova iorque: http://blog.estadao.com.br/blog/marcelorubenspaiva/?title=ny_domingo_na_praca&more=1&c=1&tb=1&pb=1
vai vendo...
TEMA E VOLTAS
Mas para quê
tanto sofrimento,
se nos céus há o lento
deslizar da noite?
Mas para quê
tanto sofrimento,
se lá fora o vento
é um canto na noite?
Mas para quê
tanto sofrimento,
se agora, ao relento,
cheira a flor da noite?
Mas para quê
tanto sofrimento,
se o meu pensamento
é livre na noite?
Manuel Bandeira
O ENTERRADO VIVO
É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.
É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.
É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.
É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.
Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.
Carlos Drummond de Andrade
OLHA EU AQUI DE NOVO
No meio do caminho tinha uma pedra.
E essa pedra era eu.
Cansado da vida,
cansado da estrada,
cansado de mim,
cansado e sozinho,
negando o caminho,
apressando seu fim.
Preso
numa falsa liberdade.
Fechado
num torpor voluntário.
Perdido
num vacilante alheamento.
Entregue
à insipidez frenética
de salivas, orgias e anestésicos triviais.
Estirado
numa paz falsa e absurda
sob um manto de silêncios e suspiros...
...até que a água da chuva
fez carnaval comigo
e acendeu meus olhos
num desfile de novos sentidos.
Desde então é que eu já não sou pedra,
renasceu minha verve e desejo,
pois do encontro da chuva com a terra,
fecundado por orgasmos e beijos,
os meus versos encontraram pernas
no orvalho e seu doce lampejo.
E é assim que enfim hoje vejo
― apesar das retinas fatigadas,
apesar das dores, dos porres, das lágrimas,
apesar desse relutante debochado insolente descarado e atrevido medo mesquinho,
apesar
de tudo e todas
minhas antigas cantilenas ―
o quanto estou ainda
apenas
no meio do caminho.
Rodrigo Bodão
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
e ficou tudo fora do lugar
a vida me deu chances... isso eu nunca vou negar, eu é que insisti em ser assim.
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e nesses dias de turvação e lamentos, ferreira gullar insiste em lembrar que até as pedras são felizes.
Morte de Clarice Lispector
Enquanto te enterravam no cemitério judeu
do Caju
(e o clarão de teu olhar soterrado
resistindo ainda)
o táxi corria comigo à borda da Lagoa
na direção de Botafogo
as pedras e as nuvens e as árvores
no vento
mostravam alegremente
que não dependem de nós
sábado, 12 de setembro de 2009
para um dia ruim...
Consolo na praia
Vamos, não chores
A infância está perdida
Mas a vida não se perdeu
(...)
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis casa, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras
Em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas e o humour?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
Murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
Precipitar-te de vez_ nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.
incrível como os versos se encaixam com o momento atual... palavras duras, amigos e humor e injustiça
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
pra evitar a ressaca
nem escovar os dentes
Vou de aguardente
Trecho de "Pros que estão em casa", de Rômulo Portella e Flávio Murrah
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
inflação cai, mas o comentário...
A queda, segundo a notícia, se deu principalmente pela redução nos preços dos alimentos e de passagens aéreas. Até aí ótimo, a matéria cumpria sua função de informar, dizendo ainda o percentual de queda dos alimentos, em especial feijão, batata e carne, mas indicava também que alguns aumentaram, como tomate e cebola (apesar de na média ter caído).
O comentário, sobre a menor inflação desde 2006 no período se limitou ao Sardenberg comentar com a repórter que agora ficou mais caro comer uma salada de tomate com cebola. A repórter ainda retrucou, dizendo que várias modalidades de feijão caíram, batata, e inclusive a carne. Mas Sardenberg insistiu, dizendo que esses alimentos são muito calóricos. A repórter diz que é só diminuir a quantidade. E ele finaliza dizendo: obrigado "nome da repórter", por nos indicar uma nova modalidade de dieta.
Porra menor inflação e o cara quer falar que o tomate e a cebola subiram de preço?
terça-feira, 8 de setembro de 2009
mais curitiba
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
acordei depois das 10h (perdi o café do hotel de novo). Arrumei minha bagunça, fui ao banco, paguei 8 reais pelos dois (eu disse dois) chocolates que comi no hotel e andei algumas quadras até o ponto de ônibus. Tudo em Curitiba é muito organizado e planejado. O horário do ônibus era 12:30h. chegou às 13h, lotado – ponto pra minha sorte. Vim em pé, ouvindo um carioca malandro explicando para um curitibano o que é o microondas (aquele esquema que usaram para matar o tim lopes) e falando sobre favelados, traficantes e afins – sim, eu atraio gente dessa espécie que fala desses assuntos. Nem dava pra ouvir música porque o ipod parou de funcionar ontem. Chegando aqui foi que lembrei das músicas no celular.
No momento toca maria bethânia. O vex não funciona, então não há internet. Pedi um pão de batata porque quem tá ligando em estar gorda? Pedi o pão de batata de entrada. Minha meta mesmo é uma pizza meio calabresa, meio mussarela. Como faltam só duas horas pro meu vôo sair, com jeitinho ainda como uma fatia dessa porra de pudim que tá me olhando, aqui à esquerda.
Sacou qual é a do post? Eu tou sozinha no aeroporto, faltam duas horas para o meu vôo. Tou ouvindo uma lista de 10 músicas no celular repetidamente, meio cansada porque as noites foram meio intensas, sem internet e nem um livro eu trouxe. Me resta escrever.
Ai, nesse momento avisto o professor mais sequelado da minha faculdade. Evandro, pra quem passou por aquele hospício. Ele me dá medo. Ele é mala e sem noção. É por isso que não tenho muita paciência pra essas paradas. Porque só tem gente chata, é um social desgraçado, eu não concordo com 9 entre 10 discussões. E tipo, Curitiba nem ajudou. Porque ano passado, Natal tratou de transformar o congresso mais estúpido do século nas melhores férias do milênio.
Cara, olha como se justifica minha falta de paciência. Eu vou a essa merda de congresso há uns 3 anos. E em TODAS as minhas sessões tem um mala – sei lá se de mestrado ou doutorado -, um tal de Daniel, que faz a MESMA pergunta. Eu me apresento, falo em favela, opressão, classes dominantes e grande mídia. Ai vem ele: vc não acha que essa dicotomia é perigosa e bla bla bla. No primeiro ano, em Juiz de Fora, eu respondi toda contida e tal. Ano passado eu tava bêbada ainda na sessão e nem lembro como se desenrolou. Esse ano: então, essa sua percepção é equivocada, deve ser porque eu já parto daquele pressuposto anacrônico e tão pouco usado na comunicação de que a história das sociedades é a história das lutas de classes. Ponto, próxima pergunta. Das dez perguntas da sessão, 8 foram pra mim e pra capilo. É incrível, vc abre a boca pra falar de favela nego dispara a falar. Só que assim, nenhuma pergunta útil. Nenhuma não, exagerei. Mas cara, teve um paulista que veio perguntar de baile funk e tim lopes e que no baile funk as meninas eram obrigadas a fazer sexo. Oi? O que eu respondi: eu nunca vi isso e quem tá te falando é alguém que frequenta baile. Risada na platéia. Entende? Meio que caguei pro social e saí falando o que vinha na cabeça.
Mas ok, fiquei pouco por lá e consegui não esbarrar em metade dos malas. E parti rumo ao bar…
No bar, não teve jeito. Cheio de congressistas. É sempre assim. Você é turista, a cidade tá vazia e isso tudo potencializa a possibilidade de você encontrar os congressistas. Ia tudo muito bem, tudo muito ótimo quando uma dessas figuras achou em mim uma companhia para conversar – não que eu tenha me oferecido. Meia hora de papo depois e um emprego oferecido pra eu dar aula num sei aonde (ainda tem essa, além do social, rolam negociações intensas), eu comecei a me afastar no banco, dando sinais de que eu queria fugir. Adiantou um pouco e ela pelo menos parou de falar. Foi a deixa. Virei a cara pro outro grupo e pouco depois, longe, a ouvi tentando retomar. Ignorei.
Pedi a pizza. Calabresa só.
Nem sei o que eu ia escrever mais. Enfim: fim de semana quase perdido. Salvo por poucas boas companhias, 25 chops no sábado e num sei quantos ontem. Pensa numa cidade vazia. Cara, sábado eu tive que implorar pra dona de um restaurante me deixar comer. Isso pq às 14h de sábado todos os restaurantes perto do meu hotel já estavam fechados. Quer um banco? Ande 10 quadras. Um bar? Ande mais de 20. Isso, 20. No sábado, eu e capilo andamos como que do santos dumont a sei lá, Copacabana, pra achar um lugar aberto. Mas enfim, era chop duplo e nos azulejos tinham hai-kais do leminski pintados, valeu a pena. Táxi é um roubo. Faz frio. Não tem gente na rua. Tudo é muito longe, umas avenidas largas nada a ver. Lembra brasília de longe.
Explicaram que era por conta do feriadão que tava tudo fechado e sem gente – aqui é feriado terça também. Mas opa? Minha cidade fica mais movimentada em feriados? Bom… o hotel era maneiro e barato e ônibus aos domingos custa 1 real.
A pizza chegou. Vou comer e sentar na la selva pra ler o livro do padre fábio de mello sem comprar – porque se eu compro, nego me zoua. Correria, faltam só 55 minutos pro embarque.
domingo, 6 de setembro de 2009
das terras de leminski
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Rir pra não chorar óóó pátriaaaa amaaaaaadaaaaa
difícil chegar até o final... e nem posso dizer que vale a pena...
Ai Fafá, que saudade...
terça-feira, 1 de setembro de 2009
expectativa
o fim de setembro será uma boa época pra cinema em excesso. é que as coisas certamente não estarão como estão hoje. estarão diferentes, para o bem ou para o mal e acredite, é capaz que role sangue até lá - eu ando até torcendo por ele.