quinta-feira, 6 de março de 2008

Impotência social

Fico me perguntando. Que futuro nos espera. Nem tanto a mim, bodão, clementina ou faveleiro. Desses aí, fora eu e alguma fatalidade (toc, toc na madeira), têm um futuro, se não brilhante, satisfatório, eu diria.

Mas penso mesmo é nesses garotos, um pouco mais novos que nós e que não freqüentam nenhuma escola que tenha um ensino minimante de qualidade. A educação tá uma tristeza. Literalmente. Aluno no primeiro ano que não sabe ler direito. Que não lê nada, na minha época, não tão longe – coisa de 8 anos – num era tão ruim assim.

Há uns quatro anos atrás, em Valença (onde estudei e até não muito tempo o ensino público era bom – tanto que só estudei em escolas públicas, e, bem ou mal, estou aí, pelo menos lendo (bem) e escrevendo minimamente (isso aí que vocês lêem, nada muito bom, mas entendível) - recapitulo e completo a frase aqui, devido aos entrecortes de parênteses: Há quatro anos, um garoto, de seus 12 anos, veio a minha casa e pediu pra ajudá-lo a fazer uma redação.

Nada demais. Achei até legal poder ajudar. Aí falei, escreve aí. – Mas tenho dificuldade, respondeu. Falei que era pra escrever alguns tópicos que ele achasse importante estar na sua redação, que aí a gente montava junto a redação. Passa um, dois, cinco minutos e vou ver. Nada no papel. – E aí, num tem nada de importante? – Seguinte, vim aqui pedir sua ajuda porque eu não sei escrever e tenho que entregar a redação. – Num sabe escrever nada? – Só meu nome...

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Lembrei dessa história porque meu irmão agora está dando aula lá em Valença. Conversando com ele, e ele, recém-formado, falou que a grande dificuldade é que os alunos não sabem ler. “eu... tem...nho... ... ... um son... ...nho, ...maIs... ...e...u ... não...”, e assim vai a leitura, com erros de fala inclusive, como o MAIS usado como conjunção adversativa. Tá ele ali (meu irmão, não os alunos, infelizmente) lendo agora a Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire. Espero que ajude.

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Mas a história ainda é pior. Hoje, tava em uma favela do Rio. Coisa que não consigo me acostumar é com jovens armados e vendendo drogas, por mais que os veja com alguma freqüência. E lá estavam, mais de 10 garotos, de uns oito a uns 18 anos (se tivessem essa idade), um deles armado (o líder) e o resto vendendo drogas ou contando dinheiro.

Não vem ao caso contar a abordagem por verem um estranho por lá. É até natural que isso aconteça. Mas aí fiquei imaginando que nenhum deles estuda, não têm acesso nem a esse ensino de merda que temos hoje por aí. E aí?

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e aí que uma coisa (o aluno que não sabia escrever) e outra (os jovens no tráfico) me deixaram com a mesma sensação: impotência.

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