estudar em excesso não está me fazendo bem. e não me refiro apenas ao fato de que minhas idas ao bar estão cada vez mais raras.
o problema é que tem me causado muita irritação. em alguns momentos raiva mesmo.
páginas e páginas dos clássicos sobre urbanização e tudo gira em torno do mesmo: o estado subsidia a idustrialização, abre rodovias, constrói portos, oferece incentivos. isso estimula a migração. a cidade cresce, vira metrópole e cadê o dinheiro pra dar de morar e comer a essa gente? tá nos portos, nas rodovias e nos incentivos. o que que faz com essa gente, então? paga salários mais baixos, que daí todos terão um salário. vamos socializar a pobreza. melhor muitos pobres e pouquíssimos ricos; do que muitos-muitos miseráveis, muitos pobre e pouquíssimos ricos.
mais páginas e páginas sobre cidadania e democratização. a lógica da urbanização permanece: políticas públicas, solidariedade e migalhas. sempre migalhas. me assusta a forma como não nos envergonha o fato de oferecermos a milhões de outros seres humanos apenas migalhas.
não raro leio parágrafos que me fazem arrepiar os pelos dos braços. de vergonha. outros me provocam uma lágrima tímida e solitária - falo sério. de raiva. muita raiva.
antes de abrir esse blog pra escrever, fechava o livro e imaginava que feliz seria o dia em que todos os trabalhadores acordassem e se recusassem a sair de suas moradas vagabundas, de seus colchões destruídos, de pegar ônibus lotado, de se dedicar à subserviência e simplesmente não fossem trabalhar. apenas um dia sem domésticas. sem garis. sem o cara da bilheteria das barcas. sem garçons. um dia em que todos os encanadores e pedreiros se recusassem a trabalhar. um dia sem operários - sim, porque ainda existem operários, por mais fantasioso que isso pareça. seria fantástico. não que eu queira que o mundo pare. mas sei lá, talvez isso funcionasse para que as pessoas enxergassem as coisas de maneira diferente.
e aí tá outra coisa que me dá raiva. muita raiva. eu vou passar por essa vida sem que esse dia chegue. pior, sem que esse quadro de uma maneira geral se altere. e isso não é pessimismo ou qualquer tipo de niilismo. é apenas a avaliação consciente da realidade. essa certeza, no entanto, em nada diminui minhas motivações para dedicar-me à transformação do cenário e também não abala de forma alguma uma outra certeza: a de que outro mundo é possível.
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
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2 comentários:
e a "greve geral" deveria ainda ser num dia de chuva.
Os donos-funcionários de butiquins tem que estar incluídos nessa "greve geral"?
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