terça-feira, 28 de julho de 2009

gastronotes

minha gastrite mora aqui dentro de mim há uns 8 anos.

de tempos em tempos ela dá sinais claros de que existe e exige atenção. vivo um desses momentos.

tenho gastrite crônica desde os 15 anos. aos 16 tratei forte. aos 18 quando comecei a beber cerveja desisti de tratá-la. porque gastrite não combina com cerveja. nem com ansiedade. aí, a única cura seria eu nascer de novo.

uma coisa que decidi desde sempre foi me poupar de ketchup e maionese. é uma mania estúpida, mas todo mundo tem as suas. minha lista de restrições médicas é absurda, inimaginável e absolutamente impossível de ser cumprida. com o tempo, aprendi que o médico passa uma lista dessas apenas para constar. ou você decide fazer dieta para o resto da vida, ou segue alguns itens apenas para aliviar - e o que alivia, varia de organismo para organismo. eu escolhi o ketchup e a maionese. raramente como. é quase toc: peço um x-tudo e sempre ressalto que é sem ketchup e sem maionese. é como se eu dissesse para meu estômago que me preocupo com ele. também se puder escolher entre molho vermelho e branco, escolho branco. e entre sucos ácidos ou não, fico com os menos ácidos. e só! esse é meu tratamento.

de tempos em tempos quando a crise toma conta de mim, vou ao médico. levro broncas e sou aterrorizada por um diagnóstico medonho. aprendi com o tempo que não iria muito longe disso. mas, ocorre que dessa vez está beirando o insuportável. dor sempre existiu, mas ela nunca me impediu de ser uma garotinha extrovertida, pronta para fazer novas amizades, sempre com um sorriso no rosto e a postos para ajudar os amiguinhos.

são apenas dois dias em casa, curtindo ansiedade e ocupada mais com a minha vida do que com o trabalho; me acabando com big mama thornton nesse caixote frio que chamo de quarto, donde só saio para ver a novela da tarde e pegar tangerinas, e a danada da gastrite tem me torturado. não acho que os fatos tenham relação direta. mas desde domingo ela chegou pra ficar, justo quando as férias vieram. acho sim que a ansiedade que me assola no momento - a pressão CAPEStalista - tem sua culpa. é o preço que se paga por correr atrás dos seus sonhos, raro leitor. por acreditar que querer é poder. mas eu pago. prova de que me dedico à vida acadêmica de carne osso. que coloco meu sangue, literalmente, à disposição dessa nação - sim, porque a última endoscopia detectou entre outras coisas o potencial hemorrágico de tudo que há dentro de mim desde o esôfago até o duodeno.

tudo isso pra dizer que marquei a gastro. vou na quinta de manhã. sexta deve começar essa besteira de remédio. uma dieta básica - que o máximo que conseguir manter foram 4 dias. os remédios sempre rendem discussão entre eu e ela. na última, a pretensão da médica era que eu ficasse 28 dias sem ingerir álcool. falei que arrumasse outro tratamento. fiquei 7 dias. e mais 35 tomando remédio, mediante um acordo de beber com moderação.

nunca me senti tão mal como me sinto agora. hoje, especialmente, foi ruim. se não fosse big mama thornton e os blues que ficam rebatendo aqui nas paredes geladas, eu teria tomado o suco de limão que foi servido no almoço e me libertado de uma vez desse detalhe chamado estômago. nos meus pensamentos mais desconexos e absurdos da madrugada, já consegui imaginar cenas em que o tiro de dentro de mim sem nenhuma dor e guardo numa gaveta embaixo da cama. quando muito necessário, vou lá, pego de volta. como um x-tudo e depois ele volta pra gavetinha. seríamos, ele e eu, seres mais livres e felizes.


*para ler sabendo que o desconforto da gastrite traz consigo doses inimagináveis de mau-humor. dele resultam altas taxas de clichê e ironia. logo, não vou responder a comentários que exaltem meu amor pela vida acadêmica ou explicar como o meu projeto vai mudar os rumos da juventude desse país. para tratar de assuntos sérios, passa amanhã.

Um comentário:

Anônimo disse...

é, beber não é fácil, mas tem que ter quem beba!

melhoras na gastrite.

beijo.