quinta-feira, 5 de março de 2009

E vamos engolindo mais uma comoção histérica

A cólera que me consome diante de fatos como o do casal que foi jogado do penhasco por criminosos é o que me impulsiona a retornar aqui após algum tempo. Mas não é a "maldade sem tamanho" - conforme diz um jornal publicado hoje - dos que praticaram o delito, muito menos algum sentimento de solidariedade com o pobre empresário que está traumatizado e não quer mais sair de casa... não é isso que me causa tanta ira. É essa onda de comoção histérica que toma conta das pessoas (de todas as classes) coagidas por uma mídia classista.
Mortes violentas e macabras, chacinas, torturas, abusos sexuais, e outros crimes bizarros ocorrem todos os dias do lado de cá do túnel e não repercutem sequer meia hora em sites de notícias. Mas a maldade desenfreada, a monstruosidade daqueles delinquentes favelados que, sem um pingo de compaixão daquele pobre casal, assaltaram e os empurraram num tobogã natural, deixando-os com profundos traumas que só serão curados com muita terapia, é o suficiente para se mudar até a legislação!

Não quero aqui promover qualquer discurso radical em pról do conflito violento e declarado de classes. Mas causa indignação a disparidade de repercussão de como são tratados determinadas notícias por aqui. É lamentável o que ocorreu e preocupa saber que também sou passível de ser vítima de um crime desse e que certamente no calor da emoção desejaria a morte desses rapazes sendo eu a vítima (mas para isso existe o Estado, que racionalmente, deve agir e conter as emoções individuais). Mas essa comoção histérica que se insere nos bate papos mais comuns da cidade expõe de forma bastante clara as mazelas de uma sociedade profundamente marcada pelo conflito desigual de classe.

E vamos debatendo...

4 comentários:

Rodrigo Bodão disse...

o interessante é ver como repercute tanto na classe média quanto na favela...
repercute:
- porquanto as pessoas se identificam com o casal, tipo poderia ser eu
- porquanto sinistro mesmo foi o ocorrido, desnecessário e bem escroto... independente de ser um roubo ou não, jogar do penhasco foi foda
- porquanto a galera, de todas as classes, gosta de consumir esses sensacionalismos

não tenho ouvido falar sobre isso na rua não... pelo menos na glória a galera comenta brevemente e o veredito é sempre o mesmo: bem feito pela surra que levaram ou que ainda foi pouco...

por enquanto é isso...

F A V E L E I R O disse...

Bodão,
sei que pode parecer foda dizer isso, mas não consigo ter nem um pouco de pena daquele empresário. Quem manda entrar numa de ficar ostentando seu carrão num país profundamente desigual, certamente agora ele só vai consolidar a sua crença de que tem que exterminar toda a "classe perigosa".

Clementina disse...

tudo o que eu tenho a dizer é que preconceito de classe tem muitas formas.

e faveleiro: desliga essa televisão e vai ler bukowski. ah, e reveja suas amizades. aposto que se tivesse comigo, bodão e capilo não estaríamos falando de empresários roubados,

F A V E L E I R O disse...

Certamente Clementina. Até falaríamos sim, mas talvez não com tanta enfase, já que teríamos coisas mais interessantes pra debater. Quanto as amizades, de forma alguma devem ser revistas, prezo pelo por todas elas e pela diversidade e variedade dos perfis das mesmas. Antes de Bukowski, talvez tenha que injetar um pouco mais de Marx na veia. Ah... a televisão aqui em casa é um eletronico quase nunca utilizado, minhas constatações são empíricas.

bjs saudosos