Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
(...)
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece
Mas, em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto
Mário Quintana
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
(...)
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece
Mas, em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto
Mário Quintana
Ele tinha esse poder estranho de fazer calar o mundo. Era assim: quando aqueles braços encontravam minhas costas ou minha nuca, o sol já não queimava, o trânsito desaparecia e até as ondas ficavam mudas. E de repente, não mais do que de repente, passou a puxar meu lençol à noite. Fez-se a multiplicação dos travesseiros e mais adiante da escova de dente. Meio alto, uma dobra na orelha, olhar profundo, dedos que hipnotizam e aquele peito que acalenta. Os braços eram grandes, os ombros largos e as pernas finas. Mas minha vó dizia que homem de perna fina é homem trabalhador. Decidi encarar aquele gigante trabalhador. E fomos pros primeiros. Ah, se na vida tivéssemos dois primeiros de tudo. O primeiro beijo, o primeiro cheiro, o primeiro entrelaçar de pernas, o primeiro vinho, o primeiro melindre. O primeiro dia seguinte. Enfrentei o gigante. Que virou pequenino. Um pequenino post-it grudado permanentemente nas páginas do meu cotidiano, onde se lia apenas nós. E tudo era novo e eu não tive nem tempo de ler o manual de instruções. Essa minha mania de manuais. Deixa pra lá. Senta aqui. Aprende sem ler. Olhei bem e vi que não era tão complicado. Plug and play. Pluguei. Brinquei. Jogo que vai, jogo que vem. Até que não consegui abrir os últimos botões. Me ajuda com essa camisa? Mas o que é isso? Guia vermelha? Ele é filho de Xangô. Ah, se na vida tivéssemos dois primeiros de tudo. Xangô não se dá com Ogum, pois, como é sabido, roubou sua mulher. Ficaram os dois travesseiros mais altos, os meus. O resto não importa. Joga no baú. Ah, se na vida tivéssemos dois primeiros de tudo. Teria um consolo. Esse barulho do mundo incomoda. A vida vai sem metáforas, mas não desisto de achar meu silêncio.
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doismilenove começa amanhã com a volta ao trabalho. hoje passei o dia com a leve impressão de que ainda estava no dia primeiro. acabou o milho, acabou a pipoca, mas eis aqui o verão e ainda tem o carnaval. janeiro é um bom mês. tomara que faça sol; tomara que minha voz volte; tomara que um anjo pague meu cartão de crédito estourado nos últimos dias; tomara que a cerveja esteja gelada e tomara que as terças, quartas e quintas se multipliquem.
bom, mas se nada disso acontecer, vai me restar sambar na chuva, sem cantar, tomando caipirinha aos sábados, sextas ou domingos e ainda ter que pedir para um amigo me bancar. nada de novo em 2009. então, feliz ano velho para vocês.
3 comentários:
Janeiro é um bom mês.
Queria estar de férias.
Mas janeiro que vem não me escapa.
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